Chave para o desastre



Era incrível como algo tão familiar poderia se tornar tão desconfortável.

Desde sua ultima visita, nada mudara na sala onde se encontrava presente, no momento com o nervosismo coberto pela expressão seria. Todos os instrumentos de prata mui frágeis permaneciam todos bem arrumados, imóveis, adormecidos em um pleno silencio, mesmo que, por vezes, soltassem esbranquiçadas fumaças que não demoravam a desaparecer. Todos os livros permaneciam encaixados um ao lado do outro nos armários, alguns ainda em pequenos montes sobre a escrivaninha do diretor com folhas de pergaminho dobradas por entre suas páginas gastas. O poleiro dourado da fênix de Dumbledore, Fowkes, encontrava-se vazio no momento, e uma janela aberta ao alto dava a impressão de ter saído por alguma razão. Todo o restante de seus pertences permaneciam em outros diversos armários com portas de vidro, porem foi com a forca de um trasgo que deparou-se com todos os inúmeros quadros dos antigos diretores e diretoras de Hogwarts que no momento não davam-se ao trabalho de fingir cochilar.

Gárgulas. Estava com tanta pressa que se esquecera daqueles benditos quadros, que pouco antes de entrar na companhia do diretor, cochichavam, conversavam, riam de só Deus sabe se la o que. No entanto, para seu completo desconforto, ao avistarem Dumbledore e ela entrando na sala, calaram-se abruptamente; os que estavam fora, retornaram aos seus retratos e as suas cadeiras, e fitaram ambos com muita atenção.

Acompanhando-o, Minerva parou diante a escrivaninha, enquanto Dumbledore contornava-a ate tornar a encará-la, parando finalmente de cantarolar.

- Queira se sentar, por favor, professora - pediu educadamente, indicando a cadeira a sua frente. Após um breve aceno com a cabeça, McGonagall sentou-se, vendo ele a imitar, enquanto sentia a Rosa no bolso das vestes xadrez.

- Obrigada, diretor - falou, seriamente, pouco antes.

Quando ambos se acomodarem, Dumbledore iniciou a conversa, as pontas dos longos dedos juntas enquanto os cotovelos permaneciam apoiados sobre a mesa.

- Então, minha cara, o que gostaria de dizer?

Repentinamente, a professora Minerva pegou-se sem saber por onde começar. Achava muito incomodo ter dezenas de pares de olhos encarando-a quando se tratava de um assunto tão delicado. Sem saber como pedir com educação, demorou a responder, ocupando-se a olhar para os lados, encarando cada um dos retratos com certo constrangimento. Ao tornar o olhar ao diretor, abrindo a boca para falar, não emitiu nenhum som ao vê encarando-a com um sorriso diferente, como se houvesse entendido claramente. Algo que se confirmou em seguida.

- Ah sim - disse com suavidade, não parecendo se incomodar - Um momento - e levantou-se em direção ao quadro mais baixo e mais próximo, sendo este ocupado por Everardo. Dumbledore cochichou algo, o qual o quadro ouviu com a testa levemente enrugada. Sem dizer nada, este sacou a varinha do bolso das vestes, desenhou um circulo com um filete de fogo, e adicionou um pequeno triângulo ao seu centro.

Certamente aquilo era algum sinal de retirada, pois não demorou muito para cada um dos diretores e diretoras sumirem, com pressa, por trás das cortinas de veludo de seus quadros. Fineus inclusive hesitara por alguns breves segundos, contudo, quase imediatamente, saiu correndo, desaparecendo como os outros, e McGonagall poderia jurar que viu a ponta de uma varinha muito grossa desaparecer pela outra extremidade.

- Desculpe-me por isso - disse a bruxa secamente, que com todo aquele alvoroço sentia-se um tanto envergonhada.

- Não precisa se desculpar - respondeu-a gentilmente -, afinal já fiz isso inúmeras vezes... Especialmente quando tenho assuntos a tratar com Cornélio. Mas deixemos isso de lado. Agora - falou tornando a se sentar - estou interessado em ouvir apenas o que tens a dizer - e fitou-a quase ansiosamente.

