Capitulo 03
Capitulo 03
Não pensava em matar. Não se permitia. Já tinha matado e sabia que era provável que voltasse a fazê-lo. Mas não pensava nisso. Estava segura de que, se reflexionasse muito nesse aspecto de seu trabalho, iria parar, se dedicaria a beber ou ficaria indiferente. Ou o que era infinitamente pior, terminaria por gostar.
De maneira que arquivou o relatório e o tirou da cabeça. Ao menos tentou.
Levou em pessoa uma cópia ao escritório de Draco e o deixou sobre sua mesa. Ele deu uma olhada e depois a olhou.
- O policial, Barkley, continua na sala de operações. A mulher se encontra fora de perigo.
- Bem. Como esta à menina?
- Tem uma tia em Colorado Springs. Os serviços sociais se colocaram em contato com ela. O fichado era seu pai. Tem um amplo histórico de abusos físicos e drogas. Sua mulher levou a pequena faz aproximadamente um ano a um refúgio para mulheres. Solicitou o divórcio. Mudou-se para cá faz uns três meses, conseguiu um trabalho e começou uma nova vida. E ele a encontrou.
- Pois não voltará a encontrá-la. – voltou para a porta, mas Draco se levantou e rodeou a escrivaninha.
- Mione. – fechou a porta para aplacar o ruído da delegacia - Você está bem?
- Claro. Não creio que os assuntos internos me incomodem muito por este caso.
- Não falo deles. – moveu a cabeça - Um ou dois dias livres não fariam mal a você.
- Também não me ajudariam. – encolheu de ombros. A Draco podia dizer coisas que não mencionaria a ninguém mais - Não pensei que pudesse chegar até ela a tempo. E não me equivoquei. Harry não deveria ter estado lá.
- Mas estava. – com gentileza apoiou as mãos em seus ombros - Oh, oh, trata-se do complexo da super policial. Esquivar balas, redigir relatórios, gritar em becos escuros, vender entradas para o Baile da Polícia, eliminar o mundo dos tipos maus e salvar gatos presos nas copas das árvores. Ela pode fazer tudo.
- Cale-se, Malfoy. – mas sorriu - Traço a linha de não salvar gatos.
- Quer vir jantar esta noite?
- O que tem? – apoiou a mão no pomo da porta.
- Nem faço idéia. – sorriu - É a noite livre de Maria.
- Quem vai cozinhar é a Gina? – olhou-o com expressão doída - Acreditava que éramos amigos.
- Pediremos pizza.
- Trato feito.
Ao sair viu Harry. Tinha os pés sobre uma mesa e um fone ao ouvido. Aproximou-se, sentou-se na borda da mesa e esperou que terminasse o telefonema.
- Terminou a burocracia?
- Potter, suponho que não tenho que lhe assinalar que esta mesa, este telefone e esta cadeira são propriedade do departamento de polícia, e de acesso proibido aos civis.
- Não. – sorriu - Mas se quer fazê-lo, adiante, podemos comer enquanto você fala dos procedimentos adequados.
- Seus convites me deixam sem fôlego. – afastou os pés da mesa - Já temos o carro roubado. Os garotos do laboratório estão pesquisando, assim não tem por que não dar uma investigada.
- Você tem algum outro plano?
- Começando pelo Tick Tock, passarei por alguns dos lugares onde parava Wild Hill, para falar com algumas pessoas.
- Estou com você. – quando ela empreendeu o caminho para a garagem, tomou-a pelo braço - Desta vez em meu carro, lembra?
Encolheu os ombros e saiu para a rua. O carro de cor negra tinha uma multa no pára-brisa. Harry a guardou no bolso.
- Suponho que não posso pedir que solucione esse problema.
- Não. – Hermione se sentou no veículo.
- Não tem problema. Draco o fará.
Olhou-o e lançou o que poderia ter sido um sorriso antes de voltar a concentrar-se na frente.
- Hoje você foi ótimo com a pequena. – a irritava reconhecer, mas devia fazer - Não acredito que tivesse sobrevivido sem você.
- Sem nós. Alguns chamariam de trabalho em equipe.
- Alguns. – abotoou o cinto de segurança com um movimento das mãos.
- Relaxe, Mione. – engatou a primeira e misturou-se ao tráfico - Onde estávamos antes que nos interrompessem? Oh, sim, falávamos de você.
- Acho que não.
- Certo, eu falarei de você. É uma mulher que gosta da organização, depende dela. Não, não, de fato insiste em tê-la. – adicionou - Por isso é tão boa em seu trabalho, tanta lei e ordem.
