A Seleção
O coração de Alvo saltou dentro do peito. Você pode escolher A voz do seu pai veio em sua mente. Os burburinhos dos calouros recomeçaram dentro daquela sala apertada e que começava a diminuir de tamanho cada vez mais. Alvo se sentia desconfortado e nem Rosa nem Escórpio soltavam uma palavra. Alguns começavam a estralar os dedos, outros de lembrarem recomendações dos parentes em voz alta. Uma cara gorducha e incorpórea saiu da barriga de uma menina que estava acanhada em um canto escuro e empoeirado. A atenção dos calouros foi concentrada no fantasma em questão de um respirar. Vestia roupas pesadas e parecia um padre. Em vez de cinto, o que segurava as vestes era uma corda. - Olá, crianças – disse ele erguendo a mão, simpaticamente. – Sou Frei Gorducho, fantasma da Lufa-Lufa. Espero que fiquem na minha casa. Leais, justos e pacientes! Os primeiranistas observavam pasmos o fantasma, a maioria nunca havia visto um, isso incluía Alvo. Uma menina se atreveu a tentar socar o rosto do fantasma, mas sua mão somente atravessou o ser. - Recomendo que não tente fazer isso, mocinha! – alertou o Frei. – Atacar alguém sem aviso ou motivo é covardia! Dizendo isso ele saiu por onde veio e deixou os pobres calouros sozinho. O coração de Alvo agonizava dentro do peito e seu estômago estava tentando grudar em sua coluna vertebral. - Tá demorando muito... – Escórpio disse. – Não agüento mais esperar... - Fique quieto... – Rosa falou. Alvo era incapaz de produzir algum som com sua boca. Estava preocupado em olhar para o teto do cômodo e se balançar nos calcanhares. - É o filho do Potter, não é? – uma voz feminina perguntou. Alvo virou para trás. A dona da voz possuía cabelos longos e louros, presos em um arranjado rabo-de-cavalo. Seus olhos eram brilhantes e sonhadores. Tinham a cor castanha e sua pele era branca e aparentava maciez. - Sou... – Alvo sibilou. - Ah! – ela exclamou. – Sou Madeline Billigan. Sabe com é esse tal "teste do Seletor"? - Sou Rosa, esse é Alvo e esse Escórpio – Rosa apresentou. – É só colocar um chapéu na cabeça, nada de mais. - Ah! Eu descobri faz pouco tempo que sou bruxa... – a menina olhou para baixo. – Meus pais nem acreditaram na hora! - Legal – Escórpio falou, aparentando não achar nada legal. – Pode me chamar de Corp se quiser. - Ótimo, eu vou lá para trás – a menina disse sumindo no meio dos quarenta calouros. A porta se abriu e um baixinho Filio Flitwick apareceu. Trazia um chapéu velho, encardido e remendado nas mãos, junto com um pedaço de pergaminho. - Quero ordem durante a seleção – ele começou na sua voz esganiçada, prendendo a atenção. – Não façam nenhum tipo de balbúrdia. Vou chamá-los por ordem alfabética e quero se sentem na banqueta. Os alunos só tiveram tempo de respirar e em segundos estavam na frente de duzentos e quarenta estudantes. Todos usavam chapeis cônicos simples e vestes pretas. Estavam organizados em quatro mesas compridas. De frente para a grande porta de Carvalho do Salão, havia uma mesa repleta de professores. Há anos que faço isso Já até me acostumei Seleciono os novos Para com uma casa Terem um compromisso Mas não me julguem pelo Exterior, me julguem pelo interior Sei cada desejo, cada sonho Sei quem tem felicidade E quem na vida é tristonho Fui criado por quatro grandes bruxos Não sou um chapéu moderno Muito menos um objeto de luxo Godrico Gryffindor mandou-me Escolher os mais corajosos e Educados e para a Grifinória mandar Rowena Ravenclaw disse-me: Traga somente os mais inteligentes E de mente aberta para eu cuidar Salazar Slytherin me disse assim: O aluno astúcia tem que ter Para na minha casa entrar E Helga Hufflepuff assim afirmou: Acolho a todos, de braços abertos Ensinarei aos que recorrerem E assim, um grupo me enfeitiçou Não pense que é fácil A não ser que você seja um Chapéu falante e hábil Esse ano, algo voltou para sua casa Um objeto poderoso e também