Capítulo III
Quando eu acordei na manhã seguinte estava muito sonolenta: eu havia tido um sonho muito estranho durante a noite. Sonhei com o Rony e o Harry, que eles estavam em um lugar com muito pouca iluminação e que conversavam, mas eu não consegui escutar absolutamente nada da conversa, foi realmente esquisito.
Decidi deixar isso de lado por enquanto, eu tinha coisas para fazer. Desci até a sala, e depois segui para a cozinha a fim de começar a preparar o café da manhã de todos. Enquanto eu preparava salsichas, ovos e bacon comecei a pensar na Lily, ela havia ficado realmente triste na noite anterior, era chato quando isso acontecia, porque eu sei que nenhuma criança quer ficar sem pai ou sem mãe ou sem os dois pro resto da vida, e eu, sem uma das pessoas que eu mais amei na minha vida. Achei melhor parar de pensar nisso, se não eu iria começar a chorar e eu não queria que as crianças vissem isso.
Dali a alguns instantes, eles desceram correndo pela escada, provavelmente tentando ver quem conseguiria chegar primeiro à mesa para tomar o café-da-manhã.
-- Eu cheguei primeiro! – disse Alvo assim que passou pela porta
-- Dessa vez, maninho. – disse Lily. Ela parecia bem melhor do que na noite anterior.
-- Isso foi uma ameaça? – perguntou ele em tom de gozação.
-- Pode ser... – disse ela enigmaticamente.
-- Olha, enquanto vocês estão aí discutindo eu já estou aqui comendo. – disse Tiago deixando eles com olhares emburrados em sua direção. – Que foi? – perguntou ele quando eles sentaram à mesa fuzilando-o com o olhar.
-- Eu já não disse para vocês não descerem correndo? – eu disse ao colocar mais pratos com comida na mesa.
-- Já. – disseram eles simplesmente.
-- E por que vocês não me obedecem?
-- Mãe, desde quando nós obedecemos a ordens assim? – perguntou Tiago de um jeito maroto. Sendo acompanhado pela concordância dos irmãos.
-- Assim como?
-- Para deixarmos de fazer algo que gostamos. Como aprontar, por exemplo.
-- Quase nunca. – disse me dando por vencida.
-- Quase nunca? Não deveria ser nunca? – perguntou Al com uma pequena ruga entre as sobrancelhas.
-- Deixa isso pra lá, vocês não obedecem de qualquer jeito. – disse fazendo cara de derrotada e cachorrinho pidão. – Mas eu só estou preocupada com vocês.
-- Own, mãe, eu prometo que não corro mais na escada. – disse a Lílian – E vocês também, não é? – perguntou aos irmãos. – A mamãe merece um desconto da gente...
-- Tá certo. – disse Alvo prontamente.
-- Por mim, tudo bem. – disse Tiago com uma cara de que ia se arrepender depois.
-- Obrigada, pelo menos isso... – eu disse com uma voz falsamente cansada. Às vezes, nem tudo o que nós mostramos por fora é o que realmente sentimos como, por exemplo, aquele momento. Eu podia estar aparentando exaustão, mas por dentro eu estava quase pulando de alegria. É claro que eu não me cansava dos meus filhos, eles eram assim por natureza, mas que eu gostava de ter algumas preocupações a menos, e que eu havia falado o que falei de propósito sabendo que iria conseguir essa reação, ah isso era verdade. – Então, como foi a noite de vocês? – perguntei assim que sentei e comecei a me servir.
-- Não foi ruim, ainda estou com sono. – disse Tiago quase bocejando. Lily e Alvo começaram a rir baixinho.
-- O que eu perdi? – perguntei.
-- Esses dois me empurraram da cama quando eu não quis levantar. – disse emburrado.
-- Sério? – quando eles assentiram, eu continuei. – Eu queria ter visto isso.
-- O que? – falaram eles com caras de espanto.
-- Eu disse que queria ter visto. O que tem de mais? É engraçado acordar os outros assim quando eles, não querem levantar, eu costumava fazer isso com os meus irmãos. – Al e Lílian começaram a rir enquanto o Tiago ficava com a cara mais emburrada do mundo.