- Deveria ser psiquiatra, Potter. – bufou - Quem teria adivinhado que um policial gosta da lei e da ordem?
- Não me interrompa. Tem… não sei, vinte e sete, vinte e oito anos?
- Trinta e dois.
- Não está casada. – baixou a vista para a mão sem anéis.
- Outra dedução brilhante.
- Tem a tendência ao sarcasmo e gosta de seda e perfumes caros. Perfumes realmente agradáveis, Mione, desses que seduzem a mente de um homem antes de que entre o jogo do corpo.
- Talvez deveria trabalhar numa agência de publicidade.
- Não há nada sutil a respeito de sua sexualidade. Está aí, em letras maiúsculas. Agora bem, algumas mulheres a explorariam, outras a ocultariam. Você não, em algum ponto decidiu que vai ficar as custas dos homens aprender a lidar com ela. O que algo inteligente... – “não tem resposta para isso”, pensou. Ou preferiu não dar - Não perde o tempo nem energia. Dessa maneira, quando os precisa, tem-nos ao alcance da mão. Aí dentro tem um cérebro de policial, que lhe permite avaliar uma situação depressa. E suponho que é capaz de manejar um homem com a mesma frieza com a que empunha sua arma.
- Uma análise interessante, Potter.
- Não se encolheu ao abater aquele sujeito hoje. Incomodou-a, mas não hesitou. – parou adiante do Tick Tock e apagou o motor - Se tenho que trabalhar com alguém, com a possibilidade de viver uma situação desagradável, gosto de saber que não se humilharia.
- Ok, obrigada. Agora posso deixar de me preocupar com a sua aprovação. – mal humorada, saiu do veículo.
- E por último… - alcançou com passadas longas e passou o braço pelos ombros - Um pouco de calor. É um alívio ver que também tem temperamento.
Hermione surpreendeu a si mesma e a ele dando um tapinha nas costelas.
- Não gostaria se deixasse de controlá-lo. Acredite.
Dedicaram as seguintes duas horas a ir primeiro a um bar, depois a um bilhar e ainda a uma cafeteria de péssima aparência. Só conseguiram algum progresso ao chegar em uma pardieiro de nome Clancy´s.
As luzes eram tênues, uma recompensa para os bebedores madrugadores, que gostavam de esquecer que o sol continuava brilhando. Um rádio por trás do balcão emitia música country que contava uma história triste sobre enganos e garrafas vazias. Vários desses clientes já se achavam distribuídos pelo balcão ou mesas, a maioria bebendo sozinhos.
Hermione se dirigiu a um extremo do balcão e pediu um refrigerante que não pensava em provar. Harry decidiu por um chopp. Ela arqueou uma sobrancelha.
- O vacinaram contra tétano a pouco tempo? – sacou vinte dólares, mas manteve os dedos sobre a ponta da nova de vinte dólares enquanto o garçom servia - Wild Hill costumava vir aqui com bastante assiduidade. – o garçom observou o dinheiro e depois a ela. Uns olhos vermelhos e um rosto cheio de veias rompidas provavam que bebia tanto como servia - Wild Hill Billings. – insistiu.
- E?
- Era amigo meu.
- Parece que perdeu um amigo.
- Algumas vezes vim aqui com ele. – retirou um pouco a nota de vinte dólares - Talvez se lembre.
- Tenho uma memória bastante seletiva, mas não me custa reconhecer um policial.
- Bem. Então é possível que deduzisse que Hill e eu tínhamos um acordo.
- Provavelmente deduzi que esse acordo acabou com seu sangue esparramado sobre a calçada.
- Dedução errada. Não me passava nenhum sopro quando o mataram, e sou uma pessoa sentimental. Quero saber quem acabou com ele, e estou disposta a pagar. – adiantou o bilhete - Muito mais do que isto.
-Não sei nada do assunto. – ainda que os vinte desapareceram em seu bolso.
- Mas talvez conheça a gente que conheça gente que conheça algo. – se adiantou com expressão risonha nos olhos
- Se fizesse correr a voz, o agradeceria. – encolheu os ombros e teria saído se ela não tivesse apoiado a mão em seu braço - Creio que esses vinte valem um ou dois minutos. Bill tinha a uma garota chamada Jade. Sumiu. Também tinha algumas mais, verdade?
- Algumas. Não era muito importante no negócio.
- Algum nome?
O homem pegou um trapo sujo e se pôs a limpar o balcão.
- Uma garota de cabelo negro chamada Meena. Às vezes trabalhava aqui. Ultimamente não a vi.
