Angelic me





"A negação não é uma poça d'agua. É um Oceano. E como podemos fazer para não nos afogarmos?"

Hoje é um dia super especial! Não, não é meu aniversário, porque se fosse seria o melhor dia do ano e hoje é só um bom dia. Vocês devem estar me achando louca, né? Mas eu não sou! Hoje eu apenas não tenho aula, quer dizer eu tenho, mas não vou. Desde quando sou uma boa aluna?


Levantei-me indo em direção ao banheiro. Estava com uma cara horrível e meu cabelo parecia mais o do James. Só pra constar, meu cabelo é rebelde! Prendi-o em um rabo de cavalo, escovei meus dentes e fui para a sala. Como não havia ninguém por lá, liguei a televisão e fiquei assistindo Tom e Jerry até Sirius aparecer na sala com uma lata de pêssego em caldas. Eca!


- A cada dia você fica mais nojento.


Ele sorriu sentando-se ao meu lado.


- 'Brigado.


- Eu não falei que era um elogio.


Bufando o cafajeste roubou o controle da minha mão e colocou na MTV.


- Sirius! Aquele era o episódio especial de Tom e Jerry!


Dando de ombros ele colocou o controle dentro da calça para eu não pegar.


- Isso é trapaça!


Ele sorriu e eu saí para a cozinha, estava morrendo de fome. Agora eu tenho certeza que nunca vou ser dona de casa! Sério, como eu vou sobreviver só de porcarias? Eu acho que é por isso que Marlene sempre fala que eu estou engordando, coitada de mim!


Peguei uma barra de chocolate e voltei para a sala, Sirius ainda assistia o canal de música, onde passava Bad Romance da Lady Gaga.


- Seu desocupado, não vai para a aula não? – comecei a comer minha barrinha e o vi dar de ombros mais uma vez.


- Hoje é sexta- feira.


A cada dia a criatividade dele atrofia, nem vou citar o fato de que também não tenho criatividade.


- E daí?


- Último dia da semana, um dia muito feliz para se ir à aula, mas eu não vou.


Coitada da minha cabecinha, esses loucos querem me enlouquecer e ainda parece que tem uma vozinha na minha cabeça falando "você já é louca, querida".


- Hoje eu ainda tenho que pagar alguém para buscar meu carro, ele quebrou -falei suspirando. Coitado do meu carro, sozinho, isolado, na chuva... insignificante.


- Arte das trevas.


Levantei a sobrancelha, desde quando Sirius fica lendo "Harry Potter"?


- Macumba?


Resolvi sair dali, o Sirius cansa qualquer um. Fui para o quarto do Jay, que não estava lá, e voltei para a sala. Acho que vou caminhar...


- Sirius, vem caminhar comigo? – Pedi passando as mãos pelo cabelo dele com a voz mais doce do mundo.


- Lily, querida, seus encantos só funcionam com o James.


Que garoto chato! Peguei meu celular e procurei alguém disponível para caminhar comigo.


- Vou acabar tendo que alugar amigos - resmunguei e Sirius só riu da minha cara. Ele nem notou meu novo corte de cabelo!


Fui trocar de roupa e voltei pronta para caminhar.


- Você não vai aguentar nem cinco minutos.


- Você é tão encorajador.


Ele sorriu amarelo e aproveitei para pegar uma água na geladeira.


- Uma tal de Missy ligou ontem querendo falar com você.


Missy? Será que era a minha prima Melissa? Mas eu não falo com ela há anos!


- E o que ela queria?


- Alguma coisa sobre aeroporto, não entendi direito.


Suspirei. De duas uma, ou Sirius 'tava bêbado ou tinha levado um fora da Lene.


- Você bebeu Sirius? Não minta!


Ele passou a mão pelos cabelos, sustentando um sorriso nos lábios.


- Eu não lembro.


Eu estou mesmo em um antro de perdição.


- Tchau, beijos! - falei saindo pela porta e ele só levantou o braço fazendo uma careta engraçada. Tanto esforço...


Fui até a praça central e comecei a caminhar. Sério, isto exige um grande esforço físico, porque meus joelhos estão quase cedendo. Liguei meu Iphone e comecei a escutar minha diva Britney Spears, acho que não preciso comentar que Alice tem repulsa por ela, né? Na verdade Alice odeia tudo que não é convencional, apesar disso somos amigas e ela tem afeto por mim, eu acho...


