A VIDA CONTINUA...



Harry Potter levantou-se tão repentinamente de sua cama como se houvessem jogado um balde de água fria nele.


Harry olhou ao redor. Rony roncava sonoramente na cama ao lado. Neville fazia coro aos roncos de Rony. Simas e Dino dormiam placidamente. Hary era o único acordado na Torre da Grifinória, ou assim ele acreditava.


Tentou se lembrar do sonho que tivera e que o fizera acordar. Tinha um lampejo verde... talvez estivesse relembrando o assassinato de Cedrico... não...houvera ganidos... um vulto alto... por um momento, pensou em Voldemort, antes de se lembrar que acabara de derrotá-lo. Uma gargalhada. Alguém realmente estava feliz. Um círculo vermelho e preto no céu.


Harry sacudiu a cabeça. Lembrou dos tempos em que lia a mente de Voldemort. Mas não podia ser, Harry destruíra todas as Horcruxes e Voldemort fora morto pelo ricochete da própria maldição. Mais uma vez, “O Menino que Sobreviveu” sobrevivera.


“O Eleito” resolveu descer para a Sala Comunal. Abriu e fechou a porta com cuidado, desceu as escadas na ponta dos pés e chegou ao Salão. Para sua enorme surpresa, não era o único acordado.


Gina Weasley estava sentada numa poltrona em frente à lareira, com o rosto nas mãos.


Cuidadosamente, Harry pegou outra poltrona, colocou do lado de Gina, e se sentou.


- Ah... Harry... eu estava – disse ela, enxugando as lágrimas.


– Tudo bem, Gina... eu entendo que...


- Eu não queria que me visse assim, Harry... chorando como uma... covarde.


- Gina, você não é covarde. Durante todo esse ano, você lutou bravamente dentro da Escola.


- Harry... – disse Gina, e o garoto poderia jurar que por uma fração de segundo um sorriso brincou em seus lábios e seus olhos castanhos brilharam.


- Ginevra Molly Weasley, você convocou e comandou a resistência dentro de Hogwarts, com Comensais por todos os lados. Precisa de mais algum motivo? – os olhos verdes de Harry brilharam, e suas sobrancelhas se levantaram, brincalhonas.


- Ah, Harry...


Gina se aproximou de Harry. Ele agora via um sorriso, um brilho nos olhos dela...


- Oi gente... ops... atrapalhei alguma coisa?


Harry e Gina se viraram assustados e deram de cara com as feições bonitas e sorridentes e a juba castanha de Hermione Granger.


- Ah... não, Hermione, não atrapalha nada... – murmuraram os dois, em uníssono e envergonhados.


- Ahn... desculpem... – disse Mione, constrangida.


- Não tem problema – disseram Harry e Gina em uníssono novamente, embora os olhos, que pareciam fuzilar Hermione, não confirmassem essa história.


- Bem... estava sem sono e...


- Entra pro nosso clube – cortou Harry, irritado. – Bem, boa-noite a vocês duas, vou deitar.


E saiu, com passos duros, da Sala Comunal.


“Droga, Mione! Que hora você foi aparecer!”, pensou Harry muito mais tarde, enrolado em suas cobertas.


Sabia que Hermione não tinha culpa, mas ele precisava de alguém para canalizar sua irritação.


O que ele não sabia era que, no Dormitório Feminino, uma certa ruivinha pensava a mesma coisa...
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A próxima coisa de que teve consciência foi que estava enrolado e aquecido em suas cobertas, e Rony o sacudia, tentando fazê-lo acordar.


- Anda, Harry, levanta! Nós vamos perder o café da manhã!


- Calma, Rony. Já acordei – disse Harry, com a voz um tanto rouca. – Vou me vestir, me espera lá embaixo. A não ser que queira me ver trocar de roupa – acrescentou, levantando uma sombrancelha.


Murmurando “palhaço”, Rony saiu do Dormitório.


Harry olhou em volta. Era o único que estava no Dormitório. Lembrou-se da noite anterior. Quase beijara Gina. Fora sonho ou realidade?


Essa pergunta foi respondida assim que chegou ao Salão Principal. Gina estava radiante, exuberava alegria, enquanto que Hermione olhava constrangida e timidamente para ele, como se esperasse levar uma bronca. Rony olhava-o alegre. Elas devem ter contado alguma coisa a ele, pensou Harry. Ele olhou para Hermione e sorriu como se dissesse “Não foi nada, pára de me olhar com essa cara!”. Ela pareceu bem mais à vontade.


