Discussões
Capítulo 03
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Foi realmente incrível como minha decisão de sair com Paul em nossa próxima visita a Hogsmeade influenciou em meus dias. Primeiro foi a expressão estupefata de Lily.
– Não era você quem dizia que não havia uma pessoa decente na Slytherin? – ela me perguntara no sábado, o dia seguinte ao convite.
– Eu nunca disse isso – retorqui indiferentemente enquanto nos sentávamos em uma das mesas da biblioteca.
– Bem, eu nunca vi você conversando com eles.
– Eu não me faço de autista, Lily, quando estou em meu salão comunal, sabe? Tem a Louise Harris, do meu dormitório. Claro que o sonho da vida dela é ter uma noite romântica com Stubby Boardman, mas isso não a torna ruim, apenas digna de pena – falei rindo e abrindo um livro que havíamos selecionado: Venenos e antídotos: plantas e ervas e onde encontrá-las. – Há o Severus também.
– Ele é seu primo, não conta – Lily disse, rolando os olhos.
– O Paul é legal – disse querendo terminar aquela conversa. – Não acho que o mundo vá acabar se eu sair com ele.
– Você tem um encontro, Ari?
Rolei meus olhos ao ouvir a voz de Clair soar atrás de mim tão surpresa quanto a de Lily, e o olhar que dirigi a ela quando sentou-se à minha frente não foi nada agradável.
– Não venha me censurar também, ’tá legal? – irritei-me.
– Mas não fiz nada!
Forcei minha mandíbula, mantendo minha boca bem fechada, quando a indignação e mágoa de Clair saíram muito latente na sua voz e em suas feições. Tive vontade de lhe pedir desculpas. Gemi por dentro. Eu nunca fora boa em pedir desculpas. Lily então me salvou.
– Ela emburrou porque eu a questionei sobre ela ir com Paul Johnson a Hogsmeade.
– O batedor da Slytherin? – Clair perguntou, simplesmente.
– Esse mesmo – respondi.
– Ele não me parece má pessoa. Qual o problema da Ari sair com ele, Lily?
– Isso mesmo, Clair, gostei! – falei, virando-me para Lily. – Então, qual é o problema?
– Não há mal algum. A única coisa que questionei é que você condena praticamente toda a sua Casa.
– Mas eu já disse que ele é legal. Melhor: ele nunca me olhou torto quando fiquei amiga de vocês – ressaltei.
Voltei minha atenção para o livro que eu selecionara, achando que tudo fora respondido. Porém, notei que o silêncio que se instalara naquela mesa estava estranho demais. Levantei um pouco os olhos e vi que Clair e Lily ainda me encaravam.
– Que foi? – perguntei sem entender, olhando-as. – Não vamos estudar?
– Você nunca aceitou o convite de um garoto para ir a Hogsmeade desde o Halloween do quinto ano.
Eu sabia que a expressão em meu rosto dizia claramente o que eu pensava daquela afirmação de Clair. Mesmo assim, não consegui me contentar apenas com isso.
– O que você está tomando, Clair?
– Como assim?
– Tem certeza de que é o medicamento certo?
– Não seja estúpida, Ari – ela me respondeu, aborrecida.
– Nós não viemos aqui para estudar? – perguntei, indicando os livros.
– Por que não nos disse que gostava dele? – Lily me perguntou e virou todo seu corpo para me encarar de frente (ela se sentara ao meu lado).
– Achei que você confiasse em nós, Ari – Clair completou. No entanto, o tom ofendido de minha amiga me fez bufar impacientemente.
– Ah, tenham dó! Eu não gosto dele! De onde vocês tiraram isso?
– Mas desde o nosso quinto ano – Lily começou, contudo eu a cortei.
– Lily, aquele garoto era realmente nojento! – falei óbvia. – Vocês precisavam ter visto o que ele fez com os canudinhos. Arrepio-me só de lembrar. Além disso, o fato de Paul ser legal não basta?
