Adeus Férias - Parte II
Capítulo 1.1
por Scorpius Malfoy
Minhas férias haviam sido uma droga completa. Após ter passardoas últimas semanas trancafiado no salão de treinos no sótão, impedido de ver a luz do sol enquanto não aperfeiçoasse um dos encantamentos que os anciões da família de minha mãe criaram, eu estava prestes a sucumbir ao meu próprio estresse. Cheguei até a pensar em lançar uma maldição em meu pai, tal fora o ódio que essa vontade frustada dele de eu me tornar o melhor bruxo do mundo mágico me provocara. Porém eu consegui manter minha razão até o dia em que eu fora libertado - minha última noite antes do regresso à Hogwarts.
Após a longa e torturante travessia do corredor da mansão Malfoy onde ficam os retratos de nossos antepassados, ouvin palavras como fracassado e amante de perdedores, cheguei até o meu quarto e entrei nele às pressas, batendo a porta com toda a força que eu consegui reunir numa tentativa um tanto infantil de chamar a atenção daqueles que estivessem em casa. Quando percebi o grau de imaturidade do que eu tinha feito, minha raiva só aumentara, mas ao invés de quebrar as coisas eu apenas deixei meu corpo cair e deslizar encostado à porta, até que eu caísse sentado no chão.
Minha vida repentinamente havia se transformado num inferno. Eu tinha que admitir que o simples ato de bater a porta servira para aliviar um pouco de minha raiva. Olhei para meu quarto escuro e vi algo brilhante em cima de minha cama, em um formato estranho, como se fosse uma escultura. Ao seu lado, havia um grosso envelope, mas não consegui vê-lo direito na penumbra do local.
Fui até lá e o peguei, depois usei o brilho prateado da lua que entrava pela janela para conseguir ler as incrições do remetente no verso.
Era uma carta de enviada por Hogwarts, porém havia algo diferente dentro. Depois de todo o inferno que eu vivera em minhas férias, a última coisa que eu esperava era que tivesse sido expulso de Hogwarts ou que as aulas tivessem sido canceladas por algum motivo. Se aquilo fosse verdade, eu não saberia por quanto tempo mais conseguiria manter minha sanidade dentro daquela casa.
Com muito custo, abri o envelope e vi que havia outro dentro. Retirei-o de lá e li o nome do rementente. Para meu alívio, vi que não era de Hogwarts, então decidi abri-lo primeiro.
Scorpius Malfoy,
Eu venho por meio dessa carta tentar exclarecer algumas coisas que devem ter ficado no ar.
Acho que você recebeu a carta de Hogwarts, que está no outro envelope, e já a deve ter lido. Bom, eu não quero que você se sinta como um mero substituto, e sim, como o melhor para preencher tal cargo.
Você sabe que eu não tenho nenhuma compatibilidade social com ninguém e muito menos espírito de liderança, então eu realmente nunca daria certo executando tal tarefa. Tenho certeza que os professores erraram ao me escolher, pois não devem ter avaliado direito as exigências para tal cargo.
Quando recusei, a primeira pessoa em quem eles pensaram para assumir o cargo foi em você, e como você se encaixa em todos os requisitos, eu reforcei totalmente a idéia.
Espero que você me entenda e entenda a decisão deles. Você sempre foi e sempre será o mais indicado para tal cargo. Estou cansado de ser paparicado por todos só por minha descendência ou por minhas condições acadêmicas. Acho que agora eles conseguiram entender o que eu realmente espero de Hogwarts.
Faça bom proveito do distintivo
Kody Coleman
Terminei de ler a carta estupefato mas ao mesmo tempo sem entender nada, então deduzi que teria que ler a carta de Hogwarts primeiro. Com as mãos trêmulas e com o tuma sensação de ansiedade me invadindo, abri o envelope e li seu conteúdo.
A carta me informava que houvera uma desistência por parte de um aluno e eu fora nomeado monitor-chefe. Ela também vinha acompanhada de um distintivo e terminava com a assinatura do diretor. Já com as coisas um pouco mais esclarecidas, reli novamente a carta do Coleman e então tudo que estava escrito lá fez sentido.