Ah! Minha situação é complicada. Marlene também não é uma amiga das melhores, eu não sei que fixação ela tem por querer me mudar. Na verdade ela fala que eu sou a estranha, mas quem namorou o prepotente do Lestrange foi ela! Como que uma pessoa como ela pôde namorar aquele político corrupto que agora é noivo da prima do Sirius, Belatrix? E o Sirius a ama! Quer dizer, ele nunca falou, mas isso é óbvio apesar dele dizer que é apenas uma paixonite. Sei, sei.


Certo, eu aqui criticando minhas amigas e nem me olho no espelho! Quem sou eu? A louca que já fez as coisas mais vergonhosas no colegial! Já pulei na piscina de roupa e tudo quando as criançinhas estavam tendo aula, em um ataque joguei todos os livros da biblioteca no chão, dancei tango com meu ex professor de física e cantei rapper no meio do pátio central com essa minha voz maravilhosa (cof,cof).


- Ai!


Eu gritei quando um idiota bateu em mim. Isso que dá ficar caminhando de olhos fechados! E ao invés de esbarrar com um cara musculoso e gostosão, esbarro com um baixinho, gordinho e com um cabelo de palha.


- Desculpe-me - ele falou docemente no que senti minha raiva aumentando.


- Vai à merda! Quem é você?


Eu sou uma boca suja miserável, eu sei disso. O cara todo bonzinho e eu uma mal educada sem educação.


- Peter Pettigrew, prazer.


Nome estranho... ele não tem cara de Peter. Uma vez eu conheci um Peter, mas ele era mais bonzinho e... tá, deixa para lá.


- Dorcas Meadowes.


Que é? Eu não ia dar meu nome para um sujeito que eu mal conheço, ele podia muito bem estar inventando esse nome. Eu sou desconfiada, fazer o que?


- Posso te acompanhar na caminhada?


Eu assenti insegura, será que ele ia me enfiar em um beco escuro, me matar e pegar meu cheiro? Calma Lily, ele não é o homem sem cheiro daquele filme.


- Sabe, eu sou cantor.


Como um cara tão feio pode ser cantor? Não é descriminação gente, eu só não fui com a cara dele.


- Legal, eu sou DJ.


Ele sorriu e continuamos a andar. Se eu estava em um momento da minha vida em que eu podia mentir a vontade eu ia aproveitar, afinal eu sempre quis ser hippie e DJ.


- Você canta o que? - perguntei enquanto bebia minha água.


- Eletrônico. Estranho... nunca ouvi falar de você.


Opps!


- Eu uso codinome, e claro não posso falar para não revelar minha identidade.


Ele riu como se isso fosse ridículo e eu mesma achei que minha criatividade agora passou de zero para impossível.


- Por quê?


Engoli em seco, o que eu ia inventar agora?? Que eu era filha do presidente?


- Meu pai é político e muito corrupto.


Ele me olhou com uma cara estranha e eu me amaldiçoei por dizer uma besteira dessas, quem ia dizer que o próprio pai é corrupto?


- Mas eu o amo.


Ele assentiu ainda me olhando estranho, eu tenho que vazar daqui.


- Eu vou pegar aquele caminho - disse apontando. - É mais perto da minha casa.


Eu comecei a correr e vi de relance, ele acenando para mim. Até que o cara não era tão estranho assim, talvez a estranha aqui seja eu. Liguei para Marlene para pedir ajuda.


- Lene?


Apesar de estar falando no telefone senti que Marlene não estava nada feliz.


- O que aconteceu?


Sentei embaixo de uma árvore e peguei minha água.


- Lily, aquele idiota do Rodolfo veio falar comigo!


Falando no diabo ele aparece, ela pareceu engolir o choro.


- O que ele disse?


Nunca fui conselheira amorosa, mas ela insiste em desabafar comigo ou com Remus, já que Alice daria uma tapa na cara dela e diria "Vá fazer alguma coisa que preste".


- Que ainda me amava e estava com Belatrix só por causa do pai dele.


- Você quer dizer que ele está com Belatrix por dinheiro, não é?


- Mas ele disse que me ama!


- Ama? Então por que abandonou você por outra?


Ela começou a chorar e eu me arrependi de ser tão dura, mas Marlene precisava aprender!


- Ele quer se encontrar comigo no cassino do pai dele.


Ela falou já contendo o choro.


- E você?


- Eu não sei Lily... Eu realmente não sei.


Eu suspirei. Precisava ir para o hospital, meus pés estavam uma desgraça!


- Bom, eu vou à sua casa mais tarde. Meu carro não está funcionando então terei que pedir carona para Sirius ou James.


