Cap. III



Capítulo Três,


ou o O sorvete.


 


 


- Muito bem – repetiu enquanto dava a milésima volta no seu circulo imaginário.


Então, Sirius Black daria outra festa, graças a sugestão de uma de suas amigas – se ela se lembrava bem, a loira do poste. E James queria ir. O quão estranho aquilo podia ser? Porque sinceramente, quais são as chances no universo de James Potter, o garoto do Yakisoba e o History Channel, querer ir para uma festa a qual a) Sirius Black era o anfitrião b) Lily Evans, a namorada de seu melhor amigo, com quem ele havia trocado alguma quantidade de saliva, estaria presente? Absurdamente inacreditável.


Mas tudo bem. Se James queria ir, Marlene iria também. Não deixaria a ruiva indecente sozinha com seu namorado jamais! Era quase perder por desistência. Não, não.


- Acho que preciso de uma roupa mais femme fatale – refletiu e então parou de andar, encarou o guarda-roupa e bufou – Mas é claro que isso vai ser fácil de achar! Eu realmente uso meu corpo como forma de sedução barata, com a ajuda das minhas roupas sexys e sensuais! – ironizou.


Aquilo era um problema. Precisa chamar a atenção de James pra si, mas não tinha vestidos curtos colados ou qualquer coisa parecida. Teria que usar a imaginação.


- Talvez... – seu rosto se iluminou por alguns segundos – Só talvez... Quem sabe? Não faz mal assim, é só uma noite. – mordeu o lábio inferior contendo um sorriso e se infiltrou no próprio armário.


 


                                                                      – x –


 


- Eu devo chegar daqui a meia hora, no máximo. A Lene já tá vindo pra cá.


- Ótimo. Saiba que eu já estou fazendo demais te ajudando nesse seu plano maluco.


- Sim, sim. Muito obrigado, mais uma vez, Emmy.


- Tá, tá. Contanto que eu não me arrependa, tudo bem. Vou desligar, boa sorte.


Fim da ligação. James olhou para a TV novamente, vendo os balões com água serem atingidos pelo objeto pontiagudo e estourarem em câmera lenta. Adorava aquele programa, pena que ficaria para a próxima. Infelizmente, salvar a própria pele e salvar o seu namoro épico era mais importante do que qualquer programa do Discovery Channel.


O som do interfone pareceu fazer James acordar pra vida, pois ele desligou rapidamente a televisão, pegou o casaco de couro, a máquina e saiu do apartamento como se daquilo lhe dependesse a vida. Encontrou a morena encostada na parede, os braços cruzados e uma das sobrancelhas arqueada.


Não. Impossível. Marlene tem que estar de brincadeira – pensou.


Aquela saia curta com desenhos que devia ser titulada de “estupro zone” e aquela blusa que deixava seus peitos mais a mostra do que o sutiã maluco da Lady Gaga da última festa e que era praticamente uma placa dizendo “OLHEM, OLHEM MEUS PEITOS! PEGUEM TAMBÉM, É GRÁTIS”, tinham que ser uma brincadeira dela. Tinham.


- Não acredito.


- No que? – a sobrancelha arqueada subiu ainda mais em tom de provocação.


- Nessa roupa. Em você. Cara – se aproximou de Marlene como se fosse puxado por seu perfume – Você é perfeita – e antes que a nova versão fatal dela decidisse agir, James pos seus corpos grudados até quase desrespeitarem as leis da física e passou a beijá-la como se na sua casa não tivesse café da manhã.


Muito bom, crianças. Ótimo exemplo pras crianças do primeiro andar.

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Ao longo da noite, James quis desistir algumas vezes de seu plano mirabolante. Precisamente três vezes, na verdade. E precisamente três vezes, ao longo da noite, o universo lhe jogou na cara que não havia volta.


A primeira vez foi logo que a viu, encostada na parede à sua espera. Pra que fazer planinhos que nem uma criança do primário ou um vilão de novela das seis se podia ficar ali com ela – saboreou as palavras seguinte –, a sua namorada. Mais bonita do que nunca e aquela em que, apesar da provocação que ela representava e do sem número de coisas que queria fazer com as pernas que ela expunha, mal ousava tocar (ok, salvas exceções como aquela, por Merlim). James estava pra abrir a boca e sugerir que ficassem e assistissem à maratona de Caçadores de Mitos, quando Marlene o abraçou e disse no ouvido dele aquela coisa que ela sempre diz, e que sempre junta o sangue dele todo em um certo lugar, como se a Comic-Com estivesse acontecendo lá.