- Se a vê, me chame. – retirou um cartão e deixou sobre o balcão - Sabe algo sobre filmes? Filmes particulares com garotas jovens?
Encolheu os ombros, mas Hermione captou antes o reflexo de conhecimento em seus olhos.
- Não tenho tempo para filmes, e isso é tudo o que receberá por suas vinte.
- Obrigado. – o deixou e se levantou - Dê-lhe um minuto. – sussurrou para Harry. Depois avistou através da vitrine suja - Vá, vá. É engraçado que de repente tenha tanta pressa em fazer um telefonema.
- Gosto do seu estilo, tenente. – Harry observou o garçom ir ao telefone público e introduzir uma moeda de um quarto.
- Vejamos quanto gosta depois de passar umas horas num carro frio. Espera-nos uma noite de vigília, Potter.
- Estou impaciente.
Ela tinha razão sobre o frio. Mas não importava tanto, não com calças longas e uma jaqueta de pele de cordeiro para espantá-lo. No entanto, o que incomodava era a inatividade. Teria jurado que para Hermione era um prazer.
Estava comodamente sentada a seu lado, concentrada numa revista de palavras-cruzadas com a luz fraca da lanterna. Trabalhava de forma metódica, paciente, interminável, enquanto tentava combater a chatice com a retrospectiva de B.B. King na rádio.
Pensou no jantar que os dois tinham perdido na casa dos Malfoy. Comida quente, uma lareira, um conhaque. Inclusive tinha passado pela cabeça que talvez Hermione se descontraísse um pouco num meio não oficial. Talvez não ajudasse pensar nela dessa maneira, como a deusa do frio que se derrete, mas avivou suas fantasias.
Na situação que se achavam era toda policial, tão distante emocionalmente como a lua. Mas no sonho, ajudado pelo lento blues que saía pela rádio, era toda mulher, sedutora como a seda negra que imaginava que usava nas roupas íntimas, tentadora como o fogo que ardia na chaminé de pedra, suave como o tapete de pele branca sobre a que tinha jogado.
E seu sabor, quanto provou sua boca, era como um whisky almiscarado. Embriagante, doce, potente. Um oleáceo com o que um homem podia afogar-se.
A seda se desprendeu centímetro a centímetro, revelando a pele de alabastro. Delicada como uma pétala de rosa, impecável como o cristal, firme e suave como água. E quando ela alongava as mãos para ele, para introduzi-lo em seu segredo, seus lábios sussurravam algo ao ouvido.
- Mais café?
- Como? – voltou à realidade e a contemplou com o carro em penumbra. Oferecia uma garrafa térmica a ele.
- Quer café? – intrigada pela expressão de sua cara, tirou-lhe a xícara e a encheu até a metade. A primeira vista, teria dito que tinha veemência em seus olhos, mas conhecia muito bem essa expressão. Era desejo, maduro e pronto - Dando uma divagada, Potter?
- Sim. – aceitou a xícara e bebeu, desejando que fosse whisky. Mas sorriu e a diversão consigo mesmo e a ridícula situação mitigou a incomodidade de suas entranhas - Uma grande divagada.
- Bom, tente não se afastar muito. - bebeu um gole de sua própria xícara e lhe ofereceu um pacote de rosquinhas açucaradas - Aí vai outro. – eficiente, deixou a xícara e pegou a câmera. Tirou duas fotos do homem que entrou no bar. Era o segundo na última hora.
- Ao que parece não tem um negócio muito próspero.
- À maioria gosta de aproveitar um ambiente para um gole.
- Samambaias e música digital?
- Copos limpos, para começar. – deixou a câmara - Duvido que vamos ver um de nossos diretores de cinema por aqui.
- Então, o que fazemos sentados em um carro frio ante um tugúrio às onze da noite?
- Porque é meu trabalho. – escolheu uma amêndoa e a levou a boca - E porque espero outra pessoa.
- Quer me dar uma pista? – era a primeira notícia que tinha.
- Não. – comeu outra amêndoa e voltou a concentrar-se na palavra cruzada.
- Muito bem, acabou. - tirou o jornal das mãos - Quer jogar, Granger? Deixe que lhe diga como jogo eu. Irrito-me quando as pessoas me escondem algo. Especialmente quando estou mortalmente aborrecido. Então me ponho um tanto desagradável.
-Perdão. – murmurou com voz suave, em direto contraste com o fogo que ardia em seus olhos - Mal posso falar pelo nó de terror que sinto na garganta.
