Capitulo 12



Capitulo 12


 


- Não posso acreditar que deixamos passar isso. - Harry fechou a porta do jeep e arrancou. Nessa ocasião não se preocupou em tirar a multa dos pára-brisas.


- Seguimos uma pista. - lhe recordou Hermione - Talvez não nos leve a nenhuma parte.


- Não acredito.


- Reconheço que concorda. - fechou os olhos um momento, deixando que as coisas encaixassem em seu lugar - Nem um só vizinho pode dizer que viu ao senhor Davis. Talvez porque nunca esteve ali.


- E quem teria acesso à cobertura? Quem poderia ter falsificado as referências? Quem poderia ter se movido pelo edifício sem chamar a atenção, porque sempre estava ali?


- Nieman.


- Falei que era uma doninha. - soltou Harry com os dentes fechados.


Com cautela, viu-se obrigada a estar de acordo.


- Não se adiante, Potter. Vamos interrogá-lo. Isso é tudo.


- Vou obter respostas. – soltou - Isso é tudo.


- Não faça que tenha que impor a casta, Harry. - sussurrou, acalmando-o - Vamos fazer-lhe algumas perguntas. Talvez consigamos que cometa um escorregão. Ainda que é possível que tenhamos que sair sem ele. No entanto, agora dispomos de um lugar pelo que começar a pesquisar.


- Seguirei suas pautas. – “no momento”, pensou.


Deteve-se ante um semáforo em vermelho e martelou com impaciência os dedos sobre o volante.


- Gostaria... mmm... explicar sobre a Nat.


- Explicar que?


- Que não somos... não fomos. Jamais. - indicou com veemência - Entendido?


- Para valer? - estava certa de que mais adiante riria, quando não tivesse tantas coisas na cabeça. Não obstante, não estava tão preocupada para que não resistisse - Por que não? É bonita, é divertida e é inteligente. Isso o agrada, Potter.


- Não é que não me agradasse... quero dizer, me passou pela mente. Comecei a... - amaldiçoou e arrancou quando o semáforo mudou - Era a irmã de Draco, sabe? Antes que me inteirasse, também foi como minha irmã, assim não podia... pensar nela dessa maneira.


- Por que se desculpa? - o olhou com curiosidade.


- Não o faço. - respondeu furioso ao dar-se conta de que era exatamente o que fazia - Explico. Ainda que só Deus sabe por que. Pensará o que quiser.


- De acordo. Penso que reage em demasia ante uma situação, de maneira típica e predominantemente masculina. - sorriu quando a olhou com vontade de matá-la - Não jogo isso na cara. Não mais do que se Natalie e você tivessem estado juntos. O passado é isso. Eu sei melhor do que ninguém.


- Suponho que sim. - pôs quarta e estendeu a mão para tomar a de Hermione - Mas não estivemos juntos.


- Vamos dizer que você a perdeu. É fantástica.


- E você também.


- Sim, eu também. - sorriu.


Harry estacionou numa zona de carga e descarga. Esperou enquanto Hermione comunicava sua posição.


- Pronta?


- Sempre estou. - desceu do veículo - Quero que seja algo ligeiro. - lhe disse - Só umas perguntas posteriores ao caso. Não temos nada contra ele. Nada. Se pressionarmos demais, perderemos nossa oportunidade. Se temos razão...


- Temos razão. Pressinto.


Também ela; assentiu.


- Então quero desmascará-lo. Por Liz. Por Wild Bill. - e soube que por si mesma. Para ajudar a fechar a porta que esse caso tinha voltado a abrir.


Juntos se dirigiram ao apartamento de Nieman. Antes de chamar, Hermione lançou a Harry um último olhar de advertência.


- Sim, sim... - soou a voz de Nieman do outro lado da porta - De que se trata?


- A tenente Granger, senhor Nieman. – levantou o distintivo na altura da mira - Polícia de Denver. Precisamos uns minutos de seu tempo.


O outro abriu com a corrente de segurança. Estudou aos dois.


- Não pode esperar? Estou ocupado.


- Temo que não. Não nos levará muito tempo, senhor Nieman. É simples rotina.


- Oh, muito bem. - de mau humor, tirou a corrente - Entrem, então.


Quando Hermione entrou, notou as caixas no tapete. Muitas estavam com papéis cortados em tiras.


Resultou tão delator como uma pistola fumegante.


- Como podem ver, encontraram-me num mau momento.


- Sim, vejo. Vai se mudar, senhor Nieman?


- Acredita que ficaria aqui, trabalharia aqui, depois deste... escândalo? - ofendido, ajustou a gravata preta - Não. Polícia, jornalistas, inquilinos. Não tive nem um momento de paz desde que isso começou.


- Estou convicto de que foi uma grande moléstia para você. - afirmou Harry. Queria pôr as mãos nessa gravata.


- Certamente. Bem, suponho que queiram sentar-se. - indicou umas cadeiras - Mas não posso dedicar-lhes muito tempo. Ficarão coisas pra guardar. Não confio em transportadores. – adicionou - São desleixados, sempre quebram alguma coisa.


- Teve muita experiência com mudanças? - inquiriu Hermione enquanto pegava um bloco de notas e um lápis.


- Naturalmente. Como já expliquei viajo muito. Desfruto de meu trabalho. – sorriu - É tedioso ficar muito tempo num lugar. Os proprietários sempre precisam de um encarregado responsável e com experiência.


- Não tenho nenhuma dúvida. - moveu o lápis sobre o bloco - Os proprietários deste edifício... - adiantou umas folhas.


- Johnston e Croy, S.A.


- Sim. - assentiu ao encontrar a anotação - Ficaram muito inquietos ao inteirar-se das atividades que aconteciam na cobertura


- Não me estranha. - levantou um pouco as calças e se sentou - É uma empresa respeitável. Com muito sucesso no Oeste e o Sudoeste. Supostamente, me culparam. Que outra coisa cabia esperar?


