Gui



GUI




Um dois maiores sustos que já levei em toda a minha vida foi descobrir minha primeira gravidez: menos de um mês após meu casamento com Arthur, comecei a sentir enjôos e vertigens que, quando notados por minha tia Muriel – na época, muito mais gentil e muito menos gagá do que é hoje – não deixaram dúvidas acerca do fato de que um Weasley estava a caminho. Eu, que pensava que todo aquele mal estar era fruto apenas das muitas noites em claro que passei, bem, aproveitando a vida de casada, fiquei mais de uma hora prostrada na minha poltrona preferida da casa de minha tia, com a boca aberta e os olhos arregalados, quando ela disse com um tom casual ‘ora, Molly, não seja tolinha. Você está grávida, querida’ depois de eu dizer o que estava sentindo.


Pensei que Arthur fosse ficar um pouco frustrado por termos encomendado nosso primeiro bebê tão cedo, sem ao menos termos aproveitado satisfatoriamente o casamento. Relutei um pouco em contar a novidade para meu marido, mas, ao contrário do que eu esperava, ele ficou tão feliz que quase explodiu o pequeno apartamento [Arthur havia insistido que começássemos nossa vida de casados morando perto dos trouxas, que, segundo ele, eram extremamente benevolentes com seus vizinhos recém-casados] em que morávamos com as faíscas douradas e vermelhas que saíram de sua varinha quando ouviu a notícia. ‘Um menino, certamente, um menino! Precisamos de um macacãozinho dos Chudley Cannons! Precisamos de uma manta da Grifinória! Precisamos de fraldas, e mamadeiras, e chocalhos, e...’ ele dizia para si mesmo, feliz, enquanto andava de um lado para o outro do apartamento mandando corujas, patronos e outros tipos de mensagens para todos os nossos conhecidos informando que, em menos de 9 meses, teríamos mais um membro em nossa família.


Apesar de inesperada, minha gravidez foi tranqüila. Eu passava a maior parte dos meus dias visitando minhas velhas tias, minhas primas e minhas amigas da época de Hogwarts. Falávamos sobre a gravidez, tricotávamos roupinhas de bebê, elas me davam conselhos de todos os tipos sobre quais as melhores poções para tomar durante a gestação, o que devia deixar preparado para o dia do parto e quais as melhores formas de dar banho em um pequeno bruxinho. Era divertido e, mais do que isso, alentador para uma jovem futura mãe saber que havia tantas pessoas ao meu lado dispostas a me ajudar. Quando chegava em casa, no final da tarde, tomava um banho demorado e fazia o jantar para Arthur, que, apesar de sempre chegar exausto do Ministério, sempre encontrava um tempo para perguntar como havia sido meu dia, como estava o bebê e para notar cada pequena mudança que acontecia em meu corpo enquanto a gravidez avançava.


Guilherme Arthur Weasley nasceu às 10 horas e 42 minutos da manhã do dia 29 de Novembro de 1970, depois de um trabalho de parto que durou mais de 10 horas. Eu estava assustada, com dores escabrosas e morrendo de medo quando um Arthur acordado pelos gritos da esposa no meio da noite, descabelado e sem saber o que fazer, me levou para os curandeiros. Apesar de ter doído mais do que se um mini-pufe estivesse saindo do meu nariz, o parto não teve complicações.


Eu nunca me esquecerei da primeira vez em que peguei meu bebê no colo: quentinho, com cheiro de creme de baunilha e leite, seus ralos cabelos vermelhos formando um único cacho no alto da cabeça, ele era a coisa mais perfeita que eu já havia visto em toda a minha vida. Arthur chegou com timidez ao meu lado enquanto eu olhava embevecida para o nosso filho, e eu vi lágrimas brilhando em seus olhos enquanto ele dizia ‘Que belo rapaz você é... Vai se chamar Guilherme, como o seu avô’.




Eu não estaria mentindo se dissesse que Gui sempre foi o filho que menos trabalho me deu. Apesar de ter sido extremamente mimado não apenas por Arthur e eu, mas por todos os tios, primos e agregados Weasley durante os dois anos em que foi filho único, ele parecia não se deixar afetar por isso, como se soubesse que a situação em que ele era o pequeno rei da casa era passageira e que logo teria mais um, dois, seis irmãos com quem dividir as atenções.


