Capitulo 11
Capitulo 11
Com o grito ainda rasgando-lhe a garganta, Hermione se sentou na cama. Cega de terror e fúria, lutou contra os braços que a rodeavam enquanto respirava fundo para voltar a gritar. Podia sentir as mãos dele tocando-a, quentes, violentas. Mas nessa ocasião… “Deus, que nesta ocasião…”
- Hermione. – Harry a sacudiu, obrigando-se a manter a voz serena, ainda que o coração batesse depressa. -Hermione, acorde. Está sonhando.
Ela abriu passo entre as bordas do sonho, sem deixar de debater-se. A realidade era uma luz fraca em comparação as escuras profundidades do pesadelo. Com um último esforço, conseguiu agarrá-lo.
- Calma, calma… - emocionado ainda pelo grito que o tinha acordado, acalentou-a, colando-a a seu corpo e sentindo o grito suor que a dominava - Calma, meu amor. Agarra-se a mim.
- Oh, Deus… - soluçou ao enterrar o rosto no ombro dele. Fechou com impotência as mãos a suas costas - Oh, Deus... Oh, Deus...
- Já passou. - continuou tranqüilizando-a quando ela o abraçou com mais força - Estou aqui. Foi um sonho, isso é tudo. Só sonhava.
Tinha conseguido escapar do pesadelo, mas o temor que tomava conta dela era grande demais para permitir ficasse envergonhada. Tremendo, agarrou-se a ele e tentou absorver a força que emitia.
- Dê-me um minuto. Num minuto estarei bem. – disse que os tremores passariam, que as lágrimas se secariam, que o medo se desvaneceria - Sinto. - mas nada parava - Deus, sinto muito.
- Simplesmente relaxe. - tremia como um pássaro e parecia igualmente frágil - Quer que acenda a luz?
- Não. - apertou os lábios com a esperança de serenar a voz. Não queria luz. Não queria que a visse até que tivesse se recuperado - Não. Me deixe beber um pouco de água. Ficarei bem.
- Irei buscar. – afastou o cabelo dela do rosto e a viu cheia de lágrimas - Volto em seguida.
Hermione subiu os joelhos até o peito quando ficou só. «Controle», ordenou-se, mas apoiou a cabeça nos joelhos. Enquanto escutava o som da torneira e via o facho de luz através da porta do quarto, respirou fundo.
- Sinto muito, Potter. - disse quando regressou - Suponho que acordei você.
- Suponho que sim. - notou que a voz dela era mais firme. Mas não as mãos. Ele as tomou e levou a água a seus lábios - Deve de ser um mau pesadelo.
A água aliviou a garganta seca.
- Sim. Obrigado. - lhe devolveu o copo, sufocada por não ser capaz de sustentá-lo.
Ele o deixou na mesinha ao lado da cama antes de voltar para o lado dela.
- Conte-me.
- É por causa do dia duro que tivemos e à pizza. - encolheu os ombros.
Com firmeza e suavidade lhe tomou o rosto entre as mãos. A luz que tinha deixado acesa no banheiro projetava um reflexo tênue. Graças a ela pôde ver a pálida que estava.
- Não. Não vou descartar isso, Mione. Não vai deixar de lado. Gritava. - ela tentou virar o rosto, mas Harry não permitiu - Continua tremendo. Posso ser tão obstinado como você, e agora mesmo acredito que tenho vantagem.
- Foi um pesadelo. - quis mostrar-se furiosa com ele, mas não achou forças - As pessoas têm pesadelos.
- Com que assiduidade os sofre?
- Com nenhuma. - levantou uma mão cansada e passou no cabelo - Não o tinha há anos. Não sei que o provocou.
Ele acreditava saber. E a não ser que estivesse muito equivocado, acreditava que também Hermione sabia.
- Tem uma camiseta, uma camisola ou algo parecido? Está gelada.
- Irei procurar.
- Me diz onde está. - o suspiro rápido e irritado dela o tranqüilizou.
- Na gaveta superior da cômoda. À esquerda.
Levantou-se e ao abrir a gaveta pegou o primeiro que achou. Antes de passar pela cabeça, notou que era uma camiseta de malha grande.
