Sonserina, Sonserina




A história de Alvo Severo Potter começa em uma manhã de Agosto. Alvo Severo tem dois irmãos, dois pais famosos no mundo da magia e uma família enorme. Ele era o filho do meio de Harry Potter, o auror de fama internacional que havia matado o pior bruxo de todos os tempos em uma batalha épica no castelo de Hogwarts.


Sua mãe era ex-jogadora de quadribol, o esporte preferido dos bruxos. Havia se aposentado quando engravidou pela terceira vez, virou colunista no jornal bruxo que mais circulava no Reino Unido, trabalhava no Profeta Diário. Gina era meiga e uma boa mãe, se esforçava para manter a casa em ordem.


Tiago Sirius era o seu irmão um ano mais velho. Tinha cabelos acaju e olhos azuis que denunciavam a maternidade, iria entrar para o seu segundo ano em Hogwarts, não parava de falar em tentar a vaga de apanhador no time escolar da Grifinória. Tiago adorava os logros da loja do Tio Jorge e os usava principalmente em Alvo. Por sua habilidade no quadribol, era o orgulho dos pais, dois amantes do esporte.


Lílian era a mais nova dos três, tinha cabelos ruivos e olhos azuis e doces. Gostava de colecionar pufosos, bichinhos redondos, peludos e coloridos que ficavam espalhados pela casa espalhando seus pêlos. Era mimada por Gina e, com certeza, sua filha preferida. Só iria entrar para Hogwarts quando Alvo estivesse no terceiro ano, mas sua ansiedade estava presente desde que descobriu o que era Hogwarts.


Alvo Severo pensava que era o ovelha negra da família, não se interessava por quadribol e já estava cansado de ouvir as histórias do seu pai herói, ele parecia tão pequeno ao lado de Harry que isso lhe irritava. Outra coisa que lhe infernava era a Sonserina, Tiago já havia dito que Alvo iria para a Sonserina, casa famosa por formar a maioria dos Comensais da Morte, aliados do maior bruxo das trevas de todos os tempos.


Todos diziam que o menino era uma cópia xerocada do pai quando era pequeno. Cabelos negros e bagunçados, magricela, um pouco baixo para a idade e olhos verdes cor de esmeralda. Mas Alvo não gostava muito disso, não gostava de ser ofuscado pela luz de seus pais brilhantes, de seu irmão popular e de sua irmã caçula meiguinha. Voltemos agora à manhã em que nossa história começa.



Alvo Severo sentiu lábios quentes e macios em suas bochechas e ouviu vagamente alguém dizer um doce "Bom dia". Ele abriu os olhos ao tempo de ver um homem alto, magro e de cabelos bagunçados e rebeldes sair pela porta do quarto. Levantou-se, olhou o despertador de ferro na cabeceira. Nove e meia da manhã. A cama de Tiago, seu irmão, já estava vazia, o lençol amassado e jogado no chão, típico de alguém que resmunga e chuta enquanto dorme.


O quarto era pequeno e de teto baixo. Havia duas camas de colcha laranja, vários pôsteres de vários times de quadribol – principalmente dos Chudley Cannons -, flâmulas da Grifinória acima das cabeceiras de carvalho. Um criado mudo no canto do quarto guardava os trabalhos de casa incompletos de Tiago, encimados pela gaiola de ferro de Virginia, a coruja de Alvo.


Alvo sabia que, todas as férias que passava na Toca, Tiago aprontava travessuras, geralmente a mando de Tio Jorge ou acompanhado de Hugo, filho de Rony e Hermione. Alvo tirou seu pijama melancolicamente, pôs uma roupa casual e desceu as escadas barulhentas. Rosa saiu de um quarto um andar abaixo.


- Al! – ela exclamou. – Bom dia.


- Dia, Rosa – Alvo cumprimentou a prima.


Rosa era filha de Rony e Hermione, tinha cabelos volumosos, encaracolados e ruivos, os prendia freqüentemente com presilhas coloridas. Seus olhos eram azuis e brilhantes como água do mar. Rosa era o orgulho dos pais, estudiosa como a mãe, nunca se viu Rosa nos tempos livres sem um livro grosso e empoeirado nas mãos, sentada em baixo de uma árvore. Ela iria entrar em Hogwarts no mesmo ano que Alvo.


Os dois desceram juntos até a cozinha e encontraram a Vó Molly preparando panquecas no fogão. A cozinha era grande e comprida. A geladeira e o fogão se espremiam em um canto e a mesa de madeira ocupava a maior parte do cômodo. Havia várias panelas, cuias, jarros, colheres de pau, tudo pendurado nas paredes. Dois galões enormes de vinho estavam em um canto e havia infiltrações por toda a parede. Os dois se sentaram à mesa e Alvo espetou uma omelete com o garfo.