- Quer assustar-se? – moveu-se a grande velocidade. Ela não poderia ter se esquivado embora tivesse tentado. De modo que cedeu sem nenhuma amostra de resistência quando a tomou pelos ombros - Suponho que serei capaz de colocar o medo em seu divino corpo, Mione, e animar um pouco as coisas para os dois.
- Bem, se tiver terminado com sua demonstração de machismo, a quem estou esperando está a ponto de entrar no bar.
- O que?
Harry girou a cabeça, o qual apresentou a Hermione a oportunidade perfeita para lhe agarrar o dedo polegar e retorcê-lo com ferocidade. Quando ele praguejou, soltou-o.
- Meena. A outra garota do Wild Hill. – ergueu a máquina e tirou outra foto - Vi sua foto esta tarde em seu histórico. Esteve presa. Prostituição, posse de droga com intenção de vendê-la, conduta exibicionista.
- É uma garota doce nossa Meena.
- Sua Meena. – corrigiu - Como gosta tanto de fazer o tipo durão, pode ir seduzi-la e trazê-la aqui para que possamos falar com ela. – abriu a bolsa e tirou um bolo de cinco notas de dez dólares - E se seu encanto falhar, lhe ofereça cinqüenta.
- Quer que entre e a convença de que procuro farra?
- Isso.
- Bem. – tinha feito costure piores que interpretar um sedutor em um bar sujo. Mas lhe devolveu o montante - Tenho meu próprio dinheiro.
Hermione o observou cruzar a rua e esperou até que desaparecesse dentro do local. Logo se recostou e se permitiu um momento para fechar os olhos e soltar um prolongado suspiro.
Pensou que Harry Potter era um homem perigoso. Não tinha experimentado somente raiva quando lhe agarrou pelos ombros. O que havia sentido era complexo, retorcido e confuso: Excitação profunda, ardente, que lhe abrasou a alma, mesclada com uma pequena dose de medo primário e fúria.
“Não é típico de você”, refletiu enquanto se tomava tempo para acalmasse-se. Ter estado tão perto de perder o controle devido a que um homem apertava as teclas erradas, ou as certas, era pouco habitual.
Era ela quem apertava as teclas. Essa era a regra principal da Hermione Granger. E se Harry acreditava que podia pular em cima dela como tinha feito ia ficar muito decepcionado.
Esforçou-se muito para se transformar em quem era, elaborando metas em sua vida e seguido-as. Tinha saído do caos e tinha conseguido controlá-lo. Certamente, de vez em quando era necessário trocar de padrão. Não era uma mulher rígida. Mas nada, absolutamente nada, sacudia esse padrão.
Supôs que se devia ao caso. A jovem retida por desconhecidos, da que sem dúvida abusavam.
“Outro padrão”, pensou com amargura. Muito familiar.
E a menina aquela manhã. Assustada pelos adultos que a rodeavam.
Moveu a cabeça, recolheu o periódico para dobrá-lo com precisão e deixá-lo a um lado.
Disse-se que estava cansada. A operação anti-droga de na semana anterior tinha sido terrível. E sair daquilo para entrar no novo caso haveria comocionado a qualquer. Precisava de umas férias. Sorriu e imaginou uma praia de areias brancas, águas azuis e um hotel a suas costas. Uma cama grande, serviço de quarto e um jacuzzi privativa.
E pensava em fazer exatamente isso quando fechasse o caso e enviasse Harry Potter de volta para seu trabalho... ao que diabos considerasse sua profissão.
Voltou a olhar em direção ao bar e se viu obrigada a assentir com aprovação. Tinham passado menos de dez minutos e saía seguido de Meena.
- OH, um trio? – Meena estudou Hermione com olhos muito pintados. Afastou os cachos negros e fez uma careta - Bom, querido, isso vai custar mais.
- Não há problema. – com cavalheirismo a ajudou a subir ao assento de atrás.
- Imagino que um homem como você pode dar conta das duas.
- Não acredito que vá ser necessário. – Hermione tirou o distintivo para mostrar-lhe. Meena amaldiçoou, lançou a Colt um olhar de profundo desagrado e depois cruzou os braços.
- Os policiais não têm nada melhor que fazer que perseguir pobres almas trabalhadoras?
- Não teremos que levá-la a delegacia de polícia, Meena, se responder a umas perguntas. Vamos dar uma volta, Harry? – quando ele arrancou, Hermione se voltou no assento - Wild Hill era seu amigo.
- Sim, claro. Fez-me alguns favores.
- E foi correspondido?