- Bonita lingerie que usa, tenente.
- Cumpre com sua função.
Ele a deitou e colocou uns travesseiros sob a cabeça, como faria uma mãe com uma menina mimada.
- Não gosto que você se envolva. - comentou com o cenho franzido.
- Sobreviverá.
Ao ficar satisfeito de que se encontrava cômoda, pôs a camisa. Quisesse ou não, decidiu que ia falar. Sentou-se junto a ela. Tomou-lhe a mão e aguardou até que o olhou aos olhos.
- O pesadelo. Tinha a ver com o momento em que violentaram você, verdade? - os dedos dela se puseram rígidos em sua mão - Eu falei que ouvi a conversa sua com Liz.
- Foi faz muito tempo. Não é algo que tenha a ver com o presente.
- Tem sim, quando acorda gritando. A situação pela que passou Liz, fez que recordasse de tudo.
- Muito bem. E daí?
- Confie em mim, Hermione. - sussurrou sem deixar de olhá-la - Deixa que eu ajude.
- Dói. - ouviu responder. Depois fechou os olhos. Era a primeira vez que reconhecia isso ante alguém - Não o tempo todo. Nem sequer a maior parte. De vez em quando aparece de surpresa e me rasga.
- Quero entendê-lo. - lhe beijou as mãos. Quando ela não tentou afastar-se, deixou-as sob seus lábios - Conte-me.
Não sabia por onde começar. O mais certo parecia fazê-lo pelo princípio. Apoiou a cabeça no travesseiro e fechou outra vez os olhos.
- Meu pai bebia e, quando o fazia, embebedava-se, e então se tornava um homem mesquinho. Tinha mãos grandes. - fechou as suas e se obrigou a relaxá-las - Empregava-as contra minha mãe, contra mim. Minha primeira recordação é dessas mãos, da ira que tinha nelas, que eu era incapaz de compreender e podia opor-me. Dele não recordo muito bem. Uma noite enfrentou alguém mais mesquinho e acabou morto. Eu tinha seis anos. - abriu os olhos ao entender que era outra maneira de ocultar-se - Logo, minha mãe decidiu seguir por onde ele tinha parado... com a garrafa. Não bebeu tanto como ele, foi mais consistente.
- Tinhas alguém mais?
- Avôs pelo lado materno. Desconhecia onde viviam. Jamais os vi. Deixaram de falar com sua filha quando fugiu com meu pai.
- Mas conheciam sua existência?
- Por ser assim, não importava.
Ele não disse nada, tratando de assimilá-lo. Mas foi impossível entender essa indiferença.
- Muito bem. Que fez?
- Quando é uma menina, não faz nada. – expôs - Estamos a mercê dos adultos, e a realidade é que muitos adultos são implacáveis. - se deteve um momento para recuperar o fio da história - Quando eu tinha uns oito anos, ela saiu, saía muito, mas numa ocasião não regressou para casa. Alguns dias mais tarde, um vizinho chamou o Serviço Social. E me introduziram no sistema. - alongou a mão para o copo de água. Dessa vez não tremeu - É uma história longa e típica.
- Quero ouvi-la
- Me colocaram num lar adotivo. - bebeu um gole. Não fazia sentido contar que como assustada e perdida estava se sentindo. Os fatos eram mais do que suficientes - Estava bem. Decente. Mas então encontraram a minha mãe, a repreenderam, disseram-lhe que se regenerasse e me devolveram a sua custódia.
- Por que diabos fizeram isso?
- As coisas eram diferentes então. O tribunal acreditou que o melhor lugar para uma menina era com sua mãe. De todos modos, não passou muito sem que voltasse a beber e o ciclo se retomasse. Fugi algumas vezes, mas sempre me encontravam. Mais lares adotivos. Não deixam num muito tempo, em particular quando é reincidente.
- Não me estranha.