Acho que não tenho nem noção de quantas vezes eu o amaldiçoara nos últimos dias. Era culpa dele eu não ser o melhor em Hogwarts e meu pai surtar nos últimos meses. Talvez isso soe como uma desculpa de perdedor, mas eu sempre tinha plena certeza de que nenhuma pessoa que fosse normal conseguiria ultrapassar outra que havia passado 2/3 de sua vida com a cabeça enfiada nos livros e o outro 1/3 praticando ou assistindo a aulas. Acho que nenhuma pessoa que tenha uma vida social conseguiria ultrapassar um autista e sociopata que passa sua vida isolado do mundo.
Assim que entrei na escola, em meu primeiro ano em Hogwarts, eu aceitei a idéia. Após ter ciência de que as notas finais do exame do Coleman estavam intactas e que minhas notas, pelas quais eu batalhara para se manterem altas, não haviam conseguido superar as do menino gênio descendente da família real inglesa, decidi desistir do sonho hipócrita de meu pai e comecei a batalhar pelo posto de segundo lugar e pelo qual luto até hoje, tendo como adversária uma das garotas mais insuportáveis e também parte do clube de admiradoras secretas e interesseiras número um do Coleman - Rose Weasley.
Pelo menos nossa luta era mais equilibrada, já que ambos tínhamos que batalhar para conseguir mos nossos méritos e também ambos tínhamos amigos - embora ela tivesse poucos e suas amizades fossem parte da ralé de Hogwarts. Porém ela desenvolveu um ódio especial por mim, talvez por frustração de que eu, o cara que se tornara o mais popular e baladeiro da escola, conseguisse ficar pau-a-pau com ela.
Bom, se virmos as coisas por esse ângulo, realmente parece que eu não tenho que passar por treinos rigorosos durante as férias ou que não sofro pressões e castigos quase tão severos quanto o último que recebi. No fim, acho que essa coisa toda gera um ciclo vicioso: eu com ódio do Coleman por ele aparentemente não precisar estudar ou se esforçar e a Weasley com ódio de mim pelo mesmo motivo.
Esse pensamento me fez lembrar de algo importante e decidi que era hora de parar de relembrar o passado. Enfiei as duas cartas no grande envelope e o fechei, sem nem me dar ao trabalho de ver meu novo distintivo, e o joguei na escrivaninha.
Peguei o pequeno objeto que estava em minha cama e vi que havia um cartão pendurado nele. O objeto era até bonito, embora eu não tivesse conseguido decifrar a sequência dos detalhes esculpidos no pequeno cristal, porém quando li o que estava escrito no cartão, um nojo profundo apoderou-se de mim e, se o objeto não fosse de um cristal tão frágil, eu o teria jogado na parede ali mesmo.
O cartão me dava os parabéns pelo meu aniversário e dizia que era um presente de Tomas Miller e Alice Robbins. Porém eu sabia que apenas ela havia lembrado-se de meu aniversário, já que Tomas não me mandara nenhuma carta nas férias, nem para saber se eu ainda estava vivo. Provavelmente ela havia acrescentado o nome dele no cartão apenas para livrá-lo de seu esquecimento. Mas, mesmo ela tendo se lembrado de mim, tenho certeza de que me mandara aquele presente por puro interesse, já que nunca fomos realmente amigos e todas vez que ela me via dava um jeito de me agarrar, pelo simples fato de eu ser um dos garotos mais populares (como se uma atirada como ela não precisasse de alguma ajuda para ficar famosa).
Mas por mais que as atitudes deles me parecessem absurdas, e por mais incrível que pareça, eles ainda eram as pessoas menos interesseiras que estavam ao meu redor. Sei que não posso chamá-los verdadeiramente de amigos, mas tenho feito isso nos últimos 7 anos, talvez pelo fato de eu achar que ter alguém que se preocupe com você, mesmo que por interesse, seja legal. Desde o dia em que minha vó morrera que eu desisti de encontrar amizades verdadeiras, então me contentava com relações restritas à um jogo de interesses, do tipo que rolavam soltas entre os sonserinos.
E por falar em sonserinos, o dia tão esperado de meu retorno à Hogwarts havia finalmente chegado e eu nem havia tido a oportunidade de fazer minhas malas. Fiquei até tarde da noite separando tudo, nos mínimos detalhes, pois mesmo que o pensamento de que esse ano seria meu último ano lá me deixasse triste, minha vontade de aproveitá-lo ao máximo ainda era maior. Eu passei tanto tempo arrumando as coisas e organizando com tanta concentração minha mala, que nem vi quando adormeci.
