CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO NOVE
O interior do Café Luciano parecia o mesmo: paredes negras, mesinhas de mármore, o italiano grisalho atrás do balcão.
Harry Potter parecia o mesmo: alto, sorridente, a tentadora covinha no queixo, terrivelmente sexy.
Hermione supôs que provavelmente parecia a mesma, também, exceto pelo bizarro visual que sua nova vestimenta lhe dava... um vestido preto com um colete estampado de tricô e um par de sandálias sem salto que comprara no dia anterior na feira de sábado, em Portobello.
À exceção das roupas e do dia da semana, tudo era exatamente idêntico à última vez em que eles tinham estado lá juntos, pensou Hermione. O que estava diferente não era visível. Ela sentou-se rindo, sacudindo as gotas de chuva de seus cabelos, enquanto Harry gritava um cumprimento em italiano para Luciano. Eles haviam visto as nuvens de chuva aproximando-se quando passeavam de mãos dadas ao longo de Kensington Gardens, e Harry apostara um café com ela que chegariam ao Café Luciano antes que a chuva começasse.
O italiano de Harry era melhor do que o seu, mas, quando reconheceu as palavras caffe filtrato, tocou-lhe o braço para impedir que pedisse café para ela.
- Quero um cappuccino desta vez.
O sorriso de Harry era cativante. Ele beijou uma de suas faces.
- Você não se arrependerá.
- O melhor de Londres, ouvi falar.
Hermione não entendeu o resto do pedido, de modo que não tinha idéia do que Harry e Luciano estavam rindo quando Harry puxou uma cadeira a seu lado e sentou-se.
- Todo mundo gosta de você. - comentou ela maravilhada.
- Por que não gostariam? Sou um cara legal.
- Sim, mas acho incrível. Cada uma das pessoas com quem falamos neste fim de semana ficou feliz em vê-lo... cada vendedor em Portobello, o taverneiro no almoço hoje. Até mesmo estranhos o cumprimentam.
- E o lado bom de ser famoso. - disse Harry, dando de ombros.
- Não, não é isso. - ela meneou a cabeça. - Nunca me esquecerei como você me cativou, como enfeitiçou Harjeet na escola. E o que fez com Jennifer e Danny. É importante para você que as pessoas o admirem, não é?
Luciano chegou com as xícaras de café e um prato de doces com recheio de amêndoas, e trocou outra piada com Harry em italiano antes de voltar para trás do balcão. Harry tomou um gole de seu café expresso, com olhos fechados, saboreando-o, e então depositou a xícara sobre a mesa.
- Sempre foi importante. - murmurou. - Meus pais nunca quiseram perder muito tempo comigo. Eram tão desinteressados em mim, que eu os vi exatamente quatro vezes entre meus doze e dezesseis anos. Creio que eu sempre quis provar que era agradável e digno de estima.
Ela tocou-lhe a mão, passando o dedo sobre uma das cicatrizes.
- Aonde você ia durante as férias escolares?
- Para a casa de amigos, principalmente. Ou para a nossa casa nas montanhas escocesas, onde tínhamos empregados. Uma vez eu estava lá e eles deram aos serviçais folga durante a semana santa, e passei a Páscoa sozinho. - Ele fez uma careta, mas Hermione podia ver a dor. - Foi quando descobri como cozinhar.
- Onde eles estão agora?
- Em algum lugar no exterior. Eles têm uma casa em Londres, mas não vou lá desde os meus dezesseis anos e avisei ao meu tutor que iria abandonar a escola e ser aprendiz de cozinheiro. Meus pais ficaram tão assustados que voaram de Buenos Aires e fecharam-me na casa na Belgravia durante uma semana, tentando convencer-me a tirar aquilo da cabeça. De vez em quando, eu pulava a janela. - Ele riu. - Sou mais parecido com Danny do que você imagina.
- Sinto muito por você, Harry.
Ela o imaginou como um menino magrinho, de cabelos escuros, vagando pelos corredores da escola, fazendo o máximo possível de amigos para preencher a solidão.
A própria infância tinha sido solitária também. Mas Hermione nunca estivera sozinha. E percebia agora: sempre se sentira segura.
- Meus pais eram um pouco estranhos, - contou - mas estavam sempre lá. Amavam-me. Mesmo que passassem a maior parte do tempo morando em campos de nudismo.
- Se houvesse a chance de escolher pais, teria escolhido hippies canadenses. - disse Harry.
- Você ficaria enjoado das lentilhas. - Ela tomou um gole do cappuccino. Era cremoso e divino. - Tem toda razão sobre o café.
Ele assentiu absorto.
- Falou que todo mundo gosta de mim. Mas você não gostou de mim quando me conheceu.
