Capitulo 06



Capitulo 06


 


No final da primeira semana de aulas de Samantha, Gina já se sentia segura para percorrer o caminho com facilidade e rapidez.


Sam ajustou-se rapidamente, apesar da estranheza inicial. Três anos mais velho, Tim Chang a apresentara a todos no primeiro dia, o que garantira aceitação imediata.


No sábado de manhã, enquanto tomavam café, Samantha relatava os eventos da semana, e Gina observava Harry, tentando adivinhar seus pensamentos. Ele se mantivera afastado nos últimos dias, e a distância só servira para aumentar o ardor que a queimava.


Passava as noites deitada, incapaz de dormir, o corpo clamando pelo toque das mãos, a boca suplicando por seus beijos. Se ao menos ele esquecesse as eventuais conseqüências e deixasse a natureza seguir seu curso!


De repente ele a encarou. Com o coração aos saltos, Gina disse a primeira coisa que passou por sua cabeça.


- Estava pensando em ir à cidade. Preciso comprar algumas coisas.


- Use o carro quando quiser. E já que vai sair, aproveite para comprar uma roupa nova. Vamos sair esta noite.


Samantha interessou-se.


- Todos nós?


- Todos nós. - Harry confirmou.


- Aonde vamos? - Quis saber Gina.


- À casa dos Chang. Conheço o pai de Tim. - explicou, notando o espanto da sobrinha.


- Ele deve ser bem mais velho que você, ou não teria uma filha de vinte e seis anos. - observou Gina.


- Como sabe que ele tem uma filha?


- Tim falou sobre a irmã naquele dia em que o conhecemos na cidade. - Samantha explicou com ar inocente. - Você a conhece bem, não é?


Harry não parecia ter registrado a ironia.


- Val tem cinqüenta e poucos anos e três filhos. Cho e Tim, sobre os quais vocês já sabem, e Harley, de vinte e três anos.


- Por que fomos convidadas para a casa da família? - Gina estranhou.


- Porque eles querem conhecer vocês duas. Sairemos às oito em ponto. - Ele se levantou. - Se precisarem de mim, estarei no estúdio.


Os engradados para os quadros haviam chegado no dia anterior. Gina podia estar ajudando a embalar as telas, mas a situação entre eles era tão tensa, que preferia não provocar novos conflitos.


- O que está acontecendo entre você e Harry? - perguntou Samantha. - Ele parecia irritado com você.


- É só uma diferença de opiniões. Quer ir à cidade comigo?


- É claro que sim! Vou mudar de roupa. - a menina decidiu entusiasmada enquanto se levantava. - Nunca se sabe quem vamos encontrar por lá.


Sozinha, Gina pensou na sugestão de Harry sobre a compra de um novo traje. Sugestão? Havia sido mais uma ordem. Era evidente que não queria apresentar-se na casa dos amigos acompanhado pela sobrinha pobre.


Como seria indelicado recusar o convite, compraria uma roupa nova. Talvez o vestido azul que vira dias antes.


O vestido ainda estava disponível. Samantha aplaudiu ao ver a irmã saindo do provador.


-Você ficou linda. Parece três anos mais velha, pelo menos.


Era exatamente esse efeito que esperava alcançar. Satisfeita, comprou a roupa pensando em como Harry reagiria quando a visse pronta para sair. Se não conseguisse conquistá-lo, não seria por falta de empenho!


As duas irmãs almoçaram em casa e passaram a tarde na piscina. Na última hora Gina acrescentara um biquíni amarelo às compras, e era com ele que relaxava em uma espreguiçadeira, esperando adquirir um tom mais dourado sob o sol caribenho.


O calor que envolvia seu corpo despertava certas lembranças. Sem que percebesse, começou a recordar a noite em que fizera amor com Harry naquela piscina e, como sempre, o corpo reagiu de forma intensa e imediata às imagens invocadas pela mente. Queria repetir a experiência mais esplêndida que já tivera. Mas, se não pudesse ter Harry, passaria o resto da vida no celibato.


Ao abrir os olhos, viu o objeto de seus sonhos parado na beira da piscina, pronto para um mergulho. As linhas fortes e firmes do corpo exibido pela sunga minúscula pareciam estar gravadas em sua retina. Harry mergulhou, e Gina teve de respirar fundo para recuperar o fôlego.


- Uau! - Samantha murmurou impressionada. - Papai nunca teve músculos como aqueles!


- Seu pai não tinha tempo para fazer ginástica. - lembrou Gina.


- Tempo? O que ele não tinha era vontade. E teria vivido por muito mais tempo, se houvesse se mantido em forma.


Era impossível rebater aquele argumento. Depois da morte da esposa, David Potter havia engordado quase vinte quilos, e nunca fizera o menor esforço no sentido de ter uma vida mais saudável.