Quando acordei, já era dia e o sol das dez da manhã batia em meu rosto. Demorou um pouco para minha ficha cair, mas quando ela caiu e eu olhei no relógio o horário, me desesperei. Eu tinha menos uma hora para tomar um banho, me trocar e comer algo para estar na plataforma 9 3/4 com minha mala e minha coruja.
Ainda não faço idéia de como consegui a proeza de fazer quase tudo à tempo. Eram 9 e 45 da manhã e eu já estava pronto em meu quarto, despedindo-me dos pôsteres e da decoração do meu time preferido de quadribol.
Eu precisava chegar rápido à uma estação lotada de trem que ficava em uma outra cidade. Normalmente eu iria pela rede de flu, me dava a opção de escolher ou não indo numa lareira de um bar bruxo na Kings Cross. Mas a outra maneira além de ser algo totalmente novo, me dava a oportunidade de escolher ver ou não o rosto que eu estava tanto de meu pai àquela hora da manhã. Aproveitei que eu era maior de idade e já possuía permissão e aparatei com minha grande coruja-das-torres e meu malão na movimentada estação de Londres, sem nem me preocupar se os trouxas estavam me vendo ou não e logo depois marchei para as plataformas 9 e 10 e atravessei a barreira.
A sensação de que eu estava voltando para a casa me invadiu assim que eu ouvi o penúltimo apito do Expresso Hogwarts. O som durou apenas poucos segundos, mas foi capas de fazer com que todo o estresse e raiva que eu havia passado nos últimos dias se dissipassem juntamente com a fumaça que saía de sua locomotiva. Ao olhar para a multidão e para o trem vermelho à minha frente, me senti novamente o sarcástico e despreocupado Malfoy que eu sempre fora.
A primeira coisa que fiz foi soltar Kirche e enviá-la para o corujal de Hogwarts. Logo depois, avancei com minhas malas, com muito custo, em direção ao bagageiro.
O local estava apinhado de alunos desesperados para guardarem suas malas à tempo, antes do trem partir. O sufoco e os gritos de alguns em meio à multidão me fizeram parar no meio do caminho para procurar uma brecha para passar ou um local com menos alunos. E, assim que meus olhos correram pela aglomeração, paralizaram-se em um ponto e então presenciei uma cena hilária.
Uma aluna ruiva, do último ano de Hogwarts, enxotava alunos de sua frente e lançava feitiços nos miudos e indefesos do primeiro ano, tal era seu desespero para guardar suas malas. Parecia que ela nem estava se preocupando com o fato de que alguém pudesse estar observando a cena. Ok,,se levarmos em conta que aquela era uma cena normal de se ver, não ficaria desse jeito. Porém eu nunca esperaria aquilo da grifinória monitora-chefe e garota mais certinha de toda a Hogwarts (traduzindo: eu nunca esperaria isso de Rose Weasley).
Bom, diante de uma cena dessas, a gente não consegue se segurar, né. Pelo menos eu não consegui - ainda mais possuindo com um trunfo que ela não conhecia na manga.
- Menos cinco pontos para a Grifinória por estar usando magia indevidamente. - eu disse, no tom de desdém que mais a irritava. - Parece que a grifinória já vai começar com seu placar negativo?
- Como se você tivesse algum poder para fazer isso, Malfoy. - retorquiu ela no mesmo tom de desdém que eu; um sinal que apenas eu compreendia de que ela também havia andado irritada nos últimos dias. - Agora me dá licença que eu tenho mais o que fazer. - outro sinal que agora não apenas eu, mas o mundo inteiro já poderia ter certeza de que ela estava irritada.
Após dizer isso, ela virou-se rápido para sair dali, mas eu não estava disposto a deixá-la ir tão cedo. Não acho que a minha viagem ou a dela seriam a mesma coisa se não tivessem uma discussão decente de começo de ano. Peguei em seu braço e a parei, impedindo-a se continuar.
- Eu ainda não acabei de falar com você, Weasley. - eu disse, fingindo estar sério, mas deixando o sarcasmo colorir minha voz ao ver os olhos dela faíscarem para mim.
- Eu não lhe devo satisfações do que eu faço ou deixo de fazer, Malfoy. Agora, se me dá licença, eu vou indo porque tenho mais o que fazer do que ficar ouvindo suas baboseiras.
Sim, agora eu realmente conseguira meu objetivo.