- Por não ter conduzido uma entrevista pessoal com o arrendatário? - instou Hermione.


- O objetivo final no negócio imobiliário, tenente, é receber os aluguéis com pontualidade e uma estadia prolongada dos inquilinos. Eu proporcionava isso.


- Também proporcionou o palco de um delito.


- Não pode me fazer responsável da conduta de meus arrendatários.


Hermione decidiu que era o momento de correr um risco calculado.


- E você jamais entrou na cobertura? Jamais o comprovou?


- Por que teria de fazê-lo? Não tinha motivos para molestar o senhor Davis nem de entrar em sua casa.


- Jamais entrou estando o senhor Davis presente? - inquiriu.


- Acabo de manifestar que não.


- E como explica suas impressões? - insistiu Hermione, olhando suas anotações.


Algo piscou nos olhos de Nieman, mas se desvaneceu.


- Não sei a que se refere.


Decidiu insistir um pouco mais.


- Me perguntava que explicação daria se lhe perguntasse que suas impressões foram achadas no interior da cobertura... já que afirma que nunca entrou.


- Não vejo... - começou nervoso - Oh, sim, agora me lembro. Uns dias antes... antes do incidente... disparou o alarme de incêndios na cobertura. Utilizei minha chave mestra para pesquisar quando ninguém respondeu a meu telefonema.


- Teve um incêndio? - perguntou Harry.


- Não, não, simplesmente um detector de fumaças defeituoso. Foi algo tão insignificante, que esqueci.


- Talvez tenha esquecido alguma outra coisa. - comentou Hermione com cortesia - Talvez esqueceu de nos mencionar uma choupana, ao oeste de Boulder. Também é o encarregado daquela propriedade?


- Não sei de que me fala. A única propriedade que levo é esta.


- Então utiliza a choupana para descansar. - continuou Hermione - Com os senhores Donner, Kline e Scott.


- Desconheço a existência dessa choupana. – repôs com rigidez, ainda que uma gota de suor tinha aparecido em seu lábio superior - Também não conheço as pessoas com esses nomes. Agora terão que me dar licença.


- O senhor Scott não pode receber visitas agora. - informou Hermione, sem levantar-se - Mas podemos ir ver Kline e Donner. Isso poderia refrescar-lhe a memória.


- Não penso ir a nenhuma parte com vocês. - Nieman se incorporou - Respondi todas suas perguntas de um modo razoável e paciente. Se persistem neste comportamento hostil, me verei obrigado a chamar a meu advogado.


- Por favor, faça-o. - Hermione assinalou o telefone - Pode reunir-se conosco na delegacia. Enquanto isso gostaria que nos dissesse onde esteve à noite do vinte e cinco de outubro. Talvez viria bem um álibi.


- Para que?


- Por assassinato.


- Isso é ridículo. - pegou um lenço do bolso exterior da jaqueta e secou o rosto - Não podem vir acusar-me desse modo.


- Não o acuso, senhor Nieman. Pergunto-lhe onde esteve o vinte e cinco de outubro, entre as nove e as onze da noite. Também pode informar a seu advogado de que vamos interrogá-lo a respeito de uma mulher desaparecida conhecida como Lacy, e sobre o rapto de Elizabeth Cook, quem na atualidade se encontra sob proteção. Liz é uma jovem brilhante e observadora, verdade Potter?


- Sim. - pensou que Hermione era assombrosa. Fazia que Nieman se desmoronasse só com insinuações. - Entre a declaração de Liz e os esquemas, o promotor disporá de um bom material.


- Acredito que não mencionamos os desenhos ao senhor Nieman. - Hermione fechou o bloco de notas - Nem o fato de que Kline e Donner foram submetidos ontem a um exaustivo interrogatório. Supostamente, Scott segue em estado crítico de maneira que teremos que esperar sua colaboração.


O rosto de Nieman ficou branco.


- Mentem. Sou um homem respeitável. Tenho credenciais. - sua voz vacilou - Não podem demonstrar nada se baseando na palavra de dois atores miseráveis.


- Creio que não mencionamos que Kline e Donner são atores, ou sim, Potter?


-Não. - poderia tê-la beijado - Não o fizemos.


- Deve ser adivinho, Nieman. - afirmou ela - Por que não vamos à delegacia e vemos que mais averiguamos?


- Conheço meus direitos. - os olhos do encarregado brilharam de fúria ao notar que a armadilha se fechava - Não penso ir a nenhuma parte com vocês.


- Terei que insistir. - Hermione se levantou - Chame a seu advogado, Nieman, mas nos acompanhará para ser interrogado. Agora.


- Nenhuma mulher vai dizer-me o que posso fazer. - Nieman se lançou sobre ela e, ainda que Hermione estivesse preparada, Harry se interpôs entre os dois e com uma mão o empurrou para o sofá.


- Agressão a uma agente da lei. - expôs com suavidade - Creio que o prenderemos por esse crime. Dará tempo suficiente para conseguir uma ordem.


- Mais do que suficiente. - conveio ela, sacando as algemas.


- Ah, tenente... - observou enquanto com eficácia juntava os pulsos magros de Nieman - Jamais encontraram impressões lá em cima, verdade?


- Nunca disse isso. - jogou o cabelo para trás - Simplesmente perguntei que diria ele se lhe comunicasse que as tinham encontrado.


- Me equivoquei.  -concluiu Harry -. Agrada-me seu estilo.


- Obrigado. - satisfeita, sorriu - Pergunto-me que vamos encontrar nestas caixas.


