CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 08
Gina olhou para a lista de nomes que apareceu no telão na parede da sala secreta de Harry. O equipamento instalado ali era o sonho dourado de todo hacker. Harry costumava exagerar na estética em toda a casa. Ali, no entanto, tudo se resumia a negócios.
Negócios ilegais, pensou ela, uma vez que todas as informações e os aparelhos de telecomunicação não tinham registro e, portanto, não eram detectados pelo CompuGuard. Nada do que entrava ou saía daquela sala podia ser rastreado.
Harry se sentou ao console em forma de “U”. Gina achou que ele parecia um pirata diante do timão de um navio estiloso. Ainda não acionara o equipamento auxiliar nem o fax a laser dotado de unidade holográfica. Ela imaginou que ele não estava precisando de recursos adicionais, pelo menos no momento.
Enfiou as mãos nos bolsos e ficou batendo com a bota no piso de lajotas enquanto lia os nomes dos mortos.
- Charles O’Malley, morto por evisceração em 5 de agosto de 2042. Caso não solucionado. Matthew Riley, morto por evisceração em 12 de novembro de 2042. Donald Cagney, morto por enforcamento em 22 de abril de 2043. Michael Rowan, morto por estrangulamento em 2 de dezembro de 2043. Rory McNee, morto por afogamento em 18 de março de 2044. John Calhoun, morto por envenenamento em 31 de julho de 2044.
Gina soltou um longo suspiro, completando:
- Você eliminou dois por ano, em média.
- Não tinha pressa. Quer ler o histórico de cada um deles? - Não pediu o arquivo, simplesmente continuou sentado, olhando para o telão na parede. - Charles O’Malley, trinta e três anos, ladrãozinho barato cheio de desvios sexuais. Suspeito de estuprar a irmã e a mãe. Acusações retiradas por falta de provas. Acusado de assassinar sob tortura uma acompanhante autorizada de dezoito anos, cujo nome ninguém nem se deu ao trabalho de registrar. Acusações retiradas por falta de interesse. Era um famoso e violento cobrador de dívidas, trabalhando para chefões poderosos, e adorava o seu trabalho. Sua marca registrada era arrancar rótulas. As pernas de Marlena estavam quebradas nos joelhos.
- Tudo bem, Harry. - disse Gina, levantando a mão. - Já chega. Preciso que você pesquise as famílias, amigos e amantes. Se tivermos sorte, talvez encontremos entre eles alguém que seja fera em computadores ou sistemas de comunicação.
Como não queria nem mesmo pronunciar em voz alta os seus nomes, Harry digitou a requisição.
- Vai levar só alguns minutos. Pedi toda a lista de contatos, a mesma que apareceu na tela três.
- Quem mais sabia de sua cruzada justiceira? - perguntou ela enquanto os nomes continuavam rolando na tela.
- Bem, eu não ficava no pub bebendo cerveja e me gabando depois de cada ação. - Deu de ombros. - O caso é que os boatos correm. De qualquer modo, eu queria mesmo que a notícia circulasse, para lhes dar a oportunidade de suar de medo.
- Você me assusta, Harry. - murmurou Gina, e se virou para ele. - Podemos supor, então, que quase todo mundo em Dublin e no resto do universo conhecido deve ter ouvido os rumores.
- Peguei Cagney em Paris, Rowan na estação espacial Tarus Três e Calhoun aqui em Nova York. As notícias realmente voam, Gina.
- Meu Deus! - Ela pressionou os olhos com os dedos. - Certo, vamos ao que interessa. Precisamos encurtar essa lista, focando as partes diretamente interessadas, gente que tivesse conexão com um ou mais dos integrantes da sua lista. Pessoas que tivessem bronca de você.
- Muita gente guarda rancores. O caso é que, se o alvo era eu, por que estão tentando incriminar Moody em vez de mim?
- Ele é a ponte. Estão atropelando Moody para chegar a você. - Começou a andar de um lado para outro enquanto pensava no caso. - Vou pedir uma consulta com a Dra. Minerva e espero que consiga agendá-la para amanhã mesmo, mas meu palpite é que se isso remonta ao tempo de Marlena, quem quer que esteja por trás dos crimes considera Moody o causador de tudo. Sem ele não existiria Marlena, e sem Marlena você não teria bancado o vingador. Por esse raciocínio, ambos têm que pagar. Ele quer que você sue frio. Se viesse direto em cima de você, isso não aconteceria. Ele deve conhecê-lo muito bem para saber desse fato. Ele sabe que perseguir alguém com quem você se importa o atinge muito mais fundo.
- E se Moody saísse dessa equação?
- Bem, nesse caso eu... - Parou de falar, com o coração aos pulos enquanto girava o corpo. - Espere aí, espere aí... nem pense nisso!... - Bateu com as mãos no console. - Você tem que me prometer, tem que me dar a sua palavra de que não vai ajudá-lo a desaparecer daqui. Essa não é a forma mais adequada de agir.
Harry ficou calado por longos segundos.
- Posso lhe dar a minha palavra de que vou agir da forma mais adequada o máximo que puder. Mas Moody não vai para trás das grades, Gina, muito menos por uma coisa pela qual eu sou o responsável.
- Então você precisa confiar em mim, que não vou deixar que isso aconteça. Se você violar a lei a esse ponto, Harry, vou ser obrigada a caçar Moody. Não terei escolha.
