o confinamento.
capítulo 06
o confinamento
Hermione abriu os olhos subitamente. Após alguns segundos, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e tentou conseguir uma visão ampla do local em que se encontrava. A garota estava numa sala escura, deitada desconfortavelmente em um piso de madeira. Não tinha cobertores ou travesseiros e ela tremia compulsivamente de frio. Estava começando a sentir sede e fome. Além disso, sua nuca sempre costumava doer quando não dormia em sua cama. Se, pelo menos, eu estivesse com a minha varinha.
Seu olhar percorreu todo o ambiente até parar numa espécie de vulto, recolhido no outro lado do recinto, apoiado na parede oposta a ela. Hermione sentiu uma onda de fúria percorrer lentamente todo o seu corpo. Uma vontade incontrolável de machucar aquela estranha criatura com todas as armas de que dispunha naquele momento. Talvez ela não precisasse agir daquela forma, se uma incontrolável cadeia de acontecimentos não tivesse ocorrido horas atrás.
horas atrás.
A aula havia sido extremamente exaustiva, sem dúvidas. Caminhar por horas pela floresta não era o exercício predileto da maioria dos alunos. Além disso, as criaturas que Hagrid costumava trazer quase nunca eram inofensivas e belas de se ver. O fato é que, semana após semana, o número de alunos que permanecia nas aulas parecia diminuir.
A morena retornara com seu grupo ao castelo. Ela se encaminhava para a sala comunal, onde guardaria seu material, faria suas atividades e se prepararia para as aulas do restante do dia. Harry e Ronald haviam corrido para o campo de Quadribol, aparentemente para resolver uma urgência entre os jogadores. E Gina, pelo que ela entendera, estava prestes a perder uma reunião sobre um trabalho de Poções. A garota simplesmente havia se lembrado daquele compromisso, despedira-se e saíra em disparada.
-Com licença. –ouviu-se algo.
A garota estacou e se virou para procurar o dono daquela voz masculina. Não muito longe dali, um garoto, trajando um uniforme sonserino, aproximava-se com um livro nas mãos.
-É comigo? –ela perguntou.
-Você é a Hermione, certo?
-Sim. –confirmou. –E você é...
-Gabriel. –respondeu.
A garota arqueou as sobrancelhas.
-Já nos conhecemos? –perguntou, desconfiada.
-Na realidade, não.
-Então, por que eu tenho a sensação de que já te vi antes?
O menino apontou para o emblema da Sonserina em seu uniforme e disse:
-Malfoy?
Ela pensou um pouco.
-Claro! No café da manhã. Livro grosso, pergaminho e cabeça baixa?
Ele sorriu levemente.
-Provavelmente. –coçou a nuca.
-E desde quando você olha para a nossa mesa? –perguntou alguém que saía das sombras. Voz inesquecível.
Hermione se virou para fitá-lo. Era intrigante para ela a capacidade de Draco de surgir do nada. E exatamente no corredor em que ela se encontrava. Hogwarts não tinha tantas passagens assim.
-Quem disse? –ela perguntou.
-Você disse.
-Eu?
-Você.
-Acho que está enganado.
–Disse que viu um garoto com um livro e com a cabeça baixa. –ele sorria.
-Exato. UM garoto, não a mesa inteira.
-Ninguém tem visão parcial, Granger.
-As pessoas escolhem o que querem ver, Malfoy. –ela voltou-se para Gabriel, ignorando o loiro. –E o que você quer?
-Uma indicação de um livro. –ele respondeu.
-Você tem um nas mãos, sabia?
-Não. Preciso de outro que complemente as informações deste aqui. –comentou. –Pensei em te pedir auxílio pelo fato de você já ter lido diversas obras.
Hermione o encarou, pensativa.
-Algum tema em especial?
-Os variados benefícios da pluralidade de línguas para os povos mágicos. Pensei em citar os sereianos como ponto de partida e...
-Biblioteca, seção 14. Terceiro corredor à esquerda, última prateleira. Acho que o quinto livro da esquerda para a direita. –respondeu, categórica. –Se tiver alguma dificuldade é só falar com Madame Pince. E não leve...
-Comida, objetos pontudos, líquidos e animais? –ele completou, sorrindo. –Ela também me obrigou a gravar os protocolos de segurança.
Hermione também sorriu.
-São exagerados, mas acho que têm fundamento.
-De qualquer forma, obrigado.
-Sem problema. –eles se despediram e Gabriel foi embora.
Draco coçava a cabeça.
-Como esse garoto foi parar na sonserina é algo que eu jamais entenderei. –murmurou.
-Ah. Você ainda está aí. –ela revirou os olhos.
-Parece que sim.
-Malfoy, eu tenho Transfiguração em uma hora. –disse. –E preciso terminar um trabalho sobre Runas antes disso. Se me der licença...
O loiro a impediu de andar.
-Pode sair da frente?
Ele permaneceu parado.
-Tudo bem. –ela respirou profundamente e tentou passar pelo garoto. Obviamente, uma tentativa fracassada, visto que ele era mais ágil e forte que ela.
-Você está me ignorando. –disse, batendo de frente com ela.