– Não! – as duas disseram. Clair completou: – Pelo menos não com essa afirmação vindo de você, Ariadne.
Eu bufei mais alto daquela vez e algumas pessoas ao redor de nós nos olharam.
– OK! Ele também é bonito – falei entre os dentes. – Satisfeitas?
Realmente pensei que o que eu dissera terminaria com aquele interrogatório. Entretanto me enganei novamente.
– Você vai sair com ele só por ele ser bonito? – Clair estranhou.
– Desculpe se minha futilidade adolescente te desagrada. – Clair fez uma careta para mim. – Agora vamos estudar, sim?
Finalmente elas ficaram quietas, então o estudo rendeu. As meninas não tocaram mais no nome de Paul Johnson a partir daquele dia. Isso foi muito bom, mas eu também notei algo realmente estranho: a turminha de Narcissa Black – que a envolvia e mais outras duas alunas do quarto ano – sempre dava estranhos risinhos quando me via no salão comunal sendo cumprimentada por Paul, o qual se mostrou estranhamente atencioso e sorridente no treino de quadribol na terça-feira.
Entretanto, tudo isso ainda não havia sido realmente tudo. Até Severus irritou-se com meu encontro.
Eu o notei um pouco esquivo comigo, mas pensei que fosse o de sempre, que ele queria se afundar nos livros. Porém minha paciência, que com Severus era um pouco maior por eu conhecer seu gênio, saturou depois de uma semana.
Estávamos estudando no salão comunal, após o jantar, aproveitando minha autoridade de monitora a fim de diminuir o volume das conversas, assim como o fato de os alunos novos terem ido dormir mais cedo. Bem, não estávamos estudando juntos propriamente, apenas nos sentávamos na mesma mesa e Severus estava de frente para mim.
– Severus – o chamei –, você pode me explicar como conseguiu fazer com que seu Veritasserum ficasse transparente, hoje? – A minha poção na aula ficara levemente opaca.
– Eu a fiz corretamente – ele me falou sem nem sequer erguer os olhos do pergaminho no qual escrevia.
– Só que eu também segui as instruções do livro. Medida a medida.
– Você deve ter errado alguma coisa.
Rolei meus olhos, irritada.
– Dá para você ao menos olhar para mim enquanto me responde, por favor?
Ele pareceu me fuzilar com o olhar quando me relanceou rapidamente.
– Estou estudando, não está vendo?
– Que você está estudando, estou vendo mesmo, assim como também estou notando sua chatice – falei entre os dentes. – Só te fiz uma pergunta, não precisa vir com pedras na mão para me acertar. É tão difícil responder com um pouco de educação?
– E é tão difícil você parar de tagarelar e me deixar estudar, Ariadne?
Dessa vez ele me encarou e a irritação infundada nos olhos dele aumentou a minha própria.
– Qual é o seu problema, afinal de contas? O que eu fiz a você para que me tratasse com grosseria? – perguntei, inclinando-me na mesa para que ninguém nos ouvisse discutindo.
– Está tarde e eu tenho que terminar essa redação – ele me retorquiu com a voz indiferente e voltou a olhar para seu pergaminho.
– Responda minha pergunta, Severus.
O tom mandão em minha voz pareceu apertar um botão em meu primo. Ele fechou o livro que usava para fazer o tal relatório com um baque. Ficamos nos encarando durante um tempo, os dois arrogantes e petulantes demais. Eu querendo minha resposta, porém Severus se recusando a dá-la.
– Então? – insisti. – Vai me responder por que ficou tão chato por esses dias?
– As provas finais estão chegando. E já que você não quer me deixar estudar em paz, bancando a menininha mimada, vou dormir. Boa noite, Ariadne. – Ele falou isso tudo muito rápido e na mesma velocidade recolhia seu material também.
– Provas finais? Mas elas ainda vão demorar... o que, quatro meses? Você não vai me dizer por que...
– Boa noite, Dina – ele falou sem me olhar, cortando minha pergunta, e já indo para o seu dormitório.