Misterioso. Finalmente, está debaixo da asa de seu verdadeiro lar Agora esse objeto já pode mostrar E desse fardo se livrar Peço agora um pouco de atenção Para passar por esses tempos As quatro casas têm que ter União Finalmente agora meu trabalho Vou fazer. Tragam os calouros Para a mente deles eu ler! O Chapéu Seletor foi aplaudido por todos os presentes no Salão principal, inclusive os professores e primeiranistas. Filio abriu o longo rolo de pergaminho e disse, em sua voz costumeira: - Airfoolish, Alexander! Um menino de pele pálida e cabelos claros andou vacilante até o banquinho, sentou-se e colocou o chapéu na cabeça. - GRIFINÓRIA! – O Chapéu Seletor anunciou. O salão foi varrido de palmas entusiasmadas dos grifinórios, moderadas dos corvinos e lufanos e quase nenhuma palma veio da mesa sonserina. - Belacqua, Felipe! Um louro saiu da fila e andou de cabeça alta até o banquinho. O chapéu se demorou pelo menos dois minutos no garoto. - LUFA-LUFA! Ele foi sentar-se, ainda de cabeça alta, na mesa dos lufanos, onde foi recebido calorosamente pelos companheiros de casa. - Belacqua, Leews! O irmão gêmeo de Felipe sentou-se no banquinho. - CORVINAL! Após isso Saletty Bexter foi para a casa de Rowena, Vicentino Bucktan foi o primeiro sonserino da seleção e Fátima Eirstogan para a Sonserina também. Os grifinórios já xingavam quando Madeline foi para a Grifinória. Ela correu até a mesa com seu rabo de cavalo balançando em suas costas. Foi abraçada pela monitora chefe e depois se sentou. Mais dois alunos foram para a Lufa-Lufa, dois para a Grifinória e para a Corvinal quando foi chamado o nome de Vicento Haperlee, que foi para a casa lufana. - Malfoy, Escórpio! O louro olhou para Alvo buscando apoio, o amigo só podia lançar um olhar de apoio para Corp. Ele andou vacilante até o banquinho e sentou-se. Segurou as bordas do chapéu com força para colocá-lo na cabeça. Passaram-se alguns instantes de silêncio. Um silêncio que quase falava, cada mesa olhava atenta para o garoto, todos pediam para que ele caísse em sua casa, mas a Sonserina tinha convicção, porque, afinal, ele era um Malfoy. - SONSERINA! Escórpio olhou para Alvo seriamente e foi sentar-se com os novos colegas de casa. Era o tipo de olhar que pedia compreensão, e Alvo compreendeu. Alvo estava distraído procurando Victoire na mesa corvina quando ouviu: - Potter, Alvo Severo! Seus joelhos grudaram um no outro, seus pés aumentaram de tamanho, o impossibilitando de andar, tudo se movia em câmera lenta. Flitwick acenava para Alvo se apressar e foi o que ele fez. Correu e caiu sentado no banquinho. Alvo colocou o chapéu e antes deste o tampar a vista pôde ver o rosto de Tiago, lhe desafiando. Não importa a casa que eu esteja, posso ser corajoso Essas palavras voltaram para a mente de Alvo. "Hummm... – uma voz se fazia presente em sua cabeça. – Corajoso, criativo, astucioso, leal, capaz, vontade de aprender... Lembro quando selecionei seu pai, virou um grande bruxo... Teria se dado melhor na Sonserina... Ou não... Acho que você pensa que tem que provar para alguém que é corajoso... Faça isso na..." - SONSERINA! Palmas percorreram cada mesa do Salão e Alvo foi acompanhado por centenas de olhares até sentar-se. Várias pessoas vieram lhe apertar a mão, ele tentava sorrir, disfarçava, concordava com o que falavam, mesmo não ouvindo sequer uma palavra. Ele olhou para o prato de prata que estava brilhando à sua frente. Via-se refletido lá, um sonserino. Uma lágrima marota percorreu seu rosto e caiu em seu colo. Não ouvia nada, não sentia nada. Sabia que aquela lágrima mostrava tudo que sentia. Ele fora contra as regras, fugira dos padrões, isso era bom? Teria que agüentar uma eternidade com Tiago lhe dizendo que deveria ser expurgado da família e jogado aos lobos. Ele se virou para a Seleção. Rosa lhe olhava triste da fila. Ele retribuiu com a mesma intensidade, colocando tudo que queria