Escritas na Parede




Alvo acordou com frio, seu cobertor verde e prata jazia no chão de pedra do dormitório. O cômodo estava mergulhado na penumbra e no silêncio. Ficou olhando para o teto baixo e úmido, sem vontade nenhuma de levantar. Dormira feito uma pedra, a noite passara em um segundo para ele.


O moreno se sentou na cama. Não havia mais ninguém dormindo, todos já haviam acordado. Colocou o uniforme sonserino e jogou uma capa de fecho prateado por cima das costas. Já circulavam alguns alunos, maiores que Alvo, na sala Comunal. Julieta acenou sorridente para ele. Rupert conversava com um menino de ombros largos e o nariz em gancho. Seus cabelos eram dourados e bem penteados.


 


Alvo pegou a mala e jogou os livros-textos de qualquer jeito lá dentro. O horário indicava que a primeira aula seria Herbologia com a Corvinal. Ele se perguntou por Escórpio e concluiu que o louro já deveria estar tomando o café da manhã no Salão Principal. Fazia um frio incômodo nas masmorras do castelo de Hogwarts e Alvo ficou agradecido por ter colocado a capa.


Em dez minutos ele chegou ao Salão Principal. O lugar parecia bem mais legal do que na noite anterior, quando todos olhavam para Alvo. O moreno, só com a segurança que a descrição lhe proporcionava, pôde perceber que, em vez de teto no local, havia um céu sem muitas nuvens.


- Alvo! – era a voz de Rosa. A ruiva vinha, seguida de Madeline Billigan, da mesa grifinória.


- Bom dia, Rosa. Oi, Madeline – Alvo completou quando viu a menina.


- Alvo, o correio coruja chegou há alguns minutos – Rosa falou esticando uma carta para o moreno. – Harry mandou isso pra você.


- Obrigado – agradeceu Alvo revirando o envelope nas mãos. O que será que Harry tinha escrito? Será que ele já sabia sobre a Sonserina?


- Err, Alvo – Madeline começou. – Queremos te encontrar depois da última aula no quinto andar, em frente à sala de Aritimancia.


- Pra quê? – o menino perguntou, estranhando.


- Vamos te mostrar uma coisa – Rosa respondeu da maneira mais simples possível. – Você vai gostar. E leva o Escórpio com você.


- Tudo bem – ele disse, mas sua cabeça ainda estava na carta e na reação de Harry.


As duas se afastaram de volta à mesa dos grifinórios. Alvo avistou Escórpio e se sentou ao lado dele. Os outros primeiranistas estavam por perto. Vicentino Bucktan era um menino baixo, de dentes cavalares e olhos opacos. Seus cabelos eram curtos e negros. Erigan Julies, um menino alto, de rosto ossudo e cabelos claros, lia uma carta amarelada. Murphy Muckylip tinha olhos verdes, cabelos castanhos, pele dourada e bochechas rosadas.


- Devia ter me acordado, Corp – Alvo disse.


- Nós bem que tentamos – respondeu o louro fazendo os outros concordarem.


- Você dorme feito uma pedra, Alvo – Vicentino disse.


 


- Ontem foi cansativo, eu tinha motivos! – Alvo se defendeu incrédulo. Ele rasgou o envelope em que seu pai mandara a carta e abriu o pergaminho.Alvo,


Ficamos sabendo que foi para a Sonserina. É uma ótima casa, esperamos que você faça amigos nela, não quero que você fique triste por isso, é uma casa como outra qualquer. Monstro melhorou daquela tosse infernal, mas ainda não está muito bem.


Sua mãe vai fazer uma matéria no Profeta amanhã sobre o Chudley Cannons. Rony está nervoso, o jogo de ontem foi trezentos e vinte para as Vespas contra quarenta dos Chudleys... Ah, Lílian teve sua primeira manifestação de magia logo que chegamos em casa! Ela conseguiu estourar sete pratos, foi fantástico! Não se esqueça de nos responder no fim da semana, sua mãe e eu esperaremos ansiosos pela resposta.



Alvo dobrou a carta e ficou satisfeito por seu pai não insistir no assunto Sonserina. Mas Alvo ainda esperava a reação de Tiago. O que o irmão iria lhe falar? Era melhor adiar esse encontro o máximo possível, não queria arranjar brigas em Hogwarts.


