A VOLTA



— Mãe, eu preciso ir.

Gina, Arthur e Molly estavam sentados na cozinha, tomando um pouco de chá. Já era tarde da noite. A garota tinha conversado muito com Draco durante toda a tarde e ambos tinham resolvido que voltariam para Bruxelas. Agora ela estava passando pela parte mais difícil, que era convencer sua mãe a lhe deixar voltar.
— Virgínia Weasley! Eu já falei que não. – Molly olhou para o marido com desespero nos olhos – Arthur, me ajude a colocar um pouco de juízo na cabeça dessa menina!
— Molly... – Ele disse lentamente – Ela quer terminar o curso. Que mal há nisso?
— Que mal há nisso? – Molly repetiu histérica. – Bom, posso enumerar vários motivos. Primeiro que ela quase morreu por irresponsabilidade daquela escola. Segundo, porque eles mandaram uma farsante no lugar dela. Terceiro porque aquele lugar é muito longe. São vários motivos! Não quero minha filha correndo perigo.
— Querida... Nossa filha tem o direito de terminar o curso que começou.

Gina olhou para o pai e agradeceu silenciosamente. A Sra. Weasley suspirou e caiu sentada na poltrona da sala.
— Querida... Gina... Por favor... – Ela sussurrou, uma última tentativa desesperada.
— Mãe, eu vou. Preciso ir. Você ouviu o que Cornélio Fudge disse quando esteve aqui. Eles iam apurar o caso. Eu não tenho o que temer. A Escola de Bruxelas é protegida, assim como Hogwarts. E o professor Jack Myers está desaparecido. Ele sim era o perigoso na história. Tenho certeza que ele não voltará. – Ela se aproximou da mãe a abraçou – Mãe, não se preocupe. Se acontecer alguma coisa estranha, qualquer coisa eu volto imediatamente. Você tem a minha palavra.

A campainha da Toca tocou e Arthur acenou com a cabeça para a filha.
— Pode ir atender, querida. Eu fico com a sua mãe.

Gina atravessou a sala correndo e abriu a porta. Harry Potter estava parado, segurando um lindo buquê de copos-de-leite amarrados com um laço dourado.
— Harry... – ela sorriu e ele lhe estendeu o buquê – Obrigada pelas flores.
— Desculpe não ter aparecido muito. O curso... tomou muito o meu tempo.
— Não tem problema, fique a vontade. Vou colocar essas flores na água.

Harry sentou no sofá e observou Gina voltar com as flores em um belo vaso. Ela sentou em uma poltrona de frente para ele. Aquela conversa não seria nada fácil.
— Harry... – ela suspirou – Eu preciso te contar uma coisa que está acontecendo comigo.
— Eu percebi, Gina. Eu sei. – ele disse com os olhos baixos.
— Você sabe? – Ela perguntou intrigada.
— Sei. – Ele confirmou e a olhou – Está na cara. E eu compreendo. Claro que fico triste, eu não queria ficar longe de você por nada nesse mundo, mas depois de tudo o que passou...
— Harry, o que você acha que eu ia lhe dizer?
— Que você quer ficar um tempo sozinha. – ele ergueu as sobrancelhas – Não é isso?
— Na verdade... – ela respirou longamente – é isso. Mais ou menos isso. - Harry a olhou intrigado. Ela estava diferente. Gina o olhou sem saber o que fazer. Ela lhe devia muito. – Harry... – continuou – Eu estou apaixonada por outra pessoa.

Harry se levantou e começou a andar de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Esperava tudo, menos isso.
— Mas você era apaixonada por mim! – Ele disse confuso.
— Harry, nós já conversamos sobre isso antes de eu ir para Bruxelas. Você me magoou muito. Eu agradeço por ter aparecido na pirâmide para me salvar, agradeço por me conhecer tão bem que percebeu que a menina que estava aqui era uma farsante. Eu agradeço por tudo, de coração. Mas eu não te amo mais. Tenho um carinho imenso, mas não é amor.
— Você pode me dizer quem é o cara? – Ele perguntou sem querer ouvir a resposta.
— Acho melhor não dizer agora.
— É alguém de Bruxelas?
— Sim, é uma pessoa de Bruxelas. Estou voltando para lá amanhã.
— O que???? – Foi um grito.
— Estou voltando amanhã para Bruxelas. Preciso terminar meu curso.

