lágrimas para o vazio.
capítulo 02
lágrimas para o vazio
3h da manhã.
A garota encarou sua própria sombra, na esperança de encontrar algo novo. As chamas da lareira estavam rareando, e praticamente todo o aposento fora engolido por sombras.
Suspirou penosa. Largou-se relaxada na poltrona e esticou as pernas, colocando o grosso livro sobre ela. Nada melhor para distraí-la do que um bom livro sobre Transfiguração.
Ao colocar seus fios de cabelo por trás da orelha, fechou os olhos. Marina Clarkmon, 17 anos e cabelo LISO.
Contornou sua face com as mãos. Jéssica Baltmey, 16 e pele de pêssego.
Derramou uma sorrateira lágrima pelo canto dos olhos.
Mais um suspiro. Deixou o livro de lado e deitou-se encolhida no sofá de três lugares. Abraçou os joelhos e reprimiu um soluço. Ninguém a queria por perto. Harry tinha finalmente se entendido com Gina, e estavam formando o casal mais fofo que ela já vira na vida. Rony havia se apaixonado estranhamente por Luna, e estavam juntos. Ambos os casais bonitos e felizes. E ela? Talvez ela formasse um par com bichento, o único que provavelmente a amava.
O gato, por sua vez, encontrava-se num leve sono naquele instante, ronronando compassadamente e se ajeitando ao seu lado.
Uma luz se acendeu no andar de cima.
Rapidamente, Hermione limpou as lágrimas e se arrumou no sofá, como se nada tivesse acontecido.
O ruído de pés descalços descendo as escadas ecoou pela sala. Um garoto, de olhar cansado e pijama amassado, surgiu em seguida.
-Mi? -a voz arranhada de Harry cortou o silêncio.
Hermione Granger, 16 anos.
Altura mediana. Inteligente e esperta. Cabelos longos e enrolados, mas belos e bem cuidados. Olhos castanhos e melancólicos. Sempre está com um livro de 1.000 páginas por perto para passar o tempo. Nunca recebeu nenhuma detenção em sua vida escolar. Monitora-chefe e aluna exemplar, sempre recebe bons elogios dos professores. Usava um pijama rosa claro com detalhes em branco, tudo muito discreto.
Ele sentou-se ao lado da menina e lhe deu um beijo na bochecha.
-Aconteceu algo? -perguntou, vendo-a de cabeça baixa.
Bichento acordou e pulou num salto para o chão.
-Que horas são? -o moreno continuou.
-Não sei. -falou com a voz baixinha.
-O que aconteceu?
-Só estou cansada. -falou, tentando disfarçar. Passou a mão pelo rosto.
-Não, não está. Depois de tanto tempo, ainda acha que consegue mentir pra mim?
-Sério. –olhou-o com o rosto um pouco amassado, mas com um pequeno sorriso. -Eu não tenho razões para mentir.
-Então por que ainda não foi dormir? -bocejou. -Se você disse que estava cansada...
-Não consigo.
-Quer companhia?
-Não, você está com uma cara de sono horrível.
-Eu sei. -ele sorriu preguiçosamente. -Mas não importa. Nunca me preocupei com horários mesmo. -suspirou. -E aí? -a encarou. -Sobre o que quer conversar?
-Harry, eu sou uma péssima companhia. Você não vai aguentar ficar ao meu lado por muito tempo. -suspirou.
Harry Potter, 16 anos.
Alto. Cabelos negros e rebeldes, olhos verdes como um par de esmeraldas. Mais conhecido como Menino-Que-Sobreviveu ou "O Eleito", Harry sempre está pronto para ajudar os amigos, nem que tenha que dar a própria vida para isso. Namorado de Virgínia Weasley, ele não perde uma boa detenção por nada. Como diz o ditado: "quem procura, acha". Sempre está envolvido em algo com seu melhor amigo Ronald Weasley.
-Hei! -aproximou-se dela. -Quem foi seu melhor amigo durante todos esses anos?
-Você tem outras coisas com que se preocupar. Pra que mais um problema?
-O quê, por exemplo?
-Não é uma coisa assim, desse tamanho, pra que você se preocupe.
-Mas eu me preocupo.
-Crise existencial.
-Isso é algum tipo de 'assunto de mulher' em que eu não devo opinar? -perguntou, carinhoso.