- Vamos para a aula? – perguntou Murphy.


- Até parece que você está ansioso para Herbologia – Malfoy zombou.


- Quero ver se nos atrasarmos... – Erigan argumentou. – Ouvi falar que o Prof. Longbotton é exigente demais.


- Já vi que vou odiar Herbologia – Vicentino lamentou.


- O Professor Longbotton é legal, conheço ele, vamos logo – Alvo falou se levantando.


- Não vai tomar café, Al? – Escórpio perguntou.


- Se você tivesse me acordado a tempo eu tomaria, seu panaca – Alvo retrucou fazendo os outros se acabarem de rir.


Fazia uma manhã quente e dourada lá fora. Os alunos afundavam dez centímetros quando pisavam no gramado macio e o cheiro do orvalho invadia as narinas dos estudantes, tornando o primeiro dia de aula um dia perfeito. Um grupo de quintanistas da Lufa-Lufa descia os gramados para uma aula de Trato com Criaturas Mágicas.


A aula para os primeiranistas seria na estufa dois. Os alunos corvinos já estavam todos na sala, só faltava o grupo de meninos da Sonserina, que incluía Alvo, que conversavam animadamente durante o trajeto até o local da aula.


- Andem logo, ocupem seus lugares na bancada – Neville foi dizendo. – Hoje nós vamos podar Arbustos da Tasmânia. Vamos trabalhar com eles o resto do mês e, dependendo da cor do pus que o arbusto liberar no fim desse mês, teremos a nota de vocês.


 


Cada aluno tinha um arbusto redondo e de folhas azuis. Alvo calçou as luvas de couro de dragão e pegou a tesoura de jardinagem, que estava ao lado do vaso.


- Se o seu arbusto gritar é porque você está fazendo algo errado – Neville completou. – Podem começar. Não se esqueçam de colocar seus nomes nos vasos no final da aula.


Foi uma hora extremamente chata para Alvo. Ele e Escórpio conversavam disfarçadamente sobre Hogwarts.


- Antes que eu me esqueça, Rosa nos chamou pra ir ao quinto andar à tarde – Alvo falou.


- Posso saber pra quê? – o louro perguntou.


- Não sei, ela disse que queria mostrar uma coisa.


- Terei que descontar dois pontos da Sonserina. – era a voz do Professor Longbotton atrás de Alvo. – Um de cada um.


O restante da aula se tornou mais chato ainda. Sem poder conversar Alvo podava sem nenhum tipo de entusiasmo o seu arbusto. Quando a sineta tocou, e ele pôde tirar aquelas luvas quentes, foi um alívio. O grupo de meninos Sonserinos comentava seus progressos enquanto iam para o castelo.


- O meu gritou só uma vez – Vicentino disse orgulhoso.


- Então considere isso um regresso na história – Murphy rebateu. – É tão fácil cuidar daquelas coisas.


- Fácil pra você... – lamentou Erigan. – Acabei arrancando um galho do meu e ele não parou de gritar.



- É, mas pelo menos nós não perdemos pontos! – Vicentino retrucou, com classe.


- Sorte a de vocês – Alvo disse infeliz. – Vocês estavam conversando segundos antes, só pararam porque viram o Professor chegar.


- Nós somos espertos! – Erigan exclamou e todos riram.


A aula seguinte era História da Magia e o professor era um fantasma chato e de voz monótona. Alvo entendeu alguma coisa sobre o antigo Conselho de bruxos, mas acabou jogando forca com Escórpio no meio da aula. Era fantástico como o Professor Binns deixava a matéria tão chata e entediante.


Depois do tempo de História da Magia, os Sonserinos foram para a classe de feitiços com a Lufa-Lufa. As aulas eram dadas em uma sala com vinte mesinhas e havia um professor alto e magro na frente da sala. Seus cabelos eram lisos e castanhos, olhos amendoados e uma pele branca. As meninas lufanas suspiraram quando viram o homem.


 


- Sou o professor de feitiços de vocês – ele começou um uma voz macia. – Benjamim Clavell. Vou ensiná-los até o quarto ano. Estão preparados para usarem a varinha? – os alunos afirmaram com a cabeça. – Ótimo. Por que não começamos com vocês mostrando o que sabem? Andressa O’Corner!