 


Encontraram mais do que suficiente. Fitas, fotos, inclusive um diário detalhado escrito pelo próprio Nieman. Registrava todas suas atividades, todos seus pensamentos, seu ódio pelas mulheres. Descrevia como a mulher chamada Lacy tinha sido assassinada e seu corpo enterrado por trás da choupana.


Pela tarde tinham apresentado bastante provas contra ele e com certeza o manteria afastado da sociedade uma vida inteira.


- É como um jarro de água fria. - comentou Harry ao seguir Hermione ao seu escritório onde ia redigir o relatório - Era tão asqueroso, que nem sequer pude encontrar a energia para matá-lo.


- É um homem de sorte. - se sentou e ligou o computador - Se serve de consolo, acredito que não mentia quando disse que não tocou Liz. Aposto que seu perfil psiquiátrico o comprovará. Impotência, acompanhada de fúria contra as mulheres e tendências ao voyer.


- Sim, só gostava de olhar. – a fúria tinha evaporado. Hermione tinha razão a respeito de que não poderiam mudar o que já aconteceu.


- E ganhar muito dinheiro com seus gostos. - adicionou ela - Quando recrutou o câmera e a dois atores miseráveis, entrou no negócio de satisfazer a outros com seus gostos peculiares. Há que reconhecer o mérito. Mantinha uns livros detalhados sobre suas atividades pornográficas. Algo que permitiu levar uma vida muito folgada.


- Sentirá falta dela na cadeia. - apoiou as mãos nos ombros de Hermione - Realizou um grande trabalho, Mione. Bom para valer.


- Geralmente o faço. – o estudou acima do ombro. Só lhe ficava por decifrar o que fazer com Harry – Escuta Potter, quero pôr em marcha esta burocracia, e depois preciso relaxar. De acordo?


- Claro. Tenho conhecimento que esta noite há uma reunião na casa dos Malfoy. Gostaria de ir?


- Com certeza. Por que não nos vemos lá?


- De acordo. - se inclinou para apoiar os lábios no cabelo dela - Te amo, Mione.


Esperou até que se foi, fechando a porta por trás dele. “Eu sei”, pensou. “Eu também te amo”.


Foi ver Liz. Ajudou a oferecer para a jovem e a sua família uma espécie de resolução do caso. Mas Harry já tinha adiantado. No entanto, percebeu que a jovem precisava ouvir dela.


- Nunca poderemos pagar pelo que fez. - Marleen mantinha o braço ao redor dos ombros de Liz, como se não suportasse não a tocar - Não tenho palavras para dizer como estamos agradecidos.


- Eu... - a ponto esteve de dizer que tinha cumprido com seu trabalho. Era a verdade, mas não toda - Cuide dela. - pediu.


- Vamos passar bem mais tempo fazendo isso. - Marleen apoiou a face contra a de sua filha - Amanhã voltamos para casa.


- Iremos ver um conselheiro familiar. - anunciou Liz - E eu... entrarei num grupo de apoio a vítimas da violência sexual. Estou um pouco assustada.


- É normal.


Liz olhou a sua mãe.


- Mamãe, posso...? Gostaria de falar com a tenente Granger um minuto, em particular.


- Claro. Irei a cozinha ajudar seu pai quando com os sorvetes.


- Obrigado. - esperou até que sua mãe deixou o quarto - Papai ainda não sabe como falar comigo sobre o que aconteceu. É muito duro para ele.


- Ele a ama. Dê-lhe um tempo.


- Chorou. - os olhos de Liz se encheram de lágrimas - Nunca antes tinha visto ele chorar. Pensava que estava ocupado demais com seu trabalho para importar-se. Fui uma estúpida ao fugir. - quanto soltou, respirou fundo - Pensava que não me entendiam, nem que me queriam. Agora vejo o muito que os feri. Nunca voltará a ser exatamente igual, verdade?


- Não, Liz. Mas se você os ajudar, pode ser melhor.


- Isso espero. Ainda me sinto muito vazia por dentro. Como se uma parte de mim já não estivesse aí.


- A encherá com outra coisa. Não pode permitir que isto bloqueie seus sentimentos para outras pessoas. Pode voltar a ser forte, Liz, mas não sejas muito dura com você mesma.


- Harry disse... - fungou e pegou um lenço de papel da caixa que sua mãe tinha deixado sobre a mesa - Disse que sempre que eu pensar que não posso conseguir, me lembrar de você.


- De mim? - a olhou surpresa.


- Porque você passou algo horrível e o utilizou para ser uma pessoa digna. Por dentro e por fora. Que não apenas sobreviveu, mas também triunfou. - sorriu com gesto trêmulo - E que eu também posso conseguir. Foi engraçado ouvi-lo falar dessa maneira. Suponho que goste muito de você.


- Eu também gosto muito dele. - compreendeu que era verdade. Não era uma fraqueza amar alguém, não quando podia admirá-lo e respeitá-lo ao mesmo tempo. Não quando via claramente quem era e que a amava.


- Harry é o melhor. - afirmou Liz - Sabe? Nunca a decepciona. Sem importar o que acontece.


- Acho que sei.


- Me perguntava... Sei que a terapia é importante, mas me perguntava se podia ligar para você de vez em quando. Quando... quando duvide de minhas forças para consegui-lo.


- Espero que o faça. - se levantou e foi sentar-se junto à jovem. Abriu os braços - Me chame quando se sentir mau. E quando se sentir bem. Todos precisamos de alguém com quem dividir as coisas.


Quinze minutos mais tarde, Hermione deixou os Cook com seus sorvetes e sua intimidade. Decidiu que tinha muitas coisas em que pensar. Sempre soube o que fazer de sua vida. Nesse momento em que tinha tomado um desvio súbito e drástico, precisava voltar a orientar-se.


Mas Harry a esperava no vestíbulo.


- Oi, tenente. – levantou lhe o rosto e deu um beijo ligeiro.