Hermione lembrou-se da última vez em que havia sentado naquele café, tensa e desconfiada. O oposto dos últimos dois dias, quando rira e fizera amor com Harry para a satisfação plena de seu coração. Em sua comédia favorita de Shakespeare, Sonhos de uma Noite de Verão, as pessoas eram transformadas por causa das fadas ou poções de amor, ou por uma noite mágica na floresta. No seu caso, a transformação deu-se por causa de um maravilhoso fim de semana. É claro que, na comédia de Shakespeare, a peça terminava e as transformações eram permanentes. Hermione não estava certa de que na vida real funcionasse assim. Mas, pela extensão de um sonho de fim de semana de verão, queria acreditar nisso.
- Eu estava com medo de você. - confessou. - Sou mais parecida com Jennifer do que você imagina.
Ele levou um dos doces aos lábios dela e Hermione deu uma mordida. A massa folheada derreteu-se na boca.
- Bem, posso entender isso. Afinal, não é todo dia que você conhece um homem famoso.
Ela quase engasgou com o pedaço de doce, rindo.
- O quê? - Ele fingiu estar chocado. - Por isso teve medo de mim?
Ela meneou a cabeça.
- Não. Você lembrou-me de alguém com quem tive um relacionamento.
- Alguém que feriu você?
- Sim. - Ela brincou com a xícara de café. - Eu estava tão apaixonada por Draco que não podia enxergar direito. E ele era charmoso e convencido como você.
Dessa vez, Harry não brincou sobre ser convencido. Ela ficou satisfeita.
- Ele tornou-se um ator bastante conhecido, também, embora não fosse quando estávamos juntos. Possuía o seu dom. - Hermione fez um gesto com as mãos. - Fazer todos se sentirem como se fossem a única pessoa no universo. É muito sedutor. Mesmo quando isso não significa nada.
- Você achou que eu não estava sendo sincero. - disse Harry, franzindo o cenho.
- No princípio. Não falso precisamente, mas é difícil acreditar que alguém realmente se importe com você quando parece importar-se com todo mundo. Meus pais eram um pouco assim. Sempre tinham um novo hóspede, ou alguma nova causa pela qual lutar. Mas eu sabia que me amavam.
- O que Draco fez com você?
Hermione suspirou e soube que queria contar-lhe.
- Engravidei. Eu era uma tola apaixonada. Não me importava com as conseqüências. Esqueci-me dos anticoncepcionais. Quando contei a Draco, ele não quis saber. Estava muito interessado em fazer novos amigos e encontrar novas amantes.
Harry apertou-lhe a mão.
- E o bebê?
- Eu ia voltar para o Canadá a fim de tê-lo. Perdi o bebê com cinco meses. Então fiquei em Londres.
- Sinto muito, Hermione.
- De qualquer modo, - disse ela - isso me fez cautelosa em relação a homens bonitos e charmosos.
Ele levou-lhe a mão aos lábios e beijou-a.
- Não sou falso, Hermione.
- Eu sei. - Deliberadamente, ela baixou o tom de voz enquanto o encarava. - Você quer tanto ser amado que escolheu uma profissão que dê prazer aos outros.
- Nunca pensei nisso dessa maneira. Achava que era porque eu era um sensualista nato.
- Isso também. - Ele passou a mão de Hermione no próprio rosto.
- Gostei de ser sensual com você este fim de semana.
- Eu também. - Ela pegou um dos doces e levou-o até a boca dele. - Você nunca nos contou qual era sua comida preferida depois de nos ter feito confessar a nossa.
- Isso é fácil. Ovos quentes e torradas.
Hermione ficou tão surpresa que quase deixou cair o doce.
- Verdade? Pensei que fosse caviar ou trufas ao vinho.
- Errou. É realmente ovos com a gema bem mole e torradas com bastante manteiga. Adoro quebrar o ovo com minha colher. Uma pitada de sal sobre ele. - Harry sorriu. - E sorvete de chocolate está em segundo lugar. Mas ovos quentes e torradas me trazem a lembrança de alguém mimando-me quando eu era garoto.
O rosto dele parecia tão melancólico que Hermione inclinou-se sobre a mesa e beijou-o nos lábios, querendo afastar aquela solidão.
Enquanto tomava seu café com doce, recordou-se de todos os beijos que eles haviam compartilhado naquele fim de semana e de todas as vezes em que fizeram amor, explorando-se mutuamente. Recordou-se da voz sensual de Harry gritando seu nome quando atingia o clímax.
- Eu quero você. - sussurrou ela.
- Vamos para a minha casa.
Ela olhou para a janela e viu que a tarde havia ficado escura. A chuva caía com intensidade.
- Está chovendo.
- Melhor ainda. Adoro quando você está molhada. - O duplo sentido das palavras deixou-a mais desejosa ainda. Hermione levantou-se e foi para a porta do Café.
- Ciao, Luciano. - gritou enquanto Harry pegava sua carteira.
