Capítulo 6



CARO TIO VASILE


 


A lentilha talvez seja o alimento mais versátil do mundo, indestrutível.


De fato, na casa Packwood, a tenaz leguminosa ressuscita com força, livre de qualquer coisa parecida com gosto, e no prato se insinua para mais um jantar, esperando para ser degustada. Mais uma vez, novamente, e novamente.


E nem sequer me fale de "gelatina" e "sloppy joes".


PELO AMOR DE DEUS, VASILE.


Quanto tenho que suportar, no interesse de paz entre os clãs? Eu me sacrifico como o primeiro prisioneiro em uma guerra que ainda nem começou?


Honestamente, Vasile, não é apenas o alimento. Escolas americanas deveriam ser proibidas pelas regras da Convenção de Genebra. As crueldades indizíveis que eu suporto surpreenderia mesmo você, um especialista em crueldade!


Como sabem, sempre fui curioso sobre a nossa imortalidade. . . como é se sentir vivo através do tempo (assumindo evitar uma estaca, como eu pretendo). Eu preciso deixar de especular. Tenho amostras da eternidade do quinto período de "estudos sociais" da classe da Sra. Campbell. Três dias sobre o conceito de "manifesto do destino", Vasile. TRÊS DIAS. Eu ansiava pra ficar de pé, e rasgar as notas de sua palestra das suas mãos pálidas, e gritar: "Sim, América expandiu para o ocidente! Isso não é lógico, dado que os europeus assentem na costa oriental? O que eles foram fazer? Avançaram para o mar? "


Mas não devo discutir. Seria uma forma ruim de perder minha compostura.


Devo resistir, lutando contra a tentação de simplesmente me tornar um fofoqueiro, como a maioria dos meus "colegas" da escola. Quem senta naqueles vagos bancos coletivos ficam em estado de transe pela duração de cada aula. (Apesar de eu às vezes secretamente invejar a capacidade deles de esvaziar completamente suas mentes por um total de cinqüenta minutos, e se reanimando apenas com o som de um sino, como cães de Pavlov. Nesse momento, eles se levantam e saem para os corredores até as aulas começarem de novo...)


No entanto, você sem dúvida fica mais intrigado pela a notícia da corte do que pela minha educação. E então eu vou mudar o meu assunto para a Hermione.


Estou feliz de informar que a minha futura princesa, ás vezes, mostra tremendos indícios de espírito. Infelizmente, tudo que a Hermione considera força de vontade, sua "coragem", (para usar a palavra americana, que soa como descartar o fundo de um sapato, em oposição a uma qualidade admirável), está totalmente concentrada em me rejeitar.


Verdadeiramente, ela mostra sincera devoção a este esforço.


Enquanto isso, fico com a sensação de que Hermione abriga uma atração mal aconselhada por um rapaz fazendeiro que mexe com feno (um camponês! Uma pausa para isso!), Que é tão normal na aparência e no comportamento que, embora ocupe uma mesa perto da mina na literatura inglesa (eu tenho que tomar uma grande medida sobre o ensino da classe, talvez eu ganhe "estabilidade"!), eu nunca consigo lembrar o nome dele. Justin? Jason? (Infelizmente, esses são dois bons palpites. Parece que temos um excesso de cada um, aqui no Woodrow Wilson.)


O negócio é, parece que eu tenho "concorrência", Vasile. Concorrência de um camponês, um rude que corteja estratégias incluindo aparecer na fazenda Packwood, desnecessariamente sem camisa, com seus "músculos" na frente dela! Se alisando como um inchado faisão! E se você pudesse vê-la colocando os seus os olhos no fazendeiro. . .


Será que isso reflete mal em cima da Hermione ou em cima de mim, a quem ela se afasta?


E se os Granger desenvolveram uma propensão para criação juntos com os camponeses, não poderíamos simplesmente permitir a sua linhagem a diminuir, em oposição para se unir á eles?


Eu brinquei.


Claro que deve prevalecer. (Um Potter contra um operário rústico... eu poderia ganhar Hermione com uma mão atada atrás das costas e, talvez, usando uma venda.) Mas toda a situação é desalentadora, para dizer o mínimo. E pensar que a Hermione até considera um caipira, quando um príncipe mostra interesse. . . Quando um Potter mostra interesse! Eu culpo as lentilhas. Pode um nobre homem acostumado a carne ser esperado para funcionar á toda capacidade com grãos empapados?


Enquanto isso, fiquei ainda mais desanimado recentemente por testemunhar Hermione ser destratada por um dos personagens mais tediosos de Woodrow Wilson High School, um menino com o infeliz nome de Frank Dormand.