A mim só restou fazer o mesmo, uma vez que, irritada como eu estava e sem ter chance de alcançar Severus, não conseguiria me concentrar nos estudos.
No dia seguinte não esperei por ele para ir tomar café da manhã. Mesmo fazendo de tudo para aturar suas oscilações de humor, minha paciência tinha limite – curto, até. Louise perguntou-me apenas uma vez por que eu estava com a expressão aborrecida. Eu respondi apenas o nome do meu primo, ao que ela não discutiu mais. Ela, melhor do que ninguém, sabia como meu humor era horrível quando eu acordava depois de uma discussão com Severus.
Eu realmente não entendia meu primo. E também não me entendia. Se fosse com outra pessoa, eu com certeza já o teria mandado caçar diabretes. Talvez o fato de eu saber o que ele passava em sua casa nas férias de verão me tornasse mais complacente. Não conseguia culpar Severus por ser uma pessoa difícil. Mas eu também não era uma santa, e muito menos obrigada a relevar tudo. Quando ele se cansasse de sua infantilidade, então que me procurasse. Não iria atrás dele desta vez.
Sentei-me com Louise na primeira aula, Feitiços. Não conversamos muito, mas meu humor melhorou com a aula prática. Olhei para Severus apenas uma vez nessa aula e notei que a rusga da noite anterior continuava marcando seu rosto.
Ao fim da aula, Louise foi para a de Aritmância e eu segui em direção às estufas. Lily e Clair me esperavam à porta e, quando as alcancei no corredor, Remus já andava alguns metros à frente junto de seus amigos.
– Animadas para Hogsmeade, amanhã? – perguntei quando alcançamos os jardins.
– Preciso comprar tinta – Lily falou. – Me esqueci de comprar no feriado e a minha já está terminando.
– Não! – fingi me surpreender, estacando. – O que está havendo com você, Lily? Está doente?
Levei minha mão à testa dela, recebendo um safanão.
– É que você já foi mais responsável, entende? – ri e voltei a andar junto delas. Clair segurava seu riso ao lado de Lily. – Não me leve a mal, só fiquei um pouco exaltada.
– Claro. Muito engraçado, Ariadne – ela resmungou. – Estou me acabando de tanto rir.
– Bem, eu achei engraçado – falei dando de ombros e com um meio sorriso.
– E eu também – Clair completou.
Lily a olhou um pouco indignada, mas acabou esboçando um sorriso.
– Não sei como ainda me deixo irritar por você, sabia? – disse, afinal. – Mas, não. Não estou doente e nem menos responsável. Só me esqueci.
– E você, Clair? – retorqui, olhando minha amiga através de Lily. Notei o semblante sorridente de Clair ficar um pouco triste e preocupado.
– Eu não vou a Hogsmeade. Vou ficar no castelo com Remus.
– Por que ele não vai? – estranhei. Remus não era do tipo que dispensava as visitas ao povoado.
Clair demorou-se um pouco a me responder e eu pensei que ela não me ouvira. Antes que eu insistisse, porém, ela já falava baixo, mas o necessário para Lily e eu ouvirmos:
– Ele não está muito bem. Já está com o corpo dolorido. Para todos os efeitos, ele viajará hoje à noite para casa.
– Oh! – olhei para o céu, instintivamente. Obviamente, não consegui ver a lua. – Ao menos ele não vai perder muitas aulas, não é?
Clair apenas deu de ombros, olhando para os lados, precavida.
Entretanto, para quem quer que nos ouvisse, não poderia entender muita coisa, apenas de que Remus não estava se sentindo bem e iria para casa. Na realidade, ele se refugiaria nessa mesma noite na Casa dos Gritos, localizada a meio caminho de Hogsmeade, para transformar-se em lobisomem. Durante o dia, passaria recebendo os primorosos cuidados de Madame Pomfrey e Clair na enfermaria da escola. E a mim e a Lily caberia a tarefa de levar clandestinamente a deliciosa comida dos elfos domésticos para nossa amiga e Remus.
