Capitulo 05



Capitulo 05


 


Bella passou a tratá-las um pouco melhor, principalmente devido ao esforço de Gina para manter os dois quartos, dela e de Sam, na mais perfeita ordem, apesar da falta de colaboração da irmã. Sabia que era a maior culpada pela falta de consideração de Samantha com a arrumação e a limpeza. Sempre havia sido mais fácil e rápido desempenhar as tarefas domésticas do que esperar pela ajuda da menina.


Organizar a papelada no estúdio não levou mais do que algumas horas, e apesar de sua inexperiência com os negócios, Gina logo concluiu que a venda dos quadros não era a única fonte de renda de Harry. Ele também mantinha uma impressionante variedade de investimentos. Não que a descoberta fizesse alguma diferença. Sempre soubera que ele era rico, a extensão dessa riqueza não tinha importância.


Harry abrira contas bancárias em seu nome e no de Sam, e agora ambas possuíam talões de cheques. O valor das duas contas devia exceder em muito a quantia que ele afirmava ter recebido da empresa que comprara os móveis. Questionado, ele nem tentou negar a acusação.


- É a única maneira de terem uma certa independência. - argumentou. - E não vou discutir o assunto. Se não quer usar o dinheiro, o problema é seu. Mas ele vai ficar exatamente onde está.


Gina fora procurá-lo no estúdio, onde ele concluía a cena marítima. Observando a facilidade com que produzia uma obra de perfeição admirável, Gina invejou seu talento. Mesmo com todas as aulas do mundo, não teria sequer se aproximado daquele resultado.


- Já pensou no que Samantha vai fazer com todo aquele dinheiro? - indagou.


- Em que ela poderia gastá-lo? Roupas? O que tem é suficiente para abrir uma loja.


- Eu sei. Não devia ter deixado minha irmã gastar tanto.


- Não foi isso que eu quis dizer. - Harry recuou um passo para observar o quadro e abandonou o pincel. - Quando vai parar de ver críticas onde elas não existem? - Enquanto limpava as mãos em um pedaço de pano, continuou: - Esta é a última tela da consignação para Nova York. Já que está aqui, podemos começar a trabalhar. Faremos os esboços preliminares. Sente-se aqui, onde a luz é melhor.


Satisfeita com a desculpa para ficar perto dele, Gina obedeceu. Harry preparou o material e começou a desenhar.


A camiseta justa revelava músculos poderosos, e a calça jeans ressaltava a força das coxas grossas. Era tão másculo, tão diferente dos garotos que conhecera!


- Tente pensar em alguma coisa agradável. Algo que gostaria de estar fazendo. - ele sugeriu, procurando ajudá-la a relaxar.


Não conseguia conter o fluxo de imagens provocado pelas palavras inocentes. Harry deixando o pincel para aproximar-se dela, tomá-la nos braços e carregá-la até o sofá no canto do estúdio. Harry beijando seus lábios, o pescoço, o colo...


Abriu os olhos e descobriu que ele a observava com uma expressão perturbada. Sem dúvida podia imaginar o que ocupava seus pensamentos.


- Tem todo o tempo do mundo, Gina. Não se apresse. Espere pelo homem certo.


Era tarde demais para negações. Vermelha, ela respondeu:


- Esse homem já apareceu. Amo você, Harry!


- Você não me ama. - A voz era mais dura. - O que sente é apenas uma forte atração sexual, mais nada. Estou honrado por ser o objeto de seu desejo, mas é só isso. Seja uma boa menina e esqueça essa história, está bem?


- Não sou nenhuma criança! Não preciso de ninguém decifrando meus sentimentos!


- E eu não preciso disto! Vai posar para mim, ou devemos dar o dia por encerrado?


Tremendo de raiva e humilhação, ela se levantou. Harry não tentou detê-la ao vê-la caminhar para a porta.


Vários minutos se passaram antes que ela pudesse se dar conta do que dissera no estúdio. Que vergonha! Como havia sido idiota a ponto de confessar seu amor por um homem que conhecia há uma semana? O que esperava? Retribuição?


E como voltaria a encará-lo depois disso?


Eram mais de seis horas quando Harry voltou para casa. Parada ao lado da janela do quarto, Gina o viu contornar a piscina a lamentou não poder conter as emoções como se fechasse uma torneira. Talvez nem fosse amor, mas o que sentia era envolvente e forte. Jamais havia experimentado algo tão poderoso em toda sua vida.