Mas imagine: um simplório comum insultar uma princesa vampira.


Me sentei ali, pasmo, como um idiota mesmo, incapaz de acreditar nos meus olhos e ouvidos. Isso não deve acontecer novamente. Estou consciente de que devo seguir as regras de conduta locais (penalizações, infelizmente, não são rigorosas contra cabeças rolando aqui nas ruas), mas um outro insulto de um "Dormand''não será tolerado. Minha futura noiva, no entanto, temporariamente propensa a camponesa -não sofrerá insubordinação.


Mais do que o insulto em si me perturba, Vasile. Eu lhe pergunto: Como pode Hermione compreender o seu verdadeiro valor, sob tais circunstâncias? Será que é de se admirar que ela considere consorciar-se com um camponês? Se ela tivesse crescido na Romênia, criada com regras, Hermione nunca teria aceito um insulto de um plebeu. Ela teria ordenado o agressor a se curvar como um vira-lata doente. Aqui, tudo o que ela poderia fazer era atacar com a sua própria arma de sagacidade (rude, mas encorajador), mas uma princesa deveria ter poder real na ponta de seus dedos.


Estou preocupado com isso, Vasile. Governantes não são apenas bons, como você sabe. Eles são falsos. Hermione não sabe nada sobre exercer o poder. O que isso significa para ela, para os clãs que ela irá liderar, quando ela assumir o trono?


Chegando ao ponto principal da minha missiva. Poderia, por favor, liberar, digamos, um adicional de 23.000 lei - equivalente a 10.000 dólares norte-americano de minha confiança? Estou interessado em fazer uma pequena compra, relacionado, naturalmente, com o meu namoro com a Hermione. Embora eu possa usar uma parcela menor para comprar uma pequena loja de carne vermelha.


Agradecemos antecipadamente pela sua generosidade.


 


Seu sobrinho,


Harry


 


P.S. O treino de basquete começará logo. Talvez você queira vir até aqui e assistir um jogo?


Talvez não.


__-__-__


"Por que Harry não precisa ajudar com os pratos?" Eu reclamei, entregando a mamãe um prato pingando. "Ele come com a gente. Ele podia ajudar a limpar. Eu também já estou cansada de lavar as roupas dele. Ele vive reclamando sobre a goma. Quem é que usa goma?"


"Eu entendo sua frustração, Jessica." Mamãe enxugou o prato com uma toalha.


"Mas seu pai e eu conversamos sobre isso, e nós dois achamos que Harry já está tendo problemas suficientes para se ajudar à vida nos Estados Unidos, sem precisar fazer as tarefas também."


"Ele se ajustou muito bem. Bem demais, se você me perguntar."


"Não confunda a naturalidade de Harry com felicidade", mamãe disse. "A vida dele já está drasticamente alterada sem que ele seja forçado a fazer trabalhos extras que na casa dele seriam feitos pelos serventes."


"Ou isso é o que ele diz."


Mamãe riu. "Independente do que você pensa sobre Harry... er, sobre sua vida de vampiro -"


"Eu acho que isso é um monte de mer -" Eu parei. "Quer dizer, lixo."


"Mesmo assim, Harry vem de um berço muito rico e privilegiado."


Eu remexi na água ensaboada, tateando os talheres afundados. "Quão privilegiado? Honestamente? Por que às vezes eu fico me perguntando sobre os cavalos de pólo e as viagens à Viena."


"Oh, eu não ficaria surpresa, Jessica", mamãe disse. "A família Potter vive numa propriedade impressionante. Um castelo, na verdade. No topo das Montanhas Carpátias."


"Um castelo?" Fora dos filmes da Disney, ninguém vive em castelos. "E você viu esse 'castelo'?"


"Só o exterior, mas é suficientemente intimidante", mamãe disse. "Não fomos permitidos lá dentro. Os Potter não são os vampiros mais acessíveis..."


Parecia que ela ia se expandir nesse assunto, mas mudou de idéia. "Os Granger foram mais hospedeiros."


Estávamos chegando perto demais de uma conversa sobre meus pais biológicos.


"Como ele era? O castelo?"


Mamãe sorriu. "Essa é a primeira vez que eu sinto que você está intrigada com alguma coisa relacionada a Harry."


Eu lavei algumas facas. "Só pela casa dele."


Mamãe jogou a toalha por cima do ombro e se inclinou no balcão. "Por Harry não? Nem um pouquinho?"


Eu reconheci a sugestão sutil em sua voz. "Mãe! Não."


