aquele dos casais errados.




                                                                              capítulo 07
                                                    aquele dos casais errados


André retornou para a sala comunal da Sonserina com determinação. O moreno acabara ficando sozinho novamente.

Gabriel resolvera estudar na biblioteca. Abelardo, como na maioria das vezes, desaparecera sem dar explicações. Sabia também que Draco, sempre que podia, gostava de sumir depois de uma aula desgastante. E Marcela, sem sombra de dúvida, havia saído para cultivar sua popularidade.

O garoto subiu até o dormitório masculino e despejou seus materiais com indiferença num canto perto de sua cama. Abriu a primeira gaveta da mesa de cabeceira e retirou um antigo pergaminho lá de dentro. Alcançou sua pena, com um sorriso no rosto, e escreveu, logo abaixo do número 200.


                                      200 - Hermione Granger, em andamento.



Gabriel havia encontrado o livro indicado por Hermione sem dificuldade. O garoto, ao contrário dos demais sonserinos, tinha uma estranha intimidade com a biblioteca da escola, e conseguira memorizar a localização específica de cada volume que utilizava em seu dia-a-dia. Seu olhar, no momento, voltava-se para as primeiras páginas de um livro verde de capa grossa.

-Ah, será que eu posso? –ele ouviu uma voz. –Com licença, estou passando.

O garoto ergueu a cabeça e encontrou a figura desajeitada de Carlotta Boome perambulando pelos estreitos corredores da biblioteca, com uma pilha de livros nas mãos. Ela caminhava de maneira cautelosa, tentando não esbarrar em ninguém.

Gabriel se levantou.

-Eu posso te ajudar com isso. –disse, enquanto retirava parte dos livros que a menina segurava.

-Obrigada. –a cabeça gordinha de Carlotta revelou-se cansada.

-O que está fazendo por aqui?

-Caminhando. –o encarou. –Quer dizer, estudando. –ela parecia confusa.

-Estudando?

-É. –ela colocou o restante dos livros em cima de uma mesa.  

-Estudando o quê?

Por um instante, a cor vermelha que dava vida ao rosto de Carlotta desapareceu.

-Poções. –ela respondeu, rapidamente.

-Poções?

-Exato. Poções.

-Então, por que carrega livros sobre Herbologia, Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas? -ele perguntou, ao dar uma rápida olhada nas obras a sua frente.

-Curiosidade. –ela deu um sorriso fraco. –Sempre fui assim.

-Sei. –ele arqueou as sobrancelhas. –Isso é só pra você?

-Claro que é.

-Tem certeza?

-O que está sugerindo, Gabriel?

-Que os livros sejam, na realidade, para Marcela.  

-O quê? -fez cara de surpresa. -Claro que não.

-Carlotta. –ele a encarou, carinhosamente. –Você não devia fazer isso.

A menina girou a cabeça para a esquerda e, em seguida, para a direita, assegurando-se de que ninguém a estava observando.

-Ok, são para ela. Mas estava apenas fazendo um favor. É o que as amigas fazem.

-Você faz muitos favores de amiga. –respondeu. –E, se bem me lembro, Oliver nunca fez um pra você. 

-Isso não é verdade, Gabriel. As pessoas só não conseguem enxergar o lado bom dela.

-O lado bom? –ele sorriu. –Estamos falando da mesma Marcela?

-Não brinque. Ela também tem suas qualidades. –colocou as mãos na cintura. –Não estava atarefada hoje e resolvi ajudá-la com seus exercícios. Que problema há nisso?

-E onde ela está agora?

-No campo de Quadribol.

-Fazendo o quê?

-Assistindo a um treino, parece.

-Assistindo a um treino enquanto você faz todos os deveres dela?

-Não. Ela me convidou para ir assistir também. Mas...

-Te pediu pra vir até a biblioteca primeiro?

-Sim. –respondeu, inquieta. -E, assim que pegasse tudo de que ela precisava, eu poderia ir até lá.

-Vem comigo. –ele estendeu a mão.

-O quê? Para onde? –arregalou os olhos.

-Quero te mostrar um lugar.

-Gabriel, eu não posso. Se ela descobre que...

-Ninguém vai descobrir nada, Boome. Anda, larga esses livros.



Gina corria desesperadamente pelos corredores do castelo. Ela perguntara para a maioria dos grifinórios, para alguns professores, e até para os fantasmas sobre o paradeiro da amiga. Nada, nenhuma notícia. Hermione não estava em lugar algum. Simplesmente evaporara.

-Que droga! –ela gritou consigo mesma.