Talvez por esse mesmo motivo, Gui sempre foi extremamente responsável. Mesmo enquanto único filho, eu via suas qualidades de irmão mais velho aflorarem diariamente, no cuidado que ele tinha com seus brinquedos, em sua postura séria enquanto usava a varinha de brinquedo para tentar produzir feitiços complexos para um menino de três anos [‘ingáudium lovonosa!’, ele dizia, apontando para os frutos da macieira-brava que havia no quintal de nossa casa, causando um leve chacoalhar na planta’]. Ele também sempre foi extremamente inteligente. Aprendeu a ler sozinho, aos dois anos e meio. Com cinco anos, fazia com perfeição as contas de matemática que encontrava nos livros didáticos de trouxas que seu pai colecionava. No fundo do meu coração, eu achava que, apesar de toda a velada pressão dos Weasley para que ele fosse para a Grifinória quando entrasse em Hogwarts, seu sangue Prewett iria falar mais alto e ele acabaria na Corvinal, como meus pais e irmãos. Devo admitir que fiquei um pouco chocada ao receber, na manhã do dia 2 de setembro de 1981, a carta de Dumbledore dizendo que o chapéu seletor mal havia encostado na cabeça de Gui quando gritou ‘GRIFINÓRIA!’ com todas as forças que um chapéu milenar pode ter.


Em Hogwarts, ele sempre foi um aluno exemplar. Desde o primeiro ano, suas notas eram de dar inveja a qualquer um, o que me orgulhava até que meu peito de mãe ficasse estufado. Todos os anos, depois das provas, eu recebia cartas dos professores dizendo sobre o quão felizes eles estavam por poderem tido a oportunidade de trabalhar com um rapazinho tão esperto e dedicado quanto era o meu Gui. Eu via nele a projeção de tudo o que eu poderia ter sido se tivesse optado pela minha vida profissional ao invés de escolher ficar com o amor da minha vida: inteligência e dedicação combinavam-se e resultavam em notas perfeitas, que, anos mais tarde, levaram-no a ser o mais jovem desfazedor de feitiços que o Gringotes já contratara em toda a sua história. Além de ser o melhor aluno do ano, Gui também sempre soube conquistar as pessoas desde o primeiro olhar: de seus professores aos calouros, do professor Dumbledore a Madame Rosmerta, todos se encantavam com o charme solene e humilde do meu garotinho de olhos azuis. Eu não me espantei quando o distintivo prateado de monitor chegou junto com a carta de material escolar, antes que ele ingressasse no quinto ano; tampouco me foi uma surpresa quando, antes do início de seu último ano em Hogwarts, uma coruja trouxe uma carta de felicitações e um belo distintivo dourado informando que ele tinha sido escolhido chefe dos monitores – a falta de surpresa, entretanto, não fez com que Arthur e eu nos sentíssemos menos orgulhosos por ver que o nosso bebê estava se tornando um homem tão digno.


Com os amigos, Gui também sempre foi um ótimo rapaz. Desde pequeno, era um amigo leal e sensato, do tipo que as outras mães gostavam que andasse com os seus filhos e sempre convidavam para passar um pedaço das férias, ou mesmo uma tarde regada a suco de abóbora, tortinhas de caramelo e quadribol com a família. É engraçado lembrar que a fidelidade de Gui a seus amigos foi a única coisa que fez com que ele me causasse problemas em toda a sua vida: numa bela tarde, eu recebi uma carta um tanto chocada de Dumbledore me informando que, para seu espanto, o sempre muito controlado Gui havia dado um soco no nariz de Edmundo McNair e o mandado para a enfermaria. Consternada, mandei um berrador para meu filho, no qual eu falava coisas sobre como ele havia me decepcionado, como aquele comportamento estava fora dos padrões que eu esperava dele e como ele iria levar um bom puxão de orelha quando chegasse em casa. No mesmo dia, nossa coruja retornou com um bilhete de Gui: ‘Mamãe, McNair chamou minha amiga Daisy Browm de sangue-ruim. Eu tinha que defendê-la. Amor, Gui’.


Entretanto, ninguém é perfeito, e o meu Gui não seria o único a ficar de fora dessa afirmação. Todos temos um fraco, e o fraco dele eram as mulheres. Não que ele fosse mulherengo, mas era um fato conhecido por toda a família que Gui sempre teve a tendência de se envolver com garotas muito bonitas, mas que só sabiam trazer problemas para ele. No sexto ano, seu namoro com a salafrária Lisa Carmichael, uma morena baixinha da Corvinal, um ano mais nova e mais namoradeira do que Sirius Black quando jovem, terminou com um Gui desiludido trancado no quarto durante todas as férias de verão, ouvindo ‘O amor é um jogo de snap explosivo / e explodiu o meu coração’, de Celestina Warbeck e suspirando enquanto olhava com cara de cachorrinho para a foto em que ele e Lisa apareciam juntos sob o azevinho. Enquanto morou no Egito a serviço do Gringotes, envolveu-se com Artemisia Ptolomeu, que, segundo as más línguas, descendia por parte de mãe da rainha Cleópatra e que, como ela, gostava de usar os homens que a amavam para conseguir o que queria – de vestidos a cargos no Ministério da Magia egípcio. Quando ele voltou para a Inglaterra, a proximidade dos pais, dos amigos e dos irmãos, juntamente com sua maturidade [e uma extensa lista de namoros que acabavam mal], fizeram com que pensávamos que ele estava a salvo de se envolver com mais uma bela sirigaita, que iria iludi-lo e depois destruir seu coração. Foi então que surgiu Fleur Delacour.