-- Obrigado pelo apoio moral, mãe – disse ele.
-- Ora, de nada. – disse eu com a cara deslavada.
Os outros dois começaram a rir mais ainda, deixando ele mais emburrado do que já estava. Depois disso, o restante do desjejum ocorreu tranquilamente e, depois que o momento acabou, todos me ajudaram a lavar a louça usada para subirem cada um aos seus devidos quartos logo em seguida a fim de se arrumarem, já que eles desceram de pijama, e escovar os dentes. Eu subi atrás deles logo depois de guardar e ajeitar tudo na cozinha.
Comecei a pensar no que eu teria que fazer naquele dia ao entrar em meu quarto, todas as coisas se resumiam basicamente em por em dia meu trabalho e fazer o almoço e o jantar. Eu escrevia para uma revista de quadribol, mas como eu tinha três crianças “pequenas” para cuidar, eu trabalhava em casa (assim como a Mione que trabalhava no ministério), só que eu estava mortalmente atrasada. Depois de acabar de escovar os dentes e de arrumar melhor o meu cabelo, eu sai do quarto-suíte em direção ao escritório q tinha na casa, mas antes que eu tivesse oportunidade de chegar lá, Lily me parou no corredor.
-- Mãe, o Daniel e a Amy nos chamaram para ir a casa deles. Podemos ir? – perguntou ela. Daniel e Amy eram irmãos e trouxas que moravam perto de nós, com os quais os meus filhos tinham amizade.
-- Quanto tempo vocês vão ficar por lá?
-- Não sei... provavelmente o dia inteiro.
-- Tudo bem. Tomem cuidados ao ir até lá, certo?
-- Certo.
E logo depois eles já estavam saindo para ir até a casa dos amigos. Isso tinha sido perfeito, porque eu poderia dedicar todo o meu dia em terminar o meu trabalho, por mais que às vezes fosse meio chato ficar escrevendo tanto, eu adorava o meu trabalho. Eu o havia abandonado uma vez quando as crianças nasceram e eu tive que cuidar delas, mas assim q foi possível, eu voltei ao meu emprego, ele me distraía dos meus problemas.
---------------------------------------------
Agora faltava pouco para o momento em que começaríamos a realizar nosso plano, na conversa que eu tinha entreouvido a hora que eles estavam combinando de sair era 01h30min da manhã e estava faltando apenas 5min pra chegar a essa hora. Eu e Rony estávamos repassando todos os detalhes antes que desse a hora. Assim que ouvimos passos vindos do corredor em nossa direção, deitamos nas camas puídas que nos deram para dormir e fingimos que já estávamos adormecidos.
-- Parece que vamos poder sair sem nos preocupar. – disse um dos (ex)comensais que estavam sempre do lado de fora de nossa cela. – Eles nunca nos causaram problemas. Provavelmente vão acordar só amanhã mesmo.
-- Pode apostar que sim. – disse o outro que o acompanhava.
Quando eles viraram de costas, resolvendo o que iam fazer para não ser pegos negligenciando o seu trabalho, eu me aproveitei que minha “cama” era perto da grade da porta e estiquei a mão para pegar a varinha no bolso do comensal mais próximo de mim, que era o segundo. Eles costumavam colocar um escudo de proteção para não nos deixar chegar muito perto da grade, mas ele precisava ser aperfeiçoado a cada semana, quando ficava mais enfraquecido. Por sorte eles resolveram sair justamente nesse dia, e até agora não tinham se lembrado de sua obrigação.
-- Nós temos que voltar em uma hora, se não seremos castigados. – disse o primeiro.
-- Certo.
-- Ah! Quase me esqueci! – disse ele virando-se de repente e apontando a varinha para a cela. Ele murmurou um feitiço baixo e saiu andando rápido e, logo depois, subindo as escadas sendo acompanhado por seu companheiro.
-- Você conseguiu? – perguntou o Rony assim que os sons de seus passos desapareceram.