-Não, bobo. -sorriu.
-Que ótimo. -sorriu, daquele jeito que ela já conhecia. -Porque eu realmente nunca entendi essa história.
Bichento voltou para o colo da dona, que passou a mão em seu pelo num gesto de carinho.
-Por que você se importa tanto com a opinião dos outros?
-Boa pergunta. -soltou uma risada pelo nariz.
-Você é linda e inteligente.
-Certo.
-E tem amigos maravilhosos. -comentou, com orgulho.
-Começou.
-O quê? -rendeu-se. -Claro, amigos que te amam e desejam sua felicidade.
-Talvez. -sussurrou.
-Isso é invenção da sua cabeça. -a beijou novamente. -E aposto que Rony também pensa isso.
-Você é carinhoso demais, Harry. -suspirou.
-Eu acho que poderíamos passar mais tempo juntos. O que acha?
-Você tem a Gina, não inventa.
-Ela, apesar de querer muito, não ocupa 100% do meu dia. -respondeu, faceiro.
-E você é muito modesto.
-Já você, cabeça dura. E eu te amo por isso. Não pelo que o resto da escola diz.
-É. -levantou-se. -Achou que vou dar um passeio, para aliviar a tensão. -beijou-lhe o rosto. -Volte a dormir, senão a Gina vai terminar com você por causa dessa cara amassada.
-Passeio? -repetiu. -O castelo não está deserto?
-Quero desaparecer, Harry. Posso? –bagunçou-lhe o cabelo e foi em direção ao quadro.
-Juízo você ainda tem, certo? -perguntou, quando a garota estava no corredor do outro lado.
-Alguém tem que ter. –falou, sumindo de vista.
Ele sorriu para si mesmo e estirou-se novamente no sofá. Bichento estava ao seu lado, com o olhar perdido. Harry o encarou.
-O quê? -perguntou curioso. -Você sabe como ela é.
Quando se levantou para ir dormir, esbarrou em algo no chão. Um livro de capa grossa sobre Transfiguração. Abriu na página marcada e, passando os olhos rapidamente pela página, encontrou grossas marcas de lágrimas manchando as letras.
-Mi, o que será que está acontecendo? -perguntou-se, olhando para o local onde a amiga tinha acabado de sair. Meneando negativamente a cabeça, colocou o livro sobre a poltrona e subiu para o dormitório.
A garota caminhou por horas com a varinha acesa, antes de se decidir por um lugar fixo.
O lago parecia uma boa opção. Não tão prazerosa, devido ao frio, mas era um local silencioso e bom para pensar.
Sentou-se ao lado da costumeira árvore de estudos. Arqueou as sobrancelhas levemente e ergueu a cabeça para o céu. Estrelas eram poucas. Na verdade, estava fascinada com a lua.
Poderia criar um monólogo sobre sua vida conturbada. Sobre seus anseios mais profundos, que nem seus amigos conheciam. Poderia conversar com a noite, pois sabia que somente ela a entenderia. Além disso, suas palavras difusas se perderiam no silêncio do lago e ninguém ficaria sabendo.
Os pensamentos lentamente foram se fixando em sua mente. Como aquele mundo, que um dia chamara de lar, poderia ter se tornado um antro de crueldade? Quando um corpo bonito e uma roupa na moda passaram a ser requisitos para se ser aceito e se alcançar a felicidade? Ela nunca compreenderia.
Lembrava-se, por exemplo, do dia em que, durante a aula de Snape, fizeram-na chorar. Havia encontrado um pedaço de pergaminho no chão, que dizia claramente os comentários malévolos que os outros não tinham coragem de dizer na cara dela. E o baile, que havia sido marcado há pouco tempo, só piorava as coisas. Harry certamente iria com Gina, sua eterna criança. Rony, por sua vez, divertia-se com seu namoro com Luna. Enquanto ela... bem, enquanto ela permanecia só.
E, por meio de um grito de desespero entalado na garganta, desabafava seu sofrimento para o nada. Apenas uma lágrima escorreu por seu rosto.
Escutou um estalo um pouco atrás de si e se virou bruscamente. À primeira vista, não discerniu quem estava ali.
-Granger? –alguém perguntou.
-Malfoy! –ela disse, surpresa.
continua .
A beleza é uma tirania de curta duração.
sócrates
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