- Sim, claro que… - calou e estreitou os olhos - Você é a policial a que lhe vendia informações, a que ele dizia que tinha classe? – Meena relaxou um pouco. Existia uma boa probabilidade de que não passasse a noite em uma cela - Disse que foi legal com ele, que sempre lhe dava umas notas sem se queixar.
- Estou comovida. – Hermione notou o sorriso ambicioso de Meena e arqueou uma sobrancelha - Possivelmente teria que dizer que pagava quando havia algo que valesse a pena comprar. Conhece Jade?
- Claro. Faz umas semanas que não a vejo. Hill disse que saiu da cidade. – colocou a mão em sua bolsa de plástico vermelho e tirou um cigarro. Quando Harry acendeu o isqueiro e lhe ofereceu fogo, tomou a mão entre as duas delas e lhe deu de presente um olhar cálido - Obrigado, querido.
- O que me diz desta garota? – do bolso tirou uma foto da Elizabeth. Depois de acender a luz do teto, a ofereceu a Meena.
- Não. – ia devolver quando franziu o cenho - Não sei. Talvez. – enquanto a analisava, soltou uma coluna de fumaça, enchendo o ambiente - Não trabalha na rua. Parece-me que a vi em algum lugar.
- Com o Hill? – pergunto Althea.
- Diabos, não. Bill não trata de mexer com o que pode lhe dar cadeia.
- Quem o faz?
Meena olhou para Harry.
- Georgia Cool tem a algumas jovens em seu estábulo. Embora ninguém tão verde como esta.
- Bill conseguiu uma atuação para você, Meena? Um filme? – insistiu Hermione.
- É possível.
- Sim ou não? – Althea tirou a foto de Liz - Me faz perder tempo, e não perco meu dinheiro.
- Demônios, não me incomoda se um cara quer gravar uns vídeos enquanto trabalho. Pagaram mais.
- Tem nomes?
- Não trocamos cartões. – bufou.
- Mas pode me dar uma descrição. Dizer quantos tinham envolvidos, onde foi o lugar da gravação.
- É provável. – o olhar astuto regressou a seu rosto enquanto soltava fumaça - Se tivesse algum incentivo.
- Teu incentivo será não passar uma temporada na cadeia com uma sueca de cem quilos. – comentou Hermione com suavidade.
- Não pode me prender. Gritarei que foi uma armadilha.
- Grite o que quiser. Com teu histórico, o juiz rirá.
- Vamos, Mione. – a voz de Harry pareceu ter se espessado - Dê um descanso à moça. Está tentando cooperar, não é, Meena?
- Claro. – Meena apagou o cigarro e umedeceu os lábios - Claro que sim.
- O que tenta é me enganar. – Hermione compreendeu que Harry e ela tinham adotado os papéis de policial bom, policial mal, sem pestanejar - E quero respostas. Não as que está dando. – sorriu para a jovem pelo espelho retrovisor - Toma meu tempo.
- Eram três. – repôs Meena com uma careta - Um sujeito que manejava a câmara, outro sentado num canto, não pude vê-lo. E o que estava atuando comigo, já sabe. O da câmara era calvo. Negro, grande para valer… como um lutador ou algo parecido. Estive lá aproximadamente uma hora, e em nenhum momento abriu a boca.
- Lhe chamaram por algum nome? – Hermione abriu o bloco de notas.
- Não. – pensou um momento e moveu a cabeça - Não. É engraçado, não? Se não me engano, nem sequer falaram entre eles. O cara com que contracenava comigo era pequeno… menos em suas partes vitais. – riu entre dentes e pegou outro cigarro - Esse falou. Uma conversa vaga, para a câmara. Alguns gostam desse jeito. Tinha uns… não sei, quarenta anos talvez, magro, com o cabelo amarrado que chegava aos ombros. Era um tipo que lembrava um cowboy solitário.
- Quero que trabalhe com um desenhista da polícia. – indicou Hermione.
- Não. Não quero mais policiais.
- Não tem problema o que fizermos na delegacia. – decidiu jogar com seu coringa - Se nos dá uma descrição boa, que nos ajude a pegar esses sujeitos, ganhará cem extra.
- De acordo. – o rosto se iluminou - De acordo.
- Onde gravou? – Hermione moveu o lápis sobre o bloco.
- Num lugar bonito. Tinha uma jacuzzi redonda no banheiro e espelhos nas paredes. – se adiantou para apoiar os dedos no ombro de Harry - Foi… estimulante.
- A direção? – insistiu Hermione.
- Não sei. Um desses edifícios grandes de apartamentos que há na Segunda. Na cobertura.