Talvez se Harry a estivesse ajudando, teria mais chances de encontrar a morena. Mas não. De uns dias pra cá, a ruiva era sempre trocada por algum outro compromisso. Hoje, fora Ronald. Amanhã, seria o quê?

O dia já estava escurecendo.



-Onde está o Harry? –Luna perguntou.

-Ainda no campo de Quadribol. –respondeu Rony.

-Você não deveria estar com ele?

-Normalmente, sim. Mas ele disse que precisava ficar sozinho.

-Que estranho. Tem algo acontecendo?

-Que eu saiba, não.

O casal não estava muito longe do lago negro. Ambos recostaram-se em uma árvore, aproveitando a sombra que ela lhes oferecia e deleitando-se com os tons de vermelho que, por vezes, coloriam as nuvens.

-Veja! –a loira esticou os braços para o alto repentinamente, apontando para o céu.

-O quê? –respondeu o ruivo, cerrando os olhos para tentar enxergar algo.

Os dois permaneceram congelados naquela posição por aproximados cinco minutos.

-O quê? –insistiu Ronald.

-Ah, nada. –Luna desviou seu olhar para o lago.

Ele a encarou com curiosidade.

-Eu tenho certeza de que vi dois pedaços de madeira voando por uma janela. –ela disse.

-Dois pedaços de madeira? Duas varinhas?

-Exato. Voando por uma janela. –ela continuava encarando fixamente as águas tranquilas do lago.

-Por uma janela?

-Por uma janela. –repetiu.

-Sozinhas?

-É. –virou-se para o encarar. -Estranho, não?

Ronald havia aprendido a não contrariar as loucuras de Luna.

-Parece que vai chover. –ela murmurou, aninhando-se no corpo do ruivo.



-Bravo. –Marcela disse carinhosamente, assim que Harry se aproximou. A morena estava nas arquibancadas, seus cabelos chacoalhando ao vento.

-Há quanto tempo está aí?

-Há pouco tempo. –ela o abraçou. –Vim dar uma olhada no seu tão comentado treino.

-Comentado? –ele retribuiu o abraço e sorriu, coçando a nuca. –Não tenho tanta certeza.

-Como não? Quem não gostaria de ver o famoso Harry Potter e suas peripécias em uma vassoura?

-Eu não imagino quem perderia o tempo com isso.

-Eu perderia. –ela respondeu, falsamente ofendida. –Aliás, eu perdi.

-Sinto muito, então. –disse, carinhoso.

-Não sinta. Eu aproveitei. –ela sorriu. –E o que vai fazer agora?

-Banho e sala comunal. O de sempre.

-Não é muito arriscado pra quem já enfrentou Basiliscos e Dementadores.

-É mais do que imagina. Principalmente quando se trata de Poções.

-E o que me diz de uma caminhada noturna?

-Caminhada? Com você? -perguntou pausadamente.

-Com quem mais seria? –perguntou. –Vamos lá, Potter. Lembre-se dos velhos tempos e viole as regras. -propôs. -Ser rebelde é muito mais divertido.

-Espero que não seja uma tentativa frustrada de me arrastar para Sonserina. –ele arqueou as sobrancelhas. -Estou do lado dos mocinhos, Oliver.

-Os mocinhos não são mocinhos 24 horas por dia. Felizmente.

Ambos riram. 

-Como não conversamos assim antes? –perguntou Harry.

-Você é um garoto ocupado. Eu entendo.

-Eu pensei que você fosse mais... cruel e malvada. –cerrou os olhos.

-Eu sou cruel e malvada, mocinho. –gargalhou. -Quando é necessário.

-Certo, Oliver. Eu acredito em você.  

-Uma mulher precisa às vezes manter seus segredos e táticas muito bem guardados. É o que incita a curiosidade nos homens. Homens procuram o mistério que uma mulher tem a oferecer, os jogos, as provocações. Quanto mais tempo demora, mais interessante fica.

-Por que não me ensina uma dessas... táticas?

-Para isso, você teria que aceitar aquela caminhada noturna que eu já mencionei.

O moreno parou para pensar por alguns instantes.

-Ser ruim também tem seu lado bom, Potter. –Oliver comentou, com um meio sorriso nos lábios. –O que me diz?



-Está com os olhos fechados? –perguntou Gabriel, enquanto conduzia Carlotta por um lance de escadas.

-Sim. –ela respondeu. –Onde estamos, Gabriel? Não consigo subir esses degraus tão rapidamente. Não estou em plena forma física, se não percebeu.

-Você é linda do jeito que é, Boome.