Em seguida olhou para Gina. Ela sorriu espalhafatosamente para ele, que retribuiu o sorriso. Sentou-se e, logo que o fez, seus pratos favoritos apareceram diante de si.


Harry começou a comer, olhando para os lados. As pessoas sorriam para ele, faziam acenos amigáveis e tudo o mais. Apenas o pessoal da mesa da Sonserina não olhava muito bem para ele, embora alguns sorrissem para Harry, mas logo fechavam o sorriso ao deparar com os filhos de Comensais da Morte a lançar-lhes olhares assassinos.


Quando todos acabaram de comer (Harry já estava ligeiramente tonto), a professora McGonagall se levantou, e, como na época em que Dumbledore fazia esse gesto (Harry sentiu o coração apertar ao se lembrar do velho diretor, desconfiara e tivera raiva dele a maioria do ano anterior), o silêncio foi imediato.


- Muito bem – começou ela. – Em primeiro lugar, gostaria, em nome de toda a comunidade bruxa, de agradecer a três jovens bruxos, por livrarem o mundo de – ela suspirou antes de dizer – Voldemort: Hermione Granger, a inteligência em pessoa. Uma salva de palmas! – Uma salva de palmas ecoou por todo o Salão, e Hermione ficou vermelha. Ouviam-se assobios e gritos de “Mione! Mione!”, e ela acenava para todos, timidamente.


McGonagall continuou, assim que as palmas, os gritos e assobios pararam:


- Todos devemos gratidão também ao senhor Ronald Weasley . Durante esse ano, ele provou seu poder grifinório, com sua destreza. Mais uma salva de palmas!


Agora o Salão inteiro (menos a mesa da Sonserina) gritava: “Rony! Rony!”. Rony ficou com as orelhas vermelhas, mas bateu no peito e ergueu a mão fechada no ar enquanto todos gritavam seu nome. Gina e Hermione caíram na gargalhada, e Harry esboçou um sorriso.


- Agora – disse McGonagall, com a voz ressonante (mais uma vez, Harry se lembrou de Dumbledore), e o Salão silenciou – quero falar, por último, mas nunca menos importante, pelo contrário. Harry Potter, o heroi que livrou o mundo de Voldemort.


O Salão foi abaixo. Todos levantaram de suas mesas e vieram apertar a mão de Harry (inclusive alguns sonserinos, o que o deixou realmente intrigado). Apresentavam-se a ele, com muito orgulho.


- Mariah Moore, Sr. Potter!


- Jefferson Lanne, Sr. Potter!


- Luan Kirck, Sr. Potter!


- Ahn… podem me chamar de Harry, eu não me importo...


Os alunos excitaram-se ainda mais. Uma garota do terceiro ano chegou a dar-lhe um beijo na bochecha e saiu correndo. Gina olhou-a como se quisesse esganá-la.


Acabada a sessão de apertos de mão (a mão de Harry começava a doer), McGonagall disse:


- Há um momento para mais discursos, mas não é este: vamos arrumar as malas!


Houve um arrastar de cadeiras e um burburinho. Rony comentou com Harry e Hermione:


- Olha o jeitão da McGonagall! Tá até parecendo o Dumbledore!


Os três foram direto para o Salão Comunal da Grifinória, já que não tinham nenhuma bagagem (“Abençoada seja a bolsinha de contas da Hermione!”, pensou Harry). Chegando lá, os colegas de dormitório de Harry, inclusive Neville, sentaram-se em volta deles e começaram a discutir a batalha final:


- Caramba, Harry, viu o meu Patrono? – disse Simas.


- E aquele Estupefaça que eu lancei, Harry! – disse Dino. Bem na cara de Rokwood!


À menção de Rokwood, Rony se lavantou e entrou no Dormitório, rapidamente.


- M... – murmurou Harry.


Ele subiu rapidamente atrás de Rony. Quando chegou à porta do Dormitório, a porta estava fechada.


Harry bateu à porta.


- Rony, abra. Por favor.


- Não, Harry! Preciso ficar sozinho! – Harry pensou ter ouvido um soluço.