- Aposto a que reconheceria o edifício se passássemos por ali, verdade, Meena? – o tom de Harry foi amistoso, como o sorriso que ofereceu por cima do ombro.
- Sim, claro. – e o fez. Minutos mais tarde apontava pela janela - Esse aí. Vê o apartamento mais alto, com os janelões e a sacada? Estive ali. Um lugar com classe. Carpete branco, um dormitório muito sexy, com cortinas vermelhas e uma cama enorme e redonda. Tinha torneiras de ouro no banheiro, em forma de cisne. Céus, adoraria voltar.
- Só foi uma vez? – perguntou Harry.
- Sim. Disseram a Billy que era o tipo adequado. – com voz de desagrado pegou outro cigarro - Disseram que era velha demais. Podem acreditar? Acabo de completar vinte e dois anos e esses desgraçados dizem a Billy que sou velha demais. Incomodou-me… Oh, sim… - inspirada, bateu no ombro de Harry - A garota. A da foto. Aí é onde a vi. Tinha saído, mas tive que voltar porque tinha esquecido os cigarros. Ela estava sentada na cozinha. Não a reconheci de imediato na foto, porque estava muito maquiada.
- Te disse algo? – quis saber Harry, lutando por manter firme a voz - Fez algo?
- Não, não se moveu de onde estava sentada. Pareceu-me drogada.
Ao perceber que precisava de apoio, Hermione alongou o braço e cobriu a mão de Harry. Tinha a mão rígida. Quando ele apertou os dedos para unir suas palmas, surpreendeu-a, mas não protestou.
- Quero falar com você outra vez. – com a mão livre, pegou dinheiro suficiente do bolso para garantir a cooperação futura de Meena - Preciso de um número onde posso localizá-la.
- Com certeza. – o deu enquanto contava as notas - Suponho que Billy tinha razão. É legal. E talvez pode me deixar no Tick Tock. Irei tomar uma dose em memória de Bill.
- Acho que precisamos de uma ordem judicial para entrarmos.
- Verdade. – suspirou e meteu a mão no interior da jaqueta para verificar sua automática - E vão nos convidar para tomar café. Se me der duas horas… - ficou boquiaberta ao vê-lo virar-se. Depois da polidez com que tinha manejado a situação até esse momento, desconcertou-a fúria que ardia em seu rosto.
- Ouça tenente, não penso esperar nem mais dois minutos para comprovar se Liz continua aí. E se está, se há alguém, não vou precisar uma maldita ordem.
- Harry, compreendo…
- Não compreende nada.
Ela abriu a boca e voltou a fechá-la, aturdida porque tinha estado a ponto de gritar que sim, o entendia, e muito bem.
- Chamaremos. – conveio com voz tensa e se dirigiu à porta da cobertura e chamou.
- Talvez sejam um pouco surdos. – bateu na porta com o punho. Quando ninguém contestou, moveu-se com tanta celeridade que Hermione não teve tempo nem de amaldiçoar. Já tinha aberto a porta de um pontapé.
- Estupendo, Potter. Sutil como um tijolo.
- Suponho que escorreguei. – sacou a pistola da bota - Olha, a porta está aberta.
- Não… - mas já tinha entrado. Amaldiçoando Draco e a todos seus amigos da infância, pegou a arma e o seguiu, cobrindo-lhe instintivamente as costas. Não precisou de luz, que Harry acendeu, para ver que estava vazio. Irradiava uma sensação de abandono. Não sobrou nada, somente o carpete e as cortinas.
- Fugiram. – murmurou ao ir de um quarto a outro - Os miseráveis fugiram.
Convicta de que não ia precisar, Hermione voltou a embainhar a arma.
- Suponho que agora sabemos para quem telefonou nosso amigável garçom esta tarde. Veremos o que podemos conseguir do contrato de aluguel, dos vizinhos… - ainda que não tinha esperança de encontrar nenhuma pista. Entrou no banheiro. Era como o tinha descrito Meena, com o jacuzzi redondo, as torneiras em forma de cisne, de latão, não de ouro, e espelhos por todas partes - Colocaste em perigo a integridade de um possível palco de um crime, Potter, espero que esteja satisfeito.
- Ela poderia estar aqui. – comentou a suas costas.
Hermione viu seus reflexos atracados nos espelhos. O que a suavizou foi à expressão de seu rosto, que não tinha imaginado ver.
-Vamos encontrá-la, Harry. – murmurou - Vamos nos encarregar de que volte para casa.