-- Sim. – disse mostrando-a para ele. – Agora nós temos que esperar alguns minutos até eles terem saído.
-- Eu sei.
Depois de se passar o que pareceu uma eternidade a mim, nós levantamos e fomos para perto da grade, até onde o feitiço nos forçava a parar. Eu saquei novamente a varinha e apontei ela para a minha frente, me concentrando em lembrar de um feitiço que eu aprendi, por acaso, ha muito tempo atrás em uma de minhas missões do quartel de aurores. Esse era um feitiço capaz de desfazer qualquer escudo, mas era preciso muita habilidade e controle de sua magia, e isso era o problema: eu não praticava magia desde que fomos capturados, sem falar no desgaste que sofremos por todas as maldições que recebíamos diariamente.
Concentrei-me durante algum tempo e deixei que a magia se alastrasse por todo o meu corpo. Depois disso, disse o feitiço em voz alta enquanto sentia toda a magia que eu tinha acumulado dentro do meu corpo saindo como um jato pela ponta da varinha que estava na minha mão. Apareceu uma luz muito forte quando o feitiço encontrou a grade da porta e mais nada.
-- Será que funcionou? – perguntou Rony com uma expressão preocupada no rosto.
-- Não sei. – disse com receio. Tentei encostar na grade e, milagrosamente, ela abriu sem me machucar nem nada. Eu ri na direção do Rony e ele me retribuiu com um grande sorriso. – É melhor nós irmos logo.
-- Certo. – E saímos. Mas nada nos preparou para o que veio a seguir.
De todos os nossos lados vieram sons de alarme provenientes das paredes. O Rony me olhou com uma cara de “o que vamos fazer agora?”. Em resposta a sua pergunta muda, eu só apontei para a escada e comecei a correr naquela direção e ele veio me seguindo. Assim que acabou a escada, nos deparamos com um enorme saguão negro com pouca iluminação e com várias portas por toda a extensão de suas paredes.
-- E agora? – perguntou Rony. – como vamos saber qual delas é o escritório?
-- Acho que vamos ter que procurar. – acontece que os idiotas que nos capturaram eram idiotas o suficiente para terem pegado as nossas varinhas e guardado em um escritório daquele lugar.
-- Então você fica com a direita e eu, com a esquerda. – disse ele já se virando para começar a procurar.
Ficamos mais de meia hora procurando até o Rony achar o lugar, mas ele era grande, e isso custou mais tempo da gente procurando por todas as gavetas e armários de lá. Depois de várias gavetas, prateleiras e armários virados do avesso, ainda não tínhamos achado nossas varinhas.
-- Mas eles disseram que estava aqui! – eu disse totalmente exasperado.
-- Eles podem ter colocado em algum tipo de compartimento secreto...
-- É claro! Você é um gênio, Rony. – ele fez uma cara de confusão e depois de superior. Provavelmente ele só havia dito aquilo para acalmar a si mesmo.
-- Objetus Revelio!
Assim que eu proferi o feitiço, uma pedra que formava a parede do escritório saltou com tudo pra fora dela quase atingindo o outro lado do aposento se eu não tivesse pegado ela no ar. Ao olhar para ela com atenção, percebi que ela era como uma gaveta, e nossas varinhas estavam dentro dela.
-- Elas estão aí?
-- Sim. – eu disse mostrando-as para ele. – Agora é melhor nós irmos embora.
Eu deixei que ele pegasse a varinha dele e depois peguei a minha, jogando no chão a que eu estava usando até o momento. Quando saímos da sala, meu ouvido encheu-se com o som do alarme que eu havia me esquecido durante todo aquele tempo, mas assim que deixei de reparar nisso, eu vi a maior porta dali abrindo-se para deixar entrar os dois comensais que tomavam conta de nós totalmente furiosos.
-- Potter! Weasley! – gritou o primeiro já levantando a varinha em nossa direção, gesto imitado por mim e por Rony, o que deixou ele surpreso. – Como vocês fugiram? – ainda gritando.