Molly havia visto sua família crescer consideravelmente em dezenove anos, e adorava isso. Tratava cada neto igual, não fazia diferenças entre nenhum, havia recebido um convite de Minerva McGonagall para trabalhar em Hogwarts como Coordenadora Geral dos Elfos-Domésticos, mas recusou o emprego veementemente, adorava ser uma dona de casa.


Ela era casada com Artur Weasley, que trabalhava no Ministério da Magia na Seção de Resposta Dignas aos Trouxas. Gostava de ficar com a família, mas trabalhava muito, já que o trabalho exigia muito comprometimento. Gostava de colecionar tomadas e consertar aparelhos eletrônicos trouxas nas horas vagas.


- Bom dia, vovó – Rosa cumprimentou.


- Bom dia, Rosa. Dia, Al – Vó Molly respondeu distraída com as panquecas. Agora ela jogava mel sobre elas e colocava cinco no prato de Alvo e de Rosa. – Ah, desconfio que Gina e Hermione não estejam lhe alimentando como deviam, parecem tão magros. Tão abatidos.


De acordo com Gina, Alvo engordara vinte quilos nas três semanas que estava na Toca. Ele sabia que era exagero da mãe. O fato provocou estranhamento entre Gina e Vó Molly. Rosa olhou para as panquecas com mel em seu prato com tristeza profunda e fez cara de enjoada por causa da quantidade de mel.


- Err... - Alvo começou. Queria poder falar que não queria comer as panquecas. – Vovó, Tiago está no jardim?


- Ah, está sim – Vó Molly respondeu. – Aquele menino é meio louco. Saiu sem nem passar por aqui. E seu primo Hugo estava atrás dele. Não gosto desses dois muito juntos.


- Nem eu vovó – Rosa disse. – Lembra de quando eles soltaram galinhas cantoras pelo Beco Diagonal?


- Eu me lembro! – Alvo falou. – Foi um desastre. Tiago ficou sem poder usar a Valéria por um mês inteiro.


Hugo era o irmão mais novo de Rosa, tinha a mesma idade de Lílian, mas vivia acompanhando Tiago, era o seu Sancho Pança. Tinha cabelos castanhos, várias sardas pelo rosto e olhos azuis. Não tão aplicado à leitura quanto Rosa, preferia figurinhas, Snap Explosivo, quadribol e os logros do Tio Jorge.


Os três ouviram a escada ranger. Significava que alguém vinha descendo o mais silenciosamente possível. Hermione apareceu ao sopé da escada nesse momento em um pulôver azul. Ela vinha com o Profeta Diário na mão direita. Sua juba castanha estava amarrada em um rabo de cavalo caprichoso e molhado. Hermione cumprimentou Alvo, Rosa e a sogra com um beijo no rosto e depois se sentou.


- Alguma notícia importante? – a Vó Molly perguntou limpando as mãos no avental e depois sentando-se à mesa.


- Nenhuma... – Hermione disse sem tirar os olhos do jornal. – A contratação de Fidélia Furkins para substituir Sylvanus Mylor esse ano. Parece que Furkins já morou no mesmo bairro que McGonagall.


- Que diabos aconteceu com Mylor? – Molly perguntou. Rosa e Alvo tentavam comer suas panquecas com esforço. – Coitada da Minerva, é difícil escolher professores assim de última hora.


- Foi viajar para a África – Hermione disse. – Parece que vai fazer algumas pesquisas. E só avisou ontem para a Minerva. Uma tremenda irresponsabilidade, é o que eu acho.


A Vó Molly se levantou, ansiosa:


- Vou acordar Rony. Está ficando dorminhoco demais – depois subiu as escadas.


- Vão comer as panquecas? – Hermione perguntou conferindo se Vó Molly não estaria perto demais para ouvir.


- Não, tia Mione – Alvo disse afastando o prato, aliviado com a salvação. Com um gesto de varinha as panquecas levitaram do prato e Hermione as conduziu até o cesto de lixo.


- Obrigado, mãe – Rosa disse. – Não agüentávamos mais.


Hermione piscou para os dois e voltou a ler o jornal. Rosa e Alvo saíram para o jardim.


Tia Hermione trabalhava em um cargo de importância no Ministério da Magia. Havia fundado o F.A.L.E., Fundo de Apoio a Liberação dos Elfos, e criava leis de proteção a eles. Sua opinião era importante em decisões do Ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt, graças a sua sagacidade e esperteza. Rony, seu marido, também tinha um cargo importante.


