Capitulo 10
Capitulo 10
Hermione estendeu a conversa com a telefonista da polícia, detendo-se o tempo suficiente para assimilar a informação de que a equipe de apoio chegaria em dez minutos. Esperava que Harry tivesse tirado Liz da choupana, mas, fosse como fosse, parecia que tudo sairia como a seda.
- Obrigada, Fran. Eu também tenho vontade de ver Bob e você. Espere que perguntarei a Brice onde estamos porque não tenho nem idéia. – sorriu na direção de Brice e tampou o fone com a mão - Tem uma direção ou algo para que se orientem? Bob vai vir pegar-me e dar uma olhada no meu carro.
- Não há problema. – desviou a vista quando Wave saiu da cozinha - Espero que tenha preparado suficiente café da manhã para incluir a nossa convidada. – lhe disse - Teve uma manhã difícil.
- Sim, há bastante. – Wave olhou a Hermione e franziu os olhos - Eh! Que diabos é isto?
- Mostre modos. – sugeriu Donner - Há uma dama presente.
- Dama é uma ova! É policial. É a policial de Wild Bill.
Lançou-se para ela, mas Hermione estava preparada. Tinha captado o reconhecimento em seus olhos e já tinha a arma na mão. Não teve tempo para pensar ou preocupar-se pelos outros dois, já que cento trinta quilos de músculo a golpearam.
Voou pelos ares e o primeiro disparo deu numa mesa antiga. Uma coleção de frascos caiu ao solo, esparramando fragmentos de ametista e água marinha. Hermione viu as estrelas e, através delas, viu o seu oponente avançar como um trem de ônus.
O instinto a impulsionou rodar para a esquerda para esquivar do golpe. Wave era enorme, mas ela era rápida. Pôs-se de joelhos e segurou a arma com ambas mãos.
Nessa ocasião não errou. Dispôs só de um instante para notar a mancha de sangue na camiseta branca antes de incorporar-se de um salto.
Donner se dirigia para a porta e Kline amaldiçoava enquanto abria uma gaveta. Hermione percebeu o reflexo de cromo.
- Quieto! – a ordem fez que Donner levantasse as mãos e se convertesse numa estátua, mas Kline sacou a pistola - Faça e morrerá. – lhe disse, retrocedendo para poder manter ambos à vista - Deixe-a, Harry, ou vai manchar o tapete igual seu amigo.
- Filha de uma cadela. – com os dentes apertados, soltou a arma.
- Boa escolha. E agora, no chão, de bruços, com as mãos às costas. Você também, Romeu. – ordenou a Donner. Enquanto obedeciam, recolheu a arma de Kline - Deveria saber que não deveria deixar entrar nenhum desconhecido.
“Deus, dói”, pensou Hermione ao baixar a descarga de adrenalina. Dos pés à cabeça era um único ponto de dor. Esperava que Wave não tivesse acertado nada vital.
Na distância ouviu o som de uma sirene.
- Ao que parece a boa Fran enviou à cavalaria. E agora, se ainda não entenderam, sou a lei e estão presos.
Ouvindo a sirene ela lia os direitos dos prisioneiros quando Harry irrompeu com a pistola numa mão e a faca na outra. De acordo com seus cálculos, mal tinha passado três minutos desde o primeiro disparo. Era evidente que se movia depressa.
Hermione o olhou um instante e concluiu o procedimento.
- Cuide desses idiotas, certo Potter? – pediu ao recolher o fone do telefone que ainda pendurava do cabo - Agente Money? Sim, sou a tenente Granger. Precisaremos de uma ambulância. Há um suspeito com uma ferida no peito. Não, a situação está sob controle. Obrigada, foi de grande ajuda. – pendurou e olhou Harry - E Liz?
- Está bem. Disse-lhe que esperasse a polícia junto ao caminho. Ouvi os disparos. – tinha as mãos firmes, algo que agradeceu, já que por dentro era gelatina - Pensei que a tinham descoberto.
- Não se equivocou. Esse... – com a cabeça indicou Wave - Já me viu com Wild Bill. Por que não vai procurar uma toalha? Será melhor que tentemos parar a hemorragia.