- Conheci todo o sistema. Domésticas sociais, tribunais, conselheiros escolares. Todos sobrecarregados de casos. Minha mãe se enganchou com outro sujeito e decidiu largar-se para sempre. Acredito que foi para o México. Seja como for, não regressou. Eu tinha doze ou treze anos. Odiava não poder manifestar onde queria ir, onde queria estar. Fugia na primeira oportunidade que me apresentava. De maneira que me etiquetaram como uma delinqüente juvenil e me colocaram num lar para garotas, o mais parecido a um reformatório. - esboçou um sorriso carente de humor - Isso me provocou medo. Era duro, semelhante a uma prisão. De maneira que me reformei e me comportei bem. Com o tempo voltaram a destinar-me a um lar adotivo.
Esvaziou o copo e o deixou na mesinha. Sabia que não teria as mãos firmes muito tempo.
- Temia que dessa vez não conseguisse fazer que funcionasse, devolvessem-me ao lar para garotas até cumprir os dezoito anos. Assim eu me esforcei. Era um casal agradável, ingênuo, talvez, mas com boas intenções. Queriam fazer algo para consertar os erros da sociedade. Iam a manifestações contra as usinas nucleares, falavam de adotar a um órfão vietnamita. Suponho que em ocasiões me burlava deles a suas costas, mas gostava deles de verdade. Foram amáveis comigo. - guardou silêncio e ele não disse nada, dando-lhe tempo para que continuasse - Puseram-me limites bons e me trataram com justiça. Mas tinha um inconveniente. Tinham um filho de dezessete anos, capitão da equipe de futebol e estudante de primeira. O braço direito deles. Um verdadeiro jovem de estilo.
- Jovem de estilo?
- Já sabe, esse que é toda educação e cortesia por fora, cheio de encanto. Mas que por trás da fachada é lixo. Não pode chegar a esse lixo porque não deixa de escorregar com sua fachada polida; no entanto, está aí. - brilharam os olhos ao recordar - Mas eu podia vê-la. Odiava como me olhava quando eles não o viam. - respirava mais depressa, mas ainda mantinha a voz controlada - Como se fosse um pedaço de carne para sua avaliação. Eles nem notavam. O único que viam era o filho perfeito que jamais lhes tinha dado uma dor de cabeça. E uma noite, quando tinham saído, ele voltou para casa depois de um jogo. Deus.
- Está bem, Mione. - quando ela cobriu o rosto com as mãos, abraçou-a - Já é suficiente.
- Não. - moveu a cabeça com violência e se jogou para trás. Se tinha chego tão longe, terminaria. - Estava irritado. Suponho que sua garota não tinha se rendido a seus muitos encantos. Entrou em meu quarto. Quando disse que saísse, riu e me lembrou que era sua casa e que estava ali só porque seus pais sentiam pena de mim. Ele tinha razão.
- Não, não tinha.
-Tinha razão nisso, - insistiu Hermione - não no demais. E baixou a braguilha das calças. Corri para a porta, mas ele voltou e jogou sobre a cama. Golpeou-me a cabeça com força contra a parede. Recordo-me de ter estado mareada uns momentos e ouvir-lhe dizer que as garotas como eu pelo geral cobravam, mas que devia de sentir-me lisonjeada por sua atenção. Meteu-se na cama. O esbofeteei, amaldiçoei-o. Ele me golpeou e me imobilizou. Pus-me a gritar. Não deixei de gritar o tempo inteiro enquanto me violava. Quando terminou, eu tinha deixado de gritar. Só chorava. Saiu da cama e subiu as calças. Advertiu-me que se contasse a alguém, negaria. Que ninguém ia acreditar que ele procuraria alguém como eu. Ele era puro, de maneira que não teriam dúvidas. E sempre poderia conseguir que cinco de seus amigos dissessem que estava disposta a deitar-me com eles. Depois me devolveriam ao lar para garotas. Assim não disse nada, porque não tinha nada que dizer nem ninguém a quem dizer. Durante o mês seguinte me violentou mais duas vezes, até que eu juntasse dinheiro para voltar a fugir. Depois, encontraram-me. Talvez nessa ocasião queria que o fizessem. Fiquei no lar até cumprir os dezoito anos. E, quando saí, soube que ninguém voltaria a exercer jamais sobre mim esse tipo de controle. Ninguém voltaria a fazer-me sentir que não era nada.
