Querido Diário
Querido Diário
Natalie desceu as escadas, apressada. O ódio por Lindsay tomou conta do corpo da garota de tal forma que ela não se culparia por seus atos numa hora dessas.
Tá, estava namorando o garoto mais lindo da face da Terra mas... ainda sentia ciúmes do melhor amigo, e isso seria normal, como sua mãe lhe diria numa hora depressiva como essa: isso vai continuar a vida toda.
Chegou no fim da escada e deu de cara com quem queria dar: Victor. Pela primeira vez olhou o garoto com outros olhos. Ele parou repentinamente e os cabelos balançaram para frente e para trás rapidamente, e os braços soltaram os livros cheios e grandes que carregava.
Se abaixou para ajuda-lo. Victor a fitou estranhamente.
- Natalie. – chamou.
- Hum? – ela disse sem se preocupar em olha-lo nos olhos.
Victor puxou seu queixo para cima, só para ter certeza.
- Você está bem?
Céus! Como foi chocante vê-lo daquele jeito. Tão, tão vivo... Nunca tinha visto Victor assim, entre todas as situações onde já passara com ele, nunca, em tempo algum, tinha presenciado tal sentimento perfeito ao estar ali... com ele! A situação se complicou quando Natalie decidiu fitar o rosto dele por completo... seus olhos... “como podem ser tão perfeitos?”... seu nariz... sua... boca? Por que teve que parar justo na... boca? Essas últimas semanas em Hogwarts estavam sendo depressivas e nervosas cada vez que ela a via conversando com Lindsay e isso acontecia tão sucessivamente... nem sabia porque. Mas também nem queria descobrir.
- Perfeitamente bem. – ela abriu um sorriso convincente.
Victor não se convenceu mas não faria o possível para descobrir... se quiser alguém em quem confiar é Natalie. Ela não abre a boca nem que pague.
- Tem certeza?
Resolveu arriscar quando terminavam de juntar os livros e se levantavam. Andaram paralelos.
- Tenho... Ah! Tenho que te perguntar uma coisa...
- O que? – perguntou interessado.
- Verdade que está namorando com Lindsay? – perguntou, discreta.
- Umhum... como você sabe? Eu ia te contar hoje!
- Mary me disse ontem. – se sentiu estranha, mas com forças o bastante para dobrar o corredor e sair correndo em direção ao dormitório feminino conversar com a melhor amiga.
Mas coincidentemente, esta estava na sala, conversando com Haynan, um garoto lindo do sexto ano que se ela interrompesse a conversa a amiga a mataria.
Tentou iniciar uma conversa com o amigo, suas palavras eram poucas, mas boas o bastante para faze-lo continuar. Falavam sobre um ocorrido na sala de aula de manhã – uma garota chorara para conseguir boa nota na média alegando que se voltasse pra casa com notas baixas levaria castigo do ano inteiro; a professora revidou, falando que se entregasse notas “falsas” a ela esta não aprenderia nada. Visivelmente entristecida (a razão não descobrira ainda), disse que estava cansada e foi ao seu quarto, no momento em que escorou sua cabeça no travesseiro ouviu um barulho estranho e se levantou, olhando para trás.
Viu um pedacinho de papel amassado e um bilhete que dizia:
“Natalie,
Você não apareceu. Por que hein?? Eu te esperei um tempão e você nada... nossa, muito obrigado por ter me deixado esperando foi muito construtivo ficar encarando um lago com uma lula imensa te molhando toda hora... amanha falamos sobre isso. Tchau.
Seu namorado. ”
Pronto. Pra completar estava em risco de perder o namorado. Mas ele não a deixaria com certeza, ele dizia que a amava a toda hora! E além disso... nem sabia mais se gostava dele! Levou as mãos à cabeça ao lhe passar uma breve frase : “Eu gosto do... Victor???” foi o que sua mente lhe respondeu.
Agora sim estava feita. Precisava tirar isso da cabeça, inventar uma desculpa à Johnny e ainda tinha, precisava, conversar com Victor para ver o que sentia.
Mas isso não agora... amanhã. Se levantou e foi cuidadosamente até a escrivaninha, abriu a gaveta, afastou umas canetas e papéis que ali estavam, e tirou um pedaço de madeira que separava os papéis de um livro marrom.
- Diário, diário... a quanto tempo! – suspirou ao sentar-se na sua cama novamente, folheando-o.
Na verdade tinha aquele diário desde os 5 anos. Mas não tocava nele desde os 8... deu uma olhada no último dia...
“12 de agosto de 2000”
“Querido diário,
Hoje foi ‘o dia’!! fomos à uma loja graaaaaaaaaaaaande trouxa que a minha mãe chama de shopping e compramos um moooooooooonte de coisas!! Comprei uma capa nova pra minha cama, um ursinho... acho que vou desmaiar de cansada! Eu e o Victor apostamos corrida até aqui em cima... puxa... ele sempre ganha! O duro é que vou começar a estudar... ah, não queria não... mamãe disse que é muito legal, mas papai me diz – longe da mamãe – que é um saco!
Bom, eu já vou parar de escrever porque a Nani ta chamando a gente pra jantar...
Até Mais!
Natalie.”
Sorriu, ao ver o último. Naquela época achava que o mundo era um pássaro que a levava nas costas. Pra falar a verdade, tinha saudades da época em que corria das escadas da casa com Victor e ouvia sua mãe gritando para não fazer isso.
Molhou a pena no tinteiro e começou a escrever.
“12 de agosto de 2005”
“Querido diário,
Bom, não tenho nem o que falar né? A quanto tempo... sei lá.
Mas só te busquei para desabafar.
Não sei o que anda acontecendo ultimamente comigo.
Namoro com o garoto mais lindo da escola, descobri que talvez eu esteja apaixonada pelo meu melhor amigo, o que é absurdo, e não me sinto nada, nada mesmo, feliz.
Hoje quando desci as escadas atrás de Victor para esclarecer uma história, eu simplesmente esbarrei nele e comecei a pegar os materiais junto com ele! Quem escreveria isso num diário? Uma louca apaixonada... mas eu insisto, não estou gostando de Victor, talvez...
Ah... diário... você nem imagina o quanto eu mudei até aqui... acho que cresci.
Sei lá.
Bom acho que é só.
Qualquer dia desses eu volto.
Até Mais.
Natalie.”
Fechou o livro e suspirou aliviada. Precisava desabafar com alguém e nada melhor que o confidente diário não é? Agora precisava dormir... mesmo tendo um monte de tarefas para amanhã ela tinha que descansar. Era muito acontecimento diferente pra um dia só.
Jogou a cabeça em cima do travesseiro macio e fechou os olhos, em instantes já tinha dormido.
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