- O que foi, caiu da cama de manhã? - perguntei, com um sorrisinho de zombaria e lancei-lhe a pergunta que faria com que ela quisesse jantar meu cérebro mais tarde - Ou será que sonhou comigo e não que admitir?
- Pode ter certeza que se tivesse acontecido isso, teria sido algo como eu te lançando uma maldição ou te azarando. Mas, antes de ter sonhos com você, eu prefiro que me internem no St. Mungus. - rebateu ela, secamente.
- Hum Weasley, parece que você não está de bom humor hoje. - conclui, ainda com meu sorriso sarcástico nos lábios.
- Que bom que você conseguiu chegar à essa conclusão sozinho. - retorquiu ela, saindo de lá às pressas para finalizar a conversa.
Mas eu não iria deixá-la ir sem a última gota de irritação que faria seu caldeirão transbordar e gritei:
- Nos vemos no trem, Rose Weasley.
Eu sabia que ela me odiava até a raiz de seus cabelos flamejantes, mas eu não estava preocupado. Sempre soube que era algo mais por competitividade que um sentimento realmente negativo e, como as reações dela à mim sempre serviam para melhorar meu bom humor, eu vinha alimentando esse sentimento desde então.
De qualquer jeito, nós nos veríamos em pouco tempo, já que eu teria que avisá-la sobre nossas tarefas e aparentemente dar-lhe a notícia de que era eu quem havia sido promovido à monitor-chefe.
Ao som do último apito do Expresso Hogwarts, guardei minhas malas no bagageiro e entrei às pressas no trem. A primeira coisa que fiz foi perguntar à uma garota e ela havia visto Rose pelos corredores, mas como ela ninguém aparentemente a conhecia, tive que perguntar se ela havia visto uma ruiva baixinha e barulhenta passar por ali.
- Uma da Grifinória? - perguntou ela.
- Sim, ela mesma. Sabe pra onde ela foi?
- Ah, acho que ela passou pro vagão da frente, não tenho certeza. - e logo depois a loirinha emendou - Por que você não se senta com a gente e nos faz companhia? - e ela apontou para o grupo de quintanistas que estavam com ela. - Parece-me que ela vai demorar a voltar... Não queremos que você fique aí sozinho...
- Obrigado pelo convite, mas eu estou realmente precisando encontrá-la. - e olhei para o decote da loirinha e deixei escapar, num muxoxo baixinho - Maldita hora em que eu fui resolver procurar a ruiva...
- Disse alguma coisa, Scorpius? - perguntou ela. Eu nunca a havia visto na vida, mas também não me espantei por ela saber meu nome; todos naquela escola sabiam.
- Não, nada não. - respondi rápido. - Bom, vou indo, até mais.
- Se mudar de idéia ainda tem espaço pra você em nossa cabine. - e ela apontou para um microespaço que havia entre duas garotas e eu senti o sangue ferver dentro de mim. MALDITA HORA EM QUE EU RESOLVI IR ATRÁS DA RUIVA!
- Ah, sim, pode deixar que se eu não encontrá-la eu venho sim.
- Vamos ficar esperando... - respondeu ela, e me lançou um olhar de rabo de olho que demorou mais tempo que o necessário e depois entrou vagarosamente na cabine, fechando a porta atrás de si.
- Scorpius, Scorpius... Por que você ainda fica com a idiota da Alice? Está certo que ela é a garota mais gostosa de Hogwarts e também sabe fazer essas coisas e muito mais... Mas de vez em quando é preciso variar, não é? - eu estava conversando comigo mesmo quando alguém me gritou no corredor. Quando me virei para ver quem era, a loirinha aparecera na porta da cabine.
- O professor de poções me entregou isso, e eu esqueci de entregar à você. - disse ela, segurando uma prancheta nas mãos.
- Ah, sim... Obrigado.
- Disponha-se. - respondeu ela, mas dessa vez entrou ainda mais rapidamente na cabine.
- Oh, Merlin! - deixei escapar.
Analisei a prancheta que ela me dera. Nela haviam apenas um monte de tabelas e horários para serem distribuídos. Eu realmente precisava encontrar a Weasley, mas para minha sorte não precisei andar muito para encontrar uma cabeleira vermelha no fim do vagão.
- Weasley! - eu gritei, tendo que empurrar um aluno para chegar até ela e já fui direto ao assunto. - Venha logo, não temos muito tempo.
