A dança do diretor e seu par
24 de dezembro de 1994, 9h20m PM
Ligeiramente ofegante, Minerva puxou a cadeira da mesa mais próxima e sentou-se rapidamente.
Segurando firmemente na mesa detalhada de madeira coberta por um refinado linho branco, aproximou a cadeira da mesma e pediu em voz firme, porém fracamente cansada:
- Água de gilly.
Como se a mesa a tivesse ouvido, num estalido forte uma pequena taça transparente surgiu bem aos olhos da professora ao encosto da cadeira, contudo ela não surpreendeu-se; quase imediatamente apanhou a bebida e tomou dois longos goles pouco antes de começar a inspirar profunda e inúmeras vezes. Estava surpresa consigo mesma: como conseguira?
Enquanto ela descançava a copo novamente e forçava o seu coração a acalmar-se, pôs-se a refletir enquanto via o restante dos estudantes que continuavam na pista. Uau... se não fosse consigo mesma, nem acreditaria.
Já fazia mais de uma hora que havia aceitado o pedido de Dumbledore, que fora conversar com Karkaroff e Maxime do outro lado do Salão, e durante mais de uma hora ficara dançando em meio aos estudantes sem ter, sequer tempo para respirar direito. Teria de falar com Flitwick depois... Suas primeiras músicas haviam sido bem tranquilas, ótimas... mas as restantes... tinham sido bem mais movimentadas.
Não foram estilo Rock Jovem, pois McGonagall nem se daria o trabalho de gastar seus passos com aquilo e mesmo que gastasse, estaria no St. Mungus naquele exato momento.
Após uma breve reflexão, ela levou suas costas finalmente ao encosto da cadeira e sentiu uma pontada forte no meio do peito. O que havia feito, afinal?... Como tomara tal ação?... Ela não era jovem, não mais... por menos que quisesse admitir, era a verdade, e era nescessário engoli-la... Assim como admitir que dançara a toa, sendo que soube ao encontrar Pomona no meio da platéia enquanto estava na pista, que a bendita tradição com qual tinha se preocupado havia mixado à anos do Torneio. Foi frustrante!
Mas devo admitir, pensou em meio a mais um gole de água de gilly, que Albus dança muito bem...
E tinha plena razão, cá entre nós. Ele realmente impressionara com os passos que sabia para aquele tipo de música, um dos motivos que a deixara cansada, por mais que ele parece-se restaurado. Parecia que não dançava a anos e descarregara tudo agora! Por sorte sabia alguns passos, que apesar de nunca dar muito valor, tinha pegado o jeito deles.
Quando finalmente acabou sua bebida, no momento já bem mais restaurada, ao ser deixada sobre a mesa novamente, a taça vazia desapareceu, logo sendo substituída por uma cheia.
- Não, obrigada - falou do modo usual, e o copo desapareceu imediatamente.
- Olá Minerva. Vejo que aproveitou minha ausência - falou a voz do diretor, que aparecera quase que de repente a frente dela, seu rosto estampado com aquele mesmo sorriso calmo de sempre.
- Ah, Albus - começou a professora, tentando não parecer pega de surpresa -, e então? Como foi sua conversa com Maxime e Karkaroff?
- Ah, minha cara - falou, sentando-se frente a ela -, apenas trocamos opiniões. Igor parece estar realmente entendiado; disse que prefere as festas típicas da Bulgária... Quanto a Olímpia, bem... ela parece estar gostando realmente do Baile. Ela e seu acompanhante, se entende o que quero dizer... - e lançou um olhar significativo à bruxa, as grossas sombrancelhas prateadas ligeriamente erguidas e aquele tipo de sorriso que todo mundo dá nesse tipo de assunto.
- Sim, sim, entendo, sim - e deu um sorriso leve ao ver, rasteiramente, o casal propriamente dito conversando do outro lado. Momento exato em que a música que tocava resolveu parar e ouviu-se um pigarro breve, cujo volume havia sido aumentado pelo feitiço Sonorus.
- Atenção por favor. Obrigado.
"Bem, gostaria que todos os estudantes presentes liberassem a pista para os diretores e seus pares. Me desculpem, mas esta foi feita justamente para eles. Mesmo por que, uma surpresa os aguardam depois dela, hum? - e desfez o feitiço para voltar-se de volta à orquestra.
- Minha nossa... - suspirou McGonagall com receio da próxima música que Flitiwick iria arranjar de tocar, no entanto Dumbledore pareceu não notar a sua desanimação.
- Vamos, Minerva? Afinal, é a última para nós. Vê? Os outros já estão indo.
- Claro, Albus, claro... - e deu sua mão novamente para o diretor que, como da última vez, levou-a gentilmente à pista de dança enquanto o belo vestido verde da professora raspava no chão ao andar junto à ele.
Quando chegaram finalmente ao centro do piso, sendo, também, o centro das atenções de todos os alunos que não conversavam com amigos, na típica batida da batuta, as mãos de Dumbledore logo se posicionaram, indo uma mão segurar na outra dela, enquanto a outra ia em sua cintura, ao mesmo tempo que ela pousava a mão livre sobre o ombro dele. Na primeira vez, McGonagall tinha se sentido muito desconfortável com a posição que haviam tomado, porém, depois de tanto tempo, já não fazia mais diferença.
No momento que a nova música soou nos ouvidos de cada ser presente do local, foi o exato em que um alívio, um alívio confortável e morno tomou conta da tão severa bruxa de Transfiguração: ela sabia. Ela sabia essa música, sabia de cor e salteado, desde pequena, da melhor forma que qualquer um já vira, apesar de, na opinião dela, ser um jeito simples de dançar e que os outros exageravam demais - eu disse na opinião dela.