"Jessica... você precisa admitir, Harry é um jovem fisicamente atraente, e ele está claramente interessado em você. Seria apenas natural se você tornasse evidente que sente algum interesse em retorno. Não seria nada do que se envergonhar."


Mergulhando uma panela de caçarola, eu esfreguei algumas lentilhas que ficaram presas nas laterais durante o cozimento. "Mamãe, ele acha que é um vampiro."


"Isso não muda o fato de que Harry é um garoto charmoso, poderoso, rico e bonito."


Eu lembrei a sensação da mão forte de Harry alisando a minha bochecha na noite que nos conhecemos. Aquela sensação de borboletas no topo do meu estômago. E o fato de que ele realmente falou em voz alta sobre suas intenções de morder meu pescoço. "Você já me viu olhar para Harry com alguma coisa além de nojo? Sério?"


Mamãe sorriu. "Você ficaria surpresa em saber quantas vezes nojo se transforma em desejo." Havia um olhar sábio nos olhos dela. Como se ela tivesse lido minha mente enquanto eu lembrava de Harry tocando meu rosto.


Eu corei. "Isso parece alquimia. E isso é tão real quanto vampiros."


"Oh, Jessica." Mamãe suspirou. "O que é o amor se não uma forma de alquimia? Existem forças nesse universo que simplesmente não podemos explicar."


Sim. Forças como a gravidade de um buraco negro que muda o tempo. E a linha infinita de pi que cerca o universo. Havia forças e realidades de verdade. Misteriosas, claro. Mas que também podiam ser medidas, e talvez compreendidas se nós aplicássemos matemática e ciência e física. Por que meus pais não conseguiam entender isso? Por que eles tinham que olhar para o mundo e ver coisas mágicas e sobrenaturais onde eu via números e elementos?


"Eu não gosto de Harry, mamãe, então você pode esquecer sobre alquimia, sobre o nojo, e especialmente sobre o desejo", Eu prometi, enxaguando a panela de caçarola.


Mamãe não parecia convencida enquanto enxugava o último dos nossos pratos.


"Bem, se seus sentimentos mudarem, você pode falar comigo. Eu não gostaria que você perdesse a cabeça..."


"Jessica 'perdeu a cabeça' de alguma forma? Posso ajudar em alguma coisa?"


Mamãe e eu nos viramos para ver Harry parado na porta da cozinha. Quanto tempo ele esteve ali? Quanto ele tinha ouvido? "Nojo se transforma em desejo?"


Se mamãe ficou envergonhada em ser flagrada falando sobre Harry nas costas dele, isso não apareceu no rosto dela. "Jess vai ficar bem, Harry. Mas obrigada por perguntar. O que te tirou da garagem?"


"A vontade daquele delicioso sorvete de tofu que você guarda no freezer", Harry disse. Ele foi até a geladeira e abriu a porta. "Vocês gostariam de se juntar a mim?"


"Na verdade, eu vou até o celeiro ver alguns gatinhos que seu pai achou", mamãe disse para mim. "Eu acho que temos espaço para mais um, mas eu gosto de fingir resistência. Se eu encorajá-lo demais, vamos acabar perdendo o controle." Ela deu um tapinha no ombro do nosso estudante de intercâmbio enquanto saia da cozinha. "Boa noite, Harry."


"Tenha uma boa noite, Sra. Packwood." Harry colocou o sorvete de mentira sobre o balcão e pegou duas taças no armário, segurando-as. "Jessica? Posso te deixar tentada?"


"Obrigada, mas eu meio que estou evitando sobremesa."


"Por quê?" Harry parecia genuinamente confuso. "Eu sei que esse sabor não é o mais atraente, mas sobremesa é um dos grandes prazeres da vida, você não acha? Eu raramente passo a sobremesa - com exceção daquela vez que seu pai fez a torta de abóbora, sem ovos e creme. Ela dificilmente parecia valer o esforço de se levar o garfo até a boca.”


Eu puxei o ralo da pia, liberando a água, agora fria, dos pratos. "É, bem, você não é gordo. Você pode comer sobremesa."


Quando eu tirei os olhos da água que descia em redemoinhos, Harry olhava para mim com o rosto franzido. Olhando pra mim de cima a baixo.


"Quê?" Eu olhei para minha camiseta e meus shorts. "Tem alguma coisa em mim?"


"Você certamente não acha que está acima do peso, Jessica?" Ele disse, com descrença nos olhos. "Você não acredita naquele imbecil que mexeu com você no refeitório... Eu sabia que devia ter silenciado ele -"


"Isso não tem nada a ver com Dormand - e ele é problema meu, não seu", eu disse. "Eu só preciso perder uns dois ou quatro quilos, só isso. Então se acalme."