- Rony! Eu sei o que você está sentindo! Ele era como um irmão para mim. A minha verdadeira família é a família Weasley.


A porta se abriu. Rony estava deitado em sua cama, com o rosto enfiado no travesseiro.


- Harry! Ele... ele era... tão... eu... – disse Rony, em meio a soluços.


Harry deu uns tapas nas costas do amigo.


- Eu sei o que você está sentindo, Rony...


- Não sabe não! – gritou Rony, descontrolado. – Todos dizem a mesma coisa: “Ah, Rony, eu sinto muito... Eu sei o que está sentindo... Vai passar, cara...”! Palavras vazias! Ninguém sabe o que é!


- Ninguém sabe mais do que eu, Rony! – respondeu Harry. – Eu perdi meus pais com um ano de idade, vi Cedrico morrer na minha frente com quatorze anos, perdi Sirius com quinze anos, Dumbledore , meu maior protetor, morreu quando eu tinha dezesseis anos! E TODOS OS QUE MORRERAM NESTA MALDITA GUERRA! – Agora, era Harry quem gritava. – Então, eu não sei como é? – Ele parou, ofegando. Rony perdera um irmão, e daí? Ele perdera toda sua família!


Rony pareceu envergonhado


- Puxa, desculpe, Harry. É que eu estava tão nervoso que acabei descontando em você.


- Fica tranquilo, cara. – A raiva de Harry se foi tão rápido quanto viera. – E bem, não fica abatido, a vida continua! Lembre-se dos bons momentos! Das brincadeiras, da bravura dele...


Rony agora sorria.


- É.. é isso mesmo. Eu vou superar isso. Obrigado pelos conselhos – ele estendeu a mão. Harry apertou-a.


- Amigo é pra essas coisas – disse, rindo. – Vamos descer, cara, aposto que você quer ver a Mione...


- E você, a Gina, hã?


Num clima muito mais descontraído, os dois desceram as escadas até a Sala Comunal.


Hermione estava sentada em uma poltrona confortável, e, para nenhuma surpresa de Harry e Rony, lendo um livro.


– Ah, que bom que desceram! Já arrumei as nossas malas, não é muita coisa, nós embarcaremos no Expresso depois do almoço, e a McGonagall disse que fará uma homenagem a quem morreu na Batalha de Hogwarts – disse ela, muito rápido, olhando de esguelha para Rony ao dizer a última parte.


- Sei, sei... e depois de toda isso, bem, eu mereço algo? – Rony arqueou uma sobrancelha.


Hermione olhou-o com um sorriso maroto nos lábios, antes de dizer:


- Penso que sim.


E pulou em cima de Rony, beijando-o vorazmente, à vista de todo o Salão. Por um momento fez-se silêncio, então todos começaram a aplaudir e assoviar. Harry jurou ter ouvido gritos de “Até que enfim!”.


Harry achou que seria constrangedor demais ficar perto dos amigos, e saiu para dar um passeio pelos corredores de Hogwarts, como já fizera dezenas de vezes.


Claro, Harry vira os dois se beijarem na Sala Precisa, poucas horas atrás. Mas não imaginava que os dois estivessem mesmo namorando. Ocorreu-lhe a ideia de que a visita de Hermione ao Salão Comunal, altas horas da madrugada, não fora realmente motivada pela insônia. Tal pensamento lhe deu uma estranha sensação de solidão.


Ora, é claro que estou feliz com a idéia de Hermione e Rony namorando, pensou ele, mas porque me sinto assim?


A resposta demorou menos de um segundo para aparecer em sua cabeça: Gina. Ele a amava mais que tudo, e somente ele sabia o quanto lhe custara passar todo um ano sem a pessoa amada. Era o que achava. Mais uma vez, estava enganado.
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Gina Weasley estava passeando pelos corredores de Hogwarts, principalmente onde ela e Harry costumavam namorar. Salas vazias, corredores ocultos, lugares do gênero. Passou por uma janela e olhou para o lago, refletindo o Sol. Fora na beira dele que tinham dado seu primeiro passeio como namorados. Gloriosos dias.