Querendo evitar ao máximo o brilho de seus olhos claros, bem sabendo que se ruborizaria se assim fizesse, colocou com cuidado uma das mãos no bolso.

- Por favor, Dumbledore - dizia enquanto vasculhava o bolso -, não me leve a mal, mas... - e enfim tirou a planta com cuidado, erguendo-a diante de ambos os pares de olhos - O que é isso?

Durante um momento ele pareceu estar pensando no que responder, surpreso tanto pela pergunta em si, quanto ao ver-se encarando a Rosa que reluzia diante de seu olhar. Porem, não se demorou a sorrir e dizer-lhe naturalmente:

- Uma mera flor, minha cara.

- Não é uma mera flor - retrucou rispidamente, franzido a testa - Esta é uma Rosa Perpétua, e sabe bem disso. O que estou me perguntando resumi-se a três tópicos: Como conseguiu? Onde? E por último, porém não menos importante, por que a deu para mim?

Logicamente não se resumia apenas nisso. Havia ainda "9997" perguntas a serem esclarecidas, mas ela era paciente. Perguntaria mais tarde, talvez logo depois de terminarem o que estava em questão. Algumas ate tinha esperança de serem esclarecidas em meio as explicações que Dumbledore viria a dar. Este, por sua vez, sorria como se acabasse de receber um elogio diante da cara amarrada de sua substituta.

- Certamente que responderei a cada uma delas - falou calmamente.

"Professora, a senhora me pergunta como consegui tal elite: há dois dias, fui ao Ministério tratar sobre a terceira prova do Torneio Tribruxo, sendo que Cornélio achou-se impossibilitado de vir para Hogwarts. Nisso, encontrei Carlinhos Weasley logo depois, muito animado por uma grandiosa que fizera na Romênia, em meio ao lugar mais improvável: a arena de dragões. Pretendia contar ao pai e vender para conseguir alguns galeões para a família. Tendo conhecimento disso, ofereci-me a comprá-la. Por sorte ela permanecia no bolso de sua capa de viagem, guardada em uma pequena cúpula vidro, no estado exato em que você a carrega - e indicou brevemente a Rosa, ainda segura na mão sobre o colo da professora McGonagall. - Ao entregar-me, disse que não precisaria pagar, porém após muito insistir, cedeu, aceitando a minha oferta.

"Infelizmente não pude entregar-lhe na manha seguinte por falta do tão sagrado tempo. Contudo, fiz o máximo para preservá-la o melhor possível ate a noite em que finalmente, pude entregar-lhe. Foi uma pena encontrá-la dormindo, Minerva... gostaria de tê-la entregado em suas mãos - e sorriu carinhosamente, obrigando a professora a controlar um rubor - Bem, entende-se claramente que, de modo acidental, respondi os dois primeiros tópicos por você impostos, minha cara, levando-nos a ultima e mais importante questão: Por que lhe dei a Rosa Perpétua.

"'tudo, antes de prosseguir, gostaria de pedir uma única coisa - continuou em expressão séria, o que preocupou imediatamente a professora que acompanhara cada palavra atentamente, sem a menor pretensão de interferir - Que atendesse a um único desejo meu. Claramente, se for de sua vontade"

Silenciosamente, ela assentiu, balançando a cabeça brevemente com os olhos congelados no rosto do tutor. O ar ficou tenso ao seu redor.

- Peço-te - continuou seriamente, como se receasse algo ou alguma coisa - que não pense menos de mim pelo que estou prestes a fazer.

Confusa, as perguntas na mente da professora totalizaram "9999". McGonagall enrugou a testa, estreitando os olhos escuros enquanto fitavam fortemente o olhar claro do diretor. Não estava certa se deveria perguntar, mas aquilo certamente era curioso. Perguntava-se qual seria a razão para que algum dia achasse menos do diretor e ainda mais o que ele pretendia fazer.