Harry sentou no sofá e começou a rir nervosamente. Olhou para Gina sem conseguir entender. Ela ia voltar para a escola? No mínimo ela tinha ficado louca.
— Você não pode voltar, Gina. Você quase morreu naquele lugar.
— Eu preciso voltar. E vou voltar. Minha decisão está tomada.
— Se você voltar... Eu posso não estar aqui para te salvar de novo.
— Eu acho que não precisarei ser salva. – Ela se levantou de repente – Aliás, estou cansada de vocês ficarem jogando na minha cara que eu preciso ser salva. Parece até que vivo me metendo em enrascadas.
— Vocês? – Ele perguntou erguendo as sobrancelhas.
— Isso. Você e o Draco.
— Draco? Que intimidade é essa? – Ele também se levantou e a encarou diretamente nos olhos. – É ele sua nova paixão?
— E se for, Harry? – Os olhos dela se encheram d’ água. Aquela conversa estava sendo muito mais difícil do que imaginava. – Eu te esperei minha vida inteira. Eu te amei a minha vida inteira.
— Mas Gina... – ele se aproximou e a segurou pelos ombros – Eu estou aqui, não estou? Me entregando a você, de coração aberto.
— Harry... – ela o olhou, lágrimas escorreram. – Acho que agora é um pouco tarde.

Ele a soltou lentamente. Sem dizer uma palavra atravessou a sala e saiu pela porta da Toca. Gina sentou na poltrona e começou a chorar.




Gina acordou bem cedo no dia seguinte. Rony, Molly e Arthur estavam arrumando a mesa do café quando ela desceu as escadas. Já estava com a mala pronta para partir.
— Venha tomar o café conosco, querida. – Arthur falou.
— Fiquei sabendo que você vai voltar hoje para Bruxelas. – Rony disse – Tome cuidado.
— Pode deixar Rony. Acho que nada de anormal vai acontecer.
— Mas se acontecer você promete voltar na mesma hora? – Molly choramingou.
— Claro, mamãe. Eu prometo. – Ela pegou algumas torradas e passou um pouco de manteiga em cada uma. – Estou feliz por poder voltar à Bruxelas. Acho que esse curso vai enriquecer muito a minha vida.
— Nós sabemos disso, querida. Por isso eu e sua mãe estamos te incentivando. – Arthur segurou a mão da filha carinhosamente – Nós vamos te apoiar sempre.
— Obrigada papai. – Ela disse dando uma mordida na primeira torrada.
— Você conversou com o Harry? – Rony perguntou interessado. – Quero dizer, ontem eu e Mione tínhamos combinado de sair com vocês dois. Ele vinha te buscar, vocês não apareceram.
— Conversei Rony, nós discutimos.
— Ah... Isso explica muita coisa. – Ele murmurou. – Mione me mandou uma coruja hoje bem cedo, dizendo que ele chegou muito mal-humorado no alojamento deles.
— Rony... Por favor...
— Tudo bem, tudo bem. Não está mais aqui quem falou.

Os quatro tomaram o café em silêncio. A Sra. Weasley começou a chorar baixinho, e Gina percebeu que já era hora de ir.
— Vejo vocês em um mês. – Ela abraçou Rony, Arthur e, por último, Molly. – Se acontecer alguma coisa eu volto, mãe. Não se preocupe comigo.
— Tudo bem querida. Eu amo você.
— Também amo você, mãe. – Ela olhou para o seu pai e irmão. – Amo todos vocês.

A garota segurou a mala e a varinha. Segundos depois estava em seu dormitório, na Universidade Especial para Bruxos recém-formados de Bruxelas. Babete quase caiu da cadeira. Olhava para Gina como quem olhava para um fantasma. Ficou sem graça, e Gina percebeu isso, mas não demonstrou.
— Babete! – Ela soltou sua mala e abraçou a colega de quarto – Tudo bem?
— Oi... Gina... Eu estou bem sim, obrigada, e você?
— Tudo ótimo! Como estão as coisas por aqui?
— Tudo sob a mais perfeita ordem. – Ela ainda olhava para Gina como quem tinha visto um fantasma.
— Bom, eu preciso olhar como vai ficar o meu curso depois daquela pequena confusão na pirâmide. E preciso procurar o Draco. – Gina abriu a porta do quarto e disse jovialmente – A gente se vê mais tarde.


A primeira coisa que fez foi procurar a secretaria-geral. Uma mulher que devia ter 700 anos a atendeu.
— Bom dia! Eu estou matriculada em História Bruxa. Fui para o Egito com os alunos do último ciclo como monitora, voltamos mais cedo... Quero saber qual a minha real situação.
— Qual o seu nome?
— Weasley. Virgínia Weasley.
— Ok, Srta. Weasley, um minuto por favor.

A mulher demorou cerca de dez minutos. Quando voltou, trazia alguns papéis.
— A senhorita pode preencher esses formulários e dar entrada imediatamente. Dessa forma pode conseguir dispensa de algumas matérias práticas.
— O que?
— Não é isso que você quer? As horas-extras pela monitoria?
— Não! Estou querendo saber sobre o incidente na pirâmide, como eu vou ficar.
— Não tem nada com o que se preocupar. Você continua matriculada. Inclusive, pode ir para a sua aula nesse momento se desejar. O professor Jack Myers foi afastado do cargo. Você não tem com o que se preocupar.
— Obrigada.