Contra sua vontade, lágrimas brotaram de seus olhos. E por um bom tempo ela ficou ali, se lembrando do breve romance que vivera com Harry antes da morte de Dumbledore. Então, veio o inferno. Harry terminara o namoro, dizendo que precisava protegê-la. Vieram as férias. Veio o casamento de Gui e Fleur, a última vez que vira Harry antes deste partir para a guerra. E começou o ano mais difícil de sua vida, não somente porque comandara a resistência dentro de Hogwarts, mas também porque ficaria um ano longe de Harry.


E, finalmente, a Batalha Final. Morreram muitos de seus amigos, e, o que ela achava o pior, Fred morrera. Mas a dor de perder todos eles não chegava perto da intensidade da dor que sentira ao ver Harry, morto, nos braços de Hagrid.


Gina agora chorava compulsivamente, e seu choro poderia ser ouvido no corredor. E foi exatamente por esse motivo que Harry Potter entrou naquela sala.
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Harry caminhava pelo labirinto de corredores da escola. Aqui e ali, era possível ver destroços, janelas quebradas, paredes destruídas e todo o tipo de destruição.


Lembrou-se de todos os amigos mortos em batalha, e seus olhos se encheram de lágrimas. Muitos não precisavam ter morrido. Colin deveria ter saído junto com os alunos menores. Remo e Tonks deveriam ter ficado em casa, cuidando de seu pequeno filho, agora órfão, Teddy Lupin. E Fred, provavelmente a morte mais injusta. Por quê? Por que Fred?


E tudo era sua culpa, se não tivesse enfrentado Voldemort tão tarde, poderia ter evitado essas mortes. Mas ele tivera que procurar as Horcruxes, não é?


Um som despertou Harry de seu conflito interior. Um choro. Alguém estava chorando em uma sala vazia, a qual estava parado em frente a ela. Uma garota. Ele entrou.
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Era Gina.


- Hum... oi, Gina... - Gina enxugou as lágrimas. Olhou-o com uma expressão dura no rosto.


- Gina... não é nenhuma vergonha... - Deja vù, pensou Harry – chorar...


Mas Harry não conseguiu falar mais nada. Ver sua amada chorando fazia-o se sentir culpado, e também com vontade de chorar.


Quase inconscientemente, ele atravessou a sala e abraçou Gina. As lágrimas que lutara para reprimir desde que derrotara Voldemort saíram de seus olhos e ele chorou junto com Gina. Choraram pelos mortos na Batalha, pelo ano de separação...


Harry começou a enxugar as lágrimas. Olhou para Gina, que fazia o mesmo. Eles se soltaram, envergonhados.


Dejà vu, pensou Harry de novo, um sorriso já a caminho de seus lábios. Gina parecia pensar a mesma coisa. Harry se aproximou dela...


- Harry! Por onde andou? Estava... – era Hagrid, com Rony ao seu lado. – Ah... desculpem... volto outra hora – completou ele envergonhado.


- Não – disse Harry. – Vamos lá. – Seu “Momento de Glória” com Gina se fora. Seria por demais constrangedor continuar ali junto com ela.


E desceu junto com Hagrid e Rony.


- Você não vem, Gina? – Gina andava na direção contrária à deles.


- Não – disse ela. – Vou para a Sala Comunal.


Harry poderia jurar que vira um sorrisinho brincar em seus lábios, mais uma vez.


Enquanto descia as escadas em direção aos jardins, Rony e Hagrid, ao seu lado, discutiam sobre as aventuras que Harry, Rony e Hermione tinham vivido na escola. Harry mal escutava, quando perguntavam sua opinião, respondia com evasivos “É, foi” e “É mesmo” nas horas certas, enquanto pensava se, às voltas com seus melhores amigos, conseguiria algum dia reatar seu namoro com Gina.
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A partida de Hogwarts ocorreria depois do almoço, como dissera Hermione. Harry passou metade da sua manhã tentando fugir de Hagrid e Rony, mas sempre que tentava, eles perguntavam aonde ia, mas Harry não respondia. Nem ele próprio sabia pra onde iria. O mais indicado seria um passeio pelos jardins, porém sem Hagrid e Rony tagarelando ao seu lado.


Meia hora antes do almoço, ele conseguiu escapar, com uma “genial” desculpa de ir ao banheiro.


Harry tinha fortes suspeitas que discutir sobre os bravos amigos que tinham lutado na guerra era a forma dos dois esquecerem, por alguns momentos, a dor de perder amigos e parentes. Ele mesmo não sabia como conseguia ficar de pé, tamanha era a dor que sentia.