- Então precisamos combinar nossas habilidades e esforços para nos certificarmos de que nenhum de nós vai ser obrigado a fazer uma escolha indesejável. E enquanto discutimos tudo isso, estamos perdendo o pouco tempo que temos.
Borbulhando de frustração, Gina tornou a ficar de costas para ele, reclamando:
- Droga, você está me colocando sobre uma corda bamba cada vez mais fina e instável.
- Sei disso. - Sua voz firme serviu para avisá-la sobre o rosto frio e controlado que ela ia encarar ao se virar de volta para ele.
- Não posso mudar o meu jeito de ser. - argumentou ela.
- E você é uma policial em primeiro lugar. Pois bem, tenente, faça-me uma análise profissional do que vai ver a seguir. - Girando na cadeira, Harry ligou o equipamento auxiliar, ordenando: - Exibir arquivos holográficos do caso Marlena.
Entre os dois, formou-se uma imagem tridimensional e adorável de uma menina rindo, uma jovem começando a desabrochar para a feminilidade. Seus cabelos eram longos e ondulados, da cor de trigo banhado pelo sol, e seus olhos tinham o tom claro de um céu azul de verão. Havia um rubor de vida e alegria em suas faces.
Ela era tão pequena, foi tudo o que Gina conseguiu pensar. A imagem perfeita de uma menina em um lindo vestido branco que exibia um laço imenso junto da cintura. Trazia uma tulipa em sua mão de boneca de porcelana. A flor rosa-bebê estava coberta por gotículas de orvalho.
- Esta é a imagem da inocência. - disse Harry baixinho. - Exibir imagem holográfica do arquivo policial na pasta Marlena.
O horror apareceu escorrendo pelo chão, aos pés de Gina. A boneca estava quebrada, ensangüentada, espancada e destruída. A pele estava com o tom acinzentado da morte e parecia fria vista pelo olho impessoal e sem emoção da câmera da polícia. Eles a haviam deixado nua e exposta, e todas as crueldades que haviam feito à menina eram dolorosamente claras.
- Esta - disse Harry - é a imagem do fim da inocência.
O coração de Gina estremeceu e pareceu se rasgar por dentro, mas ela já vira a morte frente a frente muitas vezes antes, olho no olho. Mesmo assim, traços de terror e choque surgiram em seu rosto.
Uma criança, pensou, sufocada pela pena. Por que tantas vezes as vítimas eram crianças?
- Você provou o que queria, Harry. Apagar o holograma! - ordenou, e sua voz estava firme. As imagens desapareceram entre eles e Gina ficou olhando fixamente para Harry.
- Eu faria o mesmo de novo. - disse ele. - Sem hesitação nem arrependimento. Faria até mais, se isso pudesse impedir as coisas pelas quais ela passou.
- Se você acha que eu não compreendo essas coisas, está errado. Já vi mais imagens como essas do que você. Convivo com isso dia e noite... o quadro final do que uma pessoa pode fazer a outra. Depois de ver tanto sangue derramado, tudo o que posso fazer é oferecer às vítimas o melhor de mim.
Harry fechou os olhos e, em uma rara demonstração de fadiga, passou as mãos sobre o rosto, dizendo:
- Sinto muito. Toda essa história trouxe muitas recordações de volta. A culpa, a sensação de impotência diante do que aconteceu.
- É burrice se culpar, e você não é burro.
- Quem mais? - Ele deixou as mãos caírem.
Gina deu a volta no console, até se ver diretamente de frente para ele, afirmando:
- O’Malley, Riley, Cagney, Rowan, McNee e Calhoun. - Agora ela podia levar um pouco de conforto a ele, pois compreendia tudo. Colocou as mãos sobre os ombros de Harry antes de continuar: - O que vou lhe dizer agora, vou dizer apenas uma vez. Só posso dizer uma vez mesmo, porque a imagem dela ainda está bem fresca na minha cabeça e no meu coração... você estava certo. O que fez foi necessário. Foi justiça.
Comovido ao extremo, ele colocou a mão de Gina dentro da dele e a fez deslizar, para que seus dedos pudessem se entrelaçar.
- Eu precisava ouvi-la dizer isso e falar de coração, nem que fosse apenas uma vez.
Ela apertou as mãos dele e então se virou para a tela.
- Vamos voltar ao trabalho e derrotar esse filho-da-puta em seu próprio campo.
Já passava da meia-noite quando eles encerraram as pesquisas. Gina caiu no sono no instante em que bateu com a cabeça no travesseiro. Um pouco antes do amanhecer, porém, seus pesadelos começaram. Ao sentir seus movimentos bruscos que o acordaram, Harry a abraçou. Ela tentou se livrar dos braços dele, lutando, com a respiração curta e ofegante. Harry sabia que Gina estava presa em um pesadelo no qual ele não poderia entrar, mesmo desejando impedir o passado de voltar.
- Está tudo bem, Gina. - Ele a apertou junto de si, enquanto ela continuava a se debater, tentando se desvencilhar dele, com o corpo trêmulo.
- Não... Não, não! - Havia um quê de súplica em sua voz, que se tornara fraca e indefesa como a de uma criança, e isso partiu o coração de Harry.