O jantar foi uma provação. Depois de uma semana nadando e tomando banho de sol, Samantha começava a ficar aborrecida, e não fazia nenhum esforço para esconder o tédio.


- É inútil ter tantas roupas novas se não saio de casa. - ela se queixou. - Ainda nem fui à praia!


- Ainda é tempo de corrigir esse lamentável erro. - Harry respondeu. - Paradise é um excelente ponto de partida. - E virou-se para Gina. - Siga para oeste e continue cerca de dois quilômetros além de Bridgetown. Marcarei o caminho no mapa, se quiser. Será um bom motivo para praticar antes do início das aulas de Samantha na segunda-feira.


- Quer dizer que espera que eu vá dirigindo seu carro?


- Por que não? Você é habilitada.


- E tem muita sorte. - Sam apontou. - Pode passear e divertir-se quando quiser, enquanto eu vou ter de passar mais dois anos presa na escola!


- Dois anos? Quem disse que vai abandonar os estudos aos dezesseis? Gina não teve alternativa, mas seu destino será bem diferente do dela.


- Não poderá me obrigar a nada depois que eu completar dezesseis anos.


- Quer apostar?


Nos últimos dias, Gina aprendera a se manter longe das constantes discussões entre tio e sobrinha. Harry era perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo, e a prova disso era o silêncio de Samantha, que comia a sobremesa com ar contrariado.


Harry desapareceu assim que terminou de tomar o café. Gina não se surpreendeu ao ouvir o som de um carro se afastando vinte minutos mais tarde.


Seria uma longa noite, e a insistência de Samantha para que fossem à cidade no outro carro só tornava a situação ainda pior.


- Não sei por que não?! - ela dizia. - São apenas quinze ou vinte minutos de viagem.


- De dia, e para alguém que conhece o caminho. Acabaríamos perdidas.


- E daí? Seria mais excitante do que passar a noite em casa sentada diante da tevê.


Irritada, Gina decidiu fazer alguma para melhorar seu humor. O primeiro passo seria sair de perto de Samantha antes que acabasse perdendo a paciência. Sozinha, foi até a varanda e respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar morno e perfumado da noite caribenha.


Podia compreender a frustração da irmã. O luxo e o conforto da casa não eram substitutos para a vida agitada que ela imaginara levar. Pelo menos teria a escola com que ocupar-se a partir da segunda-feira. O que ela faria com o tempo que teria de sobra era algo em que ainda não pensara. Posar para Harry estava fora de cogitação. Ele já devia ter perdido o interesse em pintá-la.


E quem poderia condená-lo? Encurralado em uma situação que nenhum homem de sua idade suportaria! Fizera o que julgava correto e as levara para sua casa, mas já devia estar arrependido.


Quando foi para o quarto, por volta das dez, ele ainda não havia voltado. Samantha também se recolhera com algumas revistas, aparentemente mais calma. Inquieta demais para dormir, apesar de já estar de camisola, Gina sentou-se em uma das cadeiras da varanda e ficou contemplando a lua cheia. O calor era intenso. A piscina parecia convidativa e, num impulso, ela entrou para vestir o único maio que levara... mas lembrou-se de que não havia refeito uma das costuras laterais que se esgarçara na última vez em que o usara.


Não sabia se Samantha já havia dormido, e preferia não correr o risco de acordá-la ao entrar no quarto. Além do mais, não gostava de usar roupas emprestadas, mesmo que fossem da irmã.


Pensando bem, que mal havia em nadar nua? Estaria sozinha. Bella e Joshua haviam ido para casa, e Harry não voltaria tão cedo. Se voltasse... Talvez Cho estivesse na cidade novamente, e nesse caso os dois passariam a noite juntos, recuperando o tempo perdido.


Inflamada pela imagem de Harry nos braços de outra mulher, desceu a escada sem fazer barulho e saiu pela varanda da sala de estar. Ao alcançar a piscina, despiu a camisola e deixou-a com a toalha que levara do banheiro, entrando na água antes que pudesse mudar de idéia.


A água era como seda em sua pele nua. Depois de nadar por alguns minutos, ficou flutuando de costas, observando as estrelas no céu limpo e a lua que parecia pairar soberana sobre o mundo. Sons e aromas se misturavam para criar uma atmosfera perfeita, paradisíaca.