Fleur era, sem dúvida, a mais bela das namoradas que Gui já tivera. Seus cabelos louro-prateados caíam com graça sobre as costas magras, e quando ela sorria, formavam-se duas adoráveis covinhas em seu rosto. Era suave, delicada e gentil. Os rapazes todos imediatamente se encantaram com ela quando Gui nos apresentou a moça como ‘minha noiva’ e a levou para passar algumas semanas das férias em nossa casa. Aparentemente, só eu via a dissimulação por baixo de suas pestanas douradas. Cada palavrinha dela, cada pedacinho do sotaque que encantava meu filho me desesperava, pois eu sabia que aquilo ia acabar destruindo Gui mais uma vez. Ela era nova demais, bela demais para que eu pudesse confiar o coração do meu filho querido a ela sem hesitar. Mas eu também não era cega aos sentimentos dele: Gui a amava tanto, idolatrava tanto aquele rosto bonito e delicado, que eu torcia para que estivesse errada a respeito da garota. Apesar de toda a versão do começo, aceitei que o amor de Fleur por Gui era tão verdadeiro quanto o que ele sentia por ela quando, depois da batalha na Torre de Astronomia, ela chorou de desespero ao pensar que ele estava morto. Mas o momento em que ela se tornou uma filha para o meu coração foi aquele em que ela viu o belo rosto de meu filho dilacerado pelas garras sujas de Fenrir Greyback e ainda assim quis casar-se com ele – para ela, assim como para mim, não importava a cicatriz que o rosto de Gui iria ostentar a partir daquele dia, mas sim toda a lealdade, coragem, inteligência, sensatez que o homem que a tinha possuía.


No dia do casamento dos dois, eu estava emocionada e orgulhosa. Havia trabalhado durante semanas para que aquele momento fosse especial, e, aparentemente, havia conseguido: a tenda estava armada, a comida estava pronta, as bebidas estavam geladas e o juiz estava a caminho. Ao passar pela porta do quarto do Gui, antes de descer para ajudar os outros a recepcionarem os convidados, não resisti a dar uma última espiada em meu primogênito antes que ele se casasse com a mulher que amava. Entrei devagar e sem barulho pela porta entreaberta para poder admirá-lo sem que ele me notasse. Mesmo que meus olhos não fossem os olhos de uma mãe cuidadosa, não podiam deixar de notar o quanto ele estava bonito: suas vestes bem cortadas acentuavam a classe de seu corpo magro, mas musculoso; os cabelos vermelhões reluziam; os olhos azuis brilhavam de felicidade e entusiasmo, fazendo com que a cicatriz no rosto não parecesse mais do que uma manchinha milesimal em meio a toda aquela alegria. Ele estava se olhando no espelho e, quando me notou no quarto, olhou para mim e sorriu, o mesmo sorriso que me dava quando, ainda garoto, conseguia acertar uma de suas equações de matemática, ou quando me abraçava com seus bracinhos sardentos depois de uma travessura: singelo, gentil, amoroso. Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver a alegria estampada em seu rosto, a prerrogativa de um futuro brilhante pela frente. Ele andou devagar em minha direção e me abraçou forte. ‘Não chore, mãe. Eu estou tão feliz. Esperei tanto por esse dia’, Gui disse, com a voz um pouco apertada na garganta, como se segurasse o choro. ‘Espero que um dia Fleur e eu sejamos tão felizes quanto você e o meu pai foram, e que criemos nossos filhos como você nos criou’. E foi então que eu soube que tinha feito um bom trabalho.




N/A: primeiro, os primogênitos! O Gui sempre foi o meu segundo Weasley preferido [o primeiro é o Jorge, claro 3] e eu adorei escrever esse capítulo! Ele ficou um pouco comprido porque eu achei necessário descrever um pouco a gravidez da Molly, sabe, era o primeiro filho e tal, uma mãe novinha, achei que ia ser legal. Espero que vocês gostem! Dúvidas, sugestões, críticas ou elogios? REVIEW!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.