- Você está a salvo. Eu garanto. - Acariciou-a mais uma vez em movimentos lentos e calculados, até que Gina, por fim, virou-se para ele, focando-se no que ele dizia. - Ele não pode atingi-la aqui. - murmurou Harry, olhando para o escuro. - Ele não pode mais alcançá-la agora.
Houve um longo e trêmulo suspiro, e então ele sentiu a tensão sair devagar do corpo dela. Permaneceu acordado, abraçando-a, protegendo-a dos sonhos, até que a luz da manhã começou a penetrar pelas janelas.
Harry já havia saído da cama quando Gina acordou, o que era comum. Mas ele não estava na sala de estar junto à suíte, como acontecia quase todas as manhãs, bebendo o seu café diante do monitor, analisando as cotações das bolsas de valores. Sentindo-se ainda um pouco zonza, Gina deslizou para fora da cama e foi direto para baixo do chuveiro. Sua mente aos poucos começou a ficar mais clara. Só quando já estava saindo do tubo secador de corpo lembrou o pesadelo que tivera.
Ficou em pé onde estava, esticou a mão para pegar um roupão e tudo lhe voltou à lembrança.
A sala apertada, horrível e fria onde a luz vermelha piscava sem parar através da vidraça suja. A fome que lhe apertava o estômago. A porta que se abrira e seu pai entrando, quase sem se agüentar em pé. Bêbado, mas não inconsciente. A faca que ela segurava naquele momento, usada para tentar raspar o mofo de um pedacinho de queijo velho; a faca que caiu de sua mão com estrondo.
Em seguida, viu aquela mão enorme apertando seu rosto. E pior, muito pior. Sentiu o corpo dele pressionando o dela, no chão. Os dedos dele rasgando-a e sondando-a por dentro. Nesse momento, porém, não era mais ela que lutava. Era Marlena. Marlena, com seu vestidinho branco rasgado, o rostinho trancado em uma cela de medo e dor, e o corpinho violado, esparramado sobre uma poça de sangue fresco.
Viu a si mesma, então. Era Gina que olhava para a menininha despedaçada. A tenente Gina Weasley com o distintivo pregado no bolso, mais uma vez diante da morte, pegando sobre a cama um cobertor fino e manchado para cobrir a menina. Um movimento que ia de encontro ao procedimento-padrão, pois poderia prejudicar a cena do crime, mas que ela não conseguiu evitar.
Quando tornou a se virar, porém, e olhou mais uma vez, com o cobertor nas mãos, não era mais Marlena. Gina olhava para si mesma, morta, e o rosto que cobriu com o cobertor foi o seu.
Agora, ainda trêmula, ela se enfiava no roupão, tentando espantar o frio. Precisava afastar as lembranças, ordenou a si mesma, mandando o cérebro apagar as imagens. Havia um maníaco à solta que precisava ser preso e vidas que dependiam da velocidade com que ela conseguisse fazer isso. Não podia permitir que o passado, o seu passado, surgisse na superfície para interferir.
Vestiu-se depressa, pegou uma xícara de café e a levou para o seu escritório.
A porta que separava a sua sala do escritório de Harry estava aberta. Ela ouviu a voz dele, somente a dele, e foi até lá.
Ele trabalhava em sua mesa usando o tele-link, que estava ligado a um fone de ouvido, e digitava dados no teclado. Seu fax a laser enviou uma transmissão e imediatamente comunicou que havia uma chamada chegando. Gina tomou o café e o imaginou comprando e vendendo pequenas galáxias enquanto atendia à ligação de alguém.
- Oi! É bom falar com você, Jack. Sim, já faz um tempão. - Virando-se para o fax, Harry deu uma lida por alto e rapidamente enviou uma resposta, enquanto continuava a conversar: - Você acabou se casando com Sheila, então? Quantos filhos você disse? Seis. Caramba! - Soltou uma gargalhada gostosa ao mesmo tempo em que, voltando-se para o computador, deu autorização para comprar uma imensa quantidade de ações de uma editora que julgava promissora. - Então você soube? Sim, é verdade, foi no verão passado. Sim, ela é uma policial. - Um sorriso esplendoroso surgiu em seu rosto. - Do que está falando, Jack, que passado negro? Sou um cidadão cumpridor das leis, tão limpo quanto o padre da paróquia aqui perto. Sim, ela é adorável. Adorável e inesquecível.
Harry fez a cadeira rodar e se afastou do monitor, ignorando o bipe de uma nova chamada.
- Preciso conversar com você, Jack. Soube do que aconteceu com Tommy Brennen e Shawn? Sim, foi duro... a minha policial conectou os dois casos e seguiu a pista até mim, até O’Malley e descobriu tudo o que aconteceu relacionado com Marlena.
Ouviu sem dizer nada, por alguns instantes, levantando-se em seguida para ir até a janela, deixando o comunicador apitando e zumbindo.
- Exato. - continuou ele. - Você faz idéia de quem possa ter sido? Se lhe ocorrer algum nome, pode entrar em contato diretamente comigo. Nesse ínterim, posso providenciar para que você e sua família fiquem fora do circuito por uns tempos. Leve as crianças para alguma cidadezinha junto do mar por alguns dias. Tenho um lugar em mente e acho que eles vão adorar. Claro que não, foi tudo culpa minha e eu não quero mais uma viúva nem outros órfãos em minha consciência. - Tornou a rir, embora seus olhos permanecessem sérios. - Estou certo que você faria isso, agora mesmo, mas por que não deixa essa tarefa para minha policial e sai de Dublin com a família por algum tempo? Vou lhe enviar hoje mesmo tudo o que você precisa, e depois tornamos a conversar. Dê lembranças minhas a Sheila.