Ele trabalhava como Supervisor dos Aurores, era o braço direito de Harry e ajudava na administração da Seção. Também fazia trabalhos de campo, havia prendido vários bruxos infratores durante sua carreira, sempre tinha o apoio de mais três subordinados em suas missões.


Era um dia lindo demais para se perder comendo panquecas com mel. Gina lançava a goles – uma das bolas do quadribol - com a varinha para Tiago, que defendia quase todas. Tiago estava no segundo ano da escola e poderia entrar para o time da Grifinória, quanto a Alvo, Alvo nunca jogou quadribol bem. Tiago era melhor em quase tudo do que Alvo. Quadribol, Snap Explosivo, Xadrez Bruxo e Pedras Cuspideiras.


- Vamos fazer o que, Al? – Rosa perguntou observando o primo Tiago, ela sabia que quadribol não era uma opção. – Lílian ainda está dormindo. Se não estivesse poderíamos jogar Snap. O que vamos fazer?


- Tudo menos jogar quadribol com aquele metido – Alvo disse emburrado. – Não suporto ele quando está em cima de uma vassoura.


- Ei, mano! Venha aqui jogar! – Tiago gritou para a fúria de Alvo depois de defender mais uma bola. – Você pode ser um balaço!


- Pára, Ti – Gina disse. – Vou entrar para tomar café com Harry, ele já deve estar acordado.


Ela deixou os três sozinhos.


- Anda, venha jogar! – Tiago disse. – Se você ganhar uma vez de mim já vai ser bastante!


- Não vou jogar quadribol com você – Alvo simplesmente disse.


- Está com medo do Tiago? – Hugo saiu de algum lugar e disse. – Não posso acreditar nisso!


- Vendo por esse lado – Tiago começou as provocações –, você não é tão grifinório assim. Acho que vai ir para a Sonserina!


- Não vou se não quiser! – Alvo rugiu. O irmão ainda estava no ar e começava a dar voltas em volta de Alvo e Rosa.


- Vai sim, senhor! – Tiago zombou. – Não é, Hugo?


- É sim! – Hugo disse. – Não é nem corajoso e nem cavalheiro esse seu irmão, Tiago!


- Para com isso, Hugo! – Rosa exclamou admirada com o irmão. – Se eu falar para nossa mãe você vai ver só o que é bom!


- Sonserina, Sonserina, casa dos metidos, casa do Alvo! – Tiago cantarolou. Foi a gota d’água para Alvo. Ele esticou os braços e puxou o cabo da vassoura do irmão. Tiago caiu no gramado de cara e seu nariz começou a sangrar. Hugo entrou em desespero e correu para dentro da Toca aos berros de "Alvo matou o Tiago!". Rosa tapou a boca.


- Eu não vou para a Sonserina! – Alvo disse para o irmão deixando-o sozinho com a vassoura jazindo no chão e o nariz sangrando.


- ALVO! O QUE ACONTECEU? – era a voz de Gina. Ela vinha correndo na direção de Tiago. – Não foi nada, Tiago, só um sangramento pequeno.



Vó Molly, Rony, Hermione, Harry, Hugo, Tiago, Lílian e Gina. Todos olhavam para Alvo. Ele sentiu seu estômago se revirar e seu intestino começar a se enroscar na garganta. Mas aquilo era merecido, já agüentava suas provocações há muito tempo, estava farto daquela conversa de Sonserina e Tiago sabia disso, fazia aquilo para irritar. Mereceu.



- Episkey – Hermione se aproximou curou o machucado de Tiago com um gesto de varinha. – Está tudo bem com ele.


- Alvo, já para o quarto – Harry disse firmemente. – Eu e Gina precisamos conversar com você.


O menino abaixou a cabeça e seguiu seu pai e sua mãe. Ele sentiu os olhares de todos o seguindo até entrarem na Toca. Subiram as escadas barulhentas sem dizer nem uma só palavra. Harry abriu a porta do quarto para Alvo e este se sentou na cama. Gina conjurou duas cadeiras macias.


- Al, puxou a vassoura do seu irmão? – Harry perguntou calmo.


- Puxei, pai. Mas... – ele começou, apenas começou, pois sua mãe começou a dar um de seus típicos shows de histeria.


- IMAGINA SE O TIAGO CAÍSSE DE CABEÇA NO CHÃO! – Gina berrou. – VOCÊ NÃO PODE FAZER UMA COISA DESSAS! PERDEU A CABEÇA, MENINO? ONDE ESTÁ SUA RAZÃO?


- Calma, Gi! – Harry disse. – Por que puxou a vassoura do seu irmão?


- Ele cantou aquele verso ridículo de novo...


- Tentou matar seu irmão por causa de um verso? – Gina perguntou incrédula.


- Eu só puxei a vassoura, não queria que ele...


