Capítulo 12



Querido Vasile,


 


Que confusão por aqui. Que confusão. Isto seria muito mais fácil de expressar se você simplesmente tentasse usar e-mail. Está disponível em todos os lugares nestes dias. Considere isso, por favor.


Até então, tenho a difícil tarefa de informar-te via correio de que todo pacto parece desvanecer-se, interminavelmente e irrevogavelmente, para o esquecimento.


Esta noite... Por onde começar? O que dizer?


Se esse não foi o momento, então não sei o que mais posso fazer. Se Hermione não se sentiu como eu me senti naquele estante, se ela teve a presença mental para me afastar, realmente gritar alto “Não!” pra mim quando eu admitiria que estava bastante perdido por ela... Eu sinceramente não sei mais o que fazer.


Tenho certeza que você poderia deduzir, das linhas acima, o que passou entre nós, no sentido geral. Eu não irei me desgraçar – ou desonrar Hermione – pela elaboração de detalhes. Fazer assim não seria apenas humilhante, mas descortês. E certamente você entende.


Eu realmente fui derrotado por um camponês? Um atarracado, obtuso, parasítico camponês?


Talvez pela manhã, a situação pareça menos desagradável. Só se pode esperar.


Enquanto isso, eu suponho que você não poderia me dá algumas idéias sobre o castigo que eu enfrentarei no caso de falha de minha parte? Eu gostaria de começar me preparando mentalmente. Especialmente se o castigo for o pior. Eu sempre preferi enfrentar o destino com os ombros pra trás e a cabeça erguida, como você me ensinou. E pode-se fazer melhor que isso se tiver a oportunidade para acerar a si mesmo.


Seu, em dúvida e com uma pequena medida de confusão e ansiedade.


 


Harry.


 


-_-_-_-


 


"Você vai se sair bem, querida", mamãe prometeu, prendendo meu número com um alfinete nas costas do meu traje de montaria.


"E vou vomitar", eu disse. "Por que eu me inscrevi pra isso?"


"Porque nós crescemos quando nos desafiamos", minha mãe replicou.


"Se você está dizendo." Em alguns minutos, chegaria minha vez. Eu montaria Belle na arena da 4-H, e nós pularíamos uma série de obstáculos.


A coisa inteira duraria uns três minutos, no máximo.


Então porque eu estava morrendo de medo?


Porque você pode cair. Belle pode recuar. Você não é atleta; você é matleta...


"Eu só devia ter aumentado um obstáculo, no verão passado", eu disse, gemendo, me fazendo girar pelos ombros para me olhar nos olhos. "E não é como se você não tivesse competido na frente das pessoas antes..."


"Mas aquilo foi matemática", eu protestei. "Eu sou boa em matemática."


"Você também é uma boa amazona." Eu pensei em Faith e Harry. "Mas não a melhor."


"Então hoje é um momento excelente de testar seus limites. Arrisque um segundo ou um terceiro lugar."


Eu olhei para o outro lado do campo, onde Harry estava passeando em seu cavalo, que ele batizou de Belle do inferno Ha-ha.


"Riscos não são sempre tão bons", eu disse, observando Harry trabalhar para controlar o animal ainda meio selvagem. Harry era o único que podia tocá-la.


Ele insistia que ela era mal compreendida, mas eu achava que ela era simplesmente malvada.


"Isso é um pouco arriscado demais", minha mãe concordou, seguindo meu olhar. Ela suspirou. "Eu espero que ele fique bem."


Do jeito que ela disse, eu fiquei com a estranha sensação de que ela não estava falando apenas da competição de saltos.


"Ele também precisa do número", mamãe completou. Ela protegeu os olhos, acenando para Harry.


Ele ergueu a mão, percebendo, e trotou até nós, descendo de sua montaria e amarrando os cabrestos num poste. Belle do inferno jamais seria o cavalo que esperaria sem amarras.


Harry fez uma pequena mesura. "Dra. Packwood. Jessica."


