Baile Incerto
- Natalie... não consigo acreditar... eu já tinha pensado em tudo, menos, menos, menos... em você e Victor! – repetiu Mary, com um sorriso, pela 10ª vez.
- Ok... eu contei só pra você, faz favor de não sair espalhando. – disse, brincando com um papel, sentada com as costas no braço do sofá e as pernas no outro.
Mary ficou calada, com as mão na boca, ainda espantada com o comunicado.
- Inacreditável. – disse, suspensa.
- Ta, mas e você e aquele garoto o... Stuff?? É... o que aconteceu com vocês?
- Terminei com ele.
- O que???
- É... terminei. Ele é muito puxa saco e não larga do meu pé!
Não conseguia acreditar nas palavras que ouvia da amiga.
- Você não presta mesmo! – sussurrou, jogando uma almofada.
- O que? – disse, como se não fosse culpa dela.
- Ok... nada.
- Fez as lições??? Pra você ter me acordado 3 hrs da manhã deve ter algo bom aí no meio! Hein... fez??
- Claro que fiz... mas você deve estar com sono, não? – tentou mudar de assunto, não gostava de passar tarefas.
- Eu, com sono? Há há... brinca... não, não to com sono, pode me passar?
Natalie fez aquela expressão que...
- Ok! – retrucou a amiga – to brincando!
Natalie sorriu.
Dia do baile. Vestidos, correria, brilho. A única coisa que via nesse dia era brilho... muitas garotas com brilho nos olhos... alegres, eufóricas. Mas ela não estava. Ela que tinha começado a namorar o melhor amigo no dia anterior não estava nada feliz... e não sabia o motivo.
Sentada na cadeira, onde sua amiga arrumava seus cabelos e sua maquiagem com um feitiço, Natalie tentou sorrir, mas não conseguiu. Não via motivos para estar no baile, nem para dançar naquela noite. E não parava de pensar no que iria fazer lá. Só... dançar? Não era muito boa nisso... a não ser se fosse balé, que sua mãe insistira muito para ela fazer quando era pequena, e isso obviamente não teria no baile.
Sentiu angustia, como se esperasse nervosamente algo acontecer, mas... o que?
Ouviu baterem na porta.
- Natalie! – gritaram. Era Victor.
- Como ele subiu aqui? – perguntou Natalie à Mary, com a voz baixa.
- Não sei... deve ser algo importante! – sussurrou de volta indo abrir uma fresta da porta.
Victor estava com uma roupa de gala preta. Arrumado. Cabelos. Cheiro. Tudo!
- Nada mal... – Mary se entusiasmou, elogiando.
- Obrigado, - começou, corando um pouco. – posso falar com Natalie?
- Ela está ocupadíssima no momento... – brincou – quer que eu fale algo pra ela?
- Não... quer dizer... fale! Fale que eu tenho que lhe falar uma coisa. Urgente.
Natalie sorriu, sarcástica.
- Jura??
- Pára!! É sério, Mary!
- Ok... ok... mas não dá pra me falar?
- Não.
- Ok... tchau. – e fechou a porta na cara do garoto.
Voltou andando sorrateiramente, procurando não tropeçar no vestido longo.
- Seu namorado esteve aqui. – avisou.
- Disso eu sei... o que ele queria? – quis saber.
- Não sei... só falou que queria falar com você depois. E era urgente.
Sentiu algo angustiante por dentro. E não era de hoje. A noite inteira fora assim. Nada mais que angustia. Algo quente.
- Só isso? – perguntou, fitando a porta com um pôster de Steniel Campbell, jogador do time da Bulgária, do qual Natalie era fã.
- Ah... e ele está lindo! – disse, tentando fazer a amiga sorrir, e pegando a varinha novamente, para mudar de assunto – vamos ver... será que se eu não fizer...
Mas Natalie não ouviu. O que era tão importante que Natalie tinha que saber exatamente faltando 30 minutos para o baile? Não iria suportar saber na hora... estava muito angustiada... sem saber o que fazer... queria saber! “O que Victor tem a me dizer? Nossa... o tempo não passa... não consigo me imaginar no baile... e se ele nem acontecer? Ai...”, pensamentos como este atravessavam pacientemente a cabeça de Natalie, que a cada minuto ficava mais desesperada.
- Natalie! – Mary lhe chamou a atenção.
- Q-que? – esta se assustou.
- To falando com você!
- Ah, sim... desculpe.
- Ok... mas o que você acha do que eu te falei? Seu rosto vai ficar arredondado com esse que você escolheu... você tem certeza que está bem??
O rosto de Natalie estava vermelho e esta estava quente. Sua cabeça dilatava de dor.
- Absoluta. – disse, piscando rapidamente.
- Ok... mas não parece... acho melhor você passar outra camada de pó... Natalie!
Natalie tinha se levantado rapidamente para olhar pela janela. As luzes estavam acesas e certamente tinha gente arrumando o lugar. Mary foi ao seu lado e a fitou, Naty se virou e encarou a amiga, que sorriu.
- Vai dar tudo certo, ok? É só respirar fundo... – pediu Mary.
- Mas e se ele... e se ele... terminar comigo? Quer dizer, eu nunca gostei realmente de alguém, e quando eu gosto, é do meu melhor amigo, quem eu brigo todos os dias e quem fica me infernizando todos os dias! – os olhos de Natalie rapidamente se encheram de água, tinha que desabafar com alguém.
Mary a abraçou ternamente, confortando-a.
- Fica calma. Nada de ruim vai acontecer, confia em mim, ok? – disse a amiga.
- Ok. – disse, entre os soluços.
Poderia até ser estranho uma garota de 14 anos (fizera aniversário uns dias antes) poder prever o futuro, não prever, assim, tão literalmente, mas tinha a incrível e desconfortante sensação de que estava sujeita a um futuro amoroso com Victor não muito admirado e invejoso. Pra falar a verdade, tinha a sensação estranha de que alguma coisa estranha estava prestes a acontecer, mas não sabia como sentir e como reagir a sensações como estas, afinal, nunca mesmo tinha se imaginado namorando o melhor amigo. Ou seja, não tinha se preparado emocionalmente para situações como esta.
- Mary – chamou inesperadamente a amiga. Que a soltou e a encarou nos olhos.
- O que foi? – perguntou tentando se conter.
Tudo estava estranho. Até Mary estava pressentindo algo para esta noite, um aperto que poderia se transformar em sufoco mais tarde. A olhou com os olhos lacrimosos e com um sorriso nada convincente.
- Você acha que... que... pode – quer dizer, é só um... pressentimento (N/A: é isso está acontecendo muito por aqui hoje) – poderia, pra ser mais específica – essa noite poderia mudar a minha vida para sempre? – perguntou, incerta de que fizera a pergunta para a pessoa certa e receosa com a resposta que poderia vir à tona, a qualquer momento.
Mary refletiu por um momento.
- Olha bem pra mim – ela colocou os cabelos lisos de Natalie atrás da orelha – por favor, confia em mim, ok? – pediu honestamente.
- Vou tentar.
- Bom... olha: eu não sei o que você está prevendo – “Ou o que eu também esteja prevendo”, pensou – não sei, ta? Mas com certeza vai dar tudo certo, é só você... esquecer! Esqueça tudo isso, ok? Você está com quem queria, amiga! Tem o que quer nas mãos! Nunca teve a oportunidade e agora tem, e não a desperdice, ok?
Natalie fracassou um sorriso:
- Ok.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!