"É apenas sobrevivência..."
“É apenas sobrevivência”
Entre 9:00 e 10:00 da noite
__ Você devia descansar- sugeriu ele desviando o olhar
__ Descansar? Eu não posso descansar.
__ Você não pode ter dormido muito noite passada- ele afirmou.
__ É verdade. Eu acho que era três ou quatro da manhã quando Voldemort atacou- confirmou Luna.
__ Será que você poderia evitar usar esse nome?
__ Foi mal.- ela desculpou-se corando enquanto olhava paa seus dedos que retorciam a ponta do manto.- Na verdade eu acho muito fácil... esquecer que você um dia...que seus pais...
__ Isso é muito...generoso da sua parte.
Seguiu-se um silêncio que precisava ser quebrado.
__ Estamos aqui a quanto tempo?
__ Não faço idéia- respondeu ele. Ele agitou a mão e clareou a sala com uma luz bruxuleante.
__ Somente com as mãos?- surpreendeu-se ela.
__ Sim mas infelizmente, não posso trazer calor. Apenas feitiços básicos.
Ela olhou para ele e não pode evitar demonstrar seu desapontamento. De alguma maneira ela havia imaginado que ele tivesse uma mágica muito poderosa a seu dispor. Ele sempre exalou uma aura de energia, que podia ser sentida sempre que ele entrava em algum aposento.
Ele obviamente viu a decepção no rosto da jovem. Seu orgulho ferido procurou se redimir.
__ Eu tenho um extenso conhecimento de magia negra, o que pode servir para adiar qualquer mal direto que tentem nos infligir. Se algum bruxo ordinário vier nos buscar, provavelmente eu poderei lidar com ele. Mas desarmado eu não sou páreo para Lúcio Malfoy com uma varinha. É preciso poderes muito específicos para fazer algo assim.
De repente, ouviu-se um barulho pesado contra a porta.
Ambos se assutaram. Luna deu um gritinho e levou a mão à garganta. Draco se virou para olhar para a porta, seus reflexos prontos para atacar.
Nada.
A porta não se abriu.
Eles ficaram no mesmo lugar, imóveis, antes de expelirem longos suspiros. Eles se olharam, ambos vendo o alívio no rosto do outro.
Luna engoliu em seco mais uma vez.
__ O que eles farão conosco...se...?
__ Por favor, não pense nisso...
__ Não... eu acho que preciso estar preparada. Você acha que eles nos matarão juntos ou um de cada vez?
__ Lovegood...
__ Eu creio que a maldição Cruciatus poderá acabar conosco...mas existem muitos outros feitiços que eles poderão usar antes...
__ Lovegood, eu a proíbo de continuar falando assim...- ele avisou.
__ Eu acho que depois que começar nós só teremos que rezar para que acabe logo, mas mesmo um instante irá parecer uma eternidade...
__ Se você realmente quer saber- ele proferiu rudemente, seus olhos cheios de crueldade- meu destino será uma morte dolorosa nas mãos do Lorde das Trevas por tê-lo “traído”, ao som das risadas daquele que um dia foi o meu pai. E você será morta pelo último Comensal que a tiver possuído. Você está satisfeita, agora que nos forçou a pensar nisso?
Entre 10:00 e 11:00 da noite
Ele pensou que ela ia vomitar. Ela levantou-se rápido, sua face mortalmente pálida.
Ele não devia ter dito aquilo, ele não devia.
__ Lovegood eu...
__ Não! Não! Eu sabia que eles iriam me matar... me torturar e me matar...- ela falou com a voz instável, ficando cada vez mais alta.- Mas não isso...não isso...- Ela correu para a porta e começou a esmurrá-la.- Eu quero sair! Me deixem sair! Eu não me importo se me matarem.. qualquer morte será melhor do que... Oh, céus! Deve haver alguma forma de tentar escapar, assim eles nos matarão de uma vez.
Ele se levantou e foi até ela quando ela caiu de joelhos e começou a arranhar a pequena passagem de comida ao pé da porta.
__ Talvez eu possa passar por aqui...
Ele se abaixou e a segurou pelo braço, fazendo com que ela ficasse de pé. Ela gritou e se virou contra ele atingindo-o com as mãos fechadas, seu rosto cheio de pânico.
__ Você só sabe isso porque você foi um deles!- ela gritou.- O pior demônio que já andou pela Terra...você provavelmente já fez tudo que eles fazem...você cresceu no meio disso tudo...
Ele agarrou os braços dela evitando que ela continuasse batendo nele.
__ Lovegood- ele elevou a voz para ela.
__ Me solte...- ela gritou histérica.- Você é um deles...não me toque...
__ Lovegood...
Ela lutou contra ele, mas ele sabia que não podia soltá-la. Ele queria acalmá-la sem ter de esbofeteá-la.
__ Senhorita...- e então ele parou.- Luna.- ele disse gentilmente, olhando diretamente dentro dos olhos dela.-Luna...
Sua fúria abrandou quando ela olhou de volta para ele. Então ela desabou nos braços dele soluçando.
Os braços dele a envolveram imediatamente e ele a manteve assim enquanto ela chorava.
Eles ficaram na mesma posição por muito tempo enquanto os soluços dela diminuíam. Ele acabou percebendo que seu rosto estava apoiado sobre o topo da cabeça dela enquanto ele acariciava seus cabelos, com nenhuma intenção que não fosse acalmá-la.