falar em um olhar. - Weasley, Rosa! Ela despertou e sentou-se no banquinho, todos a olhavam. - GRIFINÓRIA! Palmas. Ela foi se sentar, não sem antes lançar um último olhar ao primo. Flitwick pegou o banquinho e o chapéu e saiu por uma porta lateral no Salão. Alvo sentiu um tapinha nas costas. - Mesma casa! Nós dois! – Escórpio disse. – Não é ótimo? - Sim – Alvo disse tristonho. - Vai dizer que ficou triste por não ter ido para Grifinória? - Adivinhou. - Nós vamos nos ver – consolou Corp. – Nas aulas. Temos poções e astronomia junto com a Grifinória! E acho que teremos vôo também! - Espero que esse ano seja repleto de coisas boas – ela começou. – Cada coisa que fazem de errado, sua casa perde pontos. Se fizerem coisas certas, recebem pontos. No final do ano, a casa que tiver mais pontos, ganha a Copa das Casas. A Floresta nos terrenos é proibida para todos os alunos do castelo. Vocês podem olhar as quatrocentas e sessenta e oito regras na porta da sala da zeladora, Morigan Frigg. Vou punir severamente aqueles que pendurarem alunos no teto do corujal. Bom jantar à todos. Comidas apareceram sobre as travessas que estavam, há pouco, vazias. Todos os tipos de carnes, sopas, saladas, pães, sucos e verduras que se pode imaginar. Os alunos começaram a servir-se e Alvo não perdeu tempo. - Ah! Temos um Potter na Sonserina! – O menino da frente de Alvo exclamou. - É, acho que sim... – o moreno respondeu, acanhado. - Sou Rupert Ganbon – ele estendeu a mão e Alvo apertou. Rupert aparentava estar no sexto ano. Tinha cabelos negros e penteados, olhos azuis e nariz curvado para baixo. Ombros largos e mãos grandes. Uma menina de cabelos curtos e castanhos se aproximou. Ela fitou Alvo. - Sai fora Rupert – ela empurrou o jovem. – Sou Julieta Edgecombe. - Alvo Severo – Alvo cumprimentou. Corp estava ocupado em traçar uma coxa de peru suculenta. - Dá o fora – Rupert reagiu. – Menina chata. - Não sou eu quem levou um fora da lufana do quinto ano! – ela se serviu de ensopado. - Saiba que já fiquei com aquela corvina da classe de Aritimancia depois da lufana – Rupert se gabou. - Faça-me o favor! – ela exclamou indignada. – Você não sabe o nome das meninas com que você namora! - Pelo menos alguém aqui já namorou! - Alvo, que tal treinar esse ano para entrar no time no seu segundo ano? – perguntou Julieta, desviando o assunto para outro rumo. – Poderia ser nosso artilheiro. Mário vai embora depois desse ano. - É que eu não jogo muito... – Alvo começou, mas foi interrompido por Escórpio. - Eu posso ser artilheiro. Tenho muita habilidade com vassouras. - Ah, ótimo, eu vejo você durante os treinos de vôo que o primeiro ano tem no trimestre – Julieta respondeu, aparentando estar desapontada com a habilidade de Alvo para o quadribol, ou melhor, sua falta de habilidade para o quadribol. - Você não percebe que está enchendo o saco deles? – Rupert falou depois de engolir um pedaço de uma batata. - Vejo vocês na aula de vôo – ela disse. – E espero não te ver nunca mais, Rupezinho! Não é assim que a corvina te chama? Julieta saiu pomposa deixando Rupert com a batata na goela e sem nenhuma resposta. Malfoy deu um risinho para Alvo. Não era tão ruim assim estar na Sonserina. Havia gente legal. Tiago estava errado, Rony também, e Hugo. Era uma casa como qualquer outra, com pessoas simpáticas, algumas antipáticas, coisas normais. Alvo espetou o garfo em um pedaço de bife e o saboreou. Estava tudo ótimo. Tinha um amigo na mesma casa, conhecera Rupert e Julieta, estaria dormindo em pouco tempo. Nada de ruim acontecera. Em pouco tempo os pratos e travessas se limparam, deixando Alvo apenas com um pedaço de batata, que estava espetado no garfo. Sobremesas de todos os tipos apareceram nas mesas do Salão. Sorvetes, sucos, frutas, doces, chocolates, pudins, tudo! Alvo se deliciou com tortinhas de cereja e pudim de pão. Escórpio comia vorazmente tudo que colocava no prato, em