Gina esperou até ele tirar o fone do ouvido antes de falar.
- É isso que vai fazer, enviar para bem longe todo mundo que você considere um alvo?
Ele colocou o fone de lado, sentindo um vago desconforto por ela ter ouvido a conversa, e confirmou:
- Sim. Isso é algum problema para você?
- Não. - Atravessou o aposento até onde ele estava, pousando o café a fim de deixar as mãos livres para emoldurar-lhe o rosto. - Eu amo você, Harry.
Ainda era algo raro ouvi-la dizer essas palavras. O coração dele disparou um pouco, mas logo se acalmou.
- Eu amo você, Gina.
- Quer dizer que é isso que eu sou agora, “a sua policial”? - Sorriu de leve, acariciando os lábios dele com os dela.
- Você sempre foi minha policial, desde o dia em que resolveu me prender.
- Sabia que quando estava falando com o seu amigo de Dublin o seu sotaque irlandês ficou mais acentuado? - perguntou ela, colocando a cabeça de lado. - O ritmo da sua voz mudou. E você disse “oi”, em vez de “alô”.
- Disse mesmo? - Ele não fazia a menor idéia e não estava bem certo de como encarar aquilo. - Estranho...
- Eu gostei. - As mãos que acariciavam o seu rosto desceram e se juntaram em sua nuca. O corpo dela se chocou com o dele. - Foi muito... sexy.
- Ah, foi? - As mãos dele desceram pelo corpo dela até envolverem o seu traseiro. - Bem, minha querida Gina, se você está a fim de... - Seu olhar se desviou do dela e se fixou em um ponto atrás do seu ombro, e o ar divertido se acentuou ao cumprimentar a recém-chegada: - Bom-dia, Hermione. - Gina deu um pulo e tentou se desvencilhar, xingando baixinho quando Harry a manteve com firmeza no lugar. - Está um dia lindo.
- Sim, está, eu... peço desculpas... senhora. - acrescentou meio sem graça ao sentir que Gina fulminou-a com o olhar. - É que a senhora falou oito em ponto, não havia ninguém no andar de baixo, então eu subi direto e... aqui estou. E, ahn... Rony está...
- Bem atrás dela. - Exibindo um sorriso largo, Rony apareceu. - Apresentando-se para trabalhar, tenente, e, se me permite dizer, sua casa é... minha Nossa Senhora! - Seus olhos ficaram arregalados de repente, e tão brilhantes que Gina levou a mão à arma, por instinto, assim que ele entrou no aposento. - Olha só para esse equipamento! - empolgou-se. - Isso é que é uma coisa sexy! Você deve ser Harry Potter. - Pegou a mão de Harry, sacudindo-a com entusiasmo. - É um grande prazer conhecê-lo! Trabalho com um dos seus computadores 2000MTS na Divisão de Detecção Eletrônica. Que máquina! Estamos implorando por um 5000, mas o orçamento, bem, é ridículo. Na minha casa estou reconfigurando uma antiga unidade multimídia, o modelo Platinum 50. Muito irado! Esse que você tem aí é um Galactic MTS?
- Creio que sim. - murmurou Harry, levantando uma sobrancelha para Gina ao ver que Rony quase babou diante do sistema de comunicações do dono da casa.
- Ronald, segure a sua onda! - ordenou Gina.
- Sim, senhora, mas isso aqui é demais! - Sua voz estremeceu. - Nossa, é realmente o máximo! Quantos programas ele executa ao mesmo tempo?
- Esse aparelho dá conta de mais de trezentos programas simultâneos, sem ficar lento. - Harry foi se aproximando, mais para evitar que Rony começasse a brincar com os aparelhos do que para fazer demonstrações. - Já o coloquei para funcionar no limite e ele não travou.
- Essa é a melhor época para se estar vivo! Seu departamento de pesquisa e desenvolvimento de projetos deve ser um paraíso.
- Você podia enviar-lhes o seu currículo. - comentou Gina em um tom seco. - Aliás, se você não sentar a bunda diante do meu equipamento e começar a trabalhar logo, vai perder seu emprego na Divisão de Detecção Eletrônica.
- Então, já estou indo. Sabe, Harry, você devia convencer a sua mulher a fazer um upgrade no equipamento dela. Quanto àquela coisa na qual ela trabalha na central de polícia... podemos chamar aquilo de a nata da lata do lixo.
- Vou ver o que consigo fazer. - sorriu quando Rony saiu. - Tenente, você trabalha com auxiliares muito pitorescos.
- Se Neville não voltar logo, vou acabar dando um tiro nele... Pode deixar que eu fico de olho para ele não mexer em nada seu.
- Hermione. - disse Harry, baixinho, antes de acompanhar Gina para fora da sala - Espere um instante, por favor. - E chegou mais perto da assistente da sua mulher, satisfeito ao notar que Gina já se afastara e estava discutindo com Rony na sala ao lado. - Estou em débito com você.