Entrou no Salão e sentou-se à mesa da Grifinória. Olhares curiosos e excitados o acompanharam, mas ele não se importava. A tristeza que sentira logo após derrotar Voldemort tomara conta dele, novamente, expulsando todas as outras emoções de dentro dele. Sentia-se como se seu corpo fosse uma conha vazia; sua mente estava longe dali.


- Oi, Harry – disse uma voz ao seu lado. Era Hermione.


- Oi, Mione.


- Harry... ainda está deprimido? – perguntou ela, cautelosa.


- Deprimido? – respondeu ele, com maus modos. – Quem disse que eu estou deprimido?


Hermione parecia prestes a chorar. Harry cedeu.


- Tá bom, eu tô deprimido. É que... foram tantos amigos... tantas mortes que não precisavam ter acontecido...


A partir desse ponto, não pôde continuar. Sentiu um nó em sua garganta. Olhou para o prato sobre a mesa, que agora já estava cheio de comida. Por uma estranha razão, a fome que sentira minutos antes sumira.


Rony chegou minutos depois, e comeu tudo o que estava ao seu alcance.


- Que foi, Harry? – perguntou, com a boca entupida de batatas fritas. – Não quer comer?


Harry balançou a cabeça negativamente.


- Olha que vai acabar com fome na viagem... É melhor aproveitar... – A um olhar indagador de Harry, acrescentou: - Esse deve ser nossa última refeição em Hogwarts...


Hermione abriu a boca, mas fechou-a logo em seguida.


– O que foi, Mione?


- Ahn... nada – disse ela, que parecia se segurar para não dizer alguma coisa importante. Ou, pensou Harry, para reclamar da falta de educação de Rony.


Quando todos haviam terminado, McGonagall se levantou.


- Agora que degustamos esse delicioso banquete - que pra muitos de vocês, infelizmente, será o último -, é hora de alguns avisos do Ministério da Magia. Com a palavra, o Ministro Interino, Kingsley Shacklebolt.


Kingsley, um negro alto e forte, levantou-se de sua cadeira, ao lado de McGonagall, e pôs-se a falar, com sua voz grave, ressonante e reconfortante.


- Muito bem. em primeiro lugar, gostaria de parabenizar a todos vocês. Até o último momento, lutaram para defender Hogwarts, contra os Comensais da Morte por Voldermort instalados como professores.


Kingsley começou a bater palmas, e todos os presentes no Grande Salão se apressaram a imitá-lo.


- Agora, eu gostaria de chamar aqui, para dizer algumas sábias palavras, nosso grande herói, o Sr. Harry Potter.


O Salão veio abaixo. Ao som do nome de Harry, uma barulheira de mãos e pés batendo foi ouvida. Até McGonagall, geralmente tão rígida, não pôde resistir a um sorriso.


Harry, por outro lado, não se sentiu tão empolgado assim. Sentiu seu estômago despencar quando ouviu Kingsley chamar seu nome, assim como na noite em que seu nome saíra do Cálice de Fogo, anos atrás.


Levantou-se. Seus colegas, excitados, o empurravam para cima. Dando acenos amigáveis a todos, se dirigiu à mesa principal.


Harry tremia mais que vara verde ao chegar à mesa e olhar para todos os alunos de Hogwarts. Kingsley só pode estar me sacaneando, pensou.


- É... em primeiro lugar eu gostaria de agradecer a... a todos vocês que lutaram em meu nome durante toda essa... guerra. Quero agradecer à família Weasley, que tem me ajudado desde que.... entrei para Hogwarts. – Ao dizer isso, Harry percebeu que Arthur parecia sem jeito, Molly estava com os olhos marejados e os outros Weasley tinham corado. Harry acenou para eles.


- Gostaria também – continuou – de... de pedir um minuto de silêncio por todos os que m-morreram na Batalha Final.


Toda a escola se calou antes mesmo que Harry terminasse a frase. Não que isso fizesse muita diferença, pois ele já estava ficando ainda mais sem jeito (se é que era possível) com uma platéia tão atenta.


Ao terminar o minuto de silêncio, Kingsley botou a mão em seu ombro e olhou para ele como se pedisse permissão para falar. Harry assentiu e deu passagem à ele, rapidamente.