Gina continuou flutuando, invadida por uma intensa paz, quase em transe por conta da harmonia com a natureza. Seria capaz de passar a eternidade ali, livre do peso do corpo e da opressão das roupas, distante das preocupações e dos temores que a atormentavam constantemente.


Uma sombra bloqueou a luz da lua, e pouco depois uma silhueta escura surgiu na beira da piscina. Gina continuou boiando, tão hipnotizada que se recusava a reconhecer a realidade.


- É o paraíso! - murmurou. - Devia experimentar!


Harry não respondeu. Em silêncio, despiu a camisa e a calça, e parou por alguns instantes para remover a última peça que cobria seu corpo antes de se juntar a ela na água morna.


Foi o toque das mãos dele que a fez perceber que não vivia um sonho. O prazer era tão intenso que não podia ser fruto da imaginação. Quando aqueles lábios másculos encontraram os dela, Gina foi definitivamente lançada da infância para o mundo dos adultos. O processo era irreversível.


Devagar, Harry puxou-a de encontro ao corpo. A profundidade permitia que ele mantivesse os pés no fundo da piscina e, contando com esse apoio, ele a acomodou em torno de sua cintura. Estava excitado; numa resposta instintiva, Gina o enlaçou com as pernas e preparou-se para o que sabia estar prestes a acontecer.


Não queria que ele falasse, temia que as palavras quebrassem o encanto. Agarrada a ele, sentiu um momento de tensão e desconforto ao primeiro toque íntimo, mas a urgência de entregar-se era maior que a dor.


Harry beijou-a mais uma vez, e a dor deu lugar ao prazer. No instante seguinte estavam juntos, movendo os corpos numa dança mais antiga que o mundo.


Gina acordou com o sol penetrando no quarto. Teria sido um sonho, ou a noite anterior realmente acontecera? Ainda podia sentir o corpo dolorido. Então havia mesmo acontecido!


A euforia desapareceu quando lembrou a expressão sombria que se apoderara do rosto moreno mais tarde, quando ele a levara para dentro. Fora mandada para a cama sem uma única palavra, sem um beijo de boa-noite. Mas não estava arrependida.


E ele também não lamentaria quando descobrisse que não seria pressionado ou perseguido. Não tinha a intenção de fazer cobranças. Por outro lado, nada os impedia de dormirem na mesma cama algumas noites. Ninguém precisaria saber.


Pensando bem, nada a impedia de procurá-lo imediatamente. Ainda era cedo. Bella só chegaria para o trabalho em uma hora, e Sam nunca tivera o hábito de sair da cama antes das dez, a menos que fosse obrigada.


Sorrindo, levantou-se e foi até o quarto de Harry. Fechou a porta com cuidado, despiu-se e deitou-se ao lado dele na cama, excitada com a visão do corpo nu sob o lençol branco.


Ele resmungou alguma coisa, mas continuou dormindo. Ousada, enlaçou-o pela cintura e beijou-o na nuca, certa de que fariam amor com toda a paixão da noite anterior.


Mas, ao ver os olhos esverdeados abertos e alertas, Gina só conseguiu pensar em uma palavra. Choque. Harry estava chocado com sua presença. E no instante seguinte, a surpresa deu lugar ao aborrecimento.


- O que pensa estar fazendo?


Abalada com a frieza do tom de voz, ela buscou refúgio no sarcasmo.


- Não foi isso que disse ontem à noite.


- A noite passada não devia ter acontecido. Pensei que pudesse me conter meu desejo, mas... Diabos! Você é uma menina de dezenove anos!


- Não sou nenhuma criança. E também desejei tudo que aconteceu.


- Você ainda nem sabe o que quer.


- É claro que sei! Amo você, Harry. E o desejo é parte integrante do amor.


- Nem sempre.


- Se está dizendo que não me ama, eu já sei, e não importa. - Era mentira, mas tinha de manter um mínimo de dignidade. - Fico feliz por estar com você. É o bastante.


- O que aconteceu ontem não vai se repetir.


- Se está preocupado com a possibilidade de uma gravidez, relaxe. Tomo anticoncepcionais há três meses.


- Para quê?


- Para regular minhas taxas hormonais. Ordens médicas. Você foi o único homem a quem me entreguei.


- Eu já havia percebido.


- Então sabe como é especial para mim.


- Pelo amor de Deus, não comece a falar de amor novamente. Você nem sabe o que é isso.