__ Me desculpe- ela murmurou.
__ Eu que lhe devo desculpas. Eu deveria ter permanecido em silêncio.
__ Eu não quis dizer aquilo...- ela continuou.
__ Eu sei... seu comentário anterior, sobre não acreditar que eu tivesse a marca, já foi suficiente para saber como você se sente.
__ Normalmente eu não sou tão idiota, mas é que...
__ Eu nunca pensei que você fosse outra coisa a não ser corajosa.
Um pequeno silêncio caiu sobre eles enquanto ela soluçava ainda algumas vezes contra o peito dele.
__ Você percebeu- ela disse com uma vozinha- que nós ficamos mais aquecidos abraçados assim.
__ É, eu percebi.- respondeu ele sentindo repentinamente sem jeito.
__ Claro, isso é uma técnica de sobrevivência básica. Pessoas já sobreviveram a nevascas apenas mantendo seus corpos unidos.
__ Venha e sente aqui- ele disse antes que ela pudesse começar uma aula sobre troca de calor. Realemente, Granger havia conseguido uma ardorosa aprendiz.
Ele a levou até a cama e ambos se sentaram com as pernas esticadas. As costas contra a cabeçeira.
__ O que você está fazendo?- ele perguntou quando ela tirou o manto.
__ Dividindo.- respondeu ela estendeu o manto sobre os dois e logo em seguida colocando os braços ao redor dele. Ele fez o mesmo com ela.
__ Isso não vai funcionar...- ela afirmou.- se nós não cubrirmos nossas costas, nós iremos congelar. Eu acho que a única solução é deitarmos juntos.
__ O que?- perguntou ele desconcertado. Ela lhe deu seu olhar mais inocente.
__ É apenas sobrevivência- disse ela.
Ele havia sobrevivido ao episódio até agora, ele não teve nenhum pensamento impróprio até o momento.
Tudo que ele queria era acalmá-la. Com certeza ele conseguiria enfrentar mais aquela provação.
Eles se deitaram lado a lado na cama, ajeitaram o manto para que os cobrisse e se abraçaram novamente.
__ Sobre o que nós vamos conversar?- ela perguntou.
__ Sobre nada, Lovegood. Você deve descansar.
__ Você me chamou de Luna ainda a pouco.
__ Aquilo foi para acalmá-la.
__ Eu sei, mas...você se importaria em me chamar de Luna? Só enquanto nós estivermos aqui. Vai tornar esse lugar mais...humano.
__ Certo... se isso a faz sentir-se melhor...Luna.
__ E será que nós podemos conversar? Isso ajudará a manter longe os pensamentos ruins.
O nariz dele estava enterrado nos cabelos dela que exalavam uma mistura de flores exóticas e especiarias. O aroma dos cabelos dela era inebriante e o fez pensar em Afrodite, a maravilhosa deusa grega.
Ela aconchegou-se mais a ele e emitiu um pequeno “Humm” que demonstrava que estava absolutamente confortável.
__ ...eu sinto muito você ter sido capturado, mas... eu estou feliz porque você está aqui comigo. Acho que enlouqueceria se estivesse sozinha.
Ele afagou os cabelos dela e sem pensar abaixou os lábios para beijar o topo daquela cabeça. Estava a milímetros de beijá-la quando parou, chocado com sua própria reação. Ele afastou os lábios, esperando que ela não tivesse notado seu intento. “Maldição!” Ele precisava manter aqueles sentimentos sob controle. Não os desejos lascívos que haviam tomado seu corpo antes, não, esses ele estava conseguindo controlar, mas alguma coisa diferente...
Um desejo de protegê-la, mantê-la fora de perigo, e ... isso não era resultado das últimas horas. Seus olhos ficaram maiores quando seu subconsciente se revelou e ele percebeu que vinha desenvolvendo esses sentimentos a algum tempo. Mas..desde quando? Ele procurou em sua memória.
Há dois anos atrás, quando o Lorde das Trevas revelou sua volta no Ministério da Magia.
Ela foi ferida e estava na ala hospitalar.
No silêncio da noite ele foi até a enfermaria apenas para espionar o estrago que seu pai e seus comparsas haviam feito.
Ele conseguiu despistar Madame Pomfrey e resolveu andar pelos leitos atá que chegou ao dela. Ela estava inconsciente, e a visão dela ali, indefesa, em uma cama de hospital, pálida e ainda...valente, ferida por aqueles aos quais ele tanto queria se juntar, mexeu com alguma coisa dentro dele. Uma coisa que ele rapidamente reprimiu... até a noite que ‘Afrodite’ trouxe uma nova dimensão a tudo aquilo...
Ele agora tinha certeza de que se fossem mãos hostís a abrir a porta da cela quando tudo tivesse acabado, ele iria mantê-los afastados dela o quanto fosse possível, lutar com as próprias mãos, se fosse necessário, para mantê-la longe do perigo. Protegê-la até o final.
__ “Sexual Healing”-recitou Malfoy
__ O que?- e ela olhou para ele.
__ A música que eu estava cantarolando, enquanto você...é assim que ela se chama- explicou ele.
__ Ah!- suspirou ela e abaixou a cabeça novamente.
Ele fechou os olhos por um instante. Estava, definitivamente, se sentindo aquecido.
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