- Claro. – queria quebrar algo, qualquer coisa. Usou toda a força de vontade para não quebrar os espelhos - Cada dia que tenham em seu poder, é um dia com que terá que viver o resto de sua vida, para sempre. – se inclinou e deslizou a pistola na bota – Deus Mione, ela não é mais que uma menina.
- Os meninos são mais duros do que a gente pensa. Esquecem as coisas quando precisam. E vai ser mais fácil porque tem uma família que a quer.
- Mais fácil que o quê?
“Que estar só”, pensou.
- Simplesmente mais fácil. – não pode evitá-lo; levantou uma mão e a apoiou na face dele - Não se culpe, Harry, ou vai acabar estragando as coisas.
- Sim. – conteve essa emoção perigosa que conduzia a erros perigosos. Mas quando ela começou a baixar a mão para a lateral, agarrou o pulso - Sabe de uma coisa? – aproximou-se uns centímetros… talvez só porque precisava de um contato - Durante um momento foi quase humana.
- Verdade? – seus corpos se roçavam. Pensou que seria um ato de covardia retroceder - E geralmente eu sou o que?
- Perfeita. – levantou a mão livre e meteu os dedos em seu cabelo, algo que queria fazer desde o primeiro momento que a viu – Assusta. – disse - É tudo… o rosto, o cabelo, o corpo, a mente. Um homem não sabe o que fazer, se uiva à lua ou geme a seus pés.
Ela teve que inclinar a cabeça atrás para continuar olhando-o nos olhos. O seu coração pulsava mais depressa, não prestava atenção. Já tinha acontecido anteriormente. Sentia uma leve curiosidade, inclusive desejo, não seria a primeira vez, e podia controlar. Mas o que era difícil de canalizar era uma borbulhação inesperada de seus sentidos. Contra isso teria que lutar.
- Não me dá a impressão de ser um homem que faça alguma dessas duas coisas. – esboçou um sorriso frio, quase uma careta que fazia que os homens se afastassem de imediato.
Harry não era como a maioria dos homens.
- Nunca fui. Por que não provamos outra coisa? – disse devagar, depois se moveu como um relâmpago para fechar a boca sobre a dela.
Se Hermione tivesse protestado, se tivesse lutado, inclusive se tivesse retrocedido de forma simbólica, a teria soltado, dando-se por perdedor. Talvez.
Depois ela pensaria que poderia tê-lo freado em secos com vários movimentos de defesa própria. Depois. Mas tinha um calor tão descarnado nos lábios dele, uma força tão intensa nos braços, e um prazer aquecia seu próprio corpo.
Sim, isso era o que pensaria depois.
Foi tal como Harry tinha imaginado. E tinha imaginado muito. O sabor que tinha nos lábios era exatamente igual ao que tinha provado em sua mente. Era tão viciante como o ópio. Quando se abriu a ele, submergiu-se mais para tomar.
Hermione era tão pequena, esbelta e flexível como poderia desejar qualquer homem. E forte. Com os braços o rodeava com força e seus dedos mexiam em seus cabelos. O som baixo e rouco de aprovação que vibrou por sua garganta pôs o sangue como um rio desembocado.
Murmurando seu nome, a fez girar e a apoiou contra os espelhos, cobrindo-lhe o corpo com o seu. Percorreu-a com mãos cobiçosas, ansiosas de tomar, tocar e possuir. Depois desabotoou os botões da blusa com uma necessidade desesperada por eliminar a primeira barreira.
Desejava-a nesse momento. “Não”, compreendeu que nesse momento precisava dela. Do modo em que um homem precisa dormir depois de um duro dia de trabalho, tal como precisava comer depois de um prolongado jejum.
Separou a boca dos lábios dela e a depositou em seu pescoço, extasiando-se com o sabor da pele.
Perdida num delírio, Hermione arcou as costas e gemeu ao sentir a boca faminta sobre sua pele acesa. Soube que se não tivesse tido o apoio da parede, já teria caído ao solo. E era ali, justo ali, onde ele a tomaria, onde se tomariam mutuamente. No solo frio, no duro, com dúzias de espelhos que devolviam os reflexos de seus corpos desesperados.
Ali, nesse momento.
E como um ladrão entrando numa casa a escuras, em sua mente brilhou a imagem de Meena e do que tinha tido lugar naquele apartamento. “Que estou fazendo? Santo céu, que estou fazendo?”, pensou com fúria ao separar-se.
Era uma policial e tinha estado a ponto de ceder a um sexo cego no meio do palco do delito.
- Pare! – sua voz soou dura pela excitação e o desgosto consigo mesma - Falo sério, Harry. Pare. Agora.
- Que? – como um nadador que emerge das profundidades, moveu a cabeça, quase mareado.