- Quer parar de me tratar como se eu fosse criança? Do que tem medo? Acha que vou pedi-lo em casamento? Esqueça! Tenho tanto interesse por isso quanto você!


- Ah, é? E o que pretende ser? Minha amante?


- Se você quiser...


- Saia daqui!


Gina sorriu. Sabia que ele a desejava, que estava nervoso por não conseguir controlar esse desejo, e a certeza a enchia de confiança.


- Não quer que eu saia. - E colou o corpo ao dele, movendo-se de maneira provocante. - Quer?


Harry levantou-se como se houvesse sido picado por uma serpente.


- Você tem dez segundos. - disse. - Estou falando sério, Gina. Quero que saia do meu quarto.


Ela também se sentou, tentando decidir o que fazer. Podia optar pela saída mais covarde e cumprir a ordem que acabara de receber, ou desafiá-lo e assumir as conseqüências... quaisquer que fossem.


Harry ficou tenso ao sentir o dedo deslizando por suas costas.


- Já aconteceu. - Gina murmurou. - Que diferença faz se acontecer novamente? Já disse que não corro o risco de ficar grávida.


- Não existe um método totalmente seguro, sua tola.


- Ontem à noite você não se preocupou com isso. Não sabia se eu estava protegida ou não. E nem por isso se deteve.


Ele riu com amargura.


- Depois de vê-la flutuando naquela piscina, como esperava que me controlasse? Nem toda a fúria do céu teria me detido! E agora vou ter de viver com as conseqüências do que fiz.


- Se usar uma proteção da próxima vez, eliminaremos os riscos a um patamar insignificante. - ela opinou, tentando ser prática e razoável. Pousou os lábios onde havia deslizado o dedo, estendendo a língua para provar o sabor de sua pele. Era impossível aplacar o clamor que crescia dentro dela - Não vou sair daqui. - afirmou com segurança. - É melhor conformar-se. Quero você, Harry. Agora! Neste minuto!


Por um momento, enquanto ele não tentou se afastar, Gina acreditou ter vencido. O movimento súbito que o pôs em pé deixou-a aturdida e embaraçada. Ajoelhada no meio da cama, ficou parada enquanto ele vestia o robe que apanhou nas costas de uma cadeira.


Quando se virou, Harry estava novamente no comando da situação, o rosto rígido e inexpressivo.


- Não sou eu que você quer. - disse. - É só o sexo. E a culpa é minha, devo admitir, por ter permitido que conhecesse o sabor da paixão. Mas a história termina aqui. E agora que já acertamos tudo, vai sair, ou prefere que eu a ponha para fora?


Gina pensou em lançar mais um desafio, mas manteve a boca fechada. Ele ainda a queria, e os dois sabiam disso, mas não havia como duvidar de sua determinação.


Constrangida com a nudez que até então exibira orgulhosa, levantou-se, vestiu a camisola e respirou fundo. A ousadia desaparecera. Tudo que restava era a dor causada pela rejeição.


- Vai me mandar de volta para casa? - perguntou com voz embargada.


- Seria a decisão mais sensata sob todos os pontos de vista. Mas prefiro esperar até ter certeza de que não haverá nenhuma repercussão.


- E se houver?


A pausa pareceu interminável.


- Vamos ter de lidar com as conseqüências. - ele disse finalmente. - Você não tem chinelos?


Ela balançou a cabeça, evitando encará-lo. Temia perder o pouco respeito que ainda tinha por si mesma e implorar para não ser mandada de volta.


- Vou tentar ficar fora do seu caminho. - declarou. - Lamento tê-lo incomodado.


Saiu antes que Harry pudesse responder, se é que ele pretendia oferecer alguma resposta, e fechou a porta com uma firmeza nascida do desprezo por si mesma. Se não havia feito papel de idiota antes, com certeza conseguira realizar a façanha naquela manhã. Mas Harryestava enganado com relação a um ponto da questão; era mais que sexo. A idéia de nunca mais vê-lo, se ele a fizesse deixar Barbados, era insuportável.


 


 


 


Agradecimentos especiais:


 


Ana Eulina: mais um capitulo postado, espero que goste. Abraços.


 


gilmara: realmente não é justo parar justo naquela parte, mas espero que a espera tenha valido a pena. Abraços.


 


Mariory Black: Que bom que gostou da fic. Abraços.


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.