– Pelo visto vou ter que combinar com a Alice – Lily falou enquanto entrávamos em uma das estufas. – Você não vai e a Ari tem um encontro. Eu não quero ficar sozinha em Hogsmeade.
– Não seja por isso, Lily. Eu a acompanho com imensurável prazer!
Eu revirei os olhos. Vi Lily encolher-se levemente e fechar os olhos, assustada, quando James Potter sussurrou tais palavras em seu ouvido. Clair, entretanto, deu uma risadinha. Olhei para ela quase indignada. Por que ela rira, mesmo sabendo que a Lily não suportava o Potter? No entanto não tive a oportunidade de questioná-la, uma vez que ela estava muito concentrada em Remus. Realmente a aparência do namorado da minha amiga não era nada convidativa. Senti meu coração se apertar levemente.
– Obrigada, Potter. – A voz de Lily, agressiva e sibilada, chamou minha atenção. Olhei-a e a vi ainda de olhos fechados e rosto corado; seu corpo estava tenso, o que estranhei. Ela parecia com medo dele. Porém, quando falou novamente, Lily parecia querer fuzilá-lo com os olhos. – Mas antes só, e muito só, do que em má companhia.
Dessa vez fui eu quem riu ao ver Potter erguer as sobrancelhas, claramente indignado.
– Só que você é amiga da Lakerdos! – ele retorquiu. Meu riso transformou-se num “Ei!” e em uma careta. Ele nem se dignou a me olhar. – Então, qual o problema em me acompanhar um só dia em Hogsmeade quando você passa muitos deles ao lado dela?
– Acontece que eu não sou uma idiota pretensiosa e que adora que os outros me idolatrem – falei querendo jogar nele a ferramenta de jardinagem que estava a milímetros de minha mão, em cima da bancada.
Potter olhou para mim com um sorriso afetado.
– Oh, Lakerdos, me desculpe. Não vi que você estava aí.
– Então está na hora de você trocar a lente desses óculos, Potter – falei sorrindo, querendo mostrar que ele não me afetara.
– Meus óculos estão perfeitamente bem, Lakerdos. Agradeço a preocupação com minha saúde.
Rolei os olhos, enfadada. Mas logo uma resposta me veio à cabeça, fazendo-me sorrir.
– Então é seu cérebro que precisa de reparos, Potter – ri. – Isso, claro, se você tiver algo nessa coisa oca acima do pescoço que você ousa chamar de cabeça.
– Mais uma vez agradeço sua atenção à minha saúde, Lakerdos, mas meu cérebro está funcionando perfeitamente bem.
Percebi que o sorriso dele já era forçado. Potter não estava gostando do rumo da discussão. Ele queria chamar a Lily para sair, não discutir comigo. Eu queria o contrário. Queria descontar nele a minha frustração por Severus não me dizer o que Potter e Black lhe fizeram nas férias de Natal. Lembrar-me de Severus demoveu-me do rumo da conversa.
– É, talvez essa caixa cefálica esteja em bom estado – falei em um esgar. Porém continuei com irritação. – Funciona bem o bastante para você e seu amiguinho pensar em mil e uma maneiras de transformar a vida de Severus num inferno.
– Ele foi correndo chorar para você, quando voltou do Natal, Ariadne? – Sirius Black intrometeu-se, rindo.
Quis fuzilar Black com meu olhar. Ele, assim como o Potter, nunca levavam minha irritação à sério quando o assunto era a humilhação que eles dirigiam à Severus. Para minha completa irritação, ele não se alterou nem um pouco. Parecia, na verdade, se divertir.
– Eu não sou sua amiga, não me chame de Ariadne. – Black rolou os olhos, divertido. – E Severus não precisa correr até mim para que eu o defenda, faço isso de bom grado por me importar com ele. Além disso, ele sabe se defender sozinho muito bem.