Harry abriu o pote, balançando a cabeça. "Mulheres Americanas. Por que vocês todas querem ser quase invisíveis? Por que não ter uma presença física nesse mundo? Mulheres deviam ter curvas, não ângulos. Não pontas." Com o estremecimento de mentira que ele geralmente reservava às comidas do meu pai, ele completou, "Mulheres Americanas são pontudas demais. Ossos saltando dos quadris e ombros."


"Ser magra está na moda", eu aconselhei. "É bonito."


"Ninguém devia confundir 'na moda' com beleza", Harry corrigiu. "Confie em mim, homens não ligam para o que as revistas de moda dizem. Eles não acham que mulheres esqueléticas são 'bonitas'. A grande maioria dos homens prefere curvas." Ele mergulhou uma colher no tofu congelado e veio em minha direção, segurando-a para meu rosto. "Coma. Fique feliz em ter curvas. Uma presença."


Eu sorri um pouco, mas ainda afastei a mão dele. Eu tinha total intenção de perder dez quilos. "Não, obrigada."


Harry deu um suspiro exasperado e jogou a colher de volta para o balcão.


"Hermione, abrace quem você é. Uma mulher que detém o poder que você possui, não devia seguir a moda - ou acreditar na maledicência de inferiores ridículos."


"Não comece de novo com aquela coisa de realeza", eu implorei, batendo o pano de pratos na pia. Qualquer coisa boa que eu senti com Harry desapareceu.


De repente, eu senti raiva. "E não me chame por esse nome!"


"Oh, Jessica. Eu não quis te aborrecer", ele disse, colocando o pote no balcão. A voz dele suavizou. "Eu só estava tentando -"


"Eu sei o que você estava tentando", eu disse. "Você tenta isso todos os dias."


Nós ficamos frente a frente, encarando um ao outro. Harry começou a erguer a mão para mim, então aparentemente pensou melhor. A mão dele caiu para o lado.


"Olha, precisamos ter uma conversa séria", eu disse. "Sobre esse negócio de 'pacto'. Esse lance de corte."


Harry pausou, considerando isso. Então, para minha surpresa, ele concordou.


"Sim. Eu suponho que devíamos."


"Agora."


"Não", ele disse, pegando o sorvete falso novamente. "Amanhã à noite. No meu apartamento. Eu tenho algo para te mostrar."


"O quê?"


"Eu prefiro surpresas. Outro dos grandes prazeres da vida. Na maioria das vezes. Bem, algumas vezes."


Eu não gostava dessa surpresa. Eu tive surpresas suficientes ultimamente. Mas de qualquer forma, concordei. Eu não me importava se Harry me presenteasse com uma parte do seu castelo, ou com um rebanho de carneiros - ou o que quer que eles usem como dote na Romênia - e um anel de diamantes. Eu ia persuadi-lo de uma vez por todas que nosso 'noivado' estava acabado.


"Te vejo amanhã à noite", eu disse, limpando o topo do balcão. “lave a louça quando acabar."


"Boa noite, Jessica."


Eu sabia que encontraria uma taça na pia no café da manhã


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Mais tarde naquela noite eu caí no sono pensando na afirmação da minha mãe sobre nojo que se transformava em desejo. Isso certamente não acontecia, não é?


Ninguém mais acreditava em alquimia. Não se podia criar ouro usando pedras ou palha.


Mas enquanto eu dormia, sonhei com Harry. Nós estávamos na cozinha dos meus pais, e ele segurava uma colher perto do meu rosto. Só que ela não estava cheia de tofu congelado. Ela estava cheia com a calda de chocolate mais escura que eu já tinha visto.


"Coma", Harry pressionou, pressionando a colher levemente contra meus lábios.


"Chocolate é um dos grandes prazeres da vida." Seus olhos pretos brilharam.


Eu queria protestar. Estou gorda demais... Gorda demais... Mas ele continuou segurando aquela colher, e o chocolate, que começava a pingar, era tentador demais para que qualquer mortal resistisse, e no final, eu comi tudo. Era como seda na minha língua. Eu jurava que conseguia sentir o gosto enquanto dormia.


Eu agarrei e segurei a mão de Harry, mantendo-a no lugar, e fechei os olhos enquanto terminava com o resto do doce. Quando eu acabei, e abri os olhos novamente, a colher tinha desaparecido como acontece com as coisas nos sonhos, e só restava eu e Harry, meus dedos entrelaçados com os dele.