A menina corou levemente.

-Você diz isso porque é educado.

-Digo porque é verdade.

Ela permaneceu calada. Sorriu mentalmente.

-Pronto. –disse o sonserino, assim que os degraus terminaram. –Agora, você precisa andar para frente.

-Para frente?

-Sim. É melhor se apoiar nos meus braços para não cair.

A menina fez o que lhe fora sugerido. Caminhava vagarosamente.

-Está frio aqui. –disse, enquanto sentia uma lufada de ar vindo em sua direção.

-Não se preocupe. Falta pouco. –ele a guiou, segurando com carinho seus braços.

-Pouco pra quê?

-Você vai ver.

-Você não era assim, Gabriel. Com todos esses jogos e segredos.

Carlotta pôde ouvir o sonserino rir.

-Todos nós temos segredos, Carlotta. –ele disse. –Não há nada em que paire tanta sedução e maldição como num segredo.

-Citando Soren Kierkegaard¹. Que intelectual.

-Você o conhece? –seu tom de voz parecia espantado.

-Não ofenda a minha inteligência, Gabriel. Quem não conhece o pai do existencialismo²?

-Muita gente, para falar a verdade. Diversos bruxos nem sabem pronunciar seu nome.

-Não é porque sou bruxa, que não me interessaria pela teologia e pela filosofia trouxas. Aliás, existem muitas correntes filosóficas trouxas que certamente são plausíveis. 

-Como o próprio existencialismo

-Exato. Cada homem é um ser único, mestre de seus atos e de seu destino. –declarou. –Quer dizer, isso transpõe as barreiras entre o nosso mundo e o mundo deles. É uma máxima que se aplica a todos. 

-O Homem faz sua própria existência. –a acompanhou. –É incrível. 

Sem perceber, Carlotta abriu os olhos. A garota se deparou com uma paisagem deslumbrante. Estava na Torre de Astronomia, de onde tinha uma visão privilegiada de grande parte do castelo, da Floresta Proibida e das montanhas geladas ao fundo, a perder de vista. O vento estava violento naquele final de tarde, mas ela não se importava.

Como o sol reduzira-se a somente um filete de luz dourada entre as nuvens, o céu tingira-se de vermelho e laranja, levemente pontilhado de estrelas. Ela conseguia enxergar todos os alunos caminhando e conversando lá embaixo, mas não conseguia escutá-los. Não conseguia escutar nada. Apenas o barulho do vento se chocando contra o castelo.

-É. –disse. –É realmente incrível.



Gina, em sua jornada à procura de Hermione, havia atraído uma companhia indesejada. Ele tentou, por instantes, fingir que ele não estava ali, mas Abelardo Hilton sabia se fazer presente quando queria.

-Seu namorado não quis te ajudar a encontrá-la? –ele perguntou.

-Encontrar quem? –disse, sem se virar.

-Sua amiga, Hermione. Não é por ela que você está procurando?

-Isso não é da sua conta.

-Você perguntou pra metade do castelo sobre o paradeiro dela, Weasley. Por que ainda não veio até mim?

-Nojo, desprezo, indiferença, ódio. Escolhe você. 

O sonserino sorriu, aumentando a velocidade de seus passos. 

-Você sabe que está mentindo para si mesma. –declarou. –A culpa não é minha se...

-Calado! –ela se virou, bruscamente, com o dedo levantado. –Eu te proíbo de tocar nesse assunto. O que aconteceu, acabou.

-É óbvio que não acabou.

-Você não sabe o que diz.

Ele se aproximou dela. A menina deu um passo para trás.

-Quem você pensa que é, Hilton? -declarou a ruiva.

-Depende. -respondeu. -Quem você quer que eu seja? -a encarou, malicioso.

-É melhor se afastar de mim. –a garota colou suas costas na parede. Abel posicionou seus braços ao redor dela, mantendo-a parcialmente encurralada.

-Você não sabe o que quer, Gina.

-Harry pode nos ver aqui. –murmurou, apreensiva. -Aliás, qualquer um pode nos ver aqui. Você não tem o direito de...

-Você já deveria ter terminado essa história com o Potter há muito tempo.

-Eu o amo. E você sabe disso. 

-Mentira. –ele ergueu lentamente a camisa. –Você não...

-Eu tenho que ir. –ela abaixou-se, de olhos fechados, passando por debaixo dos braços de Abelardo. Voltou a caminhar depressa. –Por favor, esqueça o que aconteceu.

Ele encarou a ruiva, enquanto a imagem dela diminuía conforme ela ia se distanciando. 