-Que bom que isso ficou claro. Agora será que você...
Os momentos seguintes foram certamente inesperados para Hermione. Draco a segurou pelos ombros com força e a arrastou até a primeira sala vazia que encontrou pela frente. Os livros que a morena carregava caíram no chão, com estardalhaço.
-Como você tem a coragem de...
Ela tentava se soltar. Mais uma vez, em vão.
Draco, após colocá-los para dentro, virou-se para trás e murmurou, com um aceno de varinha:
-Colloportus. –e a porta, antes aberta, se fechou com um estrondo.
Hermione, desesperada, veio em sua direção com rapidez, gritando e chutando.
-Calma, calma! –ele a agarrou pela cintura, enquanto ela lhe batia.
-Perturbado. ME TIRA DESTA SALA AGORA! –disse, irritada.
-Você tem que parar com isso. Precisa relaxar. –ele deslizou sua mão para dentro do uniforme da menina e começou a procurar algo lá dentro.
Hermione arregalou os olhos com medo e surpresa.
-Ah, pervertido! PERVERTIDO! –começou a chutar o garoto. O loiro caiu para trás, fazendo uma careta. –FICA LONGE DE MIM! LONGE!
Um gemido de dor escapou dos lábios de Malfoy. A morena passou por cima de seu corpo caído e correu em direção à porta, batendo freneticamente para que alguém a ouvisse.
-SOCORRO! ALGUÉM!
Nada. Ela deslizou os olhos pela sala e viu uma pequena janela do outro lado da parede. Quando colocou sua cabeça para fora, deu de cara com a vastidão solitária do Lago Negro. Pior do que gritar para uma porta era gritar para o nada.
Vasculhou suas roupas, desesperada, à procura de sua varinha. Nenhum sinal em nenhum bolso.
-Ela estava aqui. –falou sozinha. –Ela estava... –ergueu lentamente a cabeça, com os cabelos desarrumados, e encarou Draco.
O loiro ainda estava deitado, porém a cena era diferente. No momento, ele chacoalhava dois pedaços de madeira, cada um em uma mão, com uma expressão de surpresa fingida no rosto.
-Você! –ela disse. –Seu... –e saiu correndo em sua direção, com os braços estendidos.
Hermione simplesmente pulou em cima do garoto. Ele, agilmente, usou suas pernas para envolvê-la pela cintura e segurou suas mãos. A menina não conseguiu se mexer, e agora estava daquele jeito: em cima de Draco, com os braços imobilizados.
-Granger, eu não tenho o costume de brigar por posições. –ele sussurrou malicioso. –Mas parece que hoje você está por cima.
Hermione bateu sua cabeça contra a de Draco, fazendo-o gritar e afrouxar a força que a prendia. Ela se desvencilhou do sonserino e se afastou, ofegante.
-Uau, Granger. –ele colocou as mãos na cabeça, ainda com dor. –Eu não sabia que você escondia esse lado animal.
-Costumo guardá-lo para ocasiões especiais. –respondeu. –Agora, a varinha. –estendeu a mão. Sabia que jamais o venceria pela força. Sua chave era a inteligência.
-Certo. –ele se levantou, caminhou até a janela aberta e atirou ambas as varinhas pela fresta.
A morena parou de respirar por alguns instantes, incrédula.
-Isso sim é que é uma virada de jogo. –ele murmurou, a encarando.
-Você a viu ou não? –perguntou Gina para Harry.
-Não, por quê?
-Ela desapareceu.
-Desapareceu?
-Desapareceu. Sem deixar vestígios.
-Não me lembro de tê-la visto na aula de Transfiguração.
-O quê? Ela não costuma faltar às aulas sem motivo.
-Eu sei.
-Vou tentar procurá-la. Quer ajudar?
-Tenho que ajudar Ronald nos treinos.
-Ronald? –o encarou. –Você tem passado tempo demais o ajudando.
-Você tem passado tempo demais com a Hermione.
-Ela é minha amiga.
-Ele não?
-Eu não vou ter essa conversa com você. –disparou. -Vou tentar encontrar a Mi antes que ela perca outra aula. Te vejo mais tarde.
-Certo.
Beijaram-se rapidamente e cada um foi para seu lado.
-Minhas mãos estão doendo. –comentou Hermione, apoiada na parede e com as pernas esticadas e cruzadas.
-O que você queria? –Draco estava na parede oposta à morena. –Eu não pedi pra ser espancado.
-Correção: obrigar uma monitora-chefe a entrar em uma sala desconhecida e jogar sua varinha pela janela é um convite ao espancamento.
-Em minha defesa, eu também joguei a minha. –respondeu.
-Isso é seu problema. Mais uma prova do quanto você é esquisito. –disse. –Além disso, eu não me importo com você.
-Irrelevante. –suspirou.
-Imbecil.
-Você tem que enxergar a situação de outra forma, Granger. Precisa aproveitar.
-E o que você sugere?
-Bem... –ele sorriu.
-Se você disser que vai ficar pelado, eu juro... eu JURO que te jogo por aquela janela sem remorso algum.
-Você não...
-Sugerir que eu fique pelada também incluirá as mesmas consequências.