Ela demorou um pouco para responder, mas quando o fez sua voz não passava de um sussurro.


- Não traga Sirius aqui! E não demore, pois Remus não entende nada do que eu digo.


Como ele iria entender? Ele nem conhece Rodolfo!


- Certo! Beijos, amiga.


Levantei-me e voltei para casa, mas não sem antes comprar um Mc Donald's. No caminho todo me amaldiçoei por ser tão gulosa e ter comido DOIS Mc Chickens.


A casa estava vazia, nada de Sirius, nada de James. Troquei de roupa e fui checar a caixa eletrônica.


- Jay, aqui é a Lorelai, você me deu seu número ontem e não me ligou!! Então eu liguei, mas como você está escutando deu na caixa postal. Me liga, amor!


Desliguei o telefone com raiva. Pra que eu iria querer ouvir mais uma Renata da vida? Liguei para o táxi e fui esperar na portaria.


- Oi - falei depois de três minutos olhando para o porteiro sem falar nada.


- Boa tarde, senhorita.


Ele respondeu gentilmente e eu senti mais medo ainda. Eu tenho muita desconfiança de pessoas aparentemente gentis.


- Você sempre trabalhou aqui?


Cara, eu não tenho nada para falar com o porteiro do meu prédio, nem o nome dele eu sei!


- Faz mais de dez anos.


- E nunca viu nada suspeito?


Ele me olhou ainda com aquele sorriso gentil e eu suspeitei que ele fosse dizer: "só a senhorita".


- Bom, aqui já teve um traficante da Argentina.


Tenho uma leve impressão de que esse cara me odeia, mesmo que eu não seja argentina.


- Hum... E qual é seu nome?


- Erico e antes que me pergunte, sou de Nova Iorque mesmo.


Isso é uma prova, nenhuma pessoa normal falaria o nome verdadeiro e a cidade! Tudo bem, pessoas legais falariam, mas esse cara pode ser um robô disfarçado!


O táxi chegou e eu corri para dentro dele, no rádio tocava uma música clássica muito chata e eu quase cochilei no caminho. Chegando à casa da Lene, paguei o taxista e toquei a campainha.


- Lily, querida! – foi a fofa da Sra. Mckinnon me abraçando quando abriu a porta.


- Boa tarde Sra. Mckinnon.


Ela me soltou e eu me senti aliviada.


- Marlene está presa no quarto dela, talvez você consiga fazer com que ela abra a porta.


Entrei na casa espaçosa e fui em direção ao quarto de Marlene com a em meu alcance.


- Lene!! É a Lily!


Eu gritei e escutei-a vir até a porta.


- O Sirius 'tá aí?


- Não, eu vim de táxi.


Escutei ela suspirar abrindo a porta, para logo em seguida me puxar para dentro do quarto.


- Minha mãe não para de me perseguir, ela quer saber a todo custo o que está acontecendo.


Ela falou voltando para a cama e eu me sentei na poltrona ao lado.


- Pensou se vai aceitar?


Ela suspirou e pegou o chá gelado ao lado da cama.


- Queria saber o que ele vai falar e depois daria o fora.


- Se você estiver segura, pode muito bem fazer isso.


Ela colocou o chá novamente na mesinha e sorriu para mim.


- E esse é o problema Lily, eu não sei se estou segura o suficiente.


Eu fui até a cama e segurei a mão dela.


-Se você quiser, eu te acompanho.


Ela sorriu e secou os olhos com a mão livre.


- Você iria querer bater nele – disse rindo e até eu ri.


- Possivelmente.


Meu celular vibrou no bolso da minha calça jeans e atendi sem ver quem era.


- Priminha?


Falou uma voz conhecida que eu não reconheci.


- Quem é?


- Sou eu Melissa! A Missy!


- Ah, oi Missy.


- Cadê você? Você nem foi me buscar no aeroporto! Eu mandei aquele cara te avisar, mas ele parecia bêbado! E agora eu estou no seu apartamento com um tal de James, cadê você, Lilyzinha?


- Um minuto.


Tampei o celular com a mão e olhei nervosa para Marlene.


- O que foi? - perguntou numa careta ao beber seu chá frio.


- Simples, minha priminha de dezesseis anos está na minha casa com James e eu nem sei o motivo.


Marlene riu de mim e se levantou enquanto eu voltava para o telefone.


- Missy?


- Oi, flor.


- Já chego aí.


Desliguei o telefone, me despedi de Marlene e da mãe dela, e fui embora.


Tinha uma prima menor de idade me esperando em meu apartamento. Eu merecia mais o que?

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