A maioria dos alunos já havia entrado no castelo. Estavam em suas salas comunais, fazendo seus exercícios e outras atividades. Do lado de fora, perambulando pelos corredores, outros não compartilhavam da mesma vontade de dormir cedo. 

-Você está cheiroso. –disse Marcela, aproximando seu nariz da nuca de Harry.

-Eu tomei banho. –ele respondeu, arrepiando discretamente o pescoço à medida que a pele de Marcela se aproximava da sua.

-Você é cheiroso, na verdade. -pensou melhor. -Quer dizer, não depois de um treino. –sorriu.

-Agradeça por não ter me visto depois de uma luta de morte. –completou.

-E sempre tem alguém querendo te matar. Eu, sinceramente, não sei como você convive com isso.

-Não é algo em que eu possa opinar.

-É o preço que se paga por ser O Eleito. -disse. -Mas não se preocupe. Você fica bonito suado.

-Fico? –ele a encarou, desconfiado. 

-É. O cabelo desarrumado...

-Meu cabelo sempre está desarrumado, Oliver.

-Não me interrompa, Potter. –Marcela encostou-se ao ombro do moreno, carinhosamente. –Como eu dizia, o cabelo desarrumado, a roupa colada no corpo, a cara de malvado. Isso tudo é sexy. Fedido, é claro, mas sexy. 

Ele gargalhou. 

-Eu não posso dizer o mesmo. –disse, finalmente. –Nunca te vi suada.

-Sempre há uma possibilidade. –Oliver o encarou, enigmática. 

Harry devolveu o silêncio, ligeiramente encabulado.

-Qual é, Potter! Nós não somos santos. Um dia, faremos filhos e contaremos para eles como eles foram feitos.

-Eu não vou contar. Vou escondê-los da perversão do mundo.

-Será mesmo? Não tenho muita certeza disso.

-Não acredita em mim?

-Se você diz com tanta convicção, quem sou eu para duvidar? –deu de ombros. –Vamos falar de outra coisa: como vai seu namoro?

-Meu namoro?

-É. Você namora, certo? A Gina.

-Claro, claro. A Gina. O que tem ela?

-Como estão as coisas entre vocês?

-Ah, tudo certo. –respondeu, inquieto.

-Por que isso soou como “à beira do fracasso”?

-Temos as mesmas discussões que qualquer casal teria, só isso. 

-Discussões como...

-Eu me atraso no café da manhã, eu me atraso no almoço, eu me atraso para as aulas, eu ando demais com Ronald, eu a ignoro. Coisas do tipo.

-Não me parece muito justo.

-Vai dizer isso pra ela. 

-Mas você a ama?

-Claro que sim. Não suportaria as brigas se não amasse.

-Espero que ela te ame também.

-Como? -ele estacou e a encarou.

-Me perdoe. Eu não conheço o relacionamento de vocês, mas já presenciei coisas parecidas. Namorada que se impõe, namorado obediente. Relação destruída.

-Destruída?

-Um acaba magoando o outro, inevitavelmente.

-Você está sugerindo...

-Não estou sugerindo nada, Potter. Não quero levantar falsas hipóteses. Tirar conclusões precipitadas. –disse, séria. –Você precisa apenas ter uma visão ampla da situação. O que você representa: um namorado, uma aventura? -perguntou.

-Não sei, mas...

-Não quero que saia machucado.

Harry parou para refletir por alguns segundos.

-Eu estraguei a noite, certo? –Marcela bufou. –Não devia ter tocado no assunto.

-Não, não foi nada.

-Como não? Você vai ficar com essa cara estranha o resto da noite. Potter, nós deveríamos nos divertir.

-Só estou cansado, Oliver. –revelou. -Acho que vou dormir. Tenho que acordar cedo.

-Tem certeza?

-Tenho. Além do mais, preciso saber da Hermione.

-O que tem ela? –a sonserina arqueou a sobrancelha.

-Parece que desapareceu. Gina a estava procurando.

-Desapareceu? Quando?

-Ao que tudo indica, depois da aula de Trato das Criaturas Mágicas. -comentou, para em seguida abraçá-la. -Boa noite. –beijou a face lisa da menina.

Ela retribuiu o carinho.

-Boa noite. Você deveria pensar no que conversamos.

-Vou pensar. Obrigado.



-Obrigada, Gabriel. –Carlotta disse, enquanto eles caminhavam de volta para a sala comunal da Sonserina. –O passeio foi muito divertido.

-Para mim também. –ele não parava de encará-la.

-O quê? –ela desviou o olhar, envergonhada.