Seus joelhos tremiam. Para compensar, apoiou uma mão na parede enquanto a olhava. Tinha soltado o cabelo, que caía como uma cascata sobre seus ombros. Nesse instante seus olhos eram mais dourados que castanhos, enormes, sedutoramente nebulosos. Tinha a boca vermelha pela pressão à que tinha submetido e a pele brilhante de um rosa pálido adorável.
- É linda. Incrivelmente linda. – com suavidade passou um dedo pela garganta - Como uma flor exótica por trás de um cristal. Um homem deve quebrar o cristal para tomá-la.
- Não. – segurou a mão para não voltar a perder a razão - É uma loucura.
- Sim. – ele não tinha como negar - E é magnífico.
- É uma investigação, Potter. E nos achamos no que possivelmente seja o palco de um delito importante.
- Então, vamos para outro lugar. – sorriu e pegou a mão para mordiscar os dedos. O fato de se encontrarem em um beco sem saída em relação a investigação não significava que devia deter toda atividade.
- Vamos para outro lugar. – empurrou e com movimentos seguros voltou a abotoar a blusa – Separados. – consternada, deu-se conta de que se sentia fraca.
Harry considerou que o melhor lugar para ter as mãos nesse momento era nos bolsos. Ela tinha razão e isso era o pior.
- Quer fingir que isto não aconteceu?
- Não finjo nada. – jogou o cabelo para trás e alisou a jaqueta com dignidade - Aconteceu, e já terminou.
- Em absoluto, tenente. Ambos somos adultos, e ainda que só posso falar por mim, a conexão que sentimos não acontece todos os dias.
- Tem razão. – inclinou a cabeça - Fale apenas por você. – conseguiu voltar ao salão antes de que ele a tomasse pelo braço e a fizesse girar de volta para ele.
- Quer uma demonstração agora? – perguntou com voz mortalmente serena - Ou quer ser sincera?
- Certo. – podia ser sincera, por que as mentiras não funcionariam - Se me interessasse uma aventura rápida e quente, sem dúvida o chamaria. Mas neste momento tenho outras prioridades.
- Tem uma lista, não?
Hermione calou-se por um instante para controlar seu temperamento.
- Acredita que esta me ofendendo? – inquiriu com voz doce. - Prefiro organizar minha vida.
- De metê-la em compartimentos.
- O que queira. – arqueou uma sobrancelha - Para o bem ou para o mau, temos uma relação profissional. Eu quero encontrar a garota, Harry, tanto como você. Quero que regresse para junto de sua família, que coma hambúrgueres e que só se preocupe de seu último exame de matemáticas. E quero pegar os canalhas que a têm. Mais do que poderia chegar a entender.
- Então, por que não me ajuda a compreender?
- Sou policial. – informou. - Isso basta.
- Não. – seu rosto tinha refletido paixão que ele tinha sentido ao tê-la nos braços. A ponto de perder o controle - Nem para você nem para mim. – suspirou e esfregou a nuca. Deu-se conta de que ambos se achavam cansados e tensos. Não era o momento nem o lugar para aprofundar nos motivos pessoais.
Precisava de tempo para encontrar objetividade se queria compreender Hermione Granger.
- Olhe, desculpe-me se me enganei. Mas ambos sabemos que não foi assim. Estou aqui para procurar a Liz, e nada vai me deter. E depois de prová-la, Mione, penso em mostrar igual determinação por receber mais.
- Não sou o prato do dia, Potter. – murmurou esgotada. -Vai receber o que eu oferecer.
- É bem como quero. – esboçou um sorriso rápido - Vamos, levarei você para casa.
Sem dizer nada, Hermione o olhou. Tinha a incômoda sensação de que não tinham resolvido as coisas tal como ela tinha querido.
N/A: GALERA, VOU FICAR DEVENDO AS REPSOSTAS AOS COMENTARIOS DE VOCES, POIS EU MAL CONSIGO TEMPO PARA ESCREVER E ADAPTAR AS FICS, ESTOU NA MAIOR CORRERIA NESSE FINAL DE ANO, PORTANTO PEÇO DESCULPAS A QUEM COMENTOU POR EU NÃO PODER AGRADECER E RESPONDER AS PERGUNTAS, MAS ESPERO SINCERAMENTE QUE GOSTEM DO CAPITULO.
TAMBEM ESPERO QUE O NATAL DE VOCES TENHA SIDO MUITO BOM, ALÉM DE DESEJAR UM FELIZ ANO NOVO PARA TODOS VOCES!!!
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