Mas Harry era diferente. Podia imaginá-lo aos cinqüenta anos, com mechas grisalhas nas têmporas e linhas de expressão em algumas partes do rosto. Então seria uma mulher madura de trinta e cinco anos, talvez mãe. Dois filhos, pensou sonhadora, um menino e uma menina. O garoto seria parecido com o pai, enquanto a menina herdaria seus traços.


Harry saiu da piscina, obrigando Gina a voltar ao mundo real. Era inútil investir energia em sonhos impossíveis.


- Vejo que seguiu minha sugestão. - ele apontou, referindo-se ao novo biquíni.


- Finalmente consegui convencê-la a abandonar aqueles maiôs antiquados. - Samantha contou. - E espere só para vê-la esta noite! Vai ter de usar uma arma de fogo para impedir que os rapazes a ataquem!


- Prometo fazer o que estiver ao meu alcance. Querem beber alguma coisa?


- Suco de abacaxi gelado! - Sam escolheu.


- O mesmo para mim. - Estava perturbada demais para pensar em alguma coisa naquele momento.


Quando conseguiu desviar o olhar das costas do homem que se afastava, Gina descobriu que a irmã a observava com um sorriso malicioso.


- Gosta dele, não é?


Tinha de manter o tom de voz neutro, ou acabaria revelando demais.


- É claro que sim. Ele tem sido muito bom para nós.


- Não foi isso que eu quis dizer. Você está queimando por ele!


- Onde aprendeu a falar desse jeito?


- Não tente bancar a puritana comigo. Só estou dizendo...


- Sei o que está dizendo. E não gosto de ouvir você falar dessa maneira.


- Certo. Vou tentar usar outros termos, então. Quer ir para a cama com ele, não é?


Gina não conseguiu impedir o rubor que tingiu seu rosto.


- Não seja ridícula! - protestou, mesmo sabendo que a voz soava fraca.


- Não há nada de ridículo em desejar um homem. Se tivesse sua idade, acho que também me interessaria por ele.


- Não devia nem estar pensando nesse assunto.


- Ah, vamos lá! Tenho catorze anos, não cinco! E se quer saber a verdade, tenho pensado muito em Tim!


- Acho que está passando muito tempo na frente da televisão. - Sam sempre havia sido precoce, mas agora a questão alcançava uma nova dimensão. - Espero que não cometa nenhuma tolice.


- Acha que sou estúpida? Não quero acabar como Maureen Bailey, aquela vizinha que tínhamos na Inglaterra.


Mas havia uma chance de que Gina seguisse por aquele caminho. De acordo com o Harry dissera, nenhum método anticoncepcional era absolutamente seguro. E apesar de todos os problemas que uma gravidez poderia acarretar, parte dela desejava ter um bebê.


Harry retornou com uma bandeja contendo três copos de suco gelado. Depois de deixar as bebidas sobre a mesa entre as espreguiçadeiras, foi se sentar na cadeira vazia ao lado de Gina.


Sam bebeu metade do conteúdo do copo e deixou-o sobre a mesa.


- Vou dar mais um mergulho antes de entrar. Ainda quero lavar o cabelo para esta noite.


- Eu também. - Gina disse apressada, agarrando a desculpa para afastar-se. - Pensando bem, acho melhor começar a me arrumar, ou não terminarei a tempo.


- Espere um minuto. – Harry pediu. - Precisamos conversar.


- Tivemos a semana toda para conversar. - ela respondeu em voz baixa, certa de que a irmã não poderia ouvir o que diziam da piscina.


- Não torne a situação ainda mais difícil. E não pense que vou me desculpar pelo que aconteceu. Àquela noite foi...


- Maravilhosa! E não precisa pedir desculpas. Sabia o que estava fazendo, e faria tudo novamente.


Harry sorriu.


- Não sabe aceitar um não como resposta, não é?


- Oh, eu aceitaria, se fosse sincero. Talvez lamente o que houve entre nós, mas isso não anula o desejo que sente por mim. Por isso passou a semana toda me evitando. Tem medo de ceder à tentação mais uma vez.


- Não sabe o que está dizendo. - ele respondeu irritado. - Você é só...


- Uma criança? Está enganado, Harry. Deixei de ser uma menina há uma semana. E é tarde demais para voltar atrás.


- Acha que não sei disso. Comecei algo que não pode ser apagado de nossas vidas.


- Você não começou nada. Apenas despertou algo que já existia em mim, algo que só esperava pela pessoa certa e o momento ideal.


- Não sou a pessoa certa. E aquele momento não foi o ideal.


- Por que diz isso?


- Em primeiro lugar, sou velho demais para você.


- Bobagem! Muitos homens se relacionam com mulheres mais jovens.