- Que faz aqui? Marleen comentou que já tinhas passado antes.


- Fui dar uma volta com Frank. Precisava conversar.


- É um bom amigo, Potter. - lhe acariciou a bochecha.


- É a única classe de amigo que existe. Quer uma carona?


- Tenho o carro. - mas ao sair juntos, descobriu que já não queria meditar sozinha - Que tal um passeio?


- Claro. - lhe passou um braço pelo ombro - Pode ajudar-me a ver vitrines. Na próxima semana é o aniversário de minha mãe.


- Não sou boa em escolher presentes para alguém que não conheço. - repôs, sentindo que voltava a experimentar o ato reflito da resistência.


- Chegará a conhecê-la. - na esquina virou à esquerda, em direção a uma série de lojas elegantes.


- Essa roupa muito bonita. - Hermione assinalou uma vitrine que um manequim usava uma malha azul com gola baixa - Talvez ela goste do cachemir.


- Talvez. – assentiu - Perfeito. Vamos comprá-lo.


- Está vendo? Esse é seu problema. – se colocou em frente a ele com as mãos nos quadris - Não para pra pensar, olha uma coisa e “zás”, já está.


- Quando é o correto, por que continuar procurando? - sorriu e afastou uma mecha do cabelo - Sei o que funciona para mim quando o vejo. Vamos. – lhe tomou a mão e a levou ao interior da loja - A malha azul da vitrine. - lhe disse à vendedora. - Você tem no tamanho...? - no ar mediu com as mãos.


- Médio? - adivinhou a vendedora - Certamente, senhor. Um momento.


- Não perguntou quanto custa. - assinalou ela.


- Quando algo é o perfeito, o preço é irrelevante. – sorriu - Vai manter-me a risca. Isso me agrada. Tenho tendência a esquecer dos detalhes.


- Vá achando. - se afastou para olhar umas blusas de seda.


“É descuidado”, recordou. “É impulsivo e precipitado”. Tudo o que ela não era. Hermione preferia a ordem, a rotina, o cálculo meticuloso. Devia estar louca se acreditava que podiam conviver. Girou a cabeça e o observou enquanto esperava que a vendedora envolvesse a malha. Mas compreendeu que combinavam. Tudo nele encaixava como uma luva. Sua intrepidez. Esse olhar entre azul e verde que podia parar seu o coração. Sua fidelidade.


Seu entendimento total e incondicional.


- Algum problema? - perguntou Harry ao ver que o olhava.


- Não.


- Quer um laço rosa ou azul, senhor?


- Rosa. - disse sem afastar a vista.


- Vendem vestidos de noiva aqui?


- Formais não, senhor. - os olhos da vendedora se iluminaram ante a perspectiva de uma nova venda - Temos alguns vestidos e trajes elegantes de cocktail que seriam perfeitos para um casamento.


- Tem de ser algo festivo. - decidiu com humor nos olhos - Para o reveillon.


Hermione ergueu os ombros e voltou para olhá-lo.


- Entenda isso, Potter. Não penso em casar com você no reveillon.


- Tudo bem, eleja uma nova data.


- Dia de Ação de Graças. - respondeu, e teve o prazer de ver como ficava boquiaberto ao mesmo tempo em que deixava cair à caixa que a vendedora entregou.


- O que?


- Disse Ação de Graças. Aceite ou deixe. – e se dirigiu para a saída.


- Espera! Maldita seja! - foi atrás dela, depois de agachar-se para recolher a caixa. Alcançou ela já na rua abaixo - Disse que se casaria comigo no dia de Ação de Graças?


- Odeio ficar repetindo, Potter. Se não consegue retê-lo, é problema seu. E agora, se terminou com as compras, volto ao trabalho.


- Espera um maldito minuto. - exasperado ele passou a caixa por embaixo do braço, achatando o laço, deixando as mãos livres para tomá-la pelos ombros - O que fez mudar de idéia?


- Sem dúvida seu enfoque sutil. - repôs com tom seco. Deu-se conta de que estava desfrutando do momento - E se não afastar as mãos de mim, amigo, vou prender você.


- Vai casar comigo? - moveu a cabeça como para ordenar os pensamentos.


- Tem pássaros na cabeça? - arqueou as sobrancelhas


- No dia de Ação de Graças? Esse dia de Ação de Graças? Dentro de umas semanas?


- Ficou com medo já? - começou a dizer e descobriu que tinha a boca ocupada demais para articular mais palavras. Foi um beijo embriagante, cheio de promessas e júbilo - Conhece o castigo por beijar uma policial na rua? – inquiriu quando pôde falar outra vez


- Me arriscarei.


- Bem. – aproximou-se outra vez da boca dele - Por isso vai receber um castigo, Potter.


- Conto com isso. - com cuidado a agastou para olhá-la no rosto - Por que em Ação de Graças?


- Porque gostaria de ter uma família com que celebrá-lo. Gina sempre faz questão de que me una a eles, mas não... não podia.


- Por que?


- É um interrogatório ou um compromisso? - exigiu.


- Ambas, mas é a última pergunta. Por que vai casar comigo?


- Porque insistiu até me esgotar. E porque senti pena de você, já que parecia decidido. Alem do mais, amo você, e me acostumei a você, assim que...


- Um momento. Repete.


- Disse que me acostumei a você.


- Essa parte não. - com um sorriso, deu-lhe um beijo na ponta do nariz - A parte anterior.


- A que sentia pena de você?


- Mmm. Depois disso.


- Oh, à parte que eu te amo.


- Essa mesma. Repete.


- De acordo. - respirou fundo - Te amo. Custa dizê-lo desta maneira.


- Vai se acostumar.


- Creio que tem razão.


- Aposto que sim. - riu e a achatou contra ele.