Ela estava determinada. James tinha criado um desafio, e ela queria vencer. Coitada, se soubesse o tamanho da disputa em que se metia. Ele também não tinha idéia do tamanho do seu próprio desafio, mas seja como for...


Não há mais volta número 1. Entraram no ônibus.


 


- x -


 


Quatro horas depois, Marlene disse aquela mesma frase pra um outro cara que não era James Potter. E disse sem querer.


Meia hora antes disso, Emmeline estava dizendo a James que desse um empurrãozinho e agisse um pouco suspeito com a Lily, porque afinal de contas mesmo com quase três gramas de álcool por litro de sangue alguém como Marlene ainda precisava de uma motivação.


Cinco minutos depois disso, Sirius Black parou de entreouvir a conversa dos dois pensando que tinha a melhor das motivações pra oferecer, e já que precisavam tanto de uma...


Mas ok, não vamos nos adiantar.
 
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Se isso fosse um seriado, eu diria que Marlene seria Penny e ela estaria passando a mão nos cabelos loiros, olhando para alguma cena esquisita e expressando-se através de um sempre expressivo “holy crap”. E digamos que as únicas diferenças entre elas no momento são: a cor do cabelo e a cena para a qual cada uma estaria olhando. E vamos direto para o que Marlene está vendo. Pra isso, usaremos um pouco da imaginação.


Você está em uma casa, uma casa realmente grande. Casa de um menino pelo qual você já teve uma queda. Ok, um precipício, mas não é como se alguém soubesse disso. Ok, todo mundo sabe, mas você nega e eles fingem acreditar que você realmente está sendo sincera quanto a isso. Esse menino tem uma namorada petulante e andou beijando o seu atual namorado na última festa que foi dada pelo menino que você quase morria. E o seu atual namorado lhe jurou que jamais aconteceria alguma outra coisa, mas você viu os dois juntos nessa segunda festa: ele estava fazendo com que ela se aproximasse da parede, e aparentemente sua intenção era prendê-la ali; eles sussurravam coisas no ouvido um do outro. Algumas vezes você teve a impressão de que ele lançava um olhar furtivo na sua direção, mas depois você chegou à conclusão de que provavelmente era só pra conferir se você estava ou não vendo.


E agora, o menino pelo qual você costumava ter uma queda, está na sua frente tirando a camisa, e você está parcialmente deitada numa cama de casal king-size. Se ajuda, – pois eu aposto que algumas pessoas gostam de detalhes – você percebe que a roupa de cama é uma que você ajudou ele a escolher.


Não, não. Na verdade, agora, ele está bem no seu pescoço, beijando-o, quando alguém abre a porta e, tadã, é o seu namorado! Diz aí: que outra coisa sairia da sua boca se não “holy crap”? Graças a Deus esse não é o seu drama, pois eu aposto que você estaria sem saída nesse exato momento. Mas caso fosse, eu poderia te dar umas dicas, como:


 a)       Você pode sair correndo, mudar de país, mudar de nome, arrumar identidades falsas e começar uma nova vida na Patagônia do Chile e fingir que tudo aquilo nunca aconteceu;


 b)      Você pode ajoelhar já e implorar por perdão ao seu namorado;


 c)       Você pode avisá-lo desde já que ele a traiu primeiro, logo, não tem direito a reclamações;


 d)      Você pode dizer aquela frase super clichê que vem logo depois de “holy crap”, que é “isso não é o que você está pensando”.


Com isso, acabaram as suas opções.


 


                                                                  - x –


 


- Isso não é o que você está pensando, James. Juro! – ela exclamou ao ver a cara de assustado de James.


Lily apareceu logo atrás, sua feição não era realmente das melhores. Ela se aproximou sem dizer uma palavra e puxou Sirius Black pelo cinto como se puxasse um cãozinho pela coleira e, então, eles se retiraram do quarto, sem ela dizer uma palavra mais uma vez. James, aproveitando a deixa dos dois, sentou na cama e olhou para Marlene, buscando colocar o máximo de tristeza possível em seus olhos.