-- Fugindo. – eu disse com um sorriso de zombeteiro.
-- Ora, seu... – e começou a lançar vários feitiços de uma vez contra Rony.
-- Estupefaça! – eu gritei logo depois de me desviar de um dos feitiços, mas por infelicidade minha, ele não acertou o alvo.
-- Que isso, Potter? Esqueceu-se de como se luta? – disse ele zombeteiramente.
-- Encarcerus! – disse Rony se aproveitando da distração do comensal e acertando ele em cheio.
-- Expeliarmus! Estupefaça! – eu lancei mais feitiços nele por precaução. Depois que acabamos com ele, derrotar o outro foi fácil, já que ele estava desarmado e só o que podia fazer era fugir.
Assim que deixamos os dois desmaiados no meio daquele enorme saguão, fomos correndo para a saída antes que chegasse algum tipo de reforço, afinal nem eu nem o meu amigo estávamos em condições de lutar depois de tanto tempo sem usar magia. Ao passarmos pela grande porta, nos deparamos com um imenso jardim que foi mal cuidado ao longo dos anos, olhei para trás e o que vi foi uma imensa construção caindo aos pedaços, muito diferente do que ela era por dentro, cheia de móveis caros, candelabros, o piso de madeira de lei e várias outras coisas que mostravam a riqueza do lugar. Lógico que onde ficávamos não tinha tudo isso, só vários bichos nojentos.
-- Isso explica como eles tinham certeza de que ninguém nunca iria nos encontrar aqui. – disse Rony admirado.
-- Com certeza. – eu disse. – Vamos andando. – nós tínhamos parado sem perceber em frente à casa.
Saímos andando rápido de lá, já que o jardim descia como uma ladeira até o portão que levava para a rua, não podíamos correr. O ornamentado portão que ficava na frente de toda aquela propriedade dava para uma rua deserta de uma antiga vila deserta com antigas casas de madeira se desfazendo e antigos postes de iluminação a óleo.
Olhando para os dois lados da via, via-se absolutamente nada, então achamos melhor sair logo daquele lugar antes que alguma coisa ruim acontecesse.
-----------------------------------------------
Já estava quase na hora do almoço e eu ainda não tinha acabado o meu trabalho. Para falar a verdade, faltava muito até eu poder-me ver livre dele, mas resolvi dar uma pausa a fim de preparar o meu almoço antes que eu o esquecesse como quase sempre acontecia.
Deixei todas as folhas que eu já tinha escrito em cima da pequena mesinha de centro que havia na sala e fui até a cozinha arranjar algo para eu comer. Mas antes que eu conseguisse chegar à porta da cozinha, houve um som seco de batida perto de onde eu estava. Quando eu olhei para trás eu me deparei com a Luna caída no meu tapete coberta de cinzas.
-- Luna! O que você está fazendo aqui? – eu perguntei. Não é que eu não goste de receber ela aqui em casa, muito pelo contrário. Acontece que desde que o pai dela morreu, a Luna ficou como editora do Pasquim e estava sempre muito ocupada viajando e escrevendo, então não tinha muito tempo para nós nos vermos, já fazia alguns anos que só nos falávamos através de cartas e nos encontrávamos ao acaso pela rua.
-- Oi, Gina. Quanto tempo não nos vemos, não é? – perguntou ela naquele seu jeito etéreo de sempre , mas eu percebi um pouco de sarcasmo em sua voz.
-- Desculpa, Luna. É que eu fiquei surpresa. – eu falei – É verdade. Não nos vemos faz algum tempo. Quer ajuda? – perguntei assim que ela começou a se levantar e espanar a fuligem que estava por toda a sua roupa ao mesmo tempo.
-- Adoraria. – eu ajudei-a a levantar e depois apontei minha varinha para ela e murmurei um feitiço para tirar toda aquela sujeira de cima dela.
-- Você quer alguma coisa? Um sanduíche? Um suco? Um café?... – ofereci.
-- Eu vou querer um pouco de café, se você não se importar. Eu tive alguma complicações e não tenho consegui dormir muito bem ultimamente.