– Pois é, a gente notou isso mesmo – Sirius Black escarneceu, fazendo seu amigo rir à minha frente. Ouvi outros risinhos pela estufa.
Aquilo fez com que eu explodisse por dentro e me esquecesse de toda a indiferença que eu sempre tentava demonstrar. Nem me importei também que a qualquer momento Severus poderia aparecer na estufa e nossa situação ficar ainda pior do que já estava. Ele tomaria minha briga como uma humilhação à sua pessoa.
– Vocês são dois covardes imbecis – eu praticamente rosnei –, juntando-se para atacar uma pessoa que nunca fez nada a vocês.
– Ah, claro – zombou Potter. – Estamos falando de um santo ou do Ranhoso?
– Não chame meu primo desse jeito, Potter. Severus pode ter todos os defeitos, mas ele nunca fez nada a vocês para que tornassem a vida dele um inferno!
– Ari, pare com isso! – Lily interveio finalmente.
– Vai defendê-los agora, Lily? – retorqui, olhando irritada para minha amiga. – Ou me ajudar a pensar em um feitiço bem interessante para azarar esses dois?
– Não os estou defendendo – minha amiga falou, e eu percebi a sinceridade em sua voz –, é que, por mais que você se irrite com ambos por importunarem o Snape, não acredito que seja dessa maneira que você vá resolver suas diferenças com o Potter e o Black. Além disso, você quer piorar sua situação com seu primo?
Olhei para Lily ao ouvi-la. Ela estava certa. Severus não me perdoaria se eu brigasse com Potter e Black por causa dele. Meus olhos foram para meu primo, então, que adentrava a estufa naquele momento. Parecia até que sua entrada tardia nas estufas fora providencial.
A discussão, portanto, findou. Embora Severus não tenha pegado a discussão, ele notou do que se tratava quando viu meus ânimos exaltados enquanto Potter e Black saíam de perto de nós – mas não sem antes o primeiro dizer a Lily para ela pensar sobre Hogsmeade. Eu os acompanhei com o olhar, mas ao menos eles não provocaram Severus.
Não consegui prestar a devida atenção no que a professora dizia sobre a planta espinhosa à minha frente; eu apenas encarava aquelas folhas arroxeadas sob flores violetas e espinhos negros.
Não consegui tirar a discussão da minha cabeça o resto do dia, principalmente por Severus me condenar com os olhos sempre que me via. Suspirei ao ver como tinha abalado nossa relação. As fofocas no castelo corriam soltas, pois Louise me questionou sobre a briga nas estufas. Portanto, Severus também já sabia que eu brigara com Potter e Black por causa dele.
Contudo, era simplesmente difícil controlar meu temperamento quando o assunto eram Potter e Black e o que eles faziam ao meu primo. Minha vontade era esganar um por um com minhas próprias mãos. E minha irritante concentração nisso era tanta que nem notei que alguém se aproximava de mim enquanto caminhava em direção ao salão principal para jantar.
– Oi, Ariadne.
Estaquei no corredor, não acreditando quem vinha de trás de mim e parava bem à minha frente, impedindo minha passagem. E, como se não fosse o bastante, me chamava pelo nome de batismo. Novamente.
– Saia da minha frente, Black – falei com um suspiro irritado. Ainda tentei me desviar, mas ele não deixou que eu passasse.
– Eu só quero te perguntar uma coisa – ele me falou, dando de ombros.
– O quê? – retorqui impacientemente e cruzando os braços.
Black, entretanto, abriu um sorriso e se recostou na parede. Não gostei daquela reação.
– Na verdade, é só uma curiosidade. Que feitiço você usaria hoje, na aula de Herbologia, se a Evans não tivesse te segurado?
Ergui minhas sobrancelhas, surpresa coma pergunta. Mas sorri de lado em seguida e coloquei as mãos na cintura.
– Você quer que eu apenas lhe diga ou também lhe mostre? Por favor, escolha a segunda opção! – implorei sarcasticamente.