questão de segundos. McGonagall se levantou novamente, logo após que as sobremesas e as louças sumiram das mesas. - Boa noite a todos os alunos. Os monitores chefes levarão vocês, primeiranistas, até as Salas Comunais. Amanhã é segunda-feira e o café será servido, como de costume, às sete horas. Os primeiranistas sonserinos agitaram-se e logo se formou um pequeno grupo em volta de um menino alto e de cabelos longos e castanhos. - Sou Mário Greenhimball – disse ele, simpaticamente. – Sou o monitor-chefe da nossa casa. Boas vindas a todos. Eu vou levá-los até as masmorras, onde fica nossa sala comunal. Lá poderão fazer deveres, descansar ou jogar o tempo fora. Ele saiu do Salão Principal, seguido pelos alunos excitados. Viram-se em um pequeno hall. Os calouros corvinos eram guiados por um rapaz por uma escada de mármore, que subia. Mário mostrou aos jovens uma pequena escada circular que descia. A passagem era estreita. - Concordo! Em segundos estavam em uma série de corredores subterrâneos, iluminados apenas por archotes que continham uma chama bruxuleante. As pedras que formavam as paredes eram lisas e pareciam úmidas. O frio incomodou Alvo e fez arrepiar sua espinha. Passaram por algumas estátuas, portas fechadas, quadros, um fantasma e alguns monitores quintanistas. Dobraram um corredor e no fundo havia apenas uma parede lisa. A pedra parecia mais clara nesse ponto. - Muito bem, chegamos à nossa sala Comunal. Todo sonserino tem que ter a senha para entrar aqui, ok? Não devem contar para nenhum outro aluno de nenhuma outra casa. Porco Voador! A parede, para a surpresa dos alunos, escorregou e revelou um arco, e os alunos se viram em sua Sala Comunal. Um cômodo amplo e de teto baixo. Havia muitas poltronas de encostos altos e descansos de madeira para os braços. Dois sofás pretos de frente para a lareira, um quadro de avisos em um canto e na outra extremidade duas portinholas. - Os dormitórios ficam depois daquelas portas – Mário continuou. – Meninos na porta à esquerda e meninas na porta à direita. O horário de vocês será entregue no café-da-manhã. Vou dormir, se precisarem de alguma coisa podem me encontrar na biblioteca estudando para os Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia. Dizendo isso ele entrou por uma das portas e sumiu. Havia alguns alunos animados na sala Comunal que conversavam, um bebia cerveja amanteigada com dois outros amigos e um segundanista pendurava a bandeira da casa na parede. Alvo foi até o quadro de avisos, não havia nada lá ainda, ele passou a ponta dos dedos sobre a superfície. Estava em Hogwarts, estava na Sonserina. Agora ele teria que enfrentar Tiago, Hugo e qualquer um que falasse mal de sua casa ou mencionasse que era um bruxo das trevas. - Ah, Alvo, acho melhor irmos dormir – Escórpio disse. – Amanhã podemos aproveitar mais o lugar. - Também acho, Corp – Alvo respondeu. – Será que levaram a Virginia para o quarto? - A coruja? Claro que não! Aqui não tem janelas – Escórpio falou. – Ela deve estar no corujal. Os dois amigos adentraram o corredor do dormitório. À esquerda havia três portas, uma para os alunos de primeiro ano, outra para o segundo e outra para o terceiro. Ao lado direito havia as portas para os quartanistas, quintanistas e sextanistas e no fundo uma porta para os alunos de N.I.E.M.s. O dormitório dos primeiranistas era retangular e havia cinco camas dispostas, duas já ocupadas. O lençol era verde, travesseiro branco e macio. Candelabros ainda acesos, um tapete em forma de serpente no centro e o baú a frente das camas, dava um ar acolhedor ao ambiente. Alvo encontrou suas roupas arrumadas no baú, juntamente com a bússola, os livros, ingredientes para poções, telescópio e a balança. Ele se deitou grato pela casa em que caíra. Não era ruim estar na Sonserina, ele pensou se estaria tão bem assim na Grifinória.
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