-- Claro que eu não me incomodo Luna. Espere um instante. Sente-se. – eu disse assim que percebi que ela continuava de pé.
Saí da sala e fui até a cozinha a fim de preparar um café e uns sanduíches para mim, já que com a Luna aqui eu não iria mais almoçar. Depois que acabei de fazer tudo, voltei para a sala com uma bandeja cheia de sanduíches, com um copo de suco de laranja e um café. A Luna estava olhando as fotos que haviam em cima de um móvel com muita atenção, como se estivesse procurando por algo que ninguém mais estava vendo.
-- São lindas, não é? – perguntei a ela assim que coloquei a bandeja ao lado das folhas do meu trabalho.
-- São. – disse ela sem deixar de encarar as fotos daquele jeito estranho. – Mas tem um zonzóbulo enorme na cabeça do Harry nessa aqui. – eu deveria ter imaginado isso. – Você sabia que eles podem significar um mau-presságio? Um tempo de longa saudade. – e então ela finalmente virou pra mim e sorriu daquele jeito sonhador. A Luna não muda mesmo, ela parece viver em um mundo à parte do nosso. – Mas não a morte.
-- Como? – eu perguntei assustada.
-- Os zonzóbulos podem ter um mal significado de vez em quando, mas eles nunca significam morte – disse ela como se aquilo não fosse nada mais. – Essa foto foi tirada muito antes do Harry e do Ronald sumirem?
-- Não. – eu respondi por reflexo. O que ela quis dizer com “sumirem”?
-- Eu nunca acreditei que eles tenham mesmo morrido. – e logo depois ela sentou, pegou seu café e começou a beber. A Luna realmente me assusta às vezes, ela fala cada coisa.
-- Então... Você veio aqui só para me dizer isso? – perguntei ainda assustada , mas me sentando e pegando um dos sanduíches.
-- Não. Isso é só a minha opinião. – disse ela simplesmente e tomando mais um gole de seu café. – Eu vim aqui por outro motivo.
-- E o que seria? – perguntei começando a comer.
-- Uma coisa que acabei de descobrir. Para falar a verdade, mandaram uma carta para a edição do Pasquim. – disse ela ficando séria, o que não é normal.
-- E o que tem de mais? Não acho que você viria aqui só pra me falar sobre isso. – eu acho.
-- Não, eu realmente não viria por isso. – disse ela ficando ainda mais séria.
-- Então o que aconteceu? – eu fiquei assustada com essa conversa.
-- Ontem à noite, por volta das 4 da manhã, um dois grupo de ex-comensais da morte atacou duas vilas trouxas no sul da suíça, elas foram totalmente destruídas por eles. Os dados pelos sobreviventes à polícia falam que eles aparentavam estar coléricos e gritavam chamando por algo que não entendiam, já que era uma língua diferente da deles, mas um dos moradores jura que era inglês. Depois de algum tempo em que eles em que eles estavam queimando e destruindo as casas de lá, alguma coisa ou alguém que eles não puderam ver, espantaram eles de lá. Disseram que houve uma luta de raios e eles acabaram indo embora. – disse a Luna de uma forma automática, mal parando para respirar. – O mais estranho, e é a causa de eu ter vindo falar com você, é que um dos retratos-falados feito deles é muito parecido com um dos suspeitos de ter feito aquela emboscada para matar o Harry e o Ronald. – e voltou ao seu estado normal.
Eu fiquei tão horrorizada com essa notícia que a única coisa que consegui falar foi:
-- O que é um retrato-falado?
-- É um desenho feito por profissionais trouxas usando as características dadas por quem viu o procurado. Eu gostaria de saber fazer isso – falou ela sonhadoramente.
-- E como que...
Fui interrompida pelas crianças entrando na sala apressadas.
-- Mãe, nós só viemos buscar uns jogos nossos. – disse o Al enquanto os outros dois subiam. – Aconteceu alguma coisa? – a minha expressão devia estar me entregando. Tentei desfazê-la.