- Dê-me a Rosa - pediu claramente, oferecendo uma das mãos.

Mesmo sem saber a razão para tal solicitação, ela obedeceu. Vagarosamente, ergueu a flor de seu próprio colo, segurando-a cuidadosamente, levando-a até a mão que lhe fora oferecida. Um choque, em que os olhos da bruxa arregalaram de surpresa. Ao invés de segurar apenas a fina flor, encantadora ao fio de luz solar que entrava por uma das altas e bem feitas janelas, propositalmente Dumbledore segurou algo mais que a Rosa em si: a mão da professora.

A voz perdeu-se na garganta da subdiretora, seus lábios ligeiramente mais pálidos. De repente sentiu novamente um forte rubor, desta vez incontrolável. Sentiu o mesmo formigamento quente de antes, desta vez junto aos batimentos rápidos do coração, que aumentavam descontroladamente a cada segundo que permanecia observando o sorriso carinhoso do diretor, e o brilho de seus olhos que por alguma razão havia se intensificado.

Por mais que quisesse livrar-se daquela visão, do toque do diretor, estava estranhamente incapaz de se mover, completamente congelada diante dele. E sua situação piorou a seguir.

- Minerva - falou suavemente - você me perguntou por que dei-lhe esta Rosa, que no momento permanece segura em nossas mãos. Poderia lhe dizer várias coisas, talvez por sua coragem, lealdade, amizade, persistência, companherismo... Poderia ser isso e muito mais, acredito. Porém, não é por esta razão que lhe presenteio.

"Entrego-lhe esta tão rara elite em homenagem ao seu sorriso, seu perfume, ao brilho tão belo de seus olhos, porém tão raro... Entrego-lhe também, em memória aos seus gostosos risos, os quais já tive o prazer de ouvir, sua paciência para comigo, suas conversas, mas, acima de tudo a um bem maior. Maior que qualquer criatura ou perigo que o mundo há de apresentar. Algo que fui incapaz de controlar cada segundo de minha vida, desde o momento que lhe conheci.

"Por muito tempo receei contar-lhe, temendo sua reação, no entanto o incidente no Baile de Inverno, fez-me finalmente perceber como o tempo pode nos pregar pecas, como a vida pode nos enganar tão terrivelmente.

"Foi quando olhei para o seu rosto pálido, desacordado pela primeira vez, que tive uma grande certeza de que, quando acordasse, lhe contaria o que venho escondendo há anos. Até o dia de seu despertar, deixei tudo de lado, apenas para ficar com você, conversar com você, mesmo sabendo que não estava ouvindo, por esse sentimento... - falou tristemente - Percebi assim, apenas dessa maneira, como fora ingênuo todos esses anos. É por isso que estou falando contigo, por que lhe presenteei... Foi simplesmente por que... - uma breve pausa - Eu a amo. E a amo muito - e admirando divertidamente o rosto espantado diante de si, beijou as costas da mão da professora Minerva.

Não, não, não estava acontecendo, não estava. Não poderia, poderia? De modo repentino, todas as questões que vinham a atormentá-la apenas alguns segundos antes, parecia terem simplesmente se desmanchado com leveza de sua mente, inexistentes. Nada mais parecia existir ao seu redor. Bruscamente, um desejo começou a dominá-la. Um desejo louco que crescia descontroladamente em seu peito, dominando sua mente. Queria inclinar-se e unir os lábios na boca que sorria para ela. Queria beijá-lo, beijá-lo por um longo tempo, colar seu corpo ao dele e nunca mais soltá-lo. Porém havia algo pesado, extremamente pesado que a impedia de tomar tal atitude. Brutalmente o desejo apaixonado tornou-se seu oposto e McGonagall perdeu as estribeiras.

PÁ! Sua mão cortou o ar muito abruptalmente, chapando-se com força no rosto do diretor.

- Como ousa?!

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