Ele sorriu para mim, revelando aqueles dentes incríveis e impossivelmente brancos. "Você não se arrependeu disso, não é?" Ele perguntou, e começou a alisar meu pescoço. Minha garganta. "Foi perfeito, não foi?" Ele sussurrou no meu ouvido. Então Harry passou seus braços poderosos completamente ao meu redor, me abraçando, me cercando...


E eu acordei, de costas...


O sol estava nascendo, e a luz do sol estava batendo nas minhas janelas. Eu estava respirando com força. Wow.


Eu virei para um lado, me curvando, e estava voltando à realidade quando a luz do sol refletiu em alguma coisa brilhante no chão, perto da minha porta fechada.


Um marcador de livros prateado, saindo de um livro. Um volume fino.


O livro não estava lá quando eu fui dormir. Alguém obviamente o passou por debaixo da porta.


Saindo de baixo das cobertas, eu o apanhei, virando para ver o título: Se


Tornando Morto-Vivo: Um Guia de Namoro, Saúde e Emoções para Jovens Vampiros. O topo do marcador estava gravado com um LV, numa caligrafia em negrito.


Oh, Deus, não. O guia que Harry havia mencionado no primeiro dia que nos conhecemos. Eu lembrava vagamente dele mencionando - foi logo depois dele anunciar seus planos de me morder.


Eu caí no chão, olhando para o presente não desejado.


Então, contra meus próprios julgamentos, eu abri as páginas marcadas, lendo o capítulo que dizia "Mudanças em Seu Corpo". Oh, pelo amor de Deus... Também havia uma passagem sublinhada, com tinta vermelha. "Jovens damas naturalmente se sentirão confusas, até mesmo ambivalentes, com as mudanças em seus corpos. Mas não tenham vergonha! Adquirir curvas é uma parte natural de se transformar em uma vampira adulta."


Eu resisti à vontade de gritar. Eu não preciso dos conselhos de Harry Potter sobre me tornar "adulta", especialmente uma "vampira adulta". E afinal, quem imprimiu essa coisa?


Isso ia encorajar as pessoas com ilusões lunáticas...


Antes de jogar a coisa na minha lixeira, que era seu lugar, eu dei uma olhadinha rápida na contracapa, procurando a editora. Mas foi um bilhetinho escrito à mão que chamou minha atenção.


 


Querida Jessica


É claro que eu nunca precisei de conselhos sobre nenhum desses tópicos - sério, "emoções"? - mas eu achei que talvez você, como "novata", por assim dizer, podia achar o guia útil. Apesar de seu tom um tanto fantasiado, ele é muito respeitado entre nossa espécie.


Aproveite - e me consulte se tiver alguma dúvida. Eu me considero um expert.


Exceto pelas "emoções".


Seu,


L.


P.S - Você sabia que ronca? Bons sonhos!


 


Ele simplesmente não desistia.


Enquanto eu fechava a capa, eu percebi que havia alguma coisa grudada na parte de trás do livro também. Um envelope. Eu comecei a puxá-lo do meio das páginas. O pequeno pacote era meio encerado e quase transparente, e eu prendi a respiração quando me dei conta de que lá dentro havia uma foto. Mesmo através do papel, eu podia divisar a imagem indistinta de uma mulher.


Não.


Sem olhar eu já sabia de quem era aquela foto. Minha mãe biológica...


Eu enfiei o envelope de volta entre as páginas. Harry não ia me manipular, não ia forçar o passado a voltar. Ele não podia me fazer olhar para a mulher morta e perturbada que havia me dado a luz.


Lutando com a raiva - de Harry, da tristeza, dos segredos vergonhosos sobre meu passado - eu enfiei o livro embaixo da minha cama. Eu não queria que minha mãe o encontrasse acidentalmente enquanto esvaziava minha lixeira. Mais tarde eu poderia rasgá-lo e enterrá-lo na pilha de coisas recicladas.


Enquanto o volume fino saia rodando no chão de madeira até ir para no meio dos coelhinhos de poeira, eu pensei: Harry estava fora da porta do meu quarto enquanto eu sonhava com ele? A vergonha me inundou. Por que eu tive aquela fantasia noturna? E o que Harry quis dizer com "bons sonhos"? Por que ele tinha escrito isso?


Eu esperava desesperadamente que, além do ronco - coisa que eu não fazia – eu não falasse enquanto dormia. E eu lembrei, com mais que má vontade, do meu acordo de encontrar Harry à sós no apartamento dele mais tarde naquela noite.

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N/A: Obrigada a quem leu e comentou. E pra quem leu e não comentou, comente! =D


Bye ♥ 

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