Sem saber bem que fazer, com gesto hesitante, ele estendeu uma mão para secar-lhe uma lágrima da face.
- Fez de sua vida algo importante, Hermione.
- Fiz que fosse minha. - suspirou e com energia secou as lágrimas - Não gosto de pensar no que já passou, Harry.
- Mas está aí.
- Está aí. – lembrou - Tentar conseguir que desapareça só o trás à superfície. Também aprendi isso. Quando aceita que só faz parte do fez o que você é hoje, deixa de ser tão vital. Não me fez odiar os homens, nem a mim mesma. Fez que compreendesse o que é ser uma vítima.
Teve vontade de abraçá-la, mas temeu que ela não quisesse que a tocasse.
- Gostaria de conseguir que a dor desaparecesse.
- São cicatrizes velhas. – murmurou - Só doem em certos momentos. - percebeu o retraimento dele e sentiu que a dor se estendia - Sou a mesma pessoa que era antes de te contar. O problema é que quando a gente ouve uma história assim, muda.
- Eu não mudei. - foi tocá-la, mas ela se retraiu - Maldita seja, Mione, não sei que o dizer. O que fazer por você. - se levantou e pôs-se a caminhar - Poderia preparar um pouco de chá.
- A cura para tudo de Potter? - quase riu - Não, obrigada.
- O que quer? - instou ele - Me diz.
- Por que não me diz o que você quer?
- O que eu quero... - se dirigiu à janela e virou para ela - Quero voltar no tempo, para quando você tinha quinze anos e quebrar a cara desse filho de uma puta. Quero fazer cem vezes mais dano do que ele fez a você. Depois quero ir mais atrás e quebrar as pernas do seu pai, e de passagem sapatear na bunda de sua mãe.
- Pois não pode. - indicou com frieza - Escolha outra coisa.
- Quero abraçar você. - gritou, metendo as mãos nos bolsos - Mas me dá medo de tocá-la!
- Não quero seu chá nem sua simpatia. De maneira que se é a única coisa que tem para oferecer, será melhor do que vá.
- É o que quer?
- O que eu quero é que me aceite por quem sou. E não que me trate como uma inválida por ter sobrevivido à violação e o abuso.
Foi replicar, mas se conteve. Compreendeu que não pensava nela, senão em sua própria ira, em sua própria impotência e dor. Devagar regressou à cama e se sentou a seu lado. Os olhos de Hermione seguiam úmidos; viu-os brilhar na escuridão. Rodeou-a com um braço e com gentileza a abraçou até que ela apoiou a cabeça em seu ombro.
- Não vou a nenhuma parte. – sussurrou - De acordo?
- De acordo. - suspirou.
Hermione acordou ao amanhecer com dor de cabeça. No mesmo instante soube que Harry não estava do seu lado. Cansada abriu a boca e esfregou os olhos inchados.
Perguntou-se que tinha esperado. Nenhum homem se sentiria cômodo com uma mulher depois de escutar a história que tinha contado. Não soube por que tinha aberto seu passado dessa maneira. Como podia ter confiado fragmentos de si mesma que nunca lhe tinha revelado a ninguém?
Inclusive a Draco, a pessoa que considerava seu melhor amigo, só estava a par dos lares adotivos. Quanto ao demais, tinha enterrado… até a noite anterior.
Voltou a suspirar, incorporou-se e apoiou a testa nos joelhos.
Estava apaixonada por Harry. Ridículo como era, devia enfrentar a verdade. “E”, tal como sempre tinha suspeitado, “o amor me deixa estúpida, vulnerável e infeliz”.
Pensou que tinha que existir um remédio. Ou soro que pudesse tomar. Como um antídoto para uma mordida de serpente.
O som de pisadas fez que levantasse a cabeça. Abriu muito os olhos ao ver Harry entrar com uma bandeja nas mãos.
Se dispôs de uma fração de segundo para ler sua reação antes que a ocultasse. Com pensamento sombrio compreendeu que Hermione tinha acreditado que ele tinha ido embora. Teria que ensiná-la que ia ficar, sem importar muito o que ela pudesse fazer em contrário.