- PUXOU A VASSOURA? ESSE MENINO ESTÁ DOIDO, HARRY! – Gina gritou novamente. Harry a acalmou colocando suas mãos pesadas sobre o ombro da esposa.


- Alvo, vai ter que ficar aqui pelo resto das férias – Harry disse. O casal se levantou.


Com um movimento de varinha de Gina as cadeiras sumiram. Harry e a mulher saíram silenciosamente do quarto. Isso não era justo! Alvo já estava cheio de Tiago e Hugo ficarem de brincadeiras com ele. Mas Alvo pensou bem. Era verdade o que eles haviam dito. Ele não era nem corajoso, nem cavalheiro. Com certeza seria a ovelha negra da família. Outros Weasleys já haviam caído em outras casas. Victoire estava na Corvinal e Lucy e Dominique eram da Lufa-Lufa. Mas a Sonserina era diferente. Era muito diferente.


Alvo tentou afastar esses pensamentos sombrios e se deitou na cama. Olhou para o teto baixo. Pensava na Sonserina, em Tiago, em Hugo, na Sonserina, em Hogwarts e na Sonserina. Seus pensamentos iam para vários assuntos e depois voltavam à Sonserina. Ele não queria ir para a Sonserina. A casa formara os maiores bruxos das trevas de todos os tempos.



 



A única solução para Alvo foi esconder o rosto no travesseiro e esperar que esse devaneio passasse. Ele adormeceu. Sonhou com uma serpente prateada o perseguindo. Em pouco tempo a serpente se transformou em Tiago. Alvo tentava fugir, mas Gina segurava seus pés. Ele ia ser pego. Tiago se transformou em um chapéu velho e engolfou Alvo.


O menino acordou suando. Tiago dormia na cama ao lado, estava em um sono pesado. Desceu sorrateiro e bebeu um copo d’água. Já era noite e todos estavam dormindo. A louça suja ainda estava na pia e eram muitos pratos. Com toda certeza Fred, Angelina, Jorge, Roxanne, Victoire, Dominique, Louis, Fleur, Gui, Percy, Audrey, Lucy, Molly, Carlinhos e Teddy jantaram na Toca.


Alvo não tinha noção das horas. Sentou-se na poltrona da sala de visitas e ficou pensativo. Queria ter podido jantar com a família, rir com eles, ver Teddy mudar a sua aparência centenas de vezes e nunca repetir uma única aparência. Ver as briguinhas indiretas de Fleur e Vó Molly, Percy se gabando de seu cargo ministerial, Molly falando de seus planos de futuro em Hogwarts.


Tinha perdido essa chance por causa de Tiago. Um menino mimado e chato. Alvo o imaginou durante o jantar, bajulado pelo Tio Jorge por causa das travessuras que fazia. Alvo se sentiu mal por pensar isso e guardou o copo vazio na cozinha. Subiu as escadas lentamente e foi para seu quarto.


O dia seguinte amanheceu ensolarado. Gina trouxe o café da manhã de Alvo junto com um beijo. Ele comeu a omelete e tomou o leite. Deixou o prato em um canto. Pegou a gaiola vazia de Virginia. Ela fora caçar ratos na noite retrasada e ainda não voltara. Ele limpou a gaiola, colocou novas folhas de jornal.


Abriu a janela e olhou o jardim. Todos estavam lá. Tiago e Hugo brincavam com Rony e Rosa lia um livro com Hermione. Lílian brincava no centro do jardim com Vó Molly e Artur. Harry e Gina namoravam debaixo de uma árvore. Todos felizes e Alvo preso em seu quarto. Que graça tinha passar dias ensolarados trancado? Fechou a janela com raiva e sentou-se na cama.


Ouviu batidas na porta.


- Entre – disse ele desanimado.


Harry entrou em silêncio e sentou-se ao lado de Alvo.


- Quer sair daqui, não? – ele perguntou. Alvo concordou com a cabeça.


Houve um momento de silêncio.


- Perdi o controle – Alvo falou apoiando a cabeça no ombro do pai. – Não agüento mais as provocações do Tiago.


- Eu te entendo, filho – Harry disse. – Levante-se e saia para o jardim, tá fazendo um lindo dia lá fora.


- Posso sair? Mesmo?


- É claro que pode! – Harry abraçou o filho e continuaram daquele jeito. – Alvo, não importa a casa que cair, aposto minha cabeça que você pode mostrar para seu irmão que você é mais corajoso que ele.


- Mesmo?


- Mesmo. É só você tentar. Você consegue ser muito mais corajoso que ele ou Hugo.


- Obrigado, pai – Alvo falou. – Prometo que esse ano vou provar que, não importe a casa que eu esteja, posso ser bom.



- É assim que se fala.

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