-- Não, filho, não aconteceu nada de mais. – eu disse dando um sorrisinho tentando não deixar mais claro que algo estava acontecendo.
-- Tá bom. – ele disse ainda suspeitando de algo. – Eu acho. – ele disse baixinho, mas eu consegui entender. Nesse momento a Lily e o Tiago desceram as escadas carregando alguns de seus jogos trouxas.
-- Nós já estamos indo. – disse a Lily.
-- Vocês não vão falar com a Luna?
-- Oi. – disse Tiago parando por um segundo antes de ir em direção à porta.
-- Tchau. – disse a Lily indo atrás do Tiago. Eu já ia abrir a boca pra reclamar com eles quando a Luna disse que não se importava, que toda criança era assim.
-- Tchau. – disse o Alvo lentamente ainda me olhando com suspeita.
Assim que ouvi o estalo da porta da frente se fechando, me virei novamente para a Luna que havia acabado de tomar o café e estava colocando a xícara de volta na bandeja.
-- Desculpe pela interrupção. – eu disse.
-- Sem problemas.
-- Então como...
-- Você se importaria de chamar a Hermione? – ela perguntou me interrompendo pela segunda vez.
-- Ãã... não. Vou fazer isso agora. – ela deveria mesmo participar dessa conversa.
Eu meio que andei meio que tropecei até a lareira e peguei um pouco de pó de flú ao lado dela. Joguei o pó lá dentro, meti a cabeça nas chamas verdes que surgiram e gritei que queria ir à casa da Hermione. Quando eu consegui enxergar direito novamente, eu vi o sofá da sala e dois pés, olhei pra cima e vi a Rosa lendo um livro sentada.
-- Rosa.
-- Tia! – ela exclamou me olhando surpresa.
-- Você pode chamar a sua mãe pra mim, por favor?
-- Ela disse que estava ocupada e que não era pra ninguém atrapalhar. – disse ela duvidosa.
-- Fala pra ela que é muito importante.
-- Tá bom. – e foi andando na direção que eu sabia estar o corredor. Depois de alguns minutos, eu ouvi passos novamente.
-- Que houve Gina? – perguntou Hermione se abaixando na minha frente.
-- Eu preciso que você venha aqui.
-- Não posso. Eu preciso acabar de fazer algumas coisas para o ministério.
-- É importante!
-- Mas…
-- É sobre o Harry e o Rony. – eu disse assim que percebi a sua intenção de argumentar. Logo a sua expressão mudou.
-- Desocupe a lareira. – e então eu voltei à minha casa e comecei a esperar ela vir, o que não demorou muito, provavelmente só o suficiente para avisar aos filhos que ia sair de casa por uns instantes.
-- Luna?! – exclamou Mione ao ver ela ali.
-- Quanto tempo, não é? – disse a Luna como se não prestasse atenção ao que estava falando.
-- É, faz tempo. – falou Mione ainda se recuperando. – Então… O que vocês queriam falar comigo?
A Luna repetiu pra ela tudo o que havia me contado enquanto eu pegava mais um sanduíche, bebia um pouco do suco e me sentava ainda tentando assimilar tudo. Quando ela acabou, Hermione tinha um pouco pálida e bastante assustada.
-- E como você um dos homens era parecido com os suspeitos? – eu perguntei antes que pudesse ser interrompida de novo.
-- A pessoa que mandou a carta mandou também uma foto do desenho.
-- E como a pessoa conseguiu uma foto do desenho? – perguntou Mione ainda pálida do susto.
-- Parece que é um bruxo trabalhando no departamento de segurança de uma cidade perto da vila onde aconteceu tudo isso. Ele achou os acontecimentos estranhos e escreveu a carta. – explicou ela. – Agora, se vocês não se incomodam, eu tenho que ir embora.
-- Claro que não Luna, pode ir.
-- Tchau. – ela entrou na lareira, pegou um saquinho de sua bolsa, colocou a mão lá dentro e tirou um pouco de pó de flú, jogou aos seus pés e sumiu logo depois. Assim que me virei para Hermione querendo discutir o assunto, vi que ela estava me olhando também.