Gina pegou os formulários e se afastou da secretaria. Agora precisava procurar Draco. Andou por um dos corredores verde-água, que estava deserto. Provavelmente todos estavam em aula. Assim que ela passou por uma porta até então desconhecida sentiu uma mão forte segurar o seu ombro. Quando se virou, soltou um grito. Uma fileira de dentes brancos reluzia. Ninguém mais que Jack Myers estava na sua frente. Ele tapou a boca da garota, abriu a porta e a arrastou para dentro do cômodo.
— Fique calada. – Ele a segurava muito forte. – Eu só vou dizer uma vez. Vá embora daqui. E nunca, nunca diga aos outros o que viu. No momento certo eles saberão. – Dizendo isso, desapareceu.

Ela ficou estática. O cômodo nada mais era que um quartinho de limpeza. Uma vassoura caiu na sua cabeça e ela soltou um grito de dor. Sentou no chão escuro e ficou ali alguns minutos pensando. No momento certo eles saberão repetiu em voz baixa. Precisava encontrar Draco o mais rápido possível.



Gina correu pelos corredores e voltou a secretaria. A mesma mulher de 700 anos a atendeu.
— Por favor – ela disse enquanto recuperava o fôlego. – Onde fica a sala do último ciclo de História Bruxa?
— Sala... – a mulher consultou uma grossa pasta – Sala 504 – E. – É só subir três lances de escada, primeira sala a sua esquerda.

Ela subiu as escadas pulando os degraus de dois em dois. Quando virou a esquerda deu de cara com Draco. Ele estava branco como uma folha de papel.
— Precisamos conversar! Urgente! – Ela disse no ouvido dele enquanto o abraçava. – Eu vi o Myers, ele apareceu!
— Você também? – Ele perguntou assustado.
— Como assim, também?
— Eu também o vi! Ele te disse alguma coisa?
— Que era para ficarmos de boca fechada. E nós vamos ficar! Mas só até encontrarmos alguma coisa.
— Eu já descobri. – ele disse sombrio – Provas que incriminam o meu pai e Cornélio Fudge. Eles tramaram os sacrifícios todos esse anos. Tenho certeza que a escola sabia, por isso mandava os estudantes para o Egito. - O sinal tocou e o barulho dos alunos saindo de sala ficou ensurdecedor. – Vamos para o meu quarto, vou te mostrar o que encontrei.

Draco pegou Gina pela mão e a levou até a porta da sua sala. Quando lhe beijou levemente os lábios Myrian, sua ex-namorada, passou e os fuzilou com o olhar. Gina ficou envergonhada e Draco fingiu que não tinha visto nada, entrando na sala.
— Quer dizer então que você é fácil desse jeito? – Myrian a olhava com ódio.
— Desculpe, não entendi. Como é?
— Eu não imaginava que você fosse tão fácil. – A garota repetiu.
— Myrian! – Draco apareceu com uma mochila nas costas e ficou entre as duas, de costas para Gina e de frente para a ex. – Deixe-a em paz.
— E eu não sabia que você era tão falso. – Disse revoltada. Seus olhos de fixaram em Gina. – Em me resolvo com você depois. – Seus olhos voltaram para Draco. – Imbecil!

Draco pegou Gina pela mão de novo e saiu em direção ao seu quarto sem dizer uma palavra. Depois de um zigue-zague confuso ele parou em frente uma porta e colocou a ponta da varinha na fechadura.
— Bem-vindo Sr. Malfoy. – Uma voz feminina elétrica disse baixinho.
— Uma coisa eu não posso negar: essa escola pode ser assassina, mas é boa de serviço. Configuraram a porta à minha nova varinha rapidamente. – Ele escancarou a porta – Seja bem vinda!

O quarto era, no mínimo, duas vezes maior do que o quarto que Gina dividia com Babete. Tinha uma cama de casal, um móvel modulado em duas paredes e um sofá com duas poltronas. Ele jogou a mochila em cima da cama e sentou no sofá. Gina sentou ao seu lado e ele a abraçou.
— É tão bom ficar com você... – Disse passando a mão nos cabelos dela. – Você me faz tão bem!
— Draco... – ela disse um pouco receosa – Estou com medo dessa nossa relação. Começou de um jeito tão estranho, será que vai terminar mal?
— Ô minha linda... – ele riu – Claro que não vai terminar mal. Porque não vai terminar. Quero ficar com você para sempre. – Ele ficou em silêncio e depois soltou uma gargalhada – Mas que começou de uma maneira estranha, ah, isso começou mesmo! – Ele a apertou junto ao peito – Mas sabe que as vezes eu acho que precisamos passar por situações extremas, pois só assim descobrimos quem realmente amamos. Durante os dias que ficamos presos... Eu só conseguia pensar em você, em te tirar de lá.
— Ô meu bem... Que lindo! – Ela lhe beijou e sorriu – Acho que você tem razão.