Eu dei um pequeno aceno desconfortável. "Hey, Harry."


Ele se virou e mamãe prendeu o número dele. Para minha surpresa, depois disso mamãe fez Harry se virar, exatamente como havia feito comigo - e o abraçou. A minha surpresa se transformou em choque quando Harry, de fato, a abraçou de volta. Quando esses dois viraram amigos? Em algum momento desde o Halloween, eu imaginei. Harry e eu nos demos uma grande folga desde aquele momento estranho naquela noite.


"Boa sorte", minha mãe disse, tirando uma sujeirinha imaginária da jaqueta de apresentação de Harry, que era impecável e lhe caia perfeitamente. "E use seu capacete", ela completou. "Ele é obrigatório."


"Sim, sim, segurança em primeiro lugar", Harry disse, com a voz cheia de sarcasmo. "Eu vou encontrá-lo." Ele olhou para mim, com os olhos neutros. "Boa sorte."


"Você também."


Harry desamarrou seu cavalo e a guiou para longe. Mamãe o observou, com o rosto tenso.


"Ele vai ficar bem", eu prometi a ela.


"Eu espero que sim."


"Eu sou a segunda, correto?" Eu perguntei.


"Sim. Depois de Faith."


Ótimo. A coisa mais difícil que podia acontecer. Faith não apenas competia no show anual da 4-H. Ela fazia shows maiores com sua montaria cara. Meu estômago se apertou novamente.


"Você vai se dar muito bem", minha mãe prometeu. Ela me abraçou também.


O comunicador soou, e estava na hora.


"Vamos lá."


É claro, Faith completou uma volta impecável com seu raça pura, Moon Dance.


Ela dominou o curso, as pernas esguias e bem formadas do seu cavalo fazendo com que os dois voassem sobre o obstáculo, mesmo o quinto, que parecia uma torre, parecendo impossivelmente alto de onde eu estava esperando nas coxias.


Eu precisava muito fazer xixi, xixi de nervosismo, mas não havia tempo. Eu montei enquanto os cascos de Moon Dance tocavam o chão, com a volta completa.


"Próxima, Jessica Packwood, da escola Woodrow Wilson High, montando Belle, um Appaloosa de cinco anos."


Eles tinham dito meu nome.


Eu respirei profundamente, tendo uma visão de Jake, que observava da platéia.


Ele sorriu, me dando um sinal de okay. Eu me forcei a sorrir de volta.


Harry também estava na arena, observando, se inclinando sobre uma cerca. Droga. Como se eu precisasse do olhar super crítico dele sobre mim, me julgando.


Eu olhei por cima do meu ombro, me perguntando o que ia acontecer se meu cavalo e eu simplesmente déssemos para trás... Mas era tarde demais. Não tinha como voltar atrás.


Respirando fundo, eu contraí os calcanhares. Os cascos de Belle ecoaram silenciosamente na poeira grossa da arena praticamente silenciosa. Sentindo o poder do meu cavalo, seus passos familiares sob mim, eu comecei a me focar. O primeiro obstáculo se aproximou. Uma cerca. Nós nos preparamos, saltamos, e passamos direto. Você está apenas saltando com Belle. Exatamente como em casa. A seguir, passamos pelas grades baixas, e os nervos desapareceram, sendo substituídos pela exultação. Todas aquelas pessoas nos assistindo, e nós estávamos conseguindo.


Belle passou pelas duas cercas seguintes, e os obstáculos nem tocaram seus cascos.


A quinta cerca, a mais alta apareceu, e meu coração bateu forte. Mas Belle se ergueu, planeou, e nós passamos.


Um circuito perfeito. Sem faltas. No final, completamos uma volta perfeita. Um sorriso enorme e vitorioso tomou conta do meu rosto. Tome isso, estrela Romena.