- Ao demônio com isso! – a fúria saiu tão repentinamente e com tanta violência que os dois homens tendidos no solo tremeram - Tem um corte na cabeça.
- Tenho? – acercou os dedos à dor palpitante na têmpora direita, depois observou o sangue com desgosto - Diabos. Espero não precisar pontos. Odeio pontos.
- Qual deles golpeou você? – Harry estudou os três homens com olhos gelados - Quem?
- O que recebeu o disparo. O que está sangrando. Vá procurar uma toalha e veremos se conseguimos que chegue vivo ao tribunal. – quando não respondeu, se interpôs entre Harry e o ferido. As intenções dele eram óbvias - Não me venha com essas tolices, Potter. Não sou uma donzela em apuros, e os cavaleiros de brilhante armadura me irritam. Entendido?
- Sim. – conteve a respiração. Percorriam-no demasiadas emoções. Nenhuma alteraria a situação - Sim, entendido tenente.
Girou para fazer o que ela tinha pedido. “Depois de tudo”, pensou. “Hermione pode manejar a situação. Pode manejar tudo”.
Não começou a serenar-se até achar-se outra vez no avião. Ao menos tinha que fingir calma pelo bem de Liz. Tinha-se agarrado a ele, suplicando-lhe que não a enviasse com a polícia, que ficasse com ela. Por isso tinha aceitado que a pequena ocupasse o assento do co-piloto e Hermione fora atrás.
Com olhar perdido, a jovem olhava pelos pára-brisas. Apesar das tentativas dele de lhe passar calor, não parava de tremer. Quando puseram rumo ao este, começou a chorar. Os ombros tremeram com violência, mas não emitiu nenhum som.
- Vamos, pequena. – impotente, Harry segurou sua mão - Já passou tudo. Ninguém mais vai lhe ferir.
Mas as lágrimas silenciosas seguiram caindo.
Sem dizer uma palavra, Hermione se levantou, avançou e com calma soltou o cinto de segurança. Comunicando-se mediante o contato, fez com que Liz se levantasse. Ocupou o assento e a acomodou em seu abraço, com a cabeça no ombro.
- Não olhe para trás. – murmurou.
Quase de imediato, os soluços de Liz soaram em toda a cabine. A dor que manifestava rasgou o coração de Hermione enquanto a abraçava. Destroçado pelo pranto, Harry alongou uma mão e lhe acariciou o cabelo. Mas ao sentir o contato a jovem se aconchegou mais contra Hermione.
Ele baixou a mão e se concentrou no céu.
Foi a gentil insistência de Hermione o que convenceu Liz que o melhor seria ir primeiro ao hospital. A pequena não parava de repetir que queria ir pra casa. E a todo momento teve que recordar com suavidade que seus pais já estavam a caminho de Denver.
- Sei que é duro. – manteve o braço em torno dos ombros de Liz - E sei que assusta, mas precisa ser examinada.
- Não quero que nenhum médico me toque.
- Eu sei. – o sabia bem demais - Mas é uma doutora. – sorriu e lhe acariciou o braço - Não fará nenhum mau a você.
- Será muito rápido. – assegurou Harry. Lutou por manter o sorriso. O que desejava era gritar. Quebrar algo. Matar alguém.
- De acordo. – Liz voltou a olhar com receio a sala de consulta do hospital - Por favor… - apertou os lábios e olhou com expressão de súplica a Hermione.
- Quer que vá com você? Que fique com você? – ante ao consentimento da menina, abraçou-a com mais força - Claro, não há problema. Harry, por que não vai procurar uma máquina de refrigerantes, talvez caramelos? – sorriu à jovem – Eu gostaria de um chocolate. E você?
- Sim. – Liz respirou fundo. - Suponho que sim.
- Voltaremos em alguns instantes. – disse Hermione a Harry.
Sentindo-se inútil, percorreu o corredor.
Dentro do consultório, Hermione ajudou Liz a tirar a roupa e colocar uma bata. Notou os hematomas em seu corpo, mas não disse nada. Precisariam de uma declaração oficial de Liz, mas isso podia esperar um pouco mais.
- Esta é a doutora Mailer. – explicou quando a jovem doutora de olhar suave se aproximou da maca.