No segundo seguinte após a primeira nota, ela sorriu sem querer, o que fez o diretor sorrir de forma diferente e as maçãs do rosto dela corarem ligeiramente. Logo após, suas ações foram de embasbacar...
Os passos que os dois davam, os passos que davam de modo simples parecendo tão acostumados, eram dados como se nas nuvens mais distantes, distantes de qualquer um que se pudessem imaginar, cada passo com classe e habilidade, e quanto mais a música deixava-se rolar, mais explêndidos eram, que só eles dois conseguiam dar, como verdadeiros profissonais daquela música gostosa, tão rejuvenecedora, que fazia qualquer um sonhar longe... bem longe...
Giros suaves, batidas leves de sapatos, ela sem os pés no chão, outras deslizando no piso, e mais maravilhosos passos que seria praticamente impossíveis de descrever com a mesma perfeição que eram dados, do mesmo jeito encantador que eram feitos. A cada centímetro que davam a impressão de amaciar no caminho, eles simplesmente pareciam voar! A música soava como um milagre para quem ouvia; em especial ao casal central.
Os outros? Bem, os outros continuavam, porém não chegavam nem aos pés do que Dumbledore e McGonagall faziam. Pouco a pouco, depois de várias cotovelas nas costelas e cutucões nos ombros, o Salão inteiro parecia admirar aqueles que se destacavam na dança; até mesmo a orquestra e o seu regente pareciam ter dificuldade em se concentrar na música ao invés de na dança. E estavam mesmo! Cada ser ali presente, ou pelo menos aqueles que conseguiam ver por culpa da multidão ao redor, parecia completamente hipnotizado pela cena bem a frente de seus olhos. Ninguém jamis havia pensado na possibilidade da professora mais severa da escola ceder em uma dança tão admiravelmente, de modo tão bonito, como se fosse, pelo menos, vinte e cinco anos mais jovem. Ela até aparentara não gostar da idéia, porém lá estava ela, dançando livremente (e com muita classe, cá entre nós) junto ao tão prezado diretor.
Ah, mas foi uma pena quando a música melodiosa acabou depois de um tempo... Será mesmo?
Quando as notas finais vinham chegando, os últimos passos vieram naturalmente, feitos com levesa...
Veio o antepenúltimo... o penúltimo... o último... e finalmente ele fez aquele velho passo de fazer uma menção de deixá-la cair, porém segurando-a em seus braços, permitindo tê-la a três centímetros de seu rosto, sentindo seu coração bater no peito colado ao dele - e o Salão inteiro explodiu.
Um enxurrada de palmas soou como um estrondo no local, mais fortes do que nunca se ouvira até o momento, incluindo assobios altos e as risadas debochadas de Karkaroff sobre os dois no centro, sendo que ele e Maxime já tinham se livrado da posição de dança para aplaudir junto a enxurrada de alunos, além dos que se encontravam na orquestra e que logo deixaram as mãos livres para se juntarem ao estrondo.
No entando, McGonagall e Dumbledore pareciam estar surdos àquele imenso alvoroço, aparentavam sentiressem sozinhos em todo o Salão, excluídos da multidão... pelo jeito que se olhavam. Tão fixamente, tão próximos um do outro, numa distância que era quase nada. Os olhos negros ligados nos azuis brilhantes...
Quase imperceptívelmente, Albus, lentamente, começou a quebrar a distância que havia entre eles, sua boca um pouco entre aberta, assim como a dela. De repente, Minerva sentiu um estranho formigamento no rosto que despencou para o estômago no momento em que se viu a um centímetro e meio do rosto para qual sua mão acidentalmente fora parar, ambos os pares de olhos quase se fechando... Parecia até que... chegava a aparentar que talvez ele... não, não poderia... não seria certo... ele não deveria se atrever... ela não poderia deixar-se... não naquele lugar... O que estava dizendo? Em lugar nenhum! Jamais! NÃO!
No último segundo, ela fez o movimento mais ágil que pode e se livrou com firmeza do corpo de Dumbledore, ergueu-se novamente em posição ereta, seus olhos firmemente fechados para evitar olhar para trás, andando em marcha forte enquanto a aglomeração abria caminho para ela passar, ao mesmo tempo que deseja partir daquele lugar o mais rápido possível por estar sendo tomada pela horrorosa vergonha.
Ao afastar-se mais da multidão, porém sem ainda sair do Salão, xingou-se de um monte de nomes ao mesmo tempo em que continuava a marchar ainda de olhos fechados, queria se livrar de toda aquela gente que a vira, agora enlouquecendo com a entrada da banda As Esquisitonas pelas suas costas.
Estava sentindo-se horrivel, terrivelmente horrível, parecia que a sensação mais desagradável que já tivera, agora tomara conta de cada molécula de seu corpo. Era algo que, com certeza, não estava acostumada a sentir. Uma mistura forte e amarga de vergonha, raiva, perturbação, urgência e aquela de sentir que fizera a coisa mais burra de todo o planeta publicamente.
Já estava prestes a chorar de raiva, quando, a meio caminho das enormes portas de carvalho, o estranho formigamento que havia parado no estômago recentemente, parou brutalmente no peito, parecendo arrebentar todos os orgãos no caminho, tomando conta ao mesmo tempo que fazendo seu coração doer, ela parar, os gritos e a música tornaressem distantes, tudo girar, o estômago embrulhar, uma fraquesa detestável, seus joelhos cederem, seus olhos tornaressem borrados, serem tomados pela escuridão, e Albus Dumbledore, parecendo muito mais distante do que ela queria, bem mais, gritar seu nome assustado com a maneira que ela despencava e se esparramava no chão:
- MINERVA!
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