- Não sei do que está falando. - Olhou fixamente para ele. - A tenente Weasley e o departamento estão muito gratos pela colaboração que você está prestando em nossa investigação.
- Hermione, você é uma jóia rara. - Comovido, ele tomou sua mão e a levou aos lábios.
Ela ficou vermelha e seu estômago se remexeu todo.
- É... bem... ahn... você é filho único, não é?
- Sim.
- Que pena... bem, é melhor eu ir até lá, senão Gina vai começar a socar a cara de Rony, e isso não vai ficar bem no relatório interdepartamental. - Mal havia se virado quando o tele-link de Gina tocou, um toque longo e dois curtos.
- Muito bem. - Rony começou a brincar com os controles de uma unidade portátil para rastreamento de ligações. - Esta ligação foi feita para a sua sala na central, tenente, passou direto pelo controle central e foi transferida para cá. É ele!... Dá para saber porque os sinais estão mais misturados do que nunca.
- Então, separe-os - ordenou Gina - e depressa! - Atendeu a ligação depois de ordenar o bloqueio do sinal de vídeo. - Divisão de Homicídios. Tenente Weasley falando.
- Você foi rápida. - elogiou a voz, com um traço de charme e muita diversão. - O velho Shawn mal tinha começado a esfriar quando você o encontrou. Fiquei muito impressionado.
- Vou ser mais rápida ainda na próxima vez.
- Se esse for o desejo de Deus. Estou adorando esta competição, tenente. Estou começando a admirar a sua firmeza de propósito. Tanto assim que já dei início ao próximo passo. Está pronta para o novo desafio?
- Por que não vem brincar diretamente comigo? Pode me capturar, seu babaca, e vamos ver quem vence.
- Eu sigo um plano que me foi dado por uma força superior.
- Esse é um joguinho doentio, só seu. Deus não tem nada a ver com isso!
- Sou o escolhido. - Respirou fundo. - Esperava que você conseguisse enxergar isso. Os seus olhos, porém, estão vendados, pois você aceitou os aplausos e responsabilidades do mundo material e os colocou acima do espiritual.
Gina lançou dardos em Rony com os olhos, enquanto ele resmungava baixinho e ajustava os controles.
- Engraçado, - disse ela - eu não vi nada de espiritual na maneira com que você tirou a vida daqueles dois homens. Agora eu tenho uma citação para você também. Epístola aos Romanos, capítulo 2, versículo 3: “E tu, ó homem, que julgas os que praticam tais coisas, mas também as fazes, supões que escaparás ao juízo de Deus?”
- Como você ousa usar a palavra Dele contra mim? Eu sou o anjo da Sua justiça e a espada da Sua fúria. Nascido e criado para cumprir seu veredicto. Por que se recusa a enxergar e aceitar isso?
- Porque vejo exatamente o que você é.
- Um dia você ainda vai se ajoelhar diante de mim e verter lágrimas de sangue. Conhecerá a dor e o desespero que só uma mulher pode experimentar.
Gina tornou a olhar para Rony, que continuava encurvado sobre o aparelho, xingando baixinho.
- Você acha que consegue chegar a Harry? Está superestimando a si mesmo. Ele vai esmagá-lo como a um inseto. Já demos boas gargalhadas pensando nisso.
- Posso arrancar o coração dele fora à hora que bem quiser. - A voz mudara de tom. Ainda havia fúria, mas agora era quase um lamento.
- Então prove isso! Ele pode ir encontrá-lo cara a cara. É só marcar um lugar.
- Então você acha que pode me atrair assim tão fácil? - afirmou ele depois de longos segundos. - Eva oferecendo o fruto proibido mais uma vez? Não sou o cordeiro, e sim o pastor. Aceitei a incumbência e controlo tudo.
A voz, porém, não estava nem um pouco controlada. Não, pensou Gina, estava lutando muito para se manter firme. Mau gênio e ego. Esses eram os caminhos para atingi-lo.
- Acho que você não passa de um covarde que não quer se arriscar. Um covarde mentalmente perturbado e patético que provavelmente não consegue nem uma ereção sem precisar usar as duas mãos.
- Piranha! Sua tira meretriz! Sei muito bem o que mulheres do seu tipo fazem com um homem. “O preço da prostituta é um bocado de pão, mas a adúltera anda à caça da própria vida do homem.”
- Estou conseguindo algo, - sussurrou Rony -... estou quase lá! Mantenha-o falando.
- Eu não estava oferecendo sexo a você. Acho que você não deve ser uma boa transa.
- Pois a prostituta não achava isso. Chegou a oferecer a honra em troca de sua vida. Deus, porém, ordenou que ela fosse executada, e Sua vontade será cumprida.
Ele já estava com outra vítima, foi tudo o que Gina conseguiu pensar. Talvez já fosse tarde demais.
- Você está me deixando com tédio, meu chapa. Suas charadas estão me entediando. Por que não saímos no tapa, só você e eu, para vermos o que rola?