- Oi, Liz. – a doutora Mailer não ofereceu a mão nem a tocou de nenhum modo. Especializava-se em pacientes com traumas e compreendia o terror que dominava às vítimas violentadas - Vou ter que fazer umas perguntas e algumas verificações. Se há algo que deseje me perguntar, adiante. E se quiser que pare, que espere um pouco, diga. De acordo?
- De acordo. – Liz se concentrou no teto. Mas não deixou de apertar com força a mão de Hermione.
Esta tinha solicitado a doutora Mailer porque conhecia sua reputação. À medida que avançava o exame, ficou mais do que convicta de que era uma reputação justificada. Mostrou-se amável, delicada e eficaz. Parecia que instintivamente sabia quando devia parar, dar-lhe a oportunidade a Liz de que se recobrasse, e quando continuar.
- Terminamos. – a doutora Mailer tirou as luvas e sorriu - Quero que descanse aqui um momento enquanto vou preparar uma receita para você antes que saiam.
- Não terei que ficar aqui, verdade?
- Não. – apertou a mão - Fez tudo certinho. Quando seus pais chegarem, voltaremos a falar. Quer que tragam alguma coisa para você comer? – ao sair da sala, voltou-se com o olhar que indicou a Hermione que elas também conversariam mais tarde.
- Deu tudo certo, de verdade. – disse, ajudando-a a sentar-se - Quer que eu vá ver se Harry encontrou o chocolate?
- Não quero ficar sozinha.
- Muito bem. – pegou a escova da bolsa e começou a desembaraçar o cabelo - Me avise se estou machucando.
- Quando vi você no salão da choupana, pensei que era outra das mulheres que eles levavam lá. Que ia acontecer tudo outra vez. – fechou os olhos e as lágrimas caíram por entre suas pestanas - Que iam me obrigar a fazer outra vez essas coisas.
- Eu sinto muito. Não tinha nenhum jeito de avisar você de que estava lá para ajudar.
- E ao ver Harry na janela, pensei que sonhava. Não deixava de sonhar que alguém apareceria, mas nunca acontecia. Estava com medo que meus pais não se importassem comigo.
- Querida, seus pais em nenhum momento deixaram de se preocupar. – pegou no queixo dela - Eles estão muito preocupados. Por isso enviaram Harry. E posso dizer que ele também gosta de você. Não pode imaginar as coisas que me convenceu a fazer para encontrar você.
Liz tentou sorrir, mas não conseguiu.
- Mas não sabem… talvez não me queiram mais quando souberem… tudo.
- Não. Eles ficarão tristes, e será realmente duro para eles. Mas isso é porque gostam de você. Nada do que tenha acontecido vai mudar isso.
- Eu… eu não consigo fazer outra coisa além de chorar.
- Então é o único que deve fazer, por agora.
- Foi culpa minha fugir de casa. – passou uma mão trêmula pela bochecha.
- Sim. – concordou Hermione - É a única coisa de que tem culpa.
Liz afastou as lágrimas do rosto que continuaram caindo enquanto olhava para o chão.
- Não entende o que se sente. Não sabe o que é. O terrível que é.
- Você está errada. – com delicadeza voltou a pegar o rosto dela entre as mãos - Entendo. Entendo muito bem.
- Sim? – tremeu - Aconteceu com você também?
- Quando tinha mais ou menos a sua idade. E senti como se alguém me tivesse arrancado algo que nunca mais recuperaria. Pensei que nunca mais voltaria a estar limpa, inteira. Ser eu outra vez. E chorei durante muito, muito tempo, porque dava a impressão de que não podia fazer outra coisa.
- Não deixava de repetir a mim mesma que não era eu. – Liz aceitou o lenço de papel que Hermione depositou em suas mãos - Mas estava muito assustada. Acabou. Harry não para de dizer que já acabou, mas dói.
- Eu sei. – a acalentou em seus braços - Dói mais do que nada no mundo, e vai doer por algum tempo. Mas você não está sozinha. Deve lembrar que não está só. Tem a sua família, seus amigos. Tem Harry. E pode falar comigo sempre que precisar.
- O que você fez? – apoiou a cabeça no peito de Hermione - Que fez?