Enquanto trotava para a saída, eu acenei para os meus pais, que estavam torcendo, e para Jake, que estava com os dois dedos enfiados na boca, assobiando. Procurando Harry, eu vi que ele estava batendo palmas freneticamente, com as mãos erguidas, e ele disse "Bom show" com a boca. O que quer que tenha se quebrado entre nós, se consertou só um pouquinho.


Depois de prender Belle, eu voltei bem a tempo de ver a volta de Harry.


Ele montava com facilidade, regiamente, em Belle do inferno, como se tivesse nascido lá. O cavalo preto como a meia noite parecia estranhamente calmo também.


Apertando os flancos dela, Harry a fez trotar, chegando perto de um galope.


Aquele ritmo era insano para um circuito tão pequeno, mas Harry não pareceu reparar. Havia um pequeno sorriso em seu rosto enquanto ele se aproximava da primeira cerca. Belle do inferno voou, aterrissando suavemente, e eu me dei conta de que o cavalo nasceu para saltar. Eles pareciam estar fundidos, cavalo e cavaleiro, correndo pelo circuito, Belle do inferno dando saltos duas vezes maiores do que era necessário para passar pelos obstáculos, e os espectadores estavam torcendo todos ao mesmo tempo. Ficando sem fôlego e torcendo.


Aquilo era irresponsável. Irresponsável demais. Eu olhei para os meus pais nas arquibancadas. Eles parecia aterrorizados, e de repente, eu estava também.


Enquanto Harry passava pelo quinto obstáculo, uma mão agarrou meu pulso, me fazendo dar um pulo.


"Olhe ele indo", Faith Crosse sussurrou para ninguém em particular. Eu tinha quase certeza que ela não sabia quem estava tocando, de tão atentamente que estava observando Harry. Faith bateu com o chicote ausentemente em sua bota de montaria, no ritmo do galope. Eu puxei meu braço.


"Desculpe", Faith murmurou, sem tirar os olhos de Harry.


Belle do inferno passou pela última cerca, e o comentarista anunciou um recorde de tempo do 4-H.


Harry e o cavalo pararam na frente do portão, e Harry desceu, friamente retirando suas luvas de montaria, como se tivesse acabado de dar uma volta no parque, parecendo nem perceber os aplausos.


Sempre exibido.


"Eu vou dar os parabéns para ele", Faith disse.


Eu vi um olhar peculiar nos olhos da futura rainha do baile.


Faith desapareceu na multidão, indo para a saída, seguindo Harry para a parte de trás do circuito. Foi aí que eu pensei no chicote. Belle do inferno não gostaria do chicote. Harry até colocou um cartaz de aviso na porta do celeiro - um aviso que eu via quase todos os dias. "Faith, espere", eu chamei, seguindo ela.


Mas eu fui lenta demais.


Quando eu a alcancei na traseira do celeiro, Faith já havia alcançado Harry e Belle do inferno, e estava balançando o chicote, chamando a atenção de Harry. O chicote tocou o flanco do cavalo, e Belle do inferno se virou, furiosa, se afastando, quase arrancando as rédeas da mão de Harry antes que ele se desse conta do que estava acontecendo.


Eu ouvi ele mandando que Faith largasse o chicote, mas era tarde demais.


A égua foi para trás, chutando o ar, perto demais de Faith. Eu gritei, vendo o que estava prestes a acontecer, enquanto Harry empurrava Faith para fora do caminho, se colocando no caminho dos cascos, caindo embaixo deles.


Houve um barulho doentio e audível de alguma coisa de partindo enquanto a força de Belle do inferno, acrescentada por uma boa tonelada de tendões e músculos, colidiu em cima das pernas e costelas de Harry. Em alguns segundos tudo estava acabado, antes mesmo que eu pudesse gritar de novo, e Harry estava caído, seu corpo alto se contorcendo, quebrado, na grama. Havia sangue em sua camisa branca, sangue escapando da sua bota de couro de cano alto e manchando sua calça de montaria cor de palha.


"Harry!" Eu finalmente encontrei minha voz, chorando, correndo, me jogando ao lado dele. Eu estava tão assustada por ele que esqueci completamente da besta perigosa que estava sobre meu ombro, ainda solta.