- Nove vão morrer antes de chegarmos a esse ponto. - Sua voz ficou mais forte, como a de alguém enviado para salvar almas. - Será uma novena de vingança. Ainda não chegou a sua hora, e sim a dela. Mais uma charada, tenente, para a sua mente pequena e materialista: meninas bonitas se transformam em mulheres belas, mas uma vez prostituta, sempre prostituta, e elas vêm correndo quando a grana é boa. Você vai encontrar esta aqui a oeste, no ano do seu crime. Por quanto tempo ela vai conseguir respirar depende apenas dela... e de você, tenente. O problema é: será que realmente deseja salvar a puta que abriu as pernas para o mesmo homem para quem você abre as suas? Sua vez de jogar... - disse, encerrando a ligação.
- Ele está brincando com o sinal, colocando-o em todas as partes do planeta e fora dele. Droga! - Rony quase arrancou os cabelos, flexionando os dedos. - Eu o localizei na estação espacial Orion, em Estocolmo, na estação Vegas Dois e até em Sidney. Pelo amor de Deus, não deu nem para tentar determinar a região em que ele estava. Fiquei comendo poeira.
- Ele está em Nova York. - afirmou Harry. - O resto é só nuvem de fumaça.
- É, pode ser, mas é uma fumaça muito boa.
Gina ignorou Rony e se concentrou em Harry. Seu rosto estava pálido e rígido, com os olhos azuis frios como aço.
- Você sabe quem ele pegou.
- Sei. Jennie. Jennie O’Leary. Falei com ela há dois dias. Ela preparava drinques em um pub de Dublin, há muitos anos, e agora tem uma pousada em Wexford.
- Wexford? E esse lugar fica na costa Oeste da Irlanda? - Enquanto Harry balançava a cabeça, ela já estava se levantando e passando os dedos pelos cabelos. - Ele não pode estar falando sério. Não pode estar querendo que a gente vá até a Irlanda. Isso não encaixa. Ele está com ela aqui, ele nos quer aqui. Não tenho autoridade alguma na Irlanda, e ele quer que eu esteja no comando.
- Talvez ele esteja se referindo à parte oeste daqui mesmo. - sugeriu Harry.
- Sim, isso encaixa. West Side, aqui em Manhattan... no ano do seu crime. - acrescentou, olhando para Harry.
- Quarenta e três, 2043.
- Rua 43, West Side, então. Começamos por aí. Vamos à luta, Peabody.
- Vou com vocês. - Harry colocou a mão no braço de Gina antes mesmo que ela conseguisse protestar. - Tenho que ir... Rony, ligue para esse número. - Escreveu correndo o número de um tele-link em um cartão, entregando a ele. - Mande chamar Nibb. Diga-lhe para enviar um equipamento 60K com um monitor e processador 7500MTS. E também quero o melhor técnico para instalá-lo aqui, no escritório da minha mulher.
- Mas não existe um 60K com processador 7500MTS. - objetou Rony.
- Vai existir daqui a seis meses. Já temos alguns deles prontos e em testes.
- Caraca! 60K com processador 7500MTS! - Rony quase estremeceu de tanta empolgação. - Não precisa mandar um técnico não, eu mesmo dou conta da instalação.
- Mande vir um técnico mesmo assim. Diga-lhe que quero ver tudo funcionando antes do meio-dia.
Ao se ver sozinho, Rony olhou para o cartão e deu um suspiro, murmurando:
- Dinheiro não apenas fala mais alto como também canta.
Gina se posicionou atrás do volante e saiu cantando pneu assim que as portas bateram.
- Hermione, pesquise todos os locais de encontros e quartos de aluguel para acompanhantes autorizadas ao longo da rua 43.
- Certo, tenente. - Ela pegou seu palm computer, partindo para a busca. - Ele quer que ela morra em um ambiente de prostituição, e o meu palpite é que quanto mais degradante for, melhor. Harry, quais são os imóveis que você possui na rua 43, West Side, e que se enquadram nessa categoria?
Se a ocasião fosse outra, talvez ele fizesse uma piada com essa pergunta. Naquele momento, porém, pegou o próprio palm computer e digitou os dados, informando:
- Possuo dois prédios nessa rua. Um deles é um restaurante com andares residenciais acima dele para alugar. Apartamentos unifamiliares com cem por cento de ocupação. O outro é um pequeno hotel com um bar aberto ao público, mas atualmente está fechado para reformas.
- Nome?
- The West Side.
- Hermione! - Gina pegou um atalho pela Sétima Avenida e seguiu em direção ao centro. Ultrapassou um sinal vermelho e ignorou a explosão de buzinas e xingamentos dos pedestres. - Hermione! - repetiu.
- Tô procurando... Achei! O lugar tem um nome óbvio: The West Side. Fica no número 522 da rua 43, West Side. Local com licença para venda de bebidas alcoólicas e cabines privativas para fumantes. Hotel anexo aprovado para atividades de acompanhantes autorizadas. O proprietário anterior, J. P. Felix, foi preso em janeiro de 2058 por violação dos códigos 752 e 821: exibição de atos sexuais ao vivo sem licença e funcionamento de cassino ilegal. A propriedade foi confiscada pela prefeitura da cidade de Nova York e colocada em leilão em setembro de 2058. Adquirida pelas Indústrias Potter, está com toda a documentação em dia.
- Número 522. - murmurou Gina, já virando na rua 43. - Você conhece o local, Harry?
- Não. - Em sua mente ele só conseguia ver Jennie como um dia a conhecera. Linda, inteligente e sorridente. - Um dos meus agentes imobiliários visitou o local e ofereceu um lance pelo imóvel no dia do leilão. Eu simplesmente assinei a papelada.