-Nada. –ele piscou rapidamente e voltou sua atenção para o corredor a sua frente.

-Tem certeza?

-Não sei. -pensou. -Talvez eu não tenha dito tudo.

-Conclua, então.

O menino, entretanto, foi interrompido antes que pudesse dizer algo.

-Boa noite. –André surgiu de um corredor secundário. –Por onde andaram?

-Estávamos estudando. –respondeu Gabriel.

-Está tarde. -fez cara de desconfiança.

-Muitas provas agendadas. –completou Carlotta, entendendo o jogo de Gabriel. –Não queríamos perder tempo.

-E você, aonde vai? –perguntou Gabriel.

-Dar uma volta. –André caminhou até Carlotta e lhe deu um beijo de boa noite. –Até mais, pequenina.

Boome ruborizou instantaneamente. Para seu contentamento, a escuridão do castelo não permitiu que ninguém percebesse.

-Boa noite. –ela disse, com a voz mole. 

André se afastou com rapidez e Carlotta o seguiu com o olhar, hipnotizada. Gabriel, ao lado da menina, percebeu o que ela estava fazendo. Seu sorriso amigável desapareceu lentamente. Quando André sumiu nas sombras, Boome se voltou para ele.

-E você? Ia me dizer algo? –perguntou, atenciosa.

-Ah. –ele estava inquieto. –Nada importante, Boome.

-Está tudo bem?

-Sim. Só estou cansado.

-É melhor voltarmos para a sala comunal. Está frio aqui. Vem comigo. –ela estendeu a mão, sorrindo.



-Está frio aqui. –disse Luna, encarando o céu estrelado.

-Quer voltar para o castelo? –perguntou Rony, abraçando-a para aquecê-la.

-Não precisa.

-Certo. –ele revirou os olhos.



-Onde você estava? –perguntou Marcela, assim que viu a silhueta avantajada de Carlotta adentrar a sala comunal.

-Eu... estava caminhando.

-Caminhando? -analisou Carlotta da cabeça aos pés. -Fez o que te pedi?

-Estou terminando. –respondeu, acanhada.

-Deveria estar pronto, Carlotta. -comentou com desgosto. -É melhor você subir para o dormitório.

Carlotta despediu-se de Gabriel e subiu.

-E você? –Oliver encarou o menino. 

-Boa noite. –disse, gélido, e subiu para seu quarto.

-Você não vai dormir, Oliver? –questionou uma voz masculina, que vinha do sofá em frente à lareira. Marcela reconheceu a figura de Abelardo.

A sonserina caminhou até ele e se estirou numa das poltronas.

-Muitos afazeres. –disse, fechando os olhos num gesto de cansaço. 

-Conseguiu conversar com o Potter?

-Ele continua o mesmo, Hilton. –ela o encarou, sem expressão alguma no rosto. –Algumas pessoas simplesmente não mudam. A Weasley?

-Culpada e tentada. -um sorriso enviesado surgiu nos lábios do jovem.

-Ridículo. Como se você fosse a última bolacha do pacote.

-Eu sou a última bolacha.

-Alguns se contentam com a última bolacha. –afirmou, com desprezo.

-Alguns morrem lutando por algo inalcançável. -rebateu.

-A definição de inalcançável é relativa. –murmurou. –Onde está o Draco? No quarto?

-Não.

-Não? Onde ele está? São duas noites seguidas sem aparecer.

-A vida dele é muito agitada. -disse, com uma expressão de sarcasmo.

-Onde ele está, Abel? –disse, seu tom de voz levemente alterado.

-Já disse que não sei. Não o vejo desde a aula de Trato das Criaturas Mágicas.

Marcela permaneceu em silêncio, seus olhos se movimentando ameaçadoramente.

-Não se preocupe, Oliver. -continuou Abelardo. -Conhecendo Draco como o conheço, ele deve estar se divertindo por aí.

-Claro que está. –disse, num sussurro rápido e frio. –E eu sei exatamente com quem. 


                                                                               continua .



                referências históricas

¹
Soren Kierkegaard (1813 - 1855)
Filósofo e teólogo dinamarquês do século XIX. Conhecido como "pai do existencialismo".

²Existencialismo
Corrente filosófica surgida entre os séculos XIX e XX, a qual tem por base a afirmação dos ideais de liberdade, responsabilidade e subjetividade do ser humano. Este, segundo o pensamento filosófico, tem livre arbítrio e é considerado um ser único, mestre des seus atos e de seu destino.



                                             Que formosa aparência tem a falsidade.
                                                                                william shakespeare

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