- Tudo bem. Pode me explicar o que era, então.


- Eu n-não sei – ela procurou respirar um pouco. – Olha, eu só sei que eu vi você com aquela ruiva, e vocês estavam quase se comendo, então Sirius me puxou e me disse algo como “nem eu nem você precisamos estar aqui pra ver isso acontecer de novo”, e daí ele me puxou escada acima e me trouxe pra cá, me jogou na cama, tirou a camisa e começou a beijar meu pescoço, mas eu juro que nada aconteceu!


- Nada aconteceu? – ele riu irônico.


- Talvez eu e ele tenhamos nos beijado uma vez na escada, mas eu juro que não aconteceu mais nada, James!


- Você tava gostando, não tava? Eu vi sua cara quando eu abri a porta.


- James, não! Por favor, me perdoa!


- Olha Lene, eu posso te perdoar numa boa. Eu sou bom em perdoar as pessoas. Mas eu preciso que você seja honesta comigo e honesta com si mesma agora: você realmente quer namorar comigo, ou você prefere o Sirius? Porque eu sempre tive essa dúvida, e acho que você devia esclarecer ela antes que eu me deixe levar por você.


- Ok. Eu vou ser honesta, então. Eu tive uma queda pelo Sirius alguma vez algum dia, sabe? Mas é só porque é uma coisa natural. Pássaros voam, galinhas chocam, mulheres têm quedas pelo Sirius... É natural. Mas isso acabou há muito tempo, e foi enterrado definitivamente quando eu percebi o homem maravilhoso que você é e o quanto eu amo esse homem.


James respirou fundo e tentou conter um sorriso: estava dando incrivelmente certo até agora.


- Isso não vai se repetir?


- Nunca mais!


- Eu te perdôo, então.


- Ah, James! Você é tão lindo! Eu te amo! – pulou em cima dele, o abraçando.


Parabéns James, parte um do plano bem sucedida. Apesar de você ter arrumado um grande problema pro seu melhor amigo, que agora está recebendo um sermão absurdo da namorada ruiva gostosa, mas quem se importa? Você limpou sua pele, tirou o seu da reta, não é? Aliás, é como dizem: “no cu dos outros é refresco”.


Mas você também sabe, não sabe? Quando se tem um segredo do qual mais duas pessoas sabem, não há nenhuma garantia que ele será mantido.


 


                                                         - x –


 


- Irritante, não é? – ouviu uma voz bem perto de seu ouvido.


Virou-se e deu de cara com, tadã, Sirius Black. Lindo, sedutor e com dois copos de whisky na mão. Aparentemente, um era pra lhe oferecer.


- Eu só não consigo acreditar que eles vão repetir a cena. Ainda mais agora que James e eu estamos namorando! – deu um gole significativo em seu Green Label. 


 Já estava consideravelmente bêbada, mas... O que é um gole de um bom whisky pra quem já se afundou em todos os drinks do menu, já roubou cerveja das pessoas e até mesmo contou piadas pro garçom?


- Sabe o que eu acho que seria perfeito?


- O que? – encarou mais uma vez Sirius: ele tinha aquele olhar indo direto para sua boca, e mordia o próprio lábio inferior daquele jeito sugestivo. Bem, ele inteiro estava bem sugestivo (e apreciativo), pra ser sincera.


- Se a gente ensinasse a eles uma liçãozinha, sobre nunca fazer alguma coisa à Marlene McKinnon e Sirius Black sem achar que eles não vão dar o troco. Mas eu vou entender se você quiser ficar aí assistindo.


- Ahm... Na verdade... Sabe de uma coisa? – Marlene se aproximou e sussurrou em seu ouvido aquela coisa que ela sempre diz, e que sempre junta o sangue dele em um lugar, como se o Spring Break estivesse acontecendo lá. 

Sirius não respondeu: a puxou pelo pulso e os levou até as escadas. Eles se espremeram por ali e provavelmente deixaram algumas marcas invisíveis da necessidade um do outro nas paredes, mas nada que alguém tenha conseguido ver. Chegaram ao quarto rápido, Sirius a jogou na cama e começou a tirar sua blusa.


Timming perfeito para alguém que começava a repetir o caminho que eles antes fizeram.

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