Olhou pela janela e viu um rapazinho em um grupo, jogando cartas valendo dinheiro, enquanto um companheiro, também adolescente, vigiava em volta à procura de tiras ou patrulheiros andróides. Harry torceu para que eles se dessem bem no jogo.
- Um dos meus arquitetos está trabalhando em um projeto para remodelar o local, - continuou - mas eu ainda não vi nem as plantas.
- Tudo bem, não importa. - Gina freou o carro de repente, estacionando em fila dupla em frente ao número 522. Ligou o giroscópio luminoso com o holograma do Departamento de Polícia da Cidade de Nova York, pois isso aumentava as chances de encontrar o veículo inteiro quando voltasse. - Vamos verificar na portaria do hotel para ver se o atendente pode nos dar alguma informação.
Passou direto pelo bar, notando, com ar sombrio, que a fechadura da porta do hotel estava quebrada. O saguão estava escuro e exibia, em um canto, uma única planta com tons pálidos de verde e muitas folhas amarelas e sem vida. O espesso vidro de segurança que envolvia a portaria estava muito arranhado e cheio de marcas. A porta de acesso estava escancarada e o andróide de plantão não estava ligado.
Era fácil de ver por quê, já que seu corpo estava recostado em uma cadeira enquanto a cabeça repousava sobre o balcão.
- Droga! Ele esteve aqui. Talvez ainda esteja. - Puxou a arma. - Vamos olhar, andar por andar, batendo em todas as portas. Se em alguma delas ninguém responder, arrombamos.
HArry abriu uma gaveta que estava embaixo do balcão, sob a cabeça do robô.
- Use o cartão mestre. - disse ele, mostrando um pequeno retângulo estreito. - Assim vai ficar mais fácil.
- Ótimo. Vamos usar as escadas.
Quase todos os quartos do primeiro andar estavam vazios. Em um deles, encontraram uma acompanhante autorizada com olhos sonolentos, que tentava descansar depois de uma longa noitada. Ela não vira nem ouvira nada e demonstrou muito desagrado por ser importunada por tiras. No segundo andar encontraram os restos de uma festa aparentemente muito animada que envolvera o consumo de diversas drogas ilegais cujos restos jaziam espalhados pelo chão como brinquedos abandonados.
Na escada junto à parede coberta de pichações, subindo para o terceiro andar, encontraram uma criança.
O menino devia ter uns oito anos, era magro e pálido, e cada dedão do pé espiava por um buraco nos tênis velhos e rasgados. Havia uma pequena marca roxa embaixo do olho direito e o menino tinha um gatinho cinza no colo.
- Você é Weasley? - quis saber a criança.
- Sou. Por quê?
- Um homem disse que eu devia ficar aqui esperando você. Ele me deu uma ficha de crédito no valor de dois dólares só para eu ficar aqui esperando.
O coração de Gina começou a acelerar no momento em que ela se agachou diante do menino. Um cheiro forte atestava que ele não sabia o que era banho há vários dias.
- Que homem? - perguntou ela.
- O cara que me mandou esperar. Ele me disse que você ia me dar mais uma ficha de dois dólares se eu esperasse aqui para lhe dar o recado.
- Que recado?
- Ele disse que você ia me dar mais uma ficha... - E seus olhos meio envergonhados analisaram o rosto de Gina.
- Certo. Tá legal. - Gina enfiou a mão no bolso, forçando-se para manter um tom de voz bem tranqüilo e exibir um sorriso casual. - E então, qual é o recado? - perguntou assim que o menino pegou a ficha e a apertou entre os dedinhos sujos.
- Ele disse... - o menino fechou os olhos e recitou:
Esse é o terceiro, mas falta o restante,
Você foi ligeira, mas não o bastante,
Pode correr o quanto quiser
E trazer a grana que tiver,
Pois nenhum irlandês bastardo
Vai escapar do seu passado.
Amém.
Abrindo os olhos ele sorriu, perguntando:
- Disse direitinho, não disse? Eu falei para ele que conseguia.
- Muito bem. Agora fique aqui que eu lhe dou mais duas fichas. Hermione! - Esperou até chegarem ao último degrau e disse: - Tome conta do menino. Ligue para o Serviço de Proteção à Infância e veja se consegue com ele algum tipo de descrição do assassino. Harry, você vem comigo. Terceira vítima, terceiro andar. - disse para si mesma. - Terceira porta.
Virando-se para a esquerda, manteve a arma levantada e bateu na porta com força.
- Há música tocando. - Virou um pouco a cabeça para tentar captar a melodia.
- É uma giga. Uma dança típica. Jennie gostava de dançar. Ela está aí dentro.
Antes que ele pudesse ir em frente, Gina levantou o braço para impedi-lo.
- Fique atrás de mim. Agora! - Abriu o trinco e entrou agachada.
A atendente do bar que gostava de dançar estava pendurada em uma corda que descia do teto sujo. Os dedos dos pés mal tocavam a superfície de uma banqueta instável. A corda apertara tanto a sua garganta que o sangue escorria pelos seios; estava tão fresco que ainda tinha cheiro de metal, e tão recente que os filetes vermelhos ainda brilhavam em contraste com a pele branca.