- É claro! Já teve oportunidade de testemunhar vários relacionamentos desse tipo.


Harry estava rindo dela. Debochando de suas tentativas desesperadas.


- Não preciso ver alguma coisa para saber que ela acontece. - disse com dignidade. - Com licença, mas preciso começar a me arrumar.


Dessa vez ele não tentou detê-la.


As sete e meia da noite, com os cabelos presos, os ombros e o colo ressaltados pelo corte do vestido de alças finas, Gina parecia muito diferente da menina que chegara àquela casa há quase duas semanas. Se ainda havia alguma dúvida sobre o resultado obtido com um mínimo de maquiagem e algum cuidado com os cabelos, ela se dissipou quando desceu a escada e encontrou Harry parado no hall.


- Sam não estava exagerando. - ele disse.


O paletó formal de tecido cor de creme realçava os ombros largos, e foi preciso muito esforço para não deixar transparecer o desejo que sentia por ele.


- Não disse que era uma ocasião formal. - reclamou, tentando esquecer o calor que brotava de seu ventre.


- Não é. Não como está pensando. Val e a esposa são pessoas elegantes, e normalmente seus convidados procuram seguir o estilo do casal. E você está ótima.


Como teria sido terrível se houvesse se negado a seguir a sugestão de Harry! Era tolice continuar resistindo à idéia de compras roupas novas. Na segunda-feira voltaria à cidade para resolver o problema. Quanto ao resto...


A chegada de Sam dissipou o pensamento. Usando um vestido branco e curto demais, com os olhos enfatizados por sombra, rímel e delineador e os lábios cobertos de batom, não só parecia mais velha, mas também um pouco vulgar na opinião de Gina. Esperava que Harry ordenasse a remoção imediata da maquiagem, pelo menos, mas ele não disse nada, deixando-a com a impressão de que esse tipo de providência ficaria a seu critério.


- Podemos ir? Já passa das oito.


Gina gostaria de mandar a irmã de volta ao quarto para uma reformulação completa, mas não havia tempo para isso. Na próxima vez acompanharia os preparativos de perto.


A mulher de cabelos negros que os recebeu no jardim da imponente mansão em estilo espanhol devia ter cerca de cinqüenta anos, e seu sorriso era puramente cortês.


- Tim está esperando por você no pátio. - ela disse a Samantha, oferecendo um sorriso mais genuíno ao olhar para Harry. - Imagino que tenha sido prevenido sobre a volta antecipada de Cho.


- Não. Quando ela chegou?


- Há pouco mais de uma hora. E ainda está decidindo o que vai vestir. Sabe quanto tempo isso pode levar, não é?


Harry riu e encolheu os ombros.


- Ninguém tem pressa. A família de seu marido também está aqui?


- Sim. A filha e o genro de Shirley voltaram a morar em Barbados, em Bay Marris. Organizamos este jantar como uma forma de oferecer as boas-vindas ao casal.


- Bay Marris é um lugar encantador.


- É verdade. Bryn está usando sua experiência de arquiteto para executar uma reforma rápida. Pobre Tessa! Passou todos esses anos de casada seguindo o marido em suas viagens pelo mundo!


- Suponho que estar com o marido tenha sido suficiente para justificar qualquer concessão. - disse Gina.


Pámela Chang fitou-a com ar condescendente.


- Mais uma romântica como a nossa Tessa! Ela tinha a sua idade quando se casou com Bryn. Nunca tiveram tempo para ter filhos... Shirley fará as apresentações. Creio que todos estão aqui fora. Vai também. - E afastou-se para ir receber outros convidados.


Harry segurou o braço de Gina e levou-a para a área do jardim onde algumas mesas haviam sido arranjadas.


- Vamos ver onde estão os jovens...


- Gostaria de conhecer as pessoas que a Sra. Chang mencionou. - ela protestou, odiando a idéia de ser esquecida em uma roda de moças e rapazes tolos e imaturos. - Aposto que têm uma vida fascinante!


- Imagino que nem sempre tenha sido tão fácil. Venha, vamos procurá-los.


Harry atravessou o jardim e o primeiro conjunto de mesas, seguindo diretamente para a área mais próxima da piscina, onde várias pessoas conversavam e riam acomodadas em mesas menores. Ele beijou o rosto de uma mulher de cabelos brancos cujo rosto desmentia a idade que devia ter. A mulher sentada a seu lado, uma versão mais jovem dela mesma, só podia ser sua filha.


- É um prazer vê-la, Shirley. - disse. - Como vai, Roland? Val? Quero que conheçam uma de minhas sobrinhas. Esta é Gina. Samantha está logo ali com Tim.


O sorriso de Shirley Chang era muito mais radiante do que o de sua nora, a dona da casa.