- Sobrevivi. – murmurou, com o olhar perdido por cima da cabeça da pequena - E você também sobreviverá.
Harry estava na porta do consultório, com latas de refrigerantes e guloseimas nas mãos. Se antes se sentia inútil, nesse momento a sensação era insuportável.
Ali não tinha lugar para ele, não tinha maneira em que pudesse entrar na dor dessa mulher. Sua primeira reação foi de ira. Mas, para onde canalizá-la? Voltou-se para deixar os refrigerantes sobre uma mesa na sala de espera. Se não podia consolar a nenhuma das duas, se não podia parar o que já tinha acontecido, o que poderia fazer?
Na sala de consulta, Hermione terminou de pentear o cabelo de Liz.
- Quer se vestir?
A jovem conseguiu esboçar o que passou por um sorriso.
- Não quero voltar a colocar essa roupa, nunca mais.
- Bem dito. Bem, talvez consiga encontrar algo… - se voltou ao captar um movimento na porta. Viu uma mulher pálida e a um homem abatido, os dois com os olhos vermelhos.
- Oh, pequena! Liz! – a mulher foi a primeira em mover-se, seguida do homem.
- Mamãe! – Liz voltou a soluçar enquanto abria os braços - Mamãe!
Hermione ficou de lado ante o encontro de pais e filha. Ao ver Harry na porta, dirigiu-se para ele.
- Será melhor que fique com eles. Antes de sair, vou avisar a doutora Mailer que chegaram.
- Aonde vai?
- Redigir meu relatório. – passou a bolsa ao ombro.
Depois foi para casa tomar um banho quente. Esfregou o corpo até que quase deixou de senti-lo. Cedendo à exaustão, tanto física como emocional, deitou-se nua na cama e teve e sonhou até que as batidas na porta a acordaram.
Aturdida, procurou o roupão e fez um nó no cinto enquanto ia comprovar quem era. Franziu o cenho ao ver Harry pela mira, a seguir abriu a porta inesperadamente.
- Me dê um motivo para não prender você por incomodar a paz alheia. Minha paz.
- Eu trouxe pizza. – mostrou a caixa plana.
- Isso pode chegar a salvar você. Suponho que também queira entrar.
- Essa era a idéia.
- Bem, adiante, então. – com esse duvidoso convite, foi procurar pratos e guardanapos - Como está Liz?
- Surpreendentemente bem. Marleen e Frank são muito fortes.
- Tem que ser. – regressou com os pratos - Espero que compreendam que vão precisar de conselhos.
- E falaram disso com a doutora Mailer. Ela vai ajudá-los a encontrar um bom terapeuta. – pegou uma porção de pizza e escolheu com cuidado suas palavras - O primeiro que quero fazer é agradecer você. E não me interrompa, Mione. Gostaria de falar tudo.
- De acordo. – se sentou e pegou uma porção - Fale.
- Não falo só da cooperação oficial, do modo que me ajudou a encontrá-la e a resgatá-la. Por isso estou em dívida contigo, mas entra no plano profissional. Não tem nenhuma bebida para acompanhar isto?
- Há vinho na cozinha.
- Irei buscá-lo. – disse ao começar a levantar.
- Como queira. – Hermione encolheu os ombros e continuou comendo. Harry regressou com uma garrafa e dois copos - Suponho que estava cansada demais para me dar conta de que morria de fome.
- Então não devo desculpar-me por ter acordado você. – encheu ambos os copos, mas não bebeu - Também quero agradecer pelo modo que se comportou com Liz. Pensei que resgatá-la bastava… já sabe, isso de ir de cavaleiro andante que tanto irrita você. – levantou a vista e se encontrou com seus olhos - Não foi assim. Também não bastou dizer que tudo estava bem, que tinha acabado. Precisava de você.
- Precisava de uma mulher.
- E você é. Sei que é esperar demais, mas depois de que você saiu ela me perguntou por você várias vezes. – remexeu o conteúdo do copo - Vão ficar na cidade pelo menos alguns dias, até que a doutora Mailer tenha alguns dos resultados que espera. Pensei que poderia falar outra vez com Liz.
-Não é necessário que me peça isso, Harry. – pegou a mão dele - Eu também me envolvi.