Seu olho direito desaparecera e seus dedos, machucados e muito ensangüentados por se agarrarem na corda, se apresentavam estirados dos dois lados do corpo.
A música tocava, alta e alegre, e o som vinha de um aparelho sob o pequeno banco. A imagem da Virgem fora colocada no chão e seu rosto de mármore testemunhava a morte violenta.
- Canalha, porco, filho-da-puta imundo! - A visão de Harry ficou embaçada de ódio. Ele avançou, empurrando Gina para o lado. Ela quase caiu de joelhos ao se desequilibrar enquanto lutava para segurá-lo. - Deixe-me passar. - Seus olhos estavam penetrantes e frios como uma espada desembainhada. - Saia da minha frente!
- Não. - Gina fez a única coisa na qual conseguiu pensar e, jogando todo o peso do corpo contra ele, empurrou-o de costas contra a parede e apertou-lhe a garganta com o cotovelo. - Você não pode tocar nela. Entendeu? Não pode tocar. Ela se foi. Não há mais nada que você possa fazer. Isso é comigo. Olhe para mim, Harry. Olhe para mim!
Sua voz mal penetrou através do zumbido forte que Harry sentia no ouvido, mas ele desviou o olhar da vítima enforcada no centro do cômodo e fitou a sua mulher.
- Você precisa deixar que eu tente ajudá-la agora. - Gina diminuiu o tom de voz, mas manteve-a firme, como fazia ao lidar com qualquer vítima. Queria abraçá-lo e colar seu rosto ao dele, mas, em vez disso, continuava a pressionar o cotovelo, de leve, contra a sua traquéia. - Não posso deixar você prejudicar a cena do crime com elementos externos. Quero que saia daqui agora.
Ele conseguiu inspirar livremente, embora o ar parecesse lhe queimar os pulmões. Seu olhar se desanuviou, embora nos cantos ainda existissem pontos escuros e embaçados.
- Foi o canalha que deixou o banquinho ali. Ele a colocou a uma altura tal que ela precisava se esticar toda para alcançar a superfície do banco e apoiar as pontas dos dedos dos pés. Ela só conseguiria se manter viva enquanto tivesse forças para alcançar o banco. Deve ter ficado sufocada, seu coração deve ter trabalhado sem parar, a dor queimando-a por dentro, mas ela conseguiria permanecer viva enquanto lutasse para manter o equilíbrio. E deve ter lutado muito.
- A culpa não é sua. - Gina abaixou o cotovelo e colocou as mãos nos ombros dele. - Não foi você que fez isso.
Ele desviou o olhar para ela e se forçou a olhar para o rosto da velha amiga.
- Uma vez nós nos amamos. - disse ele baixinho. - Ao nosso modo. Tínhamos um jeito meio descompromissado, mas um dava ao outro o que era necessário, pelo menos durante um período. Não vou tocar nela. Prometo não atrapalhar você.
Quando Gina deu um passo para trás, ele foi em direção à porta e falou, sem olhar para ela:
- Não vou deixá-lo viver. Não importa quem vai achá-lo, eu ou você, mas não vou deixá-lo vivo.
- Harry...
Ele simplesmente balançou a cabeça para os lados. Seus olhos se encontraram com os dela, uma vez apenas, e o que ela viu neles fez seu sangue gelar nas veias.
- Ele já pode se considerar morto. - afirmou ao sair.
Ela o deixou ir, prometendo a si mesma que ia tentar demovê-lo daquela idéia, assim que tivesse chance de conversar a respeito. Mantendo os olhos bem fechados, sentiu um tremor forte percorrer-lhe o corpo, uma única vez. Então, pegou o comunicador, deu o alarme e fez sinal para Hermione ir buscar o seu estojo de trabalho.
N/A: dois capítulos para compensar as duas semanas sem postar durante o final de ao, espero que gostem. Abraços a todos.
Agradecimentos especiais:
gilmara: obrigado pelos votos de natal e de ano novo, também espero que tenha tido um maravilhoso natal e um ano novo melhor ainda. A Gina na cena do crime não tem comparação, ela é sensacional. Dublin em breve, quanto a “namorada” do Moody... Bem, não vou comentar ou então vou acabar entregando as coisas antes do tempo. Beijos e até o próximo.
Bianca: Espero que seu final de ano tenha sido excelente garota, porque o meu foi corrido.... Como eu disse no comentário anterior, a Gina na cena do crime é incomparável, ela é simplesmente demais. Quanto a lógica do assassino, é mais ou menos pelo que você disse, mas ficará mais claro em breve. Ah, ele não trabalha sozinho. Ah, Dublin em breve. Beijos.
Ana Eulina: Atualização toda segunda novamente a partir de agora, sinto muito por ter sumido por duas semanas, mas as provas de final de semestre literalmente me consumiram, mas agora eu estou de volta e aproveitando um pouco as férias da faculdade, mesmo que não esteja de férias do trabalho, amanhã já estou de volta no batente, mas foi bom enquanto estive somente em casa. Como presente de inicio de ano estou postando dois capitulo. Espero que goste. Beijos.
Nanny Black: Sinto muito por não ter postado no começo de dezembro, mas como eu expliquei as provas da faculdade foram barra pesada. Porém agora estou na ativa novamente e teremos att toda semana de novo. Beijos e espero vê-la logo por aqui.
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