 


 


Capitulo 12


 


- Não posso acreditar que deixamos passar isso. - Harry fechou a porta do jeep e arrancou. Nessa ocasião não se preocupou em tirar a multa dos pára-brisas.


- Seguimos uma pista. - lhe recordou Hermione - Talvez não nos leve a nenhuma parte.


- Não acredito.


- Reconheço que concorda. - fechou os olhos um momento, deixando que as coisas encaixassem em seu lugar - Nem um só vizinho pode dizer que viu ao senhor Davis. Talvez porque nunca esteve ali.


- E quem teria acesso à cobertura? Quem poderia ter falsificado as referências? Quem poderia ter se movido pelo edifício sem chamar a atenção, porque sempre estava ali?


- Nieman.


- Falei que era uma doninha. - soltou Harry com os dentes fechados.


Com cautela, viu-se obrigada a estar de acordo.


- Não se adiante, Potter. Vamos interrogá-lo. Isso é tudo.


- Vou obter respostas. – soltou - Isso é tudo.


- Não faça que tenha que impor a casta, Harry. - sussurrou, acalmando-o - Vamos fazer-lhe algumas perguntas. Talvez consigamos que cometa um escorregão. Ainda que é possível que tenhamos que sair sem ele. No entanto, agora dispomos de um lugar pelo que começar a pesquisar.


- Seguirei suas pautas. – “no momento”, pensou.


Deteve-se ante um semáforo em vermelho e martelou com impaciência os dedos sobre o volante.


- Gostaria... mmm... explicar sobre a Nat.


- Explicar que?


- Que não somos... não fomos. Jamais. - indicou com veemência - Entendido?


- Para valer? - estava certa de que mais adiante riria, quando não tivesse tantas coisas na cabeça. Não obstante, não estava tão preocupada para que não resistisse - Por que não? É bonita, é divertida e é inteligente. Isso o agrada, Potter.


- Não é que não me agradasse... quero dizer, me passou pela mente. Comecei a... - amaldiçoou e arrancou quando o semáforo mudou - Era a irmã de Draco, sabe? Antes que me inteirasse, também foi como minha irmã, assim não podia... pensar nela dessa maneira.


- Por que se desculpa? - o olhou com curiosidade.


- Não o faço. - respondeu furioso ao dar-se conta de que era exatamente o que fazia - Explico. Ainda que só Deus sabe por que. Pensará o que quiser.


- De acordo. Penso que reage em demasia ante uma situação, de maneira típica e predominantemente masculina. - sorriu quando a olhou com vontade de matá-la - Não jogo isso na cara. Não mais do que se Natalie e você tivessem estado juntos. O passado é isso. Eu sei melhor do que ninguém.


- Suponho que sim. - pôs quarta e estendeu a mão para tomar a de Hermione - Mas não estivemos juntos.


- Vamos dizer que você a perdeu. É fantástica.


- E você também.


- Sim, eu também. - sorriu.


Harry estacionou numa zona de carga e descarga. Esperou enquanto Hermione comunicava sua posição.


- Pronta?


- Sempre estou. - desceu do veículo - Quero que seja algo ligeiro. - lhe disse - Só umas perguntas posteriores ao caso. Não temos nada contra ele. Nada. Se pressionarmos demais, perderemos nossa oportunidade. Se temos razão...


- Temos razão. Pressinto.


Também ela; assentiu.


- Então quero desmascará-lo. Por Liz. Por Wild Bill. - e soube que por si mesma. Para ajudar a fechar a porta que esse caso tinha voltado a abrir.


Juntos se dirigiram ao apartamento de Nieman. Antes de chamar, Hermione lançou a Harry um último olhar de advertência.


- Sim, sim... - soou a voz de Nieman do outro lado da porta - De que se trata?


- A tenente Granger, senhor Nieman. – levantou o distintivo na altura da mira - Polícia de Denver. Precisamos uns minutos de seu tempo.


O outro abriu com a corrente de segurança. Estudou aos dois.


- Não pode esperar? Estou ocupado.


- Temo que não. Não nos levará muito tempo, senhor Nieman. É simples rotina.


- Oh, muito bem. - de mau humor, tirou a corrente - Entrem, então.


Quando Hermione entrou, notou as caixas no tapete. Muitas estavam com papéis cortados em tiras.


Resultou tão delator como uma pistola fumegante.


- Como podem ver, encontraram-me num mau momento.


- Sim, vejo. Vai se mudar, senhor Nieman?


- Acredita que ficaria aqui, trabalharia aqui, depois deste... escândalo? - ofendido, ajustou a gravata preta - Não. Polícia, jornalistas, inquilinos. Não tive nem um momento de paz desde que isso começou.


- Estou convicto de que foi uma grande moléstia para você. - afirmou Harry. Queria pôr as mãos nessa gravata.


- Certamente. Bem, suponho que queiram sentar-se. - indicou umas cadeiras - Mas não posso dedicar-lhes muito tempo. Ficarão coisas pra guardar. Não confio em transportadores. – adicionou - São desleixados, sempre quebram alguma coisa.


- Teve muita experiência com mudanças? - inquiriu Hermione enquanto pegava um bloco de notas e um lápis.


- Naturalmente. Como já expliquei viajo muito. Desfruto de meu trabalho. – sorriu - É tedioso ficar muito tempo num lugar. Os proprietários sempre precisam de um encarregado responsável e com experiência.


- Não tenho nenhuma dúvida. - moveu o lápis sobre o bloco - Os proprietários deste edifício... - adiantou umas folhas.


- Johnston e Croy, S.A.


- Sim. - assentiu ao encontrar a anotação - Ficaram muito inquietos ao inteirar-se das atividades que aconteciam na cobertura


- Não me estranha. - levantou um pouco as calças e se sentou - É uma empresa respeitável. Com muito sucesso no Oeste e o Sudoeste. Supostamente, me culparam. Que outra coisa cabia esperar?