- Bom dia, tenente.
Com cautela, observou-o aproximar-se da cama e esperou até que depositou a bandeja a seus pés.
- O que celebramos? - indicou os pratos com torradas francesas.
- Eu devia um café da manhã, lembra-se?
- Sim. – levantou a vista a para seu rosto. O amor ainda fazia que se sentisse estúpida e vulnerável, mas já não infeliz - É um mago na cozinha.
- Todos temos nossos talentos. - se sentou com as pernas cruzadas do outro lado da bandeja e começou a comer - Pensei... - mastigou e engoliu -... que depois de nos casar, eu poderei me encarregar da cozinha.
Ela evitou a onda de pânico e engoliu a primeira mordida.
- Deveria conferir com alguém a respeito dessa obsessiva fantasia que tem, Potter.
- Minha mãe está morrendo de vontade de conhecer você. - sorriu ao ver que o garfo caia no prato - Meu pai e ela enviam saudações.
- Você... - não encontrou palavras.
- Os dois conhecem Liz. Liguei para tranqüilizá-los e falei de você. - com um sorriso, afastou-lhe o cabelo dos ombros - Ela gostaria de um casamento na primavera... já sabe, essas coisas das noivas em junho. Mas eu disse que não pensava esperar tanto.
- Você é louco.
- É possível. - o sorriso se desvaneceu - Mas sou seu, Mione. Estou aqui para valer, e não penso em deixar você.
- Escuta Harry... – “pense com lógica”, disse-se - Tenho muito carinho por você, mas...
- Que? - voltou a sorrir - Me tem o que?
- Carinho. - soltou, furiosa dele achar aquilo divertido.
- Eufemismos. - apalpou a mão com afeto e moveu a cabeça - Me decepciona. Tinha considerado você uma pessoa direta.
- Cala a boca e me deixe comer. – “ao inferno a lógica”.
Obedeceu, já que isso lhe dava tempo para pensar e para estudá-la. Continuava um pouco pálida, e tinha os olhos inchados de ter chorado a noite anterior. Mas não queria permitir-se ser frágil. Devia admirar sua inesgotável energia. Recordou que ela não desejava simpatia, senão entendimento. Mas ia ter que aceitar ambos dele.
- Como está o café?
- Bom. - e como o café da manhã que tinha preparado já tinha conquistado sua dor de cabeça, cedeu - Obrigada.
- De nada. - se adiantou e roçou os lábios com os seus - Suponho que não posso interessar você, numa coisa depois do café da manhã.
- Tenho que pensar. - sorriu, descontraída, e lhe deu outro beijo. Fechou os dedos sobre a medalha que ele tinha ao pescoço - Por que a leva?
- Presente da minha avó. Dizia que quando um homem está decidido a não se assentar num lugar, deveria ter alguém que velasse por ele. Até agora funcionou muito bem. - depositou a bandeja no solo e depois pegou Hermione em seus braços.
- Potter, disse...
- Eu sei, sei. - a acomodou - Mas se me ocorreu que se tínhamos que tomar um banho, poderíamos não sair de nossa agenda.
Ela riu e lhe mordiscou o ombro.
Tinha que encaixar um dia completo em vinte e quatro horas. Esperava-a uma montanha de burocracia e precisava falar com Draco a respeito do interrogatório ao que submeteriam a Kline e a Donner antes de vê-lo em pessoa. Por motivos pessoais e profissionais, queria entrevistar outra vez Liz.
Sentou-se e com meticulosidade começou a revisar os papéis.
- Perdoe-me, tenente. - Gina chamou à porta aberta - Tem um momento?
- Sim, para a mulher do capitão. -sorriu e lhe indicou que passasse - Disponho de um minuto e meio. Que faz por aqui?
- Draco me contou. - se inclinou e com olhos penetrantes de mulher viu, além da maquiagem, que tinha passado uma noite difícil - Você está bem?
- Estou bem. Cheguei à conclusão de que qualquer um que por própria vontade decida sair de casa precisa de ajuda psiquiátrica imediata, mas foi uma experiência.
- Deveria testar com três meninos.
- Não. - respondeu com rapidez - Não quero.