- E eu, Mione. – beijou-lhe a mão - Estou apaixonado por você. Não, não se afaste. – apertou os dedos antes que pudesse se soltar - Nunca antes tinha dito isso a uma mulher. Costumava empregava termos alternativos. – sorriu um pouco - Estou louco por você, é especial para mim, essas coisas. Mas jamais usei a palavra amor, não até conhecer você.
Acreditava. E o que era mais aterrorizador, queria acreditar. “vá com cuidado”, recordou-se. “passo a passo”
- Escuta Harry, nós dois temos estado numa montanha russa desde que nos conhecemos… faz muito pouco tempo. As coisas, as emoções, tendem a adquirir proporções desmedidas numa montanha russa. Por que não freamos um pouco?
A sentiu nervosa, mas essa ocasião não o divertiu.
- Tive que aceitar que não podia mudar o que aconteceu a Liz. Foi duro. Mas não posso mudar o que sinto por você. Aceitar isso é fácil.
- Não sei muito bem o que quer de mim, Harry, e não acredito que seja capaz de dar.
- Pelo que aconteceu com você. Pelo que ouvi o que você contou a Liz no consultório.
- Isso foi entre Liz e eu. – se retraiu no instante, completamente - E não é assunto seu.
Foi exatamente a reação que Harry esperava, para que estava preparado.
- Nós dois sabemos que não é verdade. Mas falaremos disso quando estiver preparada. – sabendo o valor que tinha manter desconcertado um oponente, pegou o copo - Sabe que dão a Wave possibilidades de cinqüenta por cento para sobreviver?
- Eu sei. – o observou com receio - Liguei para o hospital antes de ir para cama. No momento, Draco se ocupa do interrogatório de Kline e Donner.
- Tem vontade de que caiam em suas mãos, eh?
- Sim. – sorriu.
- Sabe? Ao ouvir os disparos pensei que meu coração tinha parado. – mas descontraído, deu uma mordida na fatia da pizza - Regressei a toda velocidade, pronto para patear algumas bundas, pior ao entrar como uma cavalaria, que é o que vejo? - moveu a cabeça e bateu o copo com o de Hermione - Você com sangue pelo rosto… - se deteve para passar com delicadeza um dedo pela têmpora protegida - Com uma pistola em cada mão. Um animal de cento cinqüenta quilos sangrando a seus pés e outros dois sujeitos de bruços com as mãos por cima da cabeça. E você erguida, parecida à deusa Diana depois de uma caçada, recitando os direitos. Tenho de reconhecer que me senti bastante supérfluo.
- Esteve bem, Potter. – suspirou - E acredito que merece saber que me senti muito contente de ver você. Parecia Jim Bowie no Álamo
- Ele perdeu.
- Você não. – cedeu e se adiantou para dar-lhe um beijo.
- Nós não. – corrigiu. - Trouxe um presente.
- Sim? – como o momento perigoso parecia ter passado, sorriu e voltou a beijá-lo - Me dê. – ele lançou a mão para trás e meteu a mão no bolso da jaqueta. Pegou uma pequena bolsa de papel e a colocou em frente a ela - Oh, vejo que o embrulhou muito bem. – riu entre dentes ao meter a mão no interior. Pegou uma calcinha e um sutiã da cor azul celeste. O riso se transformou numa gargalhada.
- Pago minhas dívidas. – informou Harry. - Como supus que você deveria ter muitas daquela cor, escolhi algo diferente. – estendeu a mão para sentir a seda e a renda - Talvez queira provar.
- Em seu momento. – ainda que sabia o que queria nesse momento. O que precisava. Levantou-se para tomá-lo. Meteu os dedos no cabelo dele e puxou até levantar o rosto dele para que suas bocas se encontrassem - Talvez queira ir para cama comigo.
- Decididamente. - subiu as mãos por seus quadris, sem afastar a boca de seus lábios - Pensava que nunca perguntaria.
- Não queria que a pizza se esfriasse.
- Continua com fome? – baixou um dedo pelo centro de seu corpo para tirar o cinto do roupão.
Ela pegou a camisa dele.
- Agora que mencionou, talvez sim. – riu.