- Por não ter conduzido uma entrevista pessoal com o arrendatário? - instou Hermione.


- O objetivo final no negócio imobiliário, tenente, é receber os aluguéis com pontualidade e uma estadia prolongada dos inquilinos. Eu proporcionava isso.


- Também proporcionou o palco de um delito.


- Não pode me fazer responsável da conduta de meus arrendatários.


Hermione decidiu que era o momento de correr um risco calculado.


- E você jamais entrou na cobertura? Jamais o comprovou?


- Por que teria de fazê-lo? Não tinha motivos para molestar o senhor Davis nem de entrar em sua casa.


- Jamais entrou estando o senhor Davis presente? - inquiriu.


- Acabo de manifestar que não.


- E como explica suas impressões? - insistiu Hermione, olhando suas anotações.


Algo piscou nos olhos de Nieman, mas se desvaneceu.


- Não sei a que se refere.


Decidiu insistir um pouco mais.


- Me perguntava que explicação daria se lhe perguntasse que suas impressões foram achadas no interior da cobertura... já que afirma que nunca entrou.


- Não vejo... - começou nervoso - Oh, sim, agora me lembro. Uns dias antes... antes do incidente... disparou o alarme de incêndios na cobertura. Utilizei minha chave mestra para pesquisar quando ninguém respondeu a meu telefonema.


- Teve um incêndio? - perguntou Harry.


- Não, não, simplesmente um detector de fumaças defeituoso. Foi algo tão insignificante, que esqueci.


- Talvez tenha esquecido alguma outra coisa. - comentou Hermione com cortesia - Talvez esqueceu de nos mencionar uma choupana, ao oeste de Boulder. Também é o encarregado daquela propriedade?


- Não sei de que me fala. A única propriedade que levo é esta.


- Então utiliza a choupana para descansar. - continuou Hermione - Com os senhores Donner, Kline e Scott.


- Desconheço a existência dessa choupana. – repôs com rigidez, ainda que uma gota de suor tinha aparecido em seu lábio superior - Também não conheço as pessoas com esses nomes. Agora terão que me dar licença.


- O senhor Scott não pode receber visitas agora. - informou Hermione, sem levantar-se - Mas podemos ir ver Kline e Donner. Isso poderia refrescar-lhe a memória.


- Não penso ir a nenhuma parte com vocês. - Nieman se incorporou - Respondi todas suas perguntas de um modo razoável e paciente. Se persistem neste comportamento hostil, me verei obrigado a chamar a meu advogado.


- Por favor, faça-o. - Hermione assinalou o telefone - Pode reunir-se conosco na delegacia. Enquanto isso gostaria que nos dissesse onde esteve à noite do vinte e cinco de outubro. Talvez viria bem um álibi.


- Para que?


- Por assassinato.


- Isso é ridículo. - pegou um lenço do bolso exterior da jaqueta e secou o rosto - Não podem vir acusar-me desse modo.


- Não o acuso, senhor Nieman. Pergunto-lhe onde esteve o vinte e cinco de outubro, entre as nove e as onze da noite. Também pode informar a seu advogado de que vamos interrogá-lo a respeito de uma mulher desaparecida conhecida como Lacy, e sobre o rapto de Elizabeth Cook, quem na atualidade se encontra sob proteção. Liz é uma jovem brilhante e observadora, verdade Potter?


- Sim. - pensou que Hermione era assombrosa. Fazia que Nieman se desmoronasse só com insinuações. - Entre a declaração de Liz e os esquemas, o promotor disporá de um bom material.


- Acredito que não mencionamos os desenhos ao senhor Nieman. - Hermione fechou o bloco de notas - Nem o fato de que Kline e Donner foram submetidos ontem a um exaustivo interrogatório. Supostamente, Scott segue em estado crítico de maneira que teremos que esperar sua colaboração.


O rosto de Nieman ficou branco.


- Mentem. Sou um homem respeitável. Tenho credenciais. - sua voz vacilou - Não podem demonstrar nada se baseando na palavra de dois atores miseráveis.


- Creio que não mencionamos que Kline e Donner são atores, ou sim, Potter?


-Não. - poderia tê-la beijado - Não o fizemos.


- Deve ser adivinho, Nieman. - afirmou ela - Por que não vamos à delegacia e vemos que mais averiguamos?


- Conheço meus direitos. - os olhos do encarregado brilharam de fúria ao notar que a armadilha se fechava - Não penso ir a nenhuma parte com vocês.


- Terei que insistir. - Hermione se levantou - Chame a seu advogado, Nieman, mas nos acompanhará para ser interrogado. Agora.


- Nenhuma mulher vai dizer-me o que posso fazer. - Nieman se lançou sobre ela e, ainda que Hermione estivesse preparada, Harry se interpôs entre os dois e com uma mão o empurrou para o sofá.


- Agressão a uma agente da lei. - expôs com suavidade - Creio que o prenderemos por esse crime. Dará tempo suficiente para conseguir uma ordem.


- Mais do que suficiente. - conveio ela, sacando as algemas.


- Ah, tenente... - observou enquanto com eficácia juntava os pulsos magros de Nieman - Jamais encontraram impressões lá em cima, verdade?


- Nunca disse isso. - jogou o cabelo para trás - Simplesmente perguntei que diria ele se lhe comunicasse que as tinham encontrado.


- Me equivoquei.  -concluiu Harry -. Agrada-me seu estilo.


- Obrigado. - satisfeita, sorriu - Pergunto-me que vamos encontrar nestas caixas.