-- Isso é estranho. – ela comentou.
-- Também achei, é muita coincidência. E eu não vejo o porquê de eles terem dado as caras agora... Eles não se mostram desde que tudo aconteceu.
-- Eu vou investigar isso para ver se consigo achar algum detalhe que a Luna talvez tenha deixado passar. – falou Hermione, típico dela.
-- E ela veio com um papo estranho... falando que nunca acreditou que o Rony e o Harry tivessem morrido mesmo.
-- Você sabe que às vezes a Luna fala coisas sem sentido, não é? – perguntou ela.
-- Eu sei, mas podia ser verdade. – eu disse pensativa.
-- Concordo. – e começou a olhar para a parede oposta do lugar onde ela estava. – É melhor eu voltar pra casa. Eu tenho que acabar o meu trabalho e vou fazer aquela pesquisa.
-- Tudo bem. Tchau. – eu disse ainda pensativa.
-- Tchau. Qualquer coisa eu te aviso. – e aparatou me deixando sozinha com os meus pensamentos.
---------------------------------------------------
Nós andamos por algum tempo até alcançarmos o final da vila e, depois, para acharmos outra vila que era habitada. Ao chegarmos lá, a primeira coisa a fazer era arranjar um lugar para ficar, passar a noite e, talvez, para trabalhar. Tivemos que andar por tudo, o que demorou ainda mais porque era meio tarde, mas acabamos por entrar em uma pousada que estava precisando de serventes. O salário era pouco, mas era tudo muito aconchegante.
Depois de deixarmos tudo acertado com a mulher robusta dona da pousada, que surpreendentemente falava inglês. Seguimos suas instruções para chegar aos quartos separados para funcionários, nos trocamos com as roupas que ela havia nos dado e deitamos para dormir já que tínhamos andado por horas.
Eu ainda nem tinha pegado no sono quando comecei a ouvir gritos e estrondos do lado de fora da estalagem. Olhei para o Rony e percebi que ele estava prestando atenção nos barulhos também. Sem dizer nenhuma palavra, nós pegamos as varinhas que tínhamos roubado e saímos correndo, percebendo pelo caminho que alguns pontos do velho prédio estava em chamas. Tentamos apagar algumas, mas não deu muito certo, então desistimos e seguimos até o lado de fora.
-- O que foi que eles fizeram?! – exclamou Rony. Eu não podia negar a minha surpresa. Estava quase tudo destruído e tinha dois ou três dementadores rondando por ali assustando ainda mais os moradores.
-- Eu não sei, só sei que vamos desfazer. –eu disse com convicção.
-- Com certeza. – concordou ele. Eu levantei minha varinha e lembrei-me do dia em que eu casei com a Gina. Isso ia ser difícil, fazia tempo que eu não fazia um feitiço poderoso como esse.
-- Expecto Patronum! – eu gritei junto com Rony. Vi o cervo saindo da minha varinha e imediatamente me senti melhor, reparei em como ele parecia mais fraco que o normal, mas, junto com o patrono do Rony, foi o suficiente para espantar eles.
-- Nós temos que achar os comensais agora! – gritou o Rony por cima do barulho de desmoronamento de uma das casas perto de nós. Eu concordei e fomos andando pela vila procurando por eles. Por todo o lugar via-se a destruição e pessoas seriamente feridas, mas se parássemos para ajudar a situação iria piorar.
-- Quanto mais vocês demorarem a aparecer, mais vamos destruir! – ouvimos um deles gritando antes de virar no final de uma ruazinha.
-- Então finalmente apareceram! Acharam que era simplesmente fugir? Que iria ficar por isso mesmo? De jeito nenhum isso aconteceria e iríamos simplesmente esquecer! – gritou ele totalmente colérico.
-- Vocês não têm como nos pegar. Já caímos em sua armadilha uma vez, não vamos cair de novo – disse Rony.
-- Isso é o que vamos ver. – disse ele antes de começar a mandar uma série de feitiços para cima de nós. Tivemos um pouco de dificuldade no início para pegar o jeito deles, mas depois foi a nossa vez de comandar o ritmo e a velocidade da luta.