- O quê?! Ir com você aonde Malfoy? Pirou?! - perguntou ela, olhando para ninguém menos que Kody Coleman, com uma expressão de quem estava achando graça da situação. Foi aí que eu me lembrei que ela não sabia que eu havia me tornado monitor-chefe. - Por que eu iria à algum lugar com você, Malfoy? E, além disso, não viu que está interrompendo nossa conversa?
Resolvi iniciar um jogo.
- Tsc, tsc, Weasley. - retorqui, com um tom de falsa amargura. - Kody, você ainda não contou à ela?
Kody percebeu a brincadeira e apenas balançou a cabeça negativamente, olhando para longe sem expressão. Tive que me segurar para não rir da cara de surpresa que a Weasley fez.
- Bom, parece então que vai ser eu quem vai ter que dar essa notícia à você, Weasley. - anunciei, tendo todo o cuidado de dar um brilho malicioso em meu olhar.
- Notícia? - perguntou ela, sem entender.
- É, Weasley. Já que o Coleman não te contou, de algum jeito você iria ter que saber. - continuei, atiçando-a ainda mais.
- Hãm? - realmente, nessa hora eu tive que me segurar MUITO para não rir. Em compensação, dei a cartada final:
- Weasley, eu, Scorpius Todo Perfeito Hyperion Malfoy, fui nomeado monitor chefe.
E o que ela fez? Bem, simplesmente soltou um alto e super sonoro...
- O QUEEÊ? - e todo o corredor de repente pareceu muito interessado em nossa conversa, a julgar pela quantidade de rostos que se viraram para nós.
- É isso mesmo que você ouviu, Weasley. Não me faça ter que repetir duas vezes.- eu a cortei, provocando-a novamente. Porém, dessa vez, ela começara a rir. - Está rindo do que, Weasley?
- Malfoy... Ah, Malfoy... - ela começou, mas fez uma pausa para respirar em meio ao riso - Dessa vez você se superou. Eu caí direitinho, eu juro que acreditei por um segundo que era verdade...
Acho que eu havia exagerado. Tudo bem que eu havia tentado brincar com ela, mas tenho certeza de que ela não aceitaria bem a notícia. Resolvi falar sério naquele momento:
- Eu não estou brincando, Weasley.
- Rose... - disse o Coleman, chegando atrás dela e colocando a mão em seu ombro. - Ele está dizendo a verdade.
- C-como assim, Kody? - gaguejou ela. - Você não é o monitor-chefe?
- Era para eu ser, mas desisti do cargo e o Scorpius acabou ficando com ele. - respondeu ele, sem graça.
- O quê? Kody, como você pôde? - ela retorquiu num jato, com a voz claramente amarga, mas ela não havia percebido isso.
- É que eu tenho estado ocupado com meus estudos para os NIEMs e com o time de quadribol, então pensei que mais uma atividade apenas me deixaria mais exausto do que já estou. - mentiu ele, tentando desculpar-se com ela.
- A-ah, o-ok então. - respondeu ela, e completou, sem nem olhar na minha cara. - Er, então eu vou patrulhar os outros vagões, ok gente?!
Epa! Ela estava indo embora? Eu não iria ficar com o serviço dos monitores-chefes todo pra mim...
- Weasley, não é isso que está escrito aqui para você fazer... - disparei logo a dizer, procurando algo para ela fazer na prancheta.
- Mesmo que você seja monitor-chefe também agora, não significa que eu vou deixar você me dizendo o que fazer. - rebateu ela, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa e encerrou, lançando um olhar que não pude ver ao Coleman. - Até o jantar.
- Até o jantar, Rose. - respondeu ele, normalmente.
Fiquei parado igual à um sete de paus olhando o caminho pelo qual ela passara.
- Ei, Malfoy, aconteceu alguma coisa? - perguntou o Coleman, me acordando de meus pensamentos.
- Ela simplesmente... foi embora? - perguntei, ainda sem acredtar.
- Bom, pelo jeito que ela saiu daqui, acho que foi sim. - respondeu ele, ainda me olhando de um jeito esquisito, como se eu não estivesse com a saúde mental boa.
- E ela vai me deixar cuidar das coisas aqui sozinho? - perguntei, já deixando minha indignação tomar conta de minha voz. - Deixa ela ver só... - e virei-me para sair. - Acho que também vou patrulhar os corredores... Até mais, Coleman. - e me enfiei no meio dos alunos até ter certeza de que havia sumido de vista.