"Pegue ela", Harry insistiu com os dentes cerrados, tentando rolar, fazendo um gesto em direção ao cavalo, que estava agitando os cascos, assustada, mas ainda cautelosa. "Você consegue. Antes que ela -"


Faith começou a chorar, repentinamente e muito alto, enquanto a ficha caía, mas ninguém conseguia nos ouvir na traseira do celeiro. Agora todo mundo estava do lado de dentro, assistindo a competição. Belle do inferno ficou ali, com a cabeça abaixada, bufando como um sentinela furioso acima de Harry. Eu podia sentir seu hálito quente sobre meu próprio pescoço, então eu também me assustei por mim mesma. Sem movimentos abruptos...


"Ela precisa ser amarrada, Jess", Harry implorou, gemendo com o esforço pelas palavras.


Eu concordei com a cabeça, em silêncio, sabendo que ele estava certo. Ficando de pé muito lentamente, tão lentamente quanto foi possível, eu me virei.


"Calma, garota", eu sussurrei, estendendo as mãos, com as palmas para cima. O cavalo vacilou, e eu também. Só fique calma, Jess...


Eu cheguei mais perto. Os olhos da égua reviraram mais selvagemente, mas ela não fugiu. Não atacou.


Ela parecia entender que alguma coisa havia dado terrivelmente errado. Com as mãos trêmulas, eu me inclinei para suas rédeas soltas, pendurados nos cabrestos.


"Calma, garota." Mantendo meus olhos nos do cavalo, eu localizei os arreios com meus dedos. A respiração dela continuava saindo pesada e rápida, mas ela ainda não se mexeu. Harry gemeu. Eu tinha que trabalhar mais rápido. Me movendo com mais segurança, mas com os dedos trêmulos, eu dei um jeito de prender as rédeas num poste.


Graças a Deus, ela estava em segurança.


Eu corri de volta para Harry, que estava apertando as costelas através da camisa ensangüentada. Ficando de joelhos, eu agarrei sua mão livre. "Está tudo bem", eu prometi. Mas eu não consegui deixar de olhar para a perna dele. A fratura aconteceu no meio do calcanhar, e a bota de couro chegou a entortar. "Vá buscar ajuda", eu disse para Faith, que parecia paralisada, se lamentando sem parar, "Foi um acidente."


"Vá buscar alguém!" Eu gritei para ela de novo. "Agora!" Isso a acordou, e Faith se virou para correr.


"Não", Harry rosnou, mais alto do que eu pensaria ser possível, dado o estado do seu corpo. Mas alguma coisa no tom dele fez Faith congelar, e ela se virou.


"Chame os pais de Jessica. Mais ninguém."


Faith hesitou, em pânico, confusa, incerta. Ela olhou para mim.


"Chame os paramédicos", eu implorei para Faith. O que Harry estava fazendo?


Ele precisava de uma ambulância.


"Apenas os pais de Jessica", Harry disse, começando a falar comigo, no seu melhor tom de comando. Ele agarrou minha mão, para que eu não pudesse ir.


"Eu... Eu..." Faith começou a dizer alguma coisa.


"Vá", Harry ordenou.


Faith correu. Eu rezei para que ela fosse atrás dos paramédicos.


"Droga, isso dói." Harry gemeu, com o rosto se contorcendo enquanto uma onda de dor passava por ele. Ele apertou minha mão. "Fique aqui, por favor."


"Eu não vou a lugar nenhum", eu disse, desejando que minha voz não tremesse.


Eu estava morrendo de medo, e lutando para não deixar Harry ver isso. Um filete de sangue escapou pelos lábios dele, e eu segurei a vontade de choramingar. Isso não podia ser bom. Isso podia significar hemorragia interna.


Eu limpei o líquido rubro com dedos trêmulos, e uma lágrima caiu na bochecha dele. Eu não tinha me dado conta que estava chorando.