O garoto voltou à mesa da Grifinória sob uma estrondosa salva de palmas, que não parecia acabar nunca.


- Você foi genial, Harry! – disse Hermione, excitada.


- Caramba, Harry! Arrebentou, hein? – disse Rony, sorrindo.


- Harry, querido! – disse uma voz acima dele. Se virou e deu de cara com Molly Weasley, que parecia ter chorado um bocado. – Nós é que te agradecemos, filho! O que nós fizemos à você não significa nada comparado ao que você fez a todo o mundo!


E lhe deu um abraço tão apertado que ele quase ficou roxo.


Arthur Weasley estava logo atrás de sua esposa, e parecia que também viera agradecer a Harry.


Não deu outra:


- Harry, filho... obrigado por tudo que você fez por nós todos. Não há como agradecer.


- Ahn... obrigado, Sr. Weasley. Eu... eu só cumpri o que tinha que fazer, o senhor sabe... a profecia...


- Harry, eu não sou superior a você. Não me chame de “senhor”, por favor. Além do mais, somos dois bruxos adultos.


- Certo, Sr. W..., quero dizer, Arthur.


Mas os colegas de casa de Harry não queriam que Arthur retivesse o garoto apenas para si. Todos estavam parabenizando-o pela seu espetacular discurso.


McGonagall se encarregou de silenciar o Salão para que Kingsley pudesse falar.


- Bem – começou ele -, em homenagem aos mortos na Batalha, gostaria de que fizéssemos um cemitério, dentro dos terrenos da escola, perto do túmulo de Alvo Dumbledore. Esse projeto está em processo de votação no Ministério, e, enquanto estiver, os corpos serão velados na primeira porta à esquerda do segundo andar. Agora, preciso voltar ao Ministério. Boa-tarde à todos.


À saída de Kingsley, o burburinho recomeçou, mas McGonagall logo os silenciou.


- Caros alunos, Potter e o Ministro falaram tudo tudo o que eu poderia dizer. Sugiro que vão para fora, as carruagens estão os esperando, ou – aqui sua voz assumiu um tom meio que sofrido – vão à sala de velório o segundo andar. Boa-tarde e boas férias a todos. Até o próximo ano letivo, para os alunos que voltarão, e até os NIEM's para os alunos de sétimo ano.


Houve um arrastar de bancos quando os alunos se levantaram, grande parte rumou para as carruagens, mas Harry ficou sentado com Rony e Hermione.


- Rony? – disse Mione, cautelosa. – Você...?


- Sim. – cortou ele. – Eu vou ver o corpo de Fred. Era meu irmão. Quero me... despedir.


E levantou-se, decidido, da mesa, em direção ao Saguão.


Harry e Hermione seguiram-no. O trio subiu as escadas que levavam ao segundo andar, Harry e Hermione com um tanto de medo da reação que Rony teria ao ver o corpo de seu irmão.


Depois de aproximadamente dois minutos caminhando, eles chegaram à sala.


Havia uma grinalda de flores na porta, por cima de uma placa, aparentemente escrita à mão: Sala de Velório. Harry adiantou-se à Rony, que parecia ter perdido os movimentos, e abriu a porta.


O ambiente interior era deprimente, mas de forma alguma era feio. Caixões estavam enfileirados por todo o aposento, agrupados por suas respectivas Casas. Ao fundo, haviam bandeiras negras. Os três se adiantaram para onde se via o brasão da Grifinória, recortado contra um fundo negro.


Todos os outros Weasley já estavam reunidos sobre o caixão de Fred. A Sra. Weasley estava curvada sobre o cadáver, derramando incontáveis lágrimas sobre o corpo do filho. Gui e Carlinhos, parados de pé ao lado do caixão, não choravam, mas seus olhos estavam vermelhos e os rostos inchados.


O gêmeo Jorge parecia ter perdido toda a sua alegria, e, como Gui e Carlinhos, parecia ter chorado um bocado, e olhava perplexo para o irmão, como se ainda não tivesse acreditado em sua morte. Até mesmo Percy, que vivia criticando duramente os gêmeos, parecia chocado. Tinha perdido o irmão no instante em que mais foram ligados. Gina estava do lado de Molly, e tentava acalmar a mãe. Porém isso não fazia muito sentido, já que a própria Gina chorava compulsivamente.


