Um pouco mais ameno...



Um pouco mais ameno...

Entre 7:00 e 8:00 da noite


Ao menos a cama era um pouco mais macia do que o chão. Ela sentou-se com as costas encostadas na parede.

A neve, apesar que continuar entrando pela janela, não os alcançava. Mas o frio que ela trazia, sim.

Como ela podia reclamar? Seus amigos, nesse exato momento, poderiam estar lutando por suas vidas Seria um milagre se qualquer um deles sobrevivesse se de fato a batalha final tivesse começado.

Quais deles ainda estariam vivos quando tudo isso terminasse? Não muitos se Voldemort saísse vitorioso. Harry certamente estaria morto...

Ela se afundou em pensamentos mórbidos, aterrorizada em pensar quão facilmente eles poderiam se transformar em realidade.

E o professor Dumbledore? Ele podia ser um bruxo muito poderoso, mas também era muito velho. Ela havia percebido que ele parecia cada dia mais cansado. Ela não duvidava que ele tivesse poder suficiente para bloquear os ataques de Voldemort, mas teria ele a energia necessária?

Ela não podia imaginar um mundo sem Dumbledore.
Ou qualquer um de seus amigos...

__ Mas porque eles não me mataram?- ela pensou, alto demais.

Ele estava sentado de frente para ela, na ponta da cama, suas mãos sustentando a cabeça. Ao ouvir a pergunta dela ele se ajeitou na cama e levantou os olhos.


__ Você foi pêga por engano pelo que eu entendi. Achavam que você era Gina Weasley- ele explicou.
__ Eles queriam a Gina?

__ Creio que sim, só não sei como eles a confundiram com você...

_ Eu estava na cama dela...- disse ela pensativa.

__ Na cama dela?- retrucou ele. De fato não era nem pra ela estar no dormitório da grifinória uma vez que ela era uma Lufa lufa.

__ A Gina estava dormindo com o Harry essa noite- explicou ela destraída mas logo depois se dando conta do que acabara de dizer.

__ Potter e Weasley? Dormindo juntos?- perguntou ele um tanto surpreso.

__ Esquece... você não ouviu isso. Quando a gente sair daqui por favor não dê uma palavra sequer sobre o que você acabou de ouvir- disse ela exasperada.

__ Isso é se sairmos vivos daqui- devolveu ele.

Ela engoliu o líquido amargo que surgiu em sua garganta.

__ Ninguém virá...

__ Lovegood não é bem assim...

__ Eu não faço a menor diferença... há tanto em jogo.- disse ela sentindo-se frustrada- Eu estou tão furiosa comigo mesma por ter sido pega tão rápido. Eu fui tão idiota!

__ Você não deve se culpar- afirmou Draco levantando e começando a andar de um lado para o outro na cela.- Os Comensais da Morte são implacáveis, cruéis e furtivos. Você se saiu bem ao sobreviver a eles no passado.


Ela olhou para ele e não conseguiu evitar pensar que ele mesmo era filho de um Comensal da Morte e provavelmente chegaria a ser um... Ela tentou imaginá-lo correndo por Hogwarts, lutando contra ela, os membros da A.D e Dumbledore, causando morte e destruição como os outros Comensais.

Apesar da forma como ele tratava a todos, apesar dos seus modos rudes e desagradáveis, apesar da aparência de frieza e insensibilidade, aquela imagem não se encaixava nele.

É verdade que ele sempre deu a impressão de estar no limite entre o bem e o mal, de que se seu pai o chamasse ele prontamente atenderia ao chamado.
Mas mesmo assim ela sentia que a sua essência era decente. Havia uma aura que lealdade ao redor dele.


__ É tão frustrante não saber o que está acontecendo- disse ela.- Nós só saberemos quando essa porta se abrir e nós virmos quem está do outro lado.

Ela observou enquanto ele dava voltas na cela.

__ Eu acredito que nós saberemos se Potter tiver sucesso. Haverá um sinal- falou Malfoy.

__ Que tipo de sinal?

__ Eu não sei, mas nós saberemos quando o virmos. Se nós o virmos.- ele respondeu. Ela olhou para ele enquanto ele continuava a ir e voltar.