GIna riu e se sentou na borda da mesa.
- Me alegro muito de que Harry e você encontraram a garota. Como está?
- Será difícil por um tempo, mas seguirá adiante.
- Esses miseráveis tinham que... - lhe brilharam os olhos, mas calou - Não vim falar com a polícia.
- Oh?
- E sim do peru de Ação de Graças. Não me olhe assim. - adiantou na mente a, lista para a batalha - Todos os anos tem uma desculpa para não vir jantar, e desta vez não a aceitarei.
- Gina, sabe que agradeço o convite.
- É da família. Queremos que venha. - inclusive enquanto Hermione movia a cabeça, Gina insistiu - Deb e Gage vão vir. Faz um ano que não os vê.
Hermione pensou na irmã menor de Gina e no marido. Encantaria vê-la de novo. Tinha se conhecido e reconhecido à amizade que as ligava enquanto Deborah terminava a carreira em Denver. E Gage Guthrie. Franziu os lábios ao pensar nele. Gostava dele, e até um cego teria visto que adorava a sua mulher. Mas tinha algo nele... algo que não conseguia decifrar. Não mau nem que fosse alvo de preocupação, mas algo...
- Volte à realidade. - disse Gina.
- Sinto muito. - se ocupou dos papéis que estavam sobre a mesa - Sabe que me encantaria vê-los outra vez, mas...
- Vêm com Adrianna. - a arma secreta de Gina era a filha pequena de sua irmã, a quem Hermione só tinha visto em fotos e vídeos - Nós duas sabemos que os bebês deixam você louca.
- Tenho que manter uma reputação. - suspirou e se recostou na cadeira - Sabe que quero ver, a todos. E como estou certa de que ficarão para passar o fim de semana inteiro, o farei. Irei no sábado.
- Virá ao jantar de Ação de Graças. - esfregou as mãos ao erguer-se - Este ano vai vir, ainda que tenha que dizer a Draco que dê uma ordem. Vou desfrutar da presença da família. De toda a família.
- Gina…
- Está certo. – cruzou os braços - Vou comentar ao capitão.
- Está com sorte. - disse Draco ao chegar à porta - O capitão está disponível. E trouxe um presente. – se colocou de lado.
- Natalie! - com uma exclamação de prazer, Gina abraçou com força a sua cunhada - Pensei que estava em Nova York.
- E assim era. - afastou Gina para dar-lhe um beijo - Tinha que vir por uns dias, e me pareceu melhor do que essa fosse a minha primeira parada. Você está fantástica.
- E você fenomenal, como sempre. - o qual era verdade. A mulher alta e esbelta com o cabelo loiro e o traje de corte conservador sempre faria que as cabeças se voltassem para olhá-la - Os garotos ficarão encantados de ver você.
- Não vejo a hora de abraçá-los. - se voltou e estendeu ambas mãos - Mione. Não acredito na sorte de encontrar os três juntos.
- Me alegro em ver você. - com as mãos ainda unidas, Hermione apertou a face de Natalie. Nos anos que tinha sido parceira de Draco, a irmã menor dele e ela eram de fato boas amigas - Como estão seus pais?
- Muito bem. Mandam beijos a todos. - por costume, olhou ao redor do escritório - Mione, não pode ao menos conseguir um espaço com uma janela?
- Gosto desse. Menos distrações.
- Quando chegar à emissora, chamarei Maria. - anunciou Gina - Preparará algo especial para esta noite. Virá, Mione.
- Não perderia por nada do mundo.
- O que é isto? - inquiriu Harry ao tentar entrar no escritório - Uma conferência? Mione, vai ter que conseguir um escritório maior... - calou e ficou boquiaberto - Nat?
- Harry? - a expressão aturdida dela refletiu a dele.
- Que loucura. - esboçou um sorriso e empurrou Draco para ir abraçar Natalie e levanta-la do solo - Por todos os diabos. A preciosa Natalie. Quanto tempo passou? Seis anos?
- Sete. - lhe deu um beijo nos lábios - Encontramo-nos em São Francisco.
- Sim, no partido dos Giants. Está melhor do que nunca.