"Por favor, não faça isso." Harry resfolegou, encontrando meu olhar. "Não perca o controle agora. Lembre-se: você é da realeza."


Eu apertei a mão dele. "Não estou chorando. Agüente firme."


Ele se moveu um pouco, gemeu. "Você sabe... isso não pode matar um..."


Deus, ele ia continuar com esse besteirol sobre vampiro agora? Eu não acreditei nem por um segundo que ele não pudesse morrer. "Fique quieto." E reze pra Faith ignorar sua ordem.


"Essa parte... Maldição." O peito dele se inflou, e ele tossiu. Mais sangue. Muito sangue. Sangue demais. Estava vindo dos seus pulmões. Provavelmente uma perfuração. Eu recebi treinamento de primeiros socorros suficientes na escola para saber um pouco sobre acidentes. Eu limpei os lábios dele com a minha manga, mas isso só espalhou mais sangue entre nós dois. "A ajuda está vindo", eu prometi. Mas será que vai vir um pouco tarde demais?


Num instinto, eu alisei os cabelos escuros de Harry com minha mão livre. O rosto dele relaxou só um pouco; a respiração dele ficou mais calma. Então eu mantive minha mão lá, descansando na testa dele.


"Jess?" Ele procurou meu rosto com os olhos.


"Não fale."


"Eu... eu acho que você merece... a faixa."


A despeito de mim mesma, eu ri, uma risada partida, forçada, e me abaixei para beijar a testa dele. Simplesmente aconteceu. Parecia a coisa certa a fazer. "Você também."


Ele fechou os olhos. Eu senti que a consciência dele estava indo embora. "E Jess?"


"Fique quieto."


"Não deixe que eles façam nada... com o meu cavalo", ele conseguiu dizer, respirando com dificuldade. "Ela não quis... fazer mal. Foi só o chicote... você sabe..."


"Eu vou tentar, Harry", eu prometi. Mas eu sabia que não conseguiria. A vida de Belle do inferno estava acabada.


"Obrigado, Hermione..." A voz dele era quase inaudível.


Na lateral do celeiro, eu pude ouvir o som de rodas na grama. Eu soltei o ar com um pouco de alívio. Faith foi chamar uma ambulância.


Mas não. Quando o veículo fez a volta na esquina, era uma van velha da


Volkwagen com Ned Packwood atrás do volante. Meus pais saltaram, com medo em seus rostos, e me tiraram do caminho. "Me levem para sua casa", Harry implorou, acordando um pouco. "Vocês entendem..."


Minha mãe virou para me encarar. "Abra a traseira da van", ela ordenou.


"Mãe - ele precisa de uma ambulância!"


"Faça isso, Jessica."


Eu comecei a chorar de novo, porque eu não entendia o que estava acontecendo, e eu não queria ser cúmplice da morte de Harry. Mas eu fiz o que me mandaram.


Meus pais levantaram Harry para colocá-lo na van tão gentilmente quanto puderam, mas ele ainda gemeu, mesmo apesar de agora estar completamente inconsciente, a dor era tão forte que ultrapassou seu cérebro inconsciente. Eu comecei a entrar atrás dele, mas meu pai me impediu com uma mão firme em meu ombro. Ao invés disso, minha mãe entrou em meu lugar, se abaixando ao lado de Harry.


"Você fica aqui e explica o que aconteceu", papai disse. "Diga a eles... Diga que levamos Harry a um hospital."


Eu vi a mentira nos olhos de meu pai, e os meus ficaram esbugalhados.


"Vocês vão levá-lo, não vão?"


"Só diga a todo mundo que ele está bem", papai disse, sem responder minha pergunta. "Depois cuide do cavalo."


O que eles estavam pedindo era demais. E se eles não o levassem ao hospital e Harry morresse? Eles seriam responsáveis. Talvez acusados de negligência, ou algum tipo de assassinato. Faith tinha visto que Harry não estava bem. Ela sabia que ele precisava de um médico. E a organização da competição ia checar para saber se ele foi hospitalizado. Problemas de responsabilidade e todas essas coisas. O que diabos meus pais estavam fazendo? Eles podiam ir para a cadeia. E por quê? Não fazia sentido manter Harry fora do hospital.