Ele permaneceu calado. Homens.
Os raios de um belo pôr-do-sol atravessaram o vidro límpido da janela sem cerimônia. Gradativamente, a sala se materializou em tons de vermelho, laranja e dourado. Hermione levantou-se, com dificuldade, e tentou mais uma vez gritar por socorro.
-ALGUÉM? –disse, enquanto batia com as mãos na porta.
-Eu acho que ninguém está te escutando.
-Jura? –ela o encarou. Continuou a tentar. –SOCORRO!
-Será que dá pra parar? Você não pode fazer isso pra sempre.
-Quem é você pra me dizer o que eu posso ou não fazer? E, só pra sua informação, eu não precisaria fazer isso se não tivesse sido arrastada aqui pra dentro.
-Você só vai se cansar mais rápido desse jeito. Ninguém vai vir.
-E como você sabe?
Draco permaneceu em silêncio.
-O que VOCÊ sabe? –a morena continuou.
-Eu não tenho certeza de nada.
Ela afastou-se da porta e foi até o loiro.
-Certeza de quê?
-Veja só onde estamos: numa sala vazia, com somente uma janela pra ventilar o ambiente. Quer dizer, que sala em Hogwarts é assim?
-Aonde quer chegar?
-Eu posso estar enganado, mas...
-Estou ouvindo. –ela cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas.
-Acredito que estamos na Sala Precisa.
A garota fez cara de confusa.
-Na Sala Precisa?
-É. No momento em que te agarrei, precisava de um lugar seguro. Um lugar afastado do resto do castelo. Eu não pensei direito na aparência, só desejava uma sala vazia onde poderíamos conversar sem intromissões.
Ela o encarou.
-Você está me dizendo que ninguém está nos escutando? Eu estou deitada nesse chão imundo e gritando pra uma porta por que você pensou assim?
-Pode ser. –ele coçou a cabeça.
-E não passou pela sua brilhante cabeça me contar o que estava acontecendo?
-Como eu disse antes, eu não tenho certeza de nada.
-Talvez eles nunca nos encontrem! -concluiu, desesperada.
-É uma possibilidade.
-AH! –rugiu a morena, abaixando-se para bater em Draco. –Seu idiota!
Ele tentou se defender, posicionando os braços à frente do rosto.
-E o que eu faço agora? –ela continuou. –Já devo ter perdido todas as minhas aulas. TODAS! Você estragou meu cronograma. E agora eu vou ficar aqui pra sempre. PRESA COM VOCÊ!
-Não é o fim do mundo, Granger. –disse, desvencilhando-se da menina. Ele se aproximou de Hermione e a agarrou novamente. Enquanto ela se debatia, ele a segurou com força e a jogou no chão. Segurou seus braços com determinação e colocou-se em cima dela. Seus rostos a poucos centímetros um do outro. A garota tentou se soltar, mas logo desistiu. Havia aprendido que não se deve gastar suas últimas forças lutando com Draco.
-O que você quer? –perguntou, ofegante.
Os olhos acinzentados do loiro eram inebriantes vistos de perto. A boca levemente carnuda, o nariz modelado, a pele lisa.
Não, não, não.
-O que você quer? –repetiu, tentando não encará-lo.
-Por que acha que quero algo?
-Você não ficaria atrás de mim à toa.
-Você é muito desconfiada, Granger. –ele sorriu.
-Olha aqui, estrupício –disse bruscamente. –, ou você me tira daqui, ou eu te dou um soco. E, acredite, vai doer mais que o do terceiro ano.
-Vamos ver do que você é capaz. –ele abaixou lentamente a cabeça, sua respiração se confundindo com a da garota.
-Ah! –ela ergueu um dos joelhos, num chute brutal, e acertou o sonserino, que caiu para o lado numa expressão horrenda de dor.
-Droga, Granger, existem partes vitais por aqui. –ele tentou dizer.
-Com sorte, não existirão mais. –respondeu, batendo as mãos freneticamente no uniforme para mantê-lo bem arrumado.
Passados poucos minutos, ela se sentou num canto afastado e fechou os olhos.
Hermione abriu os olhos subitamente. Após alguns segundos, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e tentou conseguir uma visão ampla do local em que se encontrava. A garota estava numa sala escura, deitada desconfortavelmente em um piso de madeira. Não tinha cobertores ou travesseiros e ela tremia compulsivamente de frio. Estava começando a sentir sede e fome. Além disso, sua nuca sempre costumava doer quando não dormia em sua cama. Se, pelo menos, eu estivesse com a minha varinha.
Seu olhar percorreu todo o ambiente até parar numa espécie de vulto, recolhido no outro lado do recinto, apoiado na parede oposta a ela. Hermione sentiu uma onda de fúria percorrer lentamente todo o seu corpo. Uma vontade incontrolável de machucar aquela estranha criatura com todas as armas de que dispunha naquele momento. Talvez ela não precisasse agir daquela forma, se uma incontrolável cadeia de acontecimentos não tivesse ocorrido horas atrás.
continua .
É muito mais fácil conter a nossa raiva quando o outro cara é maior do que a gente.
autor desconhecido
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