Depois de algum tempo comecei a perceber certo cansaço vindo deles e decidi usar isso a meu favor. Lancei uma azaração a fim de desviar a atenção deles e quando eu vi que deu certo, lancei um feitiço paralisante em dois deles, o Rony entendeu o que eu estava fazendo e jogou uma azaração das pernas bambas nos outros três. Assim que eles já estavam caídos e paralisados, chegamos perto deles para dar um fim logo naquilo e mandá-los nem que fosse para uma prisão trouxa, mas quando estávamos a apenas dois metros deles, algo como uma nuvem os cobriu e depois que se dissipou, não estavam mais lá.
Nós procuramos em toda parte por perto de onde estávamos lutando e não achamos nada. Desistimos de procurar depois de 1 hora, pois o cansaço e as pequenas feridas da luta nos venceram e nos mandaram de volta à pousada onde estávamos.
Ao chegarmos lá, vimos a mulher robusta que nos atendera na porta tentando ajudar a todos que haviam perdido as casas e pertences. Ela parecia ser aquele tipo de pessoa que conhece e ajuda todo mundo de um lugar, pois parecia uma reunião de toda a vila ali na frente.
Chegando mais perto do aglomerado de gente, percebemos que muita gente tinha perdido tudo ou tinha se machucado gravemente, como aquilo era praticamente culpa nossa, ficamos com peso na consciência e resolvemos ajudar como podíamos as pessoas dali.
Depois de não sobrar mais ninguém a ser ajudado, eu e Rony decidimos ir tomar banho antes de voltar ao nosso quarto para dormir, mas antes de sequer chegar ao banheiro, fomos barrados pela senhora Taylen, a dona do lugar. Ela parecia ter vindo rápida a fim de nos impedir de entrar no banheiro. Quando recuperou o fôlego, ela nos olhou de cima a baixo e disse:
-- Vocês são bruxos. – simples assim. O Rony me olhou meio assustado e incerto, então eu resolvi tomar uma decisão que qualquer um tomaria:
-- Como você sabe disso? – foi reflexo. Se eu tivesse pensado melhor, com certeza não teria falado algo tão idiota assim. Ela deu um sorrisinho e começou a falar.
-- Minha filha é uma bruxa nascida trouxa que foi para Hogwarts e acabou a escola há uns três anos, por isso e porque o pai dela era da Inglaterra que eu sei falar inglês. Eu sempre vou visitar ela ou ela vem me visitar. – ela disse num fôlego só. – Eu vi de uma janela vocês tentando apagar o fogo com feitiços. Obrigada, pode não parecer, mas ajudou muito.
-- Hum... De nada. – aquilo foi estanho, e parecia que o meu amigo concordava comigo, pois ele estava com a boca ligeiramente aberta e ainda um pouco assustado. Eu dei um tapinha nele e logo ele acordou.
-- Mas por que vocês estão aqui?
-- É que aconteceram algumas coisas. E não temos licença para desaparatar de outro país. – disse o Rony depois de olhar rapidamente para mim.
-- Entendo. A minha filha vai vir aqui depois de amanhã, e toda vez ela consegue ligar a nossa lareira naquela rede de transporte... – ela parecia ter esquecido o nome.
-- A rede de flú? – perguntou Rony esperançoso.
-- Isso mesmo. Quando ela chegar, vocês vão poder voltar para suas casas, não é?
-- Com certeza. – dizemos eu e Rony.
-- Bom que eu pude ajudar vocês. Boa noite. – e então ela se virou e foi embora.
-- Cara, eu não posso acreditar na sorte que tivemos. – disse Rony incrédulo.
-- Nem eu. – eu disse e logo comecei a sorrir junto dele. – Agora, para quem esperou anos, dois dias não são nada.
-- Claro. Depois de tanto tempo, finalmente a sorte bateu em nossa porta. – e começamos a rir enquanto retomávamos nosso caminho ao banheiro.
Continua...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!