Dirigiu-se para ao quarto, decidido a dar-lhe outra surpresa. Depositou-a na cama, tombando-se a seu lado enquanto enchia o rosto dela de beijos leves e tentadores.
Os dedos de Hermione se achavam ocupados desabotoando os botões da camisa. Sabia o que a esperava e estava preparada, e ansiosa, para a tormenta, o fogo e a invasão de sensações. Quando as mãos afastaram o algodão e encontraram uma pele cálida e firme, emitiu um gemido baixo e satisfeito.
Seguiu beijando-a e mordiscando-a enquanto ela o despia. Em seus movimentos tinha uma energia frenética que prometia algo selvagem e febril. Cada vez que Harry sentia uma apunhalada de desejo, absorvia o impacto e continuava com seu rimo descontraído.
- Eu o desejo. – impaciente, Hermione girou a boca para a sua e se arqueou contra ele.
Harry desconhecia que duas palavras pudessem fazer-lhe ferver o sangue. Mas seria fácil demais tomar o que ela oferecia e perder o que ainda retinha.
- Eu sei. Posso perceber. – voltou a beijá-la com tanta ternura que lhe provocou outro gemido. A mão que tinha estado fechada sobre o ombro de Harry ficou frouxa - E eu a desejo também. – murmurou, jogando-se para trás para contemplá-la - Toda. – fascinado, passou os dedos pelo cabelo, estendendo-o. Depois baixou para dar-lhe um beijo gentil sobre a têmpora ferida.
A emoção provocou um nó na garganta de Hermione.
- Harry…
- Sss… Só quero olhar. – e olhou, enquanto passava um dedo por suas feições e acariciava o lábio inferior com o polegar, para baixá-lo pela mandíbula e pousá-lo uns momentos na veia que palpitava no pescoço - O sol está se pondo. – sussurrou - A luz realiza coisas incríveis sobre seu rosto, seus olhos agora são dourados, com tons mais escuros, da tonalidade do brandy. Jamais vi olhos como os seus. Parece tirada de um quadro. Mas posso tocar. – deslizou o polegar pelo pescoço - Sentir como treme, saber que é real.
- Não preciso de palavras. – levantou uma mão para abraça-lo outra vez e desterrar a necessidade.
- Claro que sim. – sorriu um pouco. - É possível que não tenha encontrado as adequadas, mas precisa. – foi colar os lábios ao seu pulso e notou a marca leve dos roxos. E lembrou.
Franziu o cenho quando se sentou e lhe tomou ambas mãos. Examinou os pulsos com cuidado.
- Eu fiz isto.
“Santo Deus”, pensou ela. “tem que existir um modo de por fim a este terrível tremor”.
- Não importa. Estava irritado. Agora faça amor comigo.
- Não gosto de saber que posso magoar quando estou bravo, ou que é possível que volte a fazê-lo. – com extremo cuidado, beijou-lhe cada pulso - Faz com que seja fácil esquecer quanto é suave, Hermione. – as mangas do roupão baixaram por seus braços e a beijou até o cotovelo - Quanto é pequena e perfeita. Tenho que demonstrar.
Passou uma mão sob a cabeça dela e levantou seu rosto, deixando que o cabelo caísse como uma cascata. Possuiu outra vez sua boca, saboreando um beijo profundo e sonhador que fez que Hermione se sentisse em órbita. Harry sentiu que outra camada se dissolvia. Com músculos trêmulos, ela lhe rodeou o pescoço com os braços.
Não sabia o que fazia, só que era incapaz de pensar, de resistir. Tinha estado preparada para a necessidade, e ele estava dando ternura. Que defesa podia ter contra a paixão e seu suave envoltório de doçura? Quis dizer que a sedução era desnecessária, mas era glorioso render-se aos segredos que Harry desentranhava com essa boca devastadoramente suave e essas mãos lentas e hábeis.
Voltou a depositá-la sobre a cama e Hermione ouviu o sussurro do tecido enquanto abaixava o roupão, para liberá-los para enfim oferecer-lhe beijos com a boca aberta enquanto com a língua deixava um rasto úmido.