Black riu alto. E eu não soube por que, mas aquele riso despreocupado e claramente genuíno me desconcertou, pois eu sabia que não era a alegria em si que ele sentia com minha resposta que me incomodava. O que me incomodou foi o brilho nos olhos dele quando me encarou.
Eu nunca havia sido olhada daquela maneira, principalmente por Sirius Black. Era como se ele realmente estivesse apreciando meu sarcasmo e minha impaciência. Ou pior: apreciando minha presença.
– Eu falei que fiquei curioso, Ariadne, não que queria tentar uma experiência.
– Não custava nada eu tentar também, certo? – retorqui mal humorada. – E não me chame pelo primeiro nome, Black, não somos amigos, muito pelo contrário. Agora, boa noite.
Eu voltei a andar, contudo o senti segurando-me pelo pulso, me deixando mal dar três passos e me virando para encará-lo novamente. Seus olhos pareciam analisar-me. Não gostei daquilo. E muito menos do toque suave em minha pele.
– Eu não acho que você me mandaria para a enfermaria.
– Como é? – indaguei um pouco ultrajada.
– Não estou falando de sua capacidade para isso – ele falou, sorrindo.
Estranhei ao ouvir tal elogio. Era impressão minha, ou o mundo estava de ponta cabeça? O que dera em Sirius Black, por todos os santos?
Meus olhos então caíram em meu pulso; eu não sentira errado, o polegar de Black passava suavemente por minha pele, como se estivesse acariciando-a. Os olhos dele acompanharam o movimento. Ouvi-o soltar um leve riso pelo nariz e depois sua mão soltou meu pulso, devagar.
– A questão – ele continuou, enfiando as mãos nos bolsos da calça e me olhando nos olhos –, é que eu daria um jeito de você esquecer o feitiço que lançaria sobre mim.
– Não acho que o professor Dumbledore perdoaria facilmente, caso você lançasse em mim um Obliviate, Black.
– Eu sei. – Ele sorriu. – Até mais, Lakerdos.
Eu fiquei parada no corredor, vendo Black distanciar e depois acenar para mim antes de virar à esquerda no corredor em direção ao salão principal.
Que raios de conversa fora aquela? E por que, por todos os santos, eu não o azarei ou simplesmente o deixei falando sozinho?
Meneei a cabeça, afastando essas perguntas. Não encontraria resposta para elas, mesmo, e nem me interessaria também procurar por elas.
Quando finalmente voltei a andar, minha cabeça já no lugar e sem ter Black ocupando-a minimamente, ouvi outra pessoa me chamando. Olhei para trás e vi Paul correndo em minha direção para me alcançar.
– Oi. – Ele começou a caminhar ao meu lado. – E então, animada para amanhã?
Sorri de leve, olhando-o rapidamente. Respondi que sim, embora “animada” não fosse a melhor palavra para definir o que eu sentia com aquele encontro. Na verdade eu estava curiosa em como Paul, que eu nunca percebi me olhar diferente, agiria amanhã. E também um pouco ansiosa. Como minhas amigas bem me lembraram, eu não ficava sozinha com um garoto há mais de um ano.
– Nos encontraremos em Hogsmeade mesmo? – perguntei.
– Por mim, tudo bem – ele deu de ombros. – No Três Vassouras, hora do almoço?
– Tudo bem.
– Até mais, então, Ariadne.
Paul abaixou-se um pouco e me deu um beijo na bochecha, entrando em seguida no salão principal e se sentando no lugar de costume: junto do time de quadribol na nossa Casa.
Eu não contive um sorriso, mesmo ele saindo discreto, enquanto seguia o mesmo caminho que Paul, mas me sentando no outro extremo da mesa junto de Louise.
– O que foi aquilo? – ela me perguntou num sussurro, empolgada.
– Aquilo o quê?
– Você e o Johnson. Vocês estão juntos?