Uma menina gorda e loura levantou a mão, encabulada.


- Venha aqui! – encorajou o professor. Ele fez um movimento com a varinha e levitou uma folha de pergaminho no ar. – Imite o movimento, Andressa. Gira e sacode.


A menina sacou a varinha e apontou para outra folha de pergaminho. Ela tremeu e fez o movimento. A folha levitou alguns centímetros e depois começou a se contorcer e pular pela sala.


- Incêndio! – o professor queimou a folha. – Pode sentar-se. Isso é normal. Agora todos tentando com alguma folha.


Alvo conseguiu, depois de doze tentativas, levitar sua folha a três metros do chão e Escórpio, apenas na vigésima, levitou a folha a um metro e meio. Murphy fora o melhor na aula, na segunda tentativa ele levantou a folha e a fez passear pelas cabeças dos alunos.


- Cinco pontos para a Sonserina, parabéns Muckylip! – o professor contemplou sorridente.


À medida que o tempo passava Alvo se tornava curioso para saber o que Rosa e Madeline iriam mostrar-lhe no quinto andar. Ele não sabia o porquê dessa curiosidade, mas ela se apoderava dele cada vez mais. Não demorou a Escórpio notar e comentar:


- Por que você tá assim, cara?


- Sabe aquele negócio da Rosa?


- Ah, esquece aquilo! – Corp aconselhou. – Na hora a gente vê!


A classe foi dispensada para o almoço sob os sorrisos do Professor Clavell. Alvo e Escórpio desceram animados para o Salão Principal. O moreno avistou Rosa e acenou para a prima, que retribuiu com um grande sorriso.


- Não acham esse Clavell aparecido demais? – perguntou Vicentino. – Quero dizer, ele sorriu demais para o meu gosto.


- Aposto que ele se acha um garanhão – Murphy disse enquanto se servia de batatas.


- Não é difícil depois que você ganha suspiros de lufanas assanhadas – Escórpio falou em tom zombeteiro e todos riram.


- Quantos anos será que ele tem? – Alvo perguntou.


- Deve ter uns trinta... Um pouco mais – Erigan falou.


O almoço dos primeiranistas sonserinos correu com comentários sobre o chato Professor Binns, onde Vicentino comentou que "não deviam empregar fantasmas". Em poucos instantes as meninas sonserinas também entraram na conversa, defendendo o Professor Clavell quando o assunto voltou para ele.


A última aula do dia era a de Transfiguração, que seria dada no segundo andar. Os Sonserinos terminaram o almoço e foram com a turma corvina para os andares superiores. Foi quando viraram em um corredor e viram tudo.


Havia uma frase na parede, com letras garrafais negras e tremidas. Cada uma media pelo menos trinta centímetros.



"A bússola voltou a sua casa e a magia de Hogwarts a acenderá. Tudo em uma questão de tempo, o seu possuidor achará o que deve achar e a lenda se revelará."




Eram essas as palavras que enfeitavam a parede. Os alunos, assustados, deram espaço para a Professora Minerva que se aproximava com pressa. Ela era seguida por um grupo de primeiranistas grifinórios, que incluía Rosa e Madeline. A diretora leu a frase e o assombro tomou conta dela. Os outros professores logo apareceram e em momentos o corredor estava cheio de alunos.




Alvo sentiu alguém puxar seu braço na confusão, e a única coisa em que pensou foi em agarrar Escórpio. Era Rosa.


- Vamos logo para o quinto andar! – ela exclamou. Alvo trocou um olhar assustado com o louro. Rosa correu na direção de uma escada e Maddy foi atrás.


Alvo e Escórpio arrancaram atrás das duas meninas. Mil coisas se passavam na cabeça deles, mas na de Alvo era a que passava mais coisa. Ele pensava na bússola. A frase se referia a ela, se referia à bússola!


Em vinte minutos os quatro estavam no quinto andar. Rosa e Maddy os guiaram até uma tapeçaria onde havia o desenho dos fundadores de Hogwarts. O corredor estava vazio e não se ouvia barulho algum. Rosa puxou a tapeçaria da parede e revelou uma pequena porta de madeira.