Mas a dor do Sr. Weasley parecia ter ultrapassado o consolo das lágrimas. Chocado, ele olhava para o corpo do filho, como se não estivesse acreditando no que via. Estava do lado de Jorge, Gui e Carlinhos, e logo Rony foi se juntar a eles. Hermione foi para o lado de Gina e Molly.


Harry se postou ao lado de Rony. Teria gostado mesmo de abraçar Gina, dizê-la que sentia muito, mas também tinha medo de que ela o culpasse pela morte do irmão. Não que ele fosse realmente culpado, claro. Ou era?


Mais para deixar a família Weasley em paz do que qualquer outro motivo, Harry resolveu dar um “giro” pela sala.


Ainda no espaço destinado aos cadáveres dos grifinórios, Harry viu Colin Creevey (automaticamente, Harry se lembrou do menino chato que o seguia para todo lado com uma máquina fotográfica, com uma enorme sensação de pena) e Remo e Dora Lupin, os caixões lado a lado. Remo, o último dos Marotos, tinha uma expressão serena, como se estivesse dormindo. Dora, mesmo morta, parecia emanar alegria.


Mais uma vez, Harry sentiu um nó em sua garganta ao ver os dois, que pareciam dormir placidamente.


Entre os mortos de Corvinal, havia apenas alunos com quem Harry nunca falara antes, mas vira nos corredores.


Entre os lufanos, Harry reconheceu, com uma pontada de horror, Zacarias Smith, ex-membro da Armada de Dumbledore. Por mais que antipatia que sentisse pelo garoto, jamais desejara que ele morresse.


Por fim, ele chegou aos corpos dos sonserinos. Obviamente, essa fora a casa menos atingida, pois Voldemort providenciara que os alunos da Casa fossem para um local seguro. Porém, Harry ficou seriamente agradecido pelos que tinham ficado e lutado. Realmente, nunca esperara nada dos sonserinos.


A um canto, Harry viu o corpo de Severo Snape. Seus olhos se inundaram de lágrimas. Quem diria, pensou ele, que um dia eu choraria a morte de Severo Snape..


Snape arriscara sua vida para proteger o filho de Lílian Evans, a quem amava, e Harry... Harry sempre o odiara. Snape corrompera a alma matando Dumbledore... mas tudo fora uma armação. Realmente, Snape era o homem mais corajoso que Harry já conhecera na vida.


Sem que percebesse, ele começou a chorar. As lágrimas caíam em suas vestes, manchando-as.


- Eu sei o que está sentindo, Potter.


Harry virou-se, assustado. Minerva McGonagall estava parada atrás dele, com a mão em seu ombro.


- A senhora sabe que...


-... Severo foi um herói? Sim. O quadro de Alvo me contou tudo.


Harry ficou em silêncio, contemplando-a.


- Imagino que possa saber como eu me sinto, depois de saber de tudo... Nunca gostei dele, mas, se não fosse por ele, Voldemort ainda estaria vivo. Você estaria morto.


- Ahn... professora, eu queria... queria ver... o corpo de Voldemort.


A diretora suspirou.


- Bem, Potter, achei que iria querer. Venha. - E ele acompanhou-a para fora da sala.


Eles desceram até o Saguão de Entrada. Por um momento, Harry pensou que entrariam no Salão Principal, mas McGonagall o conduziu a uma câmara ao lado.


Ali, no centro da câmara, em um caixão negro, estava o corpo daquele que, um dia, fora Tom Riddle. O rosto serpentino, fendas no lugar do nariz, lábios descarnados e dedos longos como as patas de uma aranha, imberbe, ofídico. Mesmo morto, Lord Voldemort ainda causava medo àqueles que o viam. Uma aura maligna parecia estar à volta daquele corpo, o que causou repentina repulsa a Harry.


Harry ficou parado, contemplando o corpo de seu inimigo. Engraçado, já não sentia mais ódio, sentia pena. Pena de um homem que fora abandonado pelo pai antes de nascer. Que perdera a mãe ao nascer. Que desgraçara sua vida com as Artes das Trevas.


É incrível como certas escolhas podem destruir nossa vida, pensou.


Lord Voldemort fizera a escolha errada. E pagara por isso.

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