- Estou melhor do que nunca. – ela concordou - Por que não tomamos um vinho depois e colocamos os assuntos em dia?
- Na realidade... - calou ao olhar a Mione. Estava sentada na borda da mesa, observando a reunião com expressão de leve curiosidade e interesse cortês. Ao dar-se conta de que ainda tinha Natalie pela cintura, baixou rapidamente os braços - Na realidade, eu... - como se supunha que um homem ia falar com uma velha amiga quando a mulher que amava o estudava como se fosse algo achatado sobre um peso-de-papel de vidro?
Natalie captou o olhar que passou entre Hermione e Harry. Surpreendida ao princípio, teve que ocultar uma risada com uma tossida. “Ah...”, pensou, “cheguei num momento em que acontece algo interessante”.
- Harry e eu nos conhecemos faz tempo. - disse ela - Sendo adolescente era louca por ele. - lhe sorriu com gesto perverso - Fiquei anos esperando que se aproveite disso.
- É sério? - Hermione levou um dedo aos lábios - Não me parece dos lentos. Um pouco denso, talvez, mas não lento.
- Tem razão nisso. Mas também é lindo, não é? - lhe piscou um olho.
- De uma maneira mais bem evidente. – concordou Hermione, desfrutando do incômodo de Harry - Por que você e eu não tomamos esse vinho depois, Natalie? Creio que temos muito que conversar.
- Com certeza.
- Não acredito que este seja o lugar idôneo para arrumar compromissos sociais. - consciente de que o superavam, Harry meteu as mãos nos bolsos - Hermione parece ocupada.
- Oh, disponho de um ou dois minutos. Que faz na cidade, Natalie?
- Vim por negócios. Sempre é grato quando pode misturá-los com o prazer. Tenho uma reunião urgente numa hora com a junta diretiva sobre uma de nossas propriedades da parte residencial da cidade. Ter uma imobiliária é um trabalho a tempo integral. Sem uma direção adequada, pode ser uma grande dor de cabeça. - explicou.
- Não será na Segunda Avenida, verdade? - inquiriu Hermione.
- Mmm, não. Há alguma em venda? - não pôde evitar rir - Vícios da profissão. – indicou - Há algo especial em se ter uma propriedade, inclusive com todos os problemas que arcam.
- Qual é o problema agora? - perguntou Draco, tratando de sentir um pouco de interesse.
- O encarregado decidiu subir todos os aluguéis e ficar com a diferença. - respondeu Natalie com olhos duros, em marcado contraste com seu rosto suave e precioso - Odeio que me enganem.
- Orgulho. - Draco apoiou um dedo em seu nariz - Odeia cometer um erro.
- Não cometi nenhum erro. - alçou o queixo - O currículo do homem era sobressalente. – quando seu irmão continuou com o sorriso, fez-lhe uma careta - O problema radica em dar autonomia a um encarregado. Não pode estar em todas partes ao mesmo tempo. Lembro de um encarregado que tivemos que dirigia um negócio de jogo num apartamento vazio. Mantinha-o alugado sob um nome falso. - continuou, quase divertida - Inclusive tinha recheado a solicitação, completa com referências falsas. Obtinha suficientes benefícios do jogo como para permitir-se o gasto adicional do aluguel, que pagava religiosamente. Jamais teria inteirado se alguém não tivesse chamado à polícia, que foi pesquisar o lugar. Acabou que já tinha feito o mesmo em outras ocasiões.
- Santo céu. - comentou Hermione aturdida.
- Oh, não foi tão mau. - prosseguiu Natalie - Na realidade, animou um pouco a monotonia. O que passa... de que se trata? - perguntou quando Hermione se levantou de um salto.
- Vamos. - Harry já ia para a porta.
Hermione recolheu a jaqueta e correu depois dele.
- Draco, verifique a...
- Nieman. - disse ele a suas costas - Quer apoio?
- Comunicarei se precisar.
Quando o escritório se esvaziou, Natalie levantou as mãos e olhou para Gina.
- A que se deveu isso?
- Policiais. - resumiu Gina com um dar de ombros.
gabriela: que bom que gostou da fic. Abraços.
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