aquele com a srta. sulivan.
capítulo 03
aquele com a srta. sulivan
Há tempos que Lara Sulivan não corria tanto. A bem-sucedida jornalista americana havia conseguido uma entrevista exclusiva com o possível futuro presidente dos Estados Unidos, Warren Danson, e, em razão do trânsito caótico de Washington, perdera completamente o horário. Naquele momento, encontrava-se correndo em disparada em direção ao Capitólio dos Estados Unidos, acompanhada de perto por um batalhão de fotógrafos, câmeras e outros colegas de trabalho.
Lara Sulivan, 33 anos.
A encantadora e competente Lara havia conquistado seu posto como jornalista de sucesso há pouco mais de 2 anos. Seu corpo torneado, seus longos cabelos dourados e seus olhos levemente verde-azulados lhe conferiam o título de ‘mais bela jornalista do século’. Além disso, possuía uma voz adocicada, capaz de confundir qualquer homem, e uma segurança em seus atos que assustava seus companheiros de trabalho.
Tinha estatura média e, naquele momento, trajava sua usual roupa de trabalho: uma blusa negra com um pequeno microfone acoplado, uma calça jeans requintada e um par de botas pretas, adornadas com detalhes em prata luminosa. Seus cabelos estavam soltos e, portanto, balançavam freneticamente com o vento. Seus óculos cor de creme quase nunca eram vistos em seu rosto, já que ela não gostava de admitir a dificuldade em enxergar.
-Me lembre de sempre usar tênis quando visitar o Capitólio, Vini. –ela comentou em voz alta, fazendo uma careta a cada passo dado.
-Eu lembro, mas você é muito teimosa. –declarou um rapaz jovial, que vinha logo atrás dela, carregando uma máquina fotográfica no pescoço.
-Você precisa aprender a ser mais persuasivo.
Warren Danson batia compulsivamente os dedos na mesa ornamentada do Capitólio.
A eleição para presidente se aproximava dia após dia e, dentre todos os candidatos ao influente cargo, ele era o preferido da maioria. Havia concordado, semanas antes, a ceder uma entrevista à revista Conscience, a respeito de suas ambições e promessas políticas. Falara por telefone com uma jornalista de voz melodiosa cujo nome agora não se lembrava.
Ao seu redor, cinco seguranças imponentes encaravam o vazio.
-Pelo amor de Deus, isso é inaceitável! –declarou, quebrando o silêncio. -45 minutos! Eu tenho outros compromissos.
-Vamos esperar um pouco mais. –disse um senhor elegante, de terno, sentado em uma poltrona. –O trânsito estava péssimo esta manhã, Warren.
-Ainda assim. –continuou o homem. –Nem ao menos uma ligação para justificar o atraso.
-Sua impaciência sempre foi sua maior fraqueza, amigo.
-Ora, faça-me o favor, Felício. 45 minutos não é paciência. É afronta.
De repente, um dos seguranças apertou fortemente um fone de ouvido contra a orelha, como se estivesse ouvindo uma mensagem.
-E onde eles estão? –perguntou. –Certo. –encarou o futuro presidente. -Traga-os o mais rápido possível.
-Bem, acredito que sua espera tenha chegado ao fim. –declarou Felício.
-Muito obrigada, muito obrigada mesmo. –disse Lara. –Por um momento, eu realmente achei que não conseguiríamos chegar a tempo.
-E vocês realmente não chegaram. –declarou friamente o segurança que os acompanhava até a sala de Warren. –O Sr. Presidente teve de esperar mais de meia hora pela sua chegada. Tempo precioso e de que atualmente ele não dispõe.
Sulivan se calou, encabulada.
-Mas ele ainda não foi eleito presidente. –disse, com a voz baixa. –Por que se refere a ele como Sr. Presidente?
O homem virou os olhos gélidos para ela por um instante e apressou o passo.
Warren Danson e Felício McFee ergueram-se para receber seus convidados.
-Senhores –declarou Lara. -, perdoem-nos pela demora. O trânsito foi de fato um imprevisto terrível para nossa equipe.
Felício e Warren trocaram olhares.
-Certamente. –respondeu o primeiro.
-Espero que não tome muito do meu tempo, Srta. Sulivan. Tenho importantes compromissos marcados para o resto do dia.
-Não, claro que não, Sr. Danson. Sabemos como sua agenda é atribulada, principalmente nesses últimos dias antes da eleição, e agradecemos por disponibilizar parte do seu tempo para a Conscience.
-Até mais do que deveria. –respondeu.
Felício lançou-lhe um olhar de repreensão.
-Ah, certo. –respondeu Lara. Ela se virou para sua equipe, que já começava a montar a aparelhagem de filmagem. Em seguida, virou-se para Felício. –Prazer, Lara Sulivan. –disse-lhe, estendendo a mão.
-Felício McFee. –uma imponente voz masculina saiu da boca do homem. –Conselheiro pessoal do Sr. Danson e seu grande amigo também.
-Encantada.
-Não tanto quanto eu. -ele sorriu, com carinho. -Com todo o respeito que o profissionalismo me permitir ter, a senhorita é uma bela mulher.
-Vindo do conselheiro pessoal do futuro presidente dos Estados Unidos, eu me sinto lisonjeada, senhor. –ela sorriu. –Podemos começar?
-Certamente. –declarou Warren, sentando-se novamente em sua mesa.
-Vini, por gentileza, feche a porta.
O fotógrafo aproximou-se da porta para fechá-la.
-O barulho atrapalha a edição do vídeo mais tarde. –explicou a mulher.
-Sem problemas.
-Muito bem. –Lara se virou para sua equipe e viu que tudo estava pronto. Encarou Warren novamente, retirando um gravador de voz de um dos bolsos. –Bem, Sr. Danson, em primeiro lugar, o que o faz pensar que será um presidente melhor que todos os outros? Quer dizer, o que o coloca como o estopim de uma nova fase para os Estados Unidos?
-Bem, eu acredito...
-Avada Kedavra. –ouviu-se um leve sussurro na multidão, tal qual o sibilar de uma cobra.
Todos viraram as cabeças, à procura de quem dissera aquilo. Em poucos segundos, um filete de luz verde percorreu a sala, penetrando no corpo de um dos seguranças e fazendo-o cair duro no chão. Logo em seguida, mais cinco filetes surgiram, saindo de estranhos pedaços de madeira que a equipe de jornalismo segurava.
-Mas o que diabos... –começou Felício, antes que fosse atingindo no peito por um filete e caísse com um baque.
Outros seguranças tentaram pegar suas armas, mas fora uma tentativa em vão. Passados poucos segundos, todos, exceto Warren, estavam mortos.
O homem encarava com horror e incredulidade a imagem a sua frente. Em seguida, virou-se para Lara, que ainda o encarava com o gravador estendido nas mãos.
-O senhor ainda não respondeu a minha pergunta, Sr. Danson. –disse, calmamente. –O que o faz pensar que será um bom presidente para este país?
continua .
Há enganos tão bem elaborados que seria estupidez não ser enganado por eles.
charles caleb colton
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