 


Encontraram mais do que suficiente. Fitas, fotos, inclusive um diário detalhado escrito pelo próprio Nieman. Registrava todas suas atividades, todos seus pensamentos, seu ódio pelas mulheres. Descrevia como a mulher chamada Lacy tinha sido assassinada e seu corpo enterrado por trás da choupana.


Pela tarde tinham apresentado bastante provas contra ele e com certeza o manteria afastado da sociedade uma vida inteira.


- É como um jarro de água fria. - comentou Harry ao seguir Hermione ao seu escritório onde ia redigir o relatório - Era tão asqueroso, que nem sequer pude encontrar a energia para matá-lo.


- É um homem de sorte. - se sentou e ligou o computador - Se serve de consolo, acredito que não mentia quando disse que não tocou Liz. Aposto que seu perfil psiquiátrico o comprovará. Impotência, acompanhada de fúria contra as mulheres e tendências ao voyer.


- Sim, só gostava de olhar. – a fúria tinha evaporado. Hermione tinha razão a respeito de que não poderiam mudar o que já aconteceu.


- E ganhar muito dinheiro com seus gostos. - adicionou ela - Quando recrutou o câmera e a dois atores miseráveis, entrou no negócio de satisfazer a outros com seus gostos peculiares. Há que reconhecer o mérito. Mantinha uns livros detalhados sobre suas atividades pornográficas. Algo que permitiu levar uma vida muito folgada.


- Sentirá falta dela na cadeia. - apoiou as mãos nos ombros de Hermione - Realizou um grande trabalho, Mione. Bom para valer.


- Geralmente o faço. – o estudou acima do ombro. Só lhe ficava por decifrar o que fazer com Harry – Escuta Potter, quero pôr em marcha esta burocracia, e depois preciso relaxar. De acordo?


- Claro. Tenho conhecimento que esta noite há uma reunião na casa dos Malfoy. Gostaria de ir?


- Com certeza. Por que não nos vemos lá?


- De acordo. - se inclinou para apoiar os lábios no cabelo dela - Te amo, Mione.


Esperou até que se foi, fechando a porta por trás dele. “Eu sei”, pensou. “Eu também te amo”.


Foi ver Liz. Ajudou a oferecer para a jovem e a sua família uma espécie de resolução do caso. Mas Harry já tinha adiantado. No entanto, percebeu que a jovem precisava ouvir dela.


- Nunca poderemos pagar pelo que fez. - Marleen mantinha o braço ao redor dos ombros de Liz, como se não suportasse não a tocar - Não tenho palavras para dizer como estamos agradecidos.


- Eu... - a ponto esteve de dizer que tinha cumprido com seu trabalho. Era a verdade, mas não toda - Cuide dela. - pediu.


- Vamos passar bem mais tempo fazendo isso. - Marleen apoiou a face contra a de sua filha - Amanhã voltamos para casa.


- Iremos ver um conselheiro familiar. - anunciou Liz - E eu... entrarei num grupo de apoio a vítimas da violência sexual. Estou um pouco assustada.


- É normal.


Liz olhou a sua mãe.


- Mamãe, posso...? Gostaria de falar com a tenente Granger um minuto, em particular.


- Claro. Irei a cozinha ajudar seu pai quando com os sorvetes.


- Obrigado. - esperou até que sua mãe deixou o quarto - Papai ainda não sabe como falar comigo sobre o que aconteceu. É muito duro para ele.


- Ele a ama. Dê-lhe um tempo.


- Chorou. - os olhos de Liz se encheram de lágrimas - Nunca antes tinha visto ele chorar. Pensava que estava ocupado demais com seu trabalho para importar-se. Fui uma estúpida ao fugir. - quanto soltou, respirou fundo - Pensava que não me entendiam, nem que me queriam. Agora vejo o muito que os feri. Nunca voltará a ser exatamente igual, verdade?


- Não, Liz. Mas se você os ajudar, pode ser melhor.


- Isso espero. Ainda me sinto muito vazia por dentro. Como se uma parte de mim já não estivesse aí.


- A encherá com outra coisa. Não pode permitir que isto bloqueie seus sentimentos para outras pessoas. Pode voltar a ser forte, Liz, mas não sejas muito dura com você mesma.


- Harry disse... - fungou e pegou um lenço de papel da caixa que sua mãe tinha deixado sobre a mesa - Disse que sempre que eu pensar que não posso conseguir, me lembrar de você.


- De mim? - a olhou surpresa.


- Porque você passou algo horrível e o utilizou para ser uma pessoa digna. Por dentro e por fora. Que não apenas sobreviveu, mas também triunfou. - sorriu com gesto trêmulo - E que eu também posso conseguir. Foi engraçado ouvi-lo falar dessa maneira. Suponho que goste muito de você.


- Eu também gosto muito dele. - compreendeu que era verdade. Não era uma fraqueza amar alguém, não quando podia admirá-lo e respeitá-lo ao mesmo tempo. Não quando via claramente quem era e que a amava.


- Harry é o melhor. - afirmou Liz - Sabe? Nunca a decepciona. Sem importar o que acontece.


- Acho que sei.


- Me perguntava... Sei que a terapia é importante, mas me perguntava se podia ligar para você de vez em quando. Quando... quando duvide de minhas forças para consegui-lo.


- Espero que o faça. - se levantou e foi sentar-se junto à jovem. Abriu os braços - Me chame quando se sentir mau. E quando se sentir bem. Todos precisamos de alguém com quem dividir as coisas.


Quinze minutos mais tarde, Hermione deixou os Cook com seus sorvetes e sua intimidade. Decidiu que tinha muitas coisas em que pensar. Sempre soube o que fazer de sua vida. Nesse momento em que tinha tomado um desvio súbito e drástico, precisava voltar a orientar-se.


Mas Harry a esperava no vestíbulo.


- Oi, tenente. – levantou lhe o rosto e deu um beijo ligeiro.