Os dois ficaram um longo tempo em silêncio, abraçados. Foi então que Draco se levantou, foi até o armário e tirou uma caixinha preta de uma das gavetas. Gina o olhou surpresa.
— Essas são algumas das cartas trocadas entre meu pai e Cornélio Fudge. Não são muitas. Pelo pouco que conheço meu pai, ele é um homem que prefere agir do que falar. – Ele abriu a caixinha e pegou um dos pergaminhos – Escute isso: Seu filho falhou. A menina matou Pedro. Temos que por um fim nisso, não podemos ser descobertos.
— Por Merlim... Eles sabem de tudo que aconteceu na pirâmide?
— Acredito que sim. Meu pai deve ter respondido, porque outro pergaminho tem só uma palavra: Desculpe.
— Cornélio deve ter mandado te matar.
— Exatamente. Mas o meu pai deve ter recebido a carta a tempo de me salvar. Afinal, ainda é meu pai. – Ele sorriu triste.
— As cartas foram assinadas?
— Essas não. Mas outras foram e a letra é a mesma.
— Quando eu aparatei no meu quarto hoje de manhã minha colega quase caiu da cadeira. Me olhou como se eu fosse um fantasma. – Ela baixou o tom de voz – Estou desconfiada de que ela sabe de muita coisa. De repente ela foi a farsante.
— Farsante? – Ele perguntou erguendo as sobrancelhas, confuso. – Como assim?
— Sabe por que ninguém foi nos procurar na pirâmide? Porque alguém assumiu o meu lugar, foi parar na minha casa como se fosse eu.
— Não acredito nisso. Não foi ninguém no meu lugar.
— Claro que não. Seu pai estava ciente da situação, simplesmente não precisava. E eu não sei porque, mas meu sexto sentido me diz que quem tomou o meu lugar foi a Babete.
— Gin, a cada segundo isso fica mais óbvio e mais complicado.
— Também acho Draco... – ela disse suspirando.
— Estou pensando em procurar em outro lugar.
— Sério? Onde?
— Só te falo se eu ganhar um beijo. – ele disse sorrindo.
— Chantagista! – ela sorriu – Vou ter que fazer tanto esforço assim?? – Ela enlaçou o pescoço dele e o beijou – Pronto. Agora fala!
— Pensei em irmos até a sala do Myers hoje a noite. Lembro que ele falou que tinha o Livro dos Mortos.
— Draco, não existem cópias do Livro dos Mortos. Você não pode chegar em uma livraria e dizer “Oi, me dá um Livro dos Mortos”?
— Eu sei né gracinha? – ele disse fazendo cócegas nela – Vai ver ele tem o verdadeiro livro dos mortos.
— Isso eu posso te assegurar que não. Quando visitei o Egito com a minha família fomos ao museu do Cairo e o livro estava lá.
— Gin... – ele a olhou no fundo dos olhos – Acho que o verdadeiro Livro dos Mortos está com Jack Myers.



Draco Malfoy e Virginia Weasley saíram pé-ante-pé do dormitório dele. Já devia ser quase onze horas da noite, e poucos estudantes perambulavam pelos corredores saindo das aulas.
Depois de um longo zigue-zague em corredores coloridos chegaram em uma grande porta: “Ala dos professores”. Draco chegou perto de algo parecido com um interfone e sussurrou.
— O kitsh. - A porta se abriu sozinha. Gina arqueou as sobrancelhas e ele sorriu envergonhado – Digamos que uma professora gostava de homens mais novos.
Gina sentiu seu sangue ferver e olhou feio. Deixaria para resolver isso mais tarde.
— Você sabe onde fica a sala dele? Quero dizer, - ela tentou soar o mais cínica possível - ele também gostava de homens mais novos?
— Ô minha linda... – ele a abraçou – Eu acho que sei mais ou menos onde é a sala dele. Venha por aqui.
Andaram por alguns minutos até que chegaram em uma porta escura com símbolos antigos entalhados. Estava entreaberta.
— Será que ele está aí? – Gina perguntou assustada.
— Você quer voltar??
— Claro que não! – Ela disse apertando a mão dele.
Os dois entraram e a porta se fechou.

N/A: Pessoal, não sei se o Livro dos Mortos está realmente no museu do Cairo. Portanto, não levem essa informação a sério. Eu sei que esse capítulo ficou um pouco fraco; nada de aventuras, apenas romance. Mas eu prometo que o próximo vai ser emocionante!!!

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