__ Você quer usar o seu manto um pouco?- ela perguntou, pensando que a caminhada era devido ao frio.

__ Não, fique com ele. Você está menos vestida do que eu.

Ele passou por ela novamente.

__ Há alguma coisa errada?

__ Não- ele respondeu secamente.

__ Porque você está dando voltas como um tigre, então?

__ Eu estou apenas tentanto manter meu sangue circulando.

__Ah...

Ele manteve o mesmo ritmo com um olhar grave e concentrado.

__ Você tem certeza que está OK?- insistiu Luna

__ SIM, senhorita Lovegood- ele respondeu irritado.- Eu estou perfeitamente bem.
De repente ele parou e seus ombros caíram, derrotados.

__ Muito bem...em suas próprias palavras, Lovegood: Eu preciso fazer xixi.

Ela mirou ele por alguns instante. Não resistiu. Caiu na gargalhada.

__ Será que eu devo perguntar ao guarda se posso ficar do lado de fora enquanto o cavalheiro se alivia?

Ele a encarou por um instante antes de desistir e erguer os lábios em um sorriso relutante.

__ Não, mas agora é a sua vez de cantar- pediu ele agitando a mão para indicar que ela deveria virar-se.
Ela se levantou e virou-se para a parede.

Céus...agora ela sabia o que ele quis dizer, ela não cantava desde a escola primária.

Ela fechou os olhos e colocou as mãos sobre os ouvidos enquanto começava a cantar:

Uma lágrima rolou de cada um dos seus olhos ao final da última estrofe que acabou saindo desafinada.
__ Há uma razão para ter escolhido essa música em particular?- ele perguntou com uma voz suave.

__ Era a favorita da minha mãe...- ela tentou continuar mas sua voz ficou presa. Ela se virou para a parede.







Entre 8:00 e 9:00 da noite


Ela estava chorando.

Normalmente, quando alguém chorava na frente dele era porque ele tinha sido detestável, e honestamente ele não dava a mínima.

Mas isso era diferente. Era ela. E eles estavam naquela situação.

Era uma reação típica ao perigo, lembrar-se da mãe. Ele se lembrou de ter lido um estudo sobre pessoas que se salvaram de um perigo mortal. Praticamente todas, jovens ou velhos, admitiram ter pensado em suas mães em algum momento durante a crise.

Ele se manteve no mesmo lugar enquanto olhava para ela, braços caídos ao lado do corpo, sem utilidade. Ele nunca se sentira tão inadequado emocionalmente em toda a sua vida. Ele queria colocar os braços ao redor dela e confortá-la, enxugar as lágrimas do seu rosto, mas se deteve.

Sua cabeça girou tentando pensar no que fazer em seguida.


__ Veneno de cobra, casulo de caramujo ralado e três gotas de seiva de Sonchus Oleracus?- despejou ele. Foi a primeira coisa que lhe veio a mente.

Ela levou a mão ou rosto, limpou os olhos e soluçou antes de responder:

__ Intemperies Vocis, uma poção que faz com que se grite involuntariamente obscenidades.

__ Myosotis, Daucus Carota e asas de mosca-brava em infusão por 5 horas durante o equinócio de primavera?- ele continuou Ela se virou e olhou para ele. Ao menos ela tinha parado de chorar.

__ Um poção simples para restaurar a memória- ela respondeu.

__ E o que você acrescentaria se quisesse investigar o subconsciente?

__ A córnea de uma serpente Python e uma gota de Veritaserum, garantindo que o Veritaserum tenha se misturado por igual.

Ele balançou a cabeça afirmativamente.

__ Quantidades iguais de Farina, misturados com dois Pullus Ovum?

Ela piscou e não conteve uma risada.

__ Massa para macarrão

Ela se sentou na cama ao lado dele. Virou-se pronta para perguntar mas...

__ Nem pergunte- cortou ele.- basta dizer que são as únicas coisas boas que sei fazer.

__ Poções.- afirmou ela- e macarrão...

Ela sorriu para ele.

__ E devo acrescentar que meu bolo de caldeirão é um sucesso- disse ele retribuindo o sorriso.

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