Harry notou o instante em que ela se deixou ir. Experimentou o calor do triunfo quando as mãos de Hermione, tão suaves como as suas próprias, começaram a acariciá-lo. Resistiu ao impulso de acelerar o ritmo e a explorou sobre da bata, sob ela, uma e outra vez, à medida que o corpo dela se derretia como cera quente.
Em nenhum momento deixou de observar o rosto de Hermione, excitado por cada reflexo de emoção, tentado pelo modo em que continha o fôlego, para depois soltá-lo quando sentia seu contato. Teria jurado que a sentiu flutuar ao despi-la por completo.
Então ela abriu os olhos, escuros e pesados, Harry compreendeu que, ainda que entregue, não ia mostrar-se passiva. Suas mãos também eram exaustivas, tocando, possuindo, com a mesma ternura insuportável.
Até que ficou tão seduzido como ela.
Gemidos suaves e roucos. Segredos contados em sussurros. Carícias prolongadas. O sol se perdeu no crepúsculo e este na noite. Tinha necessidade, mas não a precipitação febril de saciá-la. Tinha prazer, o desejo sonolento de prolongá-lo.
Ele tocou e ela tremeu. Ela provou e ele foi dominado por um arrepio.
Quando ao fim se introduziu em seu interior, Hermione sorriu e o abraçou. O ritmo que estabeleceram foi paciente, carinhoso e tão verdadeiro como a música. Ascenderam juntos, até que o ofego de Harry imitou o dela. E depois flutuaram regressando a terra.
Hermione guardou um longo momento em silêncio, aturdida pelo que aconteceu. Ele lhe tinha dado algo e, a mudança, ela tinha devolvido o gesto livremente. Não era algo que pudesse recuperar. Perguntou-se que passos poderia dar uma vez que tinha descoberto que estava apaixonada.
Pela primeira e única vez em sua vida.
Talvez passasse. Uma parte dela se encolheu ante a idéia de perder o que acabava de encontrar. Sem importar a firmeza com que se recordou que sua vida era tal como a queria, não foi capaz de pensar com profundidade como seria sem ele.
No entanto, não tinha eleição. Harry iria embora. E ela sobreviveria.
- O que pensa? – pôs-se de costas e a rodeou com um braço para abraça-la - Quase posso ouvir as engrenagens de seu cérebro. – contente, beijou-lhe o cabelo e fechou os olhos - Me diz o que é que passou primeiro por sua cabeça.
- O que? Não…
- Não, não, não o analise. É uma prova. A primeira, Mione. Agora.
- Me perguntava quando você iria embora. – se ouviu sussurrar. - Para Wyoming.
- Ah. – sorriu com expressão comprazida - Gosto de saber que sou a primeira coisa que ocupa sua mente.
- Não fique vaidoso, Potter.
- De acordo. Não fiz nenhum plano concreto. Primeiro deveria atar alguns cabos soltos.
- Quais?
- Você, para começar. Não fixamos uma data.
- Harry…
Ele voltou a sorrir. Talvez fosse uma fantasia, mas em vez de irritação, pareceu-lhe captar exasperação. Em seu tom de voz.
- Continuo preferindo o reveillon… suponho que voltei a ser sentimental, ainda que temos tempo para falar. Depois está o fato de que não terminei o que me trouxe aqui.
- A que se refere? – levantou a cabeça - Encontrou Liz.
- Não basta. – os olhos brilharam na escuridão - Não temos o chefe. Não terá terminado até que o capturemos.
- Isso é algo que eu preciso me preocupar, a mim e ao departamento. Aqui não há lugar para as vinganças pessoais.
- Não disse que era uma vingança. – ainda que fosse - Pretendo fechar o caso, Hermione. E gostaria que continuássemos trabalhando juntos.
- E se minha resposta for não?
- Me esforçaria ao máximo em conseguir que você mudasse de idéia. Talvez não tenha notado, mas posso ser tenaz.
- Eu notei. – murmurou. Uma parte dela resplandecia ante a idéia de que sua parceira não tivesse terminado - Suponho que posso dar uns dias a mais.
- Bem. – se moveu para passar uma mão pelo quadril - Inclui na oferta umas noites a mais?
- Suponho que poderia. – esboçou um sorriso travesso. - Se fizer que valha a pena.
- Oh, eu farei. – sob a cabeça - É uma promessa.
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