O quarteto entrou e Rosa colocou a tapeçaria dos fundadores de volta no seu lugar. Havia uma única janela no cômodo, mas era o suficiente para dar uma ótima iluminação. Havia uma mesinha redonda e quatro cadeiras no centro do cômodo. Um tapete empoeirado em um canto e um quadro de um cachorro de pêlo marrom ao lado da porta.


- Gostaram? – Rosa perguntou extasiada.


- Era isso que queria nos mostrar? – falou um indignado Escórpio.


- Não gostou? – Maddy perguntou. Ela apontou para o quadro do cachorro. – Esse quadro nos leva perto da cozinha de Hogwarts.


- Ainda não entendi – Alvo disse, sendo sincero


.


- Podemos passar o tempo aqui! – Rosa esclareceu. – Faremos nossos deveres aqui, conversaremos aqui, passaremos as tardes aqui! Foi Victoire, nossa prima – ela acrescentou para Escórpio e Maddy -, que nos mostrou a saleta, ela usa para estudar, sabem.


- É uma boa idéia... – Escórpio se sentou à mesa.


- Vocês leram o que estava escrito na parede, não é? – perguntou Rosa.


 


- Claro que lemos! – Alvo disse se sentando, de frente para Maddy.


- Você trouxe a tal bússola de que fala na parede? – perguntou a loura, surpreendendo Alvo.


- Como sabe que ele tem...? – Escórpio perguntou avaliando a menina, que ficou rubra.


- Eu contei a ela, acho que não tem problema. Maddy parece ser mais confiável do que Escórpio – Rosa respondeu, o louro olhou fulminantemente para a ruiva. – Alvo, coloca essa bússola em cima da mesa logo!


O menino obedeceu. Ele tirou o objeto da mochila e o colocou sobre a mesinha de madeira. Os quatro ficaram em silêncio observando a delicada bússola. Ela estremeceu e brilhou.


- O QUE FOI ISSO, PELOS CALÕES FOLGADOS DE MERLIM? – Escórpio se levantou surpreso.


Rosa parecia sem palavras e Maddy tampava a boca. Alvo olhou para o objeto com medo de que ele pudesse atacá-lo.


- Alvo, é claro que aquela escrita falava dessa bússola – Rosa disse.


- Eu sei, mas...


- O que acha que é isso? – Maddy perguntou assustada. – Pode ser um tipo de magia negra?


- Eu acho que é sim! – Escórpio falou como um especialista. – Devemos jogar isso no lago... Ou queimar.


- Eu e Rosa já vimos ela se mexer... Lá no expresso, mas lá ela só moveu o ponteiro – Alvo disse segurando a bússola com as mãos.


- Alvo - Maddy começou fazendo o menino a olhar –. Isso não nos pode fazer mal?


- Eu acho que não – Rosa se interpôs. Ela tomou a bússola das mãos de Alvo e a observou atentamente. Não tinha pontos cardeais, não tinha nada. – R e H...


- Rowena e Helga! – Escórpio exclamou. – Não é óbvio?


- Não pode ser delas isso! – Alvo exclamou guardando a bússola de volta na mochila.


- Alvo, eu vou pesquisar – Rosa disse por fim. – Eu e Maddy. Voltem para as masmorras e leve isso sempre com você. Guarde com cuidado.


 


- Tudo bem – Alvo concordou.


- Vocês dois têm que passar pelo retrato do cão. É só cutucá-lo com a varinha e sairão perto da cozinha, que fica nas masmorras.




Alvo se despediu das duas e passou pelo buraco do retrato do cão. Aquilo tudo não soava nada bom para o moreno e ele se decidiu a saber tudo sobre a bússola. Aparecera uma frase em uma parede de Hogwarts sobre ela e isso a tornava algo de extrema importância.


Toda a situação estava muito estranha, então a magia de Hogwarts iria acender a bússola e ela ia revelar algo ao seu possuidor. Mas o que uma bússola poderia revelar assim de tão importante? O que Alvo tinha dentro daquela mochila, porque aquele velho não deixou o filho tomar a bússola?


Essas questões deveriam ser respondidas e Alvo iria atrás das respostas.



 



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