- O que está achando de Barbados, querida?


- É um lugar encantador! Samantha e eu seremos eternamente gratas a tio Harry por ter nos trazido para cá.


A outra mulher, a mais jovem, mordeu o lábio para conter o riso.


- Imagino que sim. - disse. - Sou Tessa Marshall. Este é meu marido, Bryn. - E apontou para o homem que acabara de se levantar do braço da cadeira onde ela estava sentada. - Não é muito comum encontrar um homem da idade dele disposto a assumir tamanha responsabilidade.


- A responsabilidade não é tão grande quanto parece - Nick argumentou. - Gina cuida da irmã, como sempre fez. - A mão no braço dela havia adquirido uma firmeza maior, como que para preveni-la contra novas piadas. - Ela está ansiosa para saber sobre suas viagens.


Tessa riu.


- Vai ter de se contentar com uma versão resumida. A vida não é longa o bastante para todos os detalhes. Venha sentar-se aqui, Gina. - E mostrou a cadeira vazia a seu lado.


- Enquanto vocês conversam, Harry e eu vamos beber alguma coisa. - disse Bryn.


- Oh, não! Ele vai tentar convencê-lo a pintar meu retrato!


- Tenho certeza de que Harry aceitará a missão com prazer, Tessa. - Gina opinou com sinceridade. - Você é uma linda mulher. Como sua mãe.


- Tem razão, mamãe ainda é muito bonita. É difícil acreditar que ela tem setenta anos. Em minha família, as mulheres começam tudo muito cedo e vivem intensamente.


- Entendo. A Sra. Chang disse que você tinha a minha idade quando se casou com Bryn.


- Dezenove anos. Ele é doze anos mais velho, embora não aparente a idade. Pensando bem, creio que existe uma certa semelhança entre Bryn e Harry, apesar de serem separados por alguns anos. Quantos ele tem?


- Trinta e quatro. Quinze a mais que eu. - murmurou.


Os olhos verdes de Tessa expressavam compreensão.


- Não é uma diferença intransponível. Na verdade, pela maneira como ele segurava seu braço há pouco, acho que as chances são bem favoráveis.


Era inútil tentar negar o óbvio.


- Harry só segurou meu braço para impedir-me de chamá-lo de tio novamente. Ele é tio de Samantha. O irmão dele era apenas meu padrasto.


- Eu já imaginava. Suponho que seja mais simples para ele apresentá-la como sobrinha do que oferecer explicações detalhadas... embora esse pequeno truque possa trazer problemas no futuro.


- Que problemas? Nada será diferente no futuro. - respondeu, sentindo-se impelida a confiar na mulher que também amava um homem mais velho.


- Não devia ser tão pessimista! A idade não interfere nos sentimentos. Eu, por exemplo, me apaixonei por Bryn aos catorze anos.


- E ele também a amava?


- Oh, sim, ou não teria esperado por mim durante cinco anos. Vivemos juntos há vinte e sete anos, e sei que ainda seremos feliz por muito mais tempo.


Gina fez um cálculo rápido e espantou-se com o resultado.


- Então tem quarenta e seus anos. E Bryn está com cinqüenta e oito! É incrível!


- O amor é um excelente tratamento de beleza. - Tessa parecia realmente feliz. - Sei que alguns homens são capazes de conviver com uma mulher jovem e linda sem perderem a cabeça, mas Harry não é um deles. E despertar o desejo de um homem é mais do que a metade da conquista.


- Quer dizer que não está chocada? - Tessa sorriu.


- Não existe nada de chocante no que você sente por ele. Certa vez empurrei Bryn para dentro de uma piscina para obrigá-lo a perder o controle. Ele estava completamente vestido, ficou furioso, mas nem assim fez aquilo que eu queria que fizesse.


Gina riu, Harry também era um homem determinado, mas conseguira perturbá-lo a ponto de fazê-lo perder o controle, o que devia significar alguma coisa. Tessa tinha razão. As chances eram muito maiores do que havia percebido até então. Percorrera metade do caminho, e faria o que fosse necessário para conquistar a outra metade.


Aplausos ecoaram de um grupo perto da porta da casa, e uma mulher surgiu na varanda para juntar-se aos convidados. Gina notou que Harry mudava de expressão ao ver a recém-chegada. Se aquela era Cho Chang, a batalha podia ser dada por encerrada antes mesmo de começar.


 


 


 


Agradecimentos especiais:


 


Juh Sparrow: A Cho nunca falta, espero que esteja realmente gostando da fic. Abraços.


 


Bianca: Sam não percebe quais são os limites e vai dar trabalho para Gina. A Cho apareceu e vai infernizar a vida da ruiva e do Harry, mas a Gina não vai deixar barato. Abraços.


 


 

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