Eu ri baixo, tentando disfarçar meu constrangimento. Ainda não conseguia controlar algumas reações adolescentes, principalmente quando o motivo delas era um garoto (mesmo eu não gostando de Paul dessa maneira). Além disso, pensei que ninguém tivesse visto aquilo.
– Você viu, é? – perguntei fingindo indiferença.
– Eu estava olhando para a porta por coincidência. Mas você não respondeu minha pergunta. Vocês estão juntos ou não?
– Só estávamos combinando o lugar onde iríamos nos encontrar amanhã. Não estamos juntos – respondi enquanto colocava comida em meu prato. Percebi Louise se engasgar ao meu lado. – Que foi? – perguntei assustada e lhe dando o copo com suco para ajudá-la.
– Vocês vão se encontrar lá?
– Vamos – estranhei. – O que tem de mais?
Louise rolou os olhos.
– Não sabia que ele era tão sonso. Muito menos você, Ariadne.
– Ei!
– Eu já vou sair daqui como Etan. – Etan Bornwick era o monitor da Ravenclaw, também do sexto ano. Louise saía com ele desde o semestre anterior.
– Então vocês vão assumir de vez? – alfinetei, vendo-a tão constrangida quanto eu estivera minutos atrás com seu interrogatório. Minha sorte, entretanto, era que eu sabia dissimular bem.
– Não temos nada que assumir. E não é esse o ponto.
– Já eu não sei qual é o problema em eu me encontrar com Paul em Hogsmeade apenas na hora do almoço – falei dando de ombros.
– Hora do almoço? – Louis me perguntou isso tão alto e ultrajada, que alguns alunos nos olharam, inclusive Paul, que sorriu. Eu quis morrer naquela hora.
– Louise, menos, sim? – falei entre os dentes e tentando não olhar para ninguém.
– Vocês são realmente dois sonsos em perder quase duas horas para se encontrarem. – Ela então deu um meio sorriso. – Eu e Etan não vamos desperdiçar nem sequer um minuto.
– Eu não sou uma desesperada beijoqueira como você – retorqui maldosamente.
– Mas você sabe que, quanto mais sede se sente, com mais vontade se vai ao copo d’água – falou Louise, sorrindo de lado, sem se afetar pela minha provocação.
– Quem disse que estou com toda essa sede? – perguntei sem me abalar.
– Por acaso um copo consegue se defender?
Não consegui pensar em resposta alguma depois disso. Encarei Louise, que me olhava superior e triunfantemente.
– Como eu disse, uma sonsa.
Meus olhos viraram-se na direção de Paul como se tivessem vida própria.
– Você está brincando, não é? – retorqui descrente.
O sorriso de Louise serviu perfeitamente bem como resposta.
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N/B: Levanta a mão quem ficou zonzinha com o carinho despreocupado do Sirius na Ari! o/ Capítulo muito bom, Lívia. Parabéns. Não vejo a hora de ler mais um pouquinho. Bjs.
N/A: Oi! Mais um capítulo e, como pedido, uma interação entre Ariadne e Sirius. Se bem que a interação entre Ariadne e James foi mais apimentada. Hahahahahaha.
E para quem não se lembra do queridíssimo Stubby Boardman, ou Toquinho Boardman, ele é o vocalista da banda Os Duendeiros, e foi citado em Ordem da Fênix, ou melhor dizendo, pelo Pasquim. Foi na primeira vez que Luna nos deu o ar de sua graça.
Espero que tenham gostado!
Vai meu beijo especial a minha maninha Diana W. Black (espero que esse capítulo tenha lhe mostrado um pouco do que você pode esperar da Ariadne. Quanto ao desperdício de espaço... Bem, nesse quesito eu não concordo com ela muito não..rsrs) e Kelly (Kellyege! Kkkkkkkk), a qual abracei cheia de saudade nesse carvanal! E também à Pri por betar esse capítulo! Minha beta insubstituível!
E a quem acompanha a fic, mas não consegue escrever aquele comentariozinho básico: beijos.
Sem mais,
Livinha
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