Mas não havia tempo para protestar, nenhum tempo para pedir ajuda. Harry precisava, pelo menos, ir para algum lugar quente. Esperançosamente para um lugar onde soubessem tratar ossos quebrados e pulmões ensangüentados.


Contanto que esse lugar não fosse nossa cozinha, onde papai podia tentar fazer alguma cura herbal...


Meu peito se fechou novamente com o medo. Se meus pais iam fazer algum tipo de "cura natural" em Harry - isso era completamente fora da capacidade deles.


Todas essas coisas passaram pela minha mente enquanto eu seguia a van a um pé de distância, encarando impotente enquanto ela saia pulando da área gramada e balançava em direção ao estacionamento da arena, com o máximo de velocidade que meu pai podia usar sem, presumidamente, levantar suspeitas ou incomodar Harry demais.


Eu ainda estava lá, observando a nuvem de poeira diminuir e sumir, quando Faith reapareceu ao meu lado, mais composta. Os olhos dela estavam avermelhados, mas seus ombros estavam eretos e atentos novamente. Sua voz ainda travou, um pouquinho, quando ela perguntou, "Você acha que ele vai... ficar..."


"Ele vai ficar bem", eu prometi, mentindo com mais facilidade do que eu pensei ser possível. Mas eu tinha que parecer convincente. A sobrevivência da minha família inteira, não apenas de Harry, estava por um fio.


"Eu acho que os ferimentos dele não foram tão ruins quanto nós acreditamos no começo", eu completei.


"Não?" Faith me lançou um olhar cético, Mas também era esperançoso. Eu me dei conta de que ela queria acreditar na mentira. Afinal, ela não queria ser responsável pelos ferimentos de Harry - ou pela sua morte.


"Ele sentou um pouco", eu disse a ela, me forçando a encontrar os olhos azuis de Faith. "E fez uma piada."


A tensão no rosto de Faith diminuiu, e eu sabia que ela havia se forçado a acreditar em mim. Ela estava desesperada para ser perdoada. "Deve ter parecido tão ruim no começo porque aconteceu tão rápido..."


"É, provavelmente", eu concordei. "Definitivamente foi assustador, no começo."


O olhar de Faith foi para o estacionamento, como se ela ainda esperasse ver a van se afastando. Eu percebi que ela continuava segurando o chicote, e o batia à toa contra sua bota. Eu teria jogado aquela coisa no lixo, e enterrado. Como era possível que ela não tivesse visto o aviso no celeiro?


A resposta era tão fácil que quase era risível. Porque Faith não via nada além de sua pequena esfera de preocupações. Era por isso.


"E se ele estivesse tão mal quanto nós pensamos, por que ele não quis os paramédicos?" Ela se perguntou em voz alta.


Eu mesma não tinha muita certeza, mas eu tinha a sensação que isso tinha a ver com as ilusões de Harry sobre ser vampiro. Mas essa certamente não era uma boa resposta para Faith, então eu me aventurei, "Eu acho que ele é orgulhoso demais. Corajoso demais para ser carregado daqui com um monte de sirenes e gente olhando." Na verdade, conhecendo Harry, isso também podia ser verdade.


Com isso, Faith sorriu um pouco, ainda olhando para a distância. O chicote batia com um ritmo uniforme em sua bota. Ela estava completamente calma agora, quase tranqüila. "Sim", ela disse mais para si mesma do que para mim. "Harry Potter não parece ter medo de nada. E ele sabe o que quer, não é mesmo?"


Você não faz idéia, eu queria dizer a ela. Mas então, uma equipe inteira de oficiais da competição 4-H veio marchando em nossa direção, e eu me virei para encará-los, pronta para contar mais mentiras.

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N/A: Comentem =D

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