A chuva caía fria sobre as suas pernas nuas enquanto ela corria e sentia sua blusa colar ao corpo. Estava na metade do caminho da casa dele quando Harry a alcançou.
- Não foi justo. - Ele agarrou-a pela cintura, então, empurrou-a para o lado e caminhou na sua frente com passos largos.
Hermione não teve chance de alcançá-lo, mas tentou acompanhá-lo. Quando subiram a escada externa da casa, estava sem fôlego, encharcada, e Harry já estava abrindo a porta.
- Você é adorável quando trapaceia. - murmurou ela.
Ele beijou-a apaixonadamente e Hermione rasgou os botões de sua camisa. O algodão molhado rompeu-se sob as suas mãos e expôs o peito viril de Harry, o qual ela acariciou, deslizando as mãos até o cós da calça. Harry tirou a camisa e rodeou-a para baixar o zíper do vestido dela. Molhado, aderia ao corpo e Harry teve de puxá-lo pelos ombros. Hermione livrou-se da roupa no caminho para o sofá.
Eles caíram sobre as almofadas juntos. Harry em cima dela, beijando-a o tempo todo. Ela removeu-lhe a calça com mãos ávidas, enquanto ele tirava-lhe o sutiã.
Segurando o sexo poderoso nas mãos, Hermione murmurou:
- Preservativo. Quero você agora.
Harry pegou o envelope metalizado de dentro do bolso do jeans e Hermione o puxou para si. Com uma única investida forte, ele a penetrou, preenchendo-a por completo e gemendo. Hermione enlaçou-o com as pernas e cravou os dedos nas costas largas. Então ofegou intensamente, sentindo Harry em seu interior, e, em questão de minutos, atingiu um orgasmo maravilhoso e gritou o nome dele. Harry deitou sobre o seu corpo, beijando-lhe os lábios, o rosto, a testa. Ele era pesado, quente e maravilhoso sobre ela.
- Uau. - exclamou ele. - Acho que Luciano deveria fazer propaganda de seu café como um afrodisíaco.
- Não, é você que é o afrodisíaco.
- Acho que é você. Não consigo cansar-me de você. - Ele a beijou novamente, primeiro com ternura, depois com paixão. Rolou no sofá de modo que ficasse a seu lado. Hermione suspirou e fechou os olhos, plena de satisfação.
- Oh.
Havia algo na voz dele que a fez abrir os olhos. Harry sentou-se de costas para ela.
- Harry? O que foi?
Ele não respondeu imediatamente e ela ajoelhou-se a seu lado.
- O que foi, Harry?
Ele tinha o rosto preocupado quando a fitou.
- Desculpe-me, querida. O preservativo estourou. - Aquilo a deixou apavorada. Harry pôs o preservativo para o lado e passou os braços a seu redor. - Hermione, lamento muito.
- A culpa não é sua. - respondeu ela automaticamente. - Essas coisas acontecem.
- Sim, mas, depois que você me contou sobre o que passou, eu não queria isso. - Ele beijou-lhe o topo da cabeça.
- Tudo bem. - mentiu ela.
- Sou seguro, Hermione. Não dormi com qualquer uma por aí. Sou saudável.
Ela assentiu. Seguro. A palavra ecoava em seu cérebro entorpecido.
Pensara que estaria segura com ele por um fim de semana. Havia acreditado que poderia viver o presente, sem se preocupar com o futuro. E com uma única ação descuidada, um simples preservativo rasgado, talvez tivessem determinado o futuro do resto de suas vidas. Sem razão alguma, a não ser prazer.
- É melhor eu ir lavar-me. - disse ela, desvencilhando-se. Sentiu que Harry a observava quando se levantou, pegou a calcinha e o vestido do chão. Entrou no banheiro da suíte e ligou o chuveiro. Água quente não a fazia sentir-se melhor. Lembrou-se de estar naquele chuveiro com Harry segurando-a contra os azulejos das paredes e depois a lavando gentilmente.
Todo prazer. Sem nenhum significado. Nada mais que sensações.
Hermione tomou um banho frio, mas, quando saiu, sentiu-se mais entorpecida do que antes. Seu vestido estava amassado e úmido, mas, mesmo assim, ela o vestiu, alisando-o com as mãos.
Quando entrou no quarto, Harry estava se arrumando.
- Você não deveria usar essas roupas molhadas. - disse ele.
- Está bem assim. - replicou ela, olhando para o relógio de cabeceira. - É tarde, Harry, e tenho muito trabalho em casa para amanhã.
- São apenas seis horas.
- Tenho muito trabalho. - repetiu Hermione pegando seus sapatos perto da cama, assim como seu colar de vidro verde.
- Hermione. - Ele se aproximou com as mãos estendidas. Ela não o acolheu.
- Vim para um fim de semana, Harