dois chicletes, por favor.
capítulo 05
dois chicletes, por favor
Ao longe, podia-se ouvir o barulho de saltos no chão de pedra. Escutando atentamente, eram também perceptíveis os sons do farfalhar de roupas e do estalar de um chiclete sendo mastigado. Não demorou muito para que as responsáveis por tudo aquilo adentrassem o Salão Principal.
Era uma estranha imagem. De início, via-se a silhueta delineada de uma bela jovem na entrada do Salão. A garota trajava uma versão atualizada do uniforme do colégio: um par de scarpins pretos e reluzentes, uma saia que deixava suas belas pernas descobertas e uma blusa branca social com o emblema sofisticado da Sonserina estampado nela. Tinha belos cabelos negros, soltos e completamente lisos, batendo poucos centímetros acima da cintura. Sua pele era estonteantemente límpida, sem quaisquer imperfeições aparentes. O busto era avolumado e bem definido, o que costumava chamar atenção. Os olhos cintilavam na claridade do dia e mesclavam castanho-escuro e preto.
Ao seu lado, encontrava-se a parte esquisita da cena. Outra garota, baixinha, gordinha e de óculos, também com os cabelos lisos e com um uniforme mais comum, cobrindo praticamente seu corpo inteiro. Ela mastigava compulsivamente um chiclete e seus olhos castanhos ficavam revirando de um lado para o outro. Parecia extremamente inquieta.
-Será que dá pra parar com esse barulho? –a outra se virou para encarar a baixinha.
-Eu não consigo. –ela respondeu, sua voz acanhada. –Preciso mastigar o máximo que eu puder pra não ficar com fome mais tarde.
-Você é ridícula, Carlotta. Vai precisar desse show toda vez em que estivermos juntas?
-Não, claro que não. Só quando a comida for servida. –ela encarou a mesa dos sonserinos. –E eu acho que emagreci um botão da calça.
-Fascinante. –ela a ignorou. –Onde está o Draco?
Marcela Oliver, 17 anos.
A sedutora Oliver era alvo do desejo de muitos garotos dentro de Hogwarts. Entretanto, pelo fato da família da morena ser tão próxima da família de Draco, os dois possuíam uma afinidade um pouco maior. Não é novidade pra ninguém que Marcela o deseje somente para ela e que ele a queira por inteiro. Talvez com a aposta proposta pelos garotos, a relação dos dois torne-se mais estreita, por assim dizer. De qualquer modo, ainda que não o tenha definitivamente, Marcela age sutilmente para que nenhuma outra menina aproxime-se do sonserino.
Pode ser taxada como metida e fútil sim, mas a bela garota esconde diversas personalidades. É uma mulher forte, decidida, e planeja, na maioria das vezes, todos os passos que dá. Nasceu numa família de berço e pretende ter tudo o que deseja, ainda que para isso sacrifícios tenham de ser feitos. Quem a tiver como amiga pode não estar bem, mas quem a tiver como inimiga estará pior ainda.
-Ali. –a gordinha apontou. –Perto dos meninos.
-Vamos até lá. –ela começou.
Carlotta correu atrás da menina, mastigando o chiclete com mais força e se esforçando para caminhar rápido.
Carlotta Boome, 17 anos.
Apesar de ser uma das mais velhas do grupo sonserino, Carlotta tem o semblante de uma menina. Sua voz sempre parece indecisa e apreensiva e ela odeia ser um incômodo para os outros. Desde que entrou para a Sonserina, Carlotta fez apenas uma amiga: Marcela. Tecnicamente não é uma amizade como as outras, mas é o mais perto disso que ela pode conseguir. Lolotta, como de vez em quando é chamada, é extremamente rígida com sua aparência física e acaba, muitas vezes, arriscando sua própria saúde em virtude de um corpo perfeito. Para permanecer na Sonserina e, principalmente, para andar ao meu lado, você precisa estar magra e bonita, dissera-lhe uma vez Marcela.
Carlotta compreendia. Quer dizer, todos os sonserinos são aclamados e desejados por seus belos corpos e qualidades físicas. Ela não queria ser a ovelha negra do grupo e manchar a imagem de todos. Em razão disso, é muito comum encontrá-la pelos corredores seguindo uma dieta que só ela conhece e que promete sua tão sonhada forma física. Sua obsessão, no momento, são os chicletes, que, de acordo com ela, quanto mais mastigados, mais fazem você perder a vontade de mastigar outros alimentos. Você engana o estômago.
-Bom dia, meninos. –disse Marcela.
Os quatro garotos voltaram sua atenção para a dupla que chegava.
-Bom dia. –disseram alguns.
André se ergueu da cadeira e deu um beijo na bochecha de sua irmã.
-Bom dia, meu anjo. –disse.
-Bom dia, André. –ela retribuiu o beijo com outro. –Como estão todos?
-Ótimos. –André percebeu a presença de Carlotta. –Bom dia, Lolotta. –aproximou-se dela e também lhe deu um beijo.
-Ah. –ela corou levemente. –Bom dia, bom dia. –acenou para os outros.
-Você está linda hoje, Lolotta. –comentou Abelardo, com um sorriso nos lábios.
-Claro que ela está. –Oliver disse com certa indiferença e sentou-se ao lado de Draco. –E como você está, garotão?
-Satisfeito, na medida do possível. –Draco a encarou nos olhos.
-Onde você estava ontem à noite, Malfoy?
-Onde eu estava? Como assim? Eu estava no quarto, como sempre.
-Certamente que não. Eu não te encontrei lá.
-Você... foi até o meu quarto.
Ela sorriu.
-Na verdade, eu só botei a cabeça pra dentro da porta. Estava com falta de sono.
-É, eu acho que muita gente estava com falta de sono ontem à noite. –comentou Abelardo, segurando um riso.
André lhe deu um chute por debaixo da mesa.
-Au! –ele fez uma expressão de dor.
-Você está bem? –perguntou Carlotta.
-O que isso deveria significar? –os olhos de Marcela caminhavam por Draco, André e Abelardo. Gabriel estava numa ponta distante, lendo um livro e fazendo anotações num pergaminho.
-Nada. –apressou-se o loiro a dizer. –Não significa nada. Mas você podia ter me avisado que iria me procurar.
-E onde ficaria o fator surpresa? –ela lhe deu um beijo na bochecha.
-Vamos logo! –Hermione já estava de pé, ao lado de Gina, esperando Harry e Rony terminarem de comer. –Vamos nos atrasar.
-Nós já estamos atrasados. –comentou Harry. –Que diferença faz?
-Harry James Potter, engula isso e vamos agora. –rugiu Gina. –Não me faça ir até aí.
Quando o grupo finalmente estava se retirando do local, a atenção de Hermione foi rapidamente desviada. Ao virar a cabeça, a morena viu, a poucos metros de onde estava, uma garota beijando Draco e, em seguida, abraçando-o por longos minutos.
-Mi, alguma problema? –perguntou Gina, já na porta do Salão. –Vamos.
-Viu? –disse Harry, a alguns metros. –Por que me apressou se...
Virgínia virou-se lentamente para encará-lo. Foi questão de segundos até o garoto virar para frente de novo e começar a caminhar ao lado de Rony. A ruiva, em seguida, voltou-se para Hermione.
-Então?
-Estou indo. –a garota ajeitou o corpo, virou o rosto e seguiu seus amigos.
Gabriel se levantou.
-Vai aonde? –perguntou Abelardo.
-Para a aula.
-Que aula? Quando? –os outros se viraram para encará-lo.
-Trato das Criaturas Mágicas. E, tecnicamente, começou há alguns minutos.
-Merda, merda, merda.
Os garotos terminaram de comer rapidamente e arrumaram suas coisas.
-Você está esquisita. –comentou Gina, enquanto caminhava ao lado de Hermione.
As garotas estavam seguindo a costumeira trilha que as levaria até a cabana de Hagrid, de onde mais uma vez partiriam para a floresta dos horrores e encontrariam outro bichinho de estimação do homem. Rony e Harry andavam mais à frente, conversando animadamente sobre algo.
-O quê? –disse a morena, meio que saindo de seus próprios pensamentos.
-Você. –ela repetiu. –Está esquisita.
-Esquisita? Esquisita como?
-Não sei como. Só sei que está.
-Isso não faz sentido algum, Virgínia.
-Você está calada, pensativa. Em que está pensando?
-Em nada.
-Em nada? –arqueou as sobrancelhas. –Conta outra, Granger. Eu te conheço. Desembucha.
-Não é nada, juro.
-É mesmo? Então aquele olhar perdido pra mesa da Sonserina não foi nada?
-O quê? –ela se endireitou, envergonhada. –Do que você está falando?
-Não se faça de desentendida comigo, Hermione. Os meninos podem não perceber porque eles são duas mulas, mas eu vi. Eu vi você olhando pra mesa da Sonserina. Particularmente pra uma pessoa.
-Um olhar não significa nada, Virgínia.
-Como não? Não dizem que um olhar vale mais que mil palavras?
-Uma imagem, Virgínia. Uma imagem vale mais que mil palavras.
-Tanto faz. Eu VI a imagem de você olhando pro Malfoy e isso me disse muita coisa.
-E o que isso te disse? –a morena se virou curiosa para encará-la.
Antes que a ruiva pudesse responder, alguém subitamente se aproximou correndo.
-Bom dia, meninas. Lindo dia, não? –perguntou Draco, levemente ofegante. Aparentemente, ele deveria ter corrido para tê-las alcançado.
-Ah.. Bom dia. –respondeu Gina, como se estivesse olhando para um ET.
-Bom dia. –Hermione nem se deu ao trabalho de encará-lo. Simplesmente encarava o horizonte, agarrando com força seus livros.
-Posso falar com você? –ele perguntou a ela.
-Eu tenho aula agora. –disse.
-Eu também. Com você e a sua turma.
Mentalmente, a menina amaldiçoou ter escolhido Trato das Criaturas Mágicas como uma de suas matérias daquele ano.
-Eu acho melhor ir na frente. –comentou Gina. –Vou falar com os garotos.
Assim que a ruiva deu um passo, Hermione a agarrou pelo braço.
-E você pode ficar aqui. Não vai a lugar algum. –falou. Virou-se para Malfoy. –Sinto muito, estou ocupada agora.
-Então mais tarde, quem sabe?
-Eu tenho muita coisa pra fazer:Transfiguração e Runas. Você não se inscreveu em Runas, se inscreveu?
-Não.
-Que coisa. Nós poderíamos conversar lá. Pena. Até mais, Malfoy. –ela agarrou Gina novamente e a incentivou a continuar andando depressa.
De longe, caminhando ao lado de Carlotta e perto dos outros sonserinos, Marcela assistia com curiosidade àquela cena. Um Draco ofegante e agitado tentando conversar com duas meninas da Grifinória. Normalmente, ela não se importaria tanto, já que cenas como aquela eram comuns de ser ver. Mas o que a alarmou foi a identidade das garotas. Uma ruiva que andava com imponência e uma morena de cabelos grossos com uma pilha de livros agarrada aos braços. Ele simplesmente saíra correndo no meio de uma conversa com Marcela quando as viu.
-Quem são aquelas? –ela queria ter certeza de que não estava tendo alucinações.
-Ah, vejamos. –Carlotta ajeitou seus óculos. –A ruiva é a caçula dos Weasley, Virgínia. E a menina dos livros é Hermione Granger.
-E por que ele está falando com elas?
Carlotta mastigou seu chiclete com rapidez enquanto falava.
-Não sei. Talvez queira se socializar.
-Draco Malfoy não precisa se socializar, Carlotta. –comentou com acidez. -E jogue essa droga de chiclete fora. Não tem um cheiro bom e você continua gorda.
Carlotta a encarou. Em seguida, tirou o chiclete da boca e o jogou no chão.
-É melhor você ficar de olho nelas. –Oliver continuou.
-Por quê? Não deve ser nada importante.
-Eu só quero me certificar de algumas coisas.
Draco estava voltando até elas.
-Ele está vindo. –disse Marcela.
Carlotta afastou-se e começou a conversar com Gabriel.
-Tudo bem? –Marcela perguntou para o loiro.
-Sim, por quê?
-Não, por nada.
-O que foi aquilo? –perguntou Gina, segurando um riso.
-Não fala nada. –Hermione estava inquieta.
-Ele vem até você agora? E aquela história de que tudo voltou ao normal?
-Ele fica me perseguindo. –ela comentou, desesperada. –E, quando não está me perseguindo, fica me encarando de longe.
-Conversa com ele, oras.
-Conversar o quê? Eu não tenho nada pra conversar com ele.
-Parece que ele tem pra conversar com você. O que você vai fazer?
-Fingir que ele não existe, me encher de tarefas e sumir por uns tempos.
-Você não pode fazer isso pra sempre.
-Ah, eu sei. Esse é o plano provisório.
Depois de conversaram mais um pouco, elas caminharam em silêncio.
-Marcela Oliver. –disse Gina.
-O quê?
-Marcela Oliver. É o nome da menina que estava beijando o Draco.
-Por que está me dizendo isso?
-Você olhou com estranheza pra ela. Presumi que não soubesse quem era.
-Nem faço questão.
-Claro que não. Por que faria? –ela riu.
-Cala a boca.
-Vocês duas! –gritou Harry, ao longe. –Vocês vem ou não?
-Já vamos! –respondeu Hermione.
continua .
Certas dietas são simples. É só cortar açúcar, frituras, massas, molhos, bebidas alcoólicas... e os pulsos.
radical chic, miguel paiva
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