Bem, acho que descobri uma ótima forma para se iniciar seu último ano em Hogwarts: primeiro, passe toda a viagem patrulhando corredores; segundo, tente desvendar o enigma que ronda o sistema de horários dos monitores, que é um dos sistemas mais complexos e desorganizados de Hogwarts; terceiro, fique para trás para revistar as cabines da parte da frente do trem, para ter certeza de que nenhum pirralho sacana ficou para trás para pregar uma peça nos professores; passe em frente à cabine das gostosas que te convidaram no começo da viagem e finja que você não é homem quando elas subirem as saias até a metade da coxa e abaixarem o decote; resolva problemas de pirralhos cdfs no lugar de professores preguiçosos e ganhe o apelido de "tio". E, por último, atravesse o lago com um grupo ainda pior de cdfs e vá direto para a cozinha dos elfos, para sentir o cheiro da comida invadir suas entranhas e seu estômago roncar, mas não coma nada, pois primeiro você tem que informar todos os elfos sobre os procedimentos com as malas de todos os alunos novatos.
No fim, você estára podre de cansado, com fome suficiente para comer uma vaca inteira e tera terminado tudo bem depois de o jantar ter terminado.
Como garantia de que funciona, o próprio criador desse método inovador terminou todos os testes e me informou de que é 100% garantido. No momento, ele está numa sala vazia, comendo um hambúrguer e bebendo um resto de suco de abóbora para não dormir com fome.
Bem, depois dessa eu tive certeza de que nada mais poderia me acontecer - porque tudo que eu já imaginei de ruim e mais um pouco havia acontecido comigo naquela tarde.
Após terminar de comer e completamente exausto, resolvi tomar um banho e dormir no quarto dos monitores-chefes, pois lá ninguém me incomodaria, uma vez que só eu possuía as chaves.
Peguei uma escada poucos segundo após ela se mover e subi até o quarto andar. Eu já estava abrindo a porta quando ouvi passos atrás de mim.
- Weasley? O que você está fazendo aqui? – perguntei. Mesmo estando surpreso, meu tom era de desdém. Minha raiva era tanta que eu não tinha certeza se só irritá-la faria com que ela passasse.
- Vim para o banheiro dos monitores-chefes, que agora posso usar por direito. - disparou ela, com a língua afiada.
- Pois você vai esperar até que eu tome meu banho. – retorqui, com um sorriso satisfeito. Avaliei sua expressão por um momento, mas meus olhos foram para um local distante de seu rosto quando notei o que ela estava usando - e tive que me segurar para não deixar meu queixo cair.
Ela estava vestindo um robbie vermelho-sangue que ia até seus pés, amarrado frouxamente em sua cintura, deixando um pequeno decote que servia apenas para caras "direitos" como eu ficar imaginando além do que o tecido mostrava. A cor vermelha contrastava com sua pele branca e seus cabelos flamejantes, dando-lhe um ar luxuriante. Para piorar, ela carregava uma troca de roupas, que eu reconheci como sendo as que ela vestira mais cedo, então tive certeza de que não havia nada por baixo daquele robbie.
- Scorpius, por favor, eu preciso muito entrar aí. Use o banheiro de sua sala comunal, só por hoje... – pediu ela descaradamente. Minha indignação fora tamanha que eu até parara de olhar para os peitos dela para encarar seu rosto, de tão pasmo que fiquei.
“- Mesmo que você seja monitor-chefe também agora, não significa que eu vou deixar você me dizendo o que fazer.” Não foi isso que você disse, Weasley? – rebati, com a primeira coisa que veio à minha cabeça, e depois ainda emendei, num fôlego só. – Pois o mesmo vale para você.
- Por favor Scorpius, eu estou te pedindo. – a voz dela, pela primeira vez na vida, estava baixa e suave. Por um momento acreditei que ela estivesse mesmo pedindo algo à mim, mas os anos e anos de convivência não deixaram que eu caísse na dela.
- Direitos iguais, Weasley. Por que você mesma não usa o banheiro de sua sala comunal? – perguntei, já girando a maçaneta da porta.
- Scorpius, por favor... – pediu ela, com a voz tão baixa que eu tive que me virar para ter certeza de que ela havia realmente dito alguma coisa. Nessa hora minha raiva toda voou num foguete para o espaço e eu me deparei com uma das cenas mais desesperadoras da minha vida.
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