- Que faz aqui? Marleen comentou que já tinhas passado antes.


- Fui dar uma volta com Frank. Precisava conversar.


- É um bom amigo, Potter. - lhe acariciou a bochecha.


- É a única classe de amigo que existe. Quer uma carona?


- Tenho o carro. - mas ao sair juntos, descobriu que já não queria meditar sozinha - Que tal um passeio?


- Claro. - lhe passou um braço pelo ombro - Pode ajudar-me a ver vitrines. Na próxima semana é o aniversário de minha mãe.


- Não sou boa em escolher presentes para alguém que não conheço. - repôs, sentindo que voltava a experimentar o ato reflito da resistência.


- Chegará a conhecê-la. - na esquina virou à esquerda, em direção a uma série de lojas elegantes.


- Essa roupa muito bonita. - Hermione assinalou uma vitrine que um manequim usava uma malha azul com gola baixa - Talvez ela goste do cachemir.


- Talvez. – assentiu - Perfeito. Vamos comprá-lo.


- Está vendo? Esse é seu problema. – se colocou em frente a ele com as mãos nos quadris - Não para pra pensar, olha uma coisa e “zás”, já está.


- Quando é o correto, por que continuar procurando? - sorriu e afastou uma mecha do cabelo - Sei o que funciona para mim quando o vejo. Vamos. – lhe tomou a mão e a levou ao interior da loja - A malha azul da vitrine. - lhe disse à vendedora. - Você tem no tamanho...? - no ar mediu com as mãos.


- Médio? - adivinhou a vendedora - Certamente, senhor. Um momento.


- Não perguntou quanto custa. - assinalou ela.


- Quando algo é o perfeito, o preço é irrelevante. – sorriu - Vai manter-me a risca. Isso me agrada. Tenho tendência a esquecer dos detalhes.


- Vá achando. - se afastou para olhar umas blusas de seda.


“É descuidado”, recordou. “É impulsivo e precipitado”. Tudo o que ela não era. Hermione preferia a ordem, a rotina, o cálculo meticuloso. Devia estar louca se acreditava que podiam conviver. Girou a cabeça e o observou enquanto esperava que a vendedora envolvesse a malha. Mas compreendeu que combinavam. Tudo nele encaixava como uma luva. Sua intrepidez. Esse olhar entre azul e verde que podia parar seu o coração. Sua fidelidade.


Seu entendimento total e incondicional.


- Algum problema? - perguntou Harry ao ver que o olhava.


- Não.


- Quer um laço rosa ou azul, senhor?


- Rosa. - disse sem afastar a vista.


- Vendem vestidos de noiva aqui?


- Formais não, senhor. - os olhos da vendedora se iluminaram ante a perspectiva de uma nova venda - Temos alguns vestidos e trajes elegantes de cocktail que seriam perfeitos para um casamento.


- Tem de ser algo festivo. - decidiu com humor nos olhos - Para o reveillon.


Hermione ergueu os ombros e voltou para olhá-lo.


- Entenda isso, Potter. Não penso em casar com você no reveillon.


- Tudo bem, eleja uma nova data.


- Dia de Ação de Graças. - respondeu, e teve o prazer de ver como ficava boquiaberto ao mesmo tempo em que deixava cair à caixa que a vendedora entregou.


- O que?


- Disse Ação de Graças. Aceite ou deixe. – e se dirigiu para a saída.


- Espera! Maldita seja! - foi atrás dela, depois de agachar-se para recolher a caixa. Alcançou ela já na rua abaixo - Disse que se casaria comigo no dia de Ação de Graças?


- Odeio ficar repetindo, Potter. Se não consegue retê-lo, é problema seu. E agora, se terminou com as compras, volto ao trabalho.


- Espera um maldito minuto. - exasperado ele passou a caixa por embaixo do braço, achatando o laço, deixando as mãos livres para tomá-la pelos ombros - O que fez mudar de idéia?


- Sem dúvida seu enfoque sutil. - repôs com tom seco. Deu-se conta de que estava desfrutando do momento - E se não afastar as mãos de mim, amigo, vou prender você.


- Vai casar comigo? - moveu a cabeça como para ordenar os pensamentos.


- Tem pássaros na cabeça? - arqueou as sobrancelhas


- No dia de Ação de Graças? Esse dia de Ação de Graças? Dentro de umas semanas?


- Ficou com medo já? - começou a dizer e descobriu que tinha a boca ocupada demais para articular mais palavras. Foi um beijo embriagante, cheio de promessas e júbilo - Conhece o castigo por beijar uma policial na rua? – inquiriu quando pôde falar outra vez


- Me arriscarei.


- Bem. – aproximou-se outra vez da boca dele - Por isso vai receber um castigo, Potter.


- Conto com isso. - com cuidado a agastou para olhá-la no rosto - Por que em Ação de Graças?


- Porque gostaria de ter uma família com que celebrá-lo. Gina sempre faz questão de que me una a eles, mas não... não podia.


- Por que?


- É um interrogatório ou um compromisso? - exigiu.


- Ambas, mas é a última pergunta. Por que vai casar comigo?


- Porque insistiu até me esgotar. E porque senti pena de você, já que parecia decidido. Alem do mais, amo você, e me acostumei a você, assim que...


- Um momento. Repete.


- Disse que me acostumei a você.


- Essa parte não. - com um sorriso, deu-lhe um beijo na ponta do nariz - A parte anterior.


- A que sentia pena de você?


- Mmm. Depois disso.


- Oh, à parte que eu te amo.


- Essa mesma. Repete.


- De acordo. - respirou fundo - Te amo. Custa dizê-lo desta maneira.


- Vai se acostumar.


- Creio que tem razão.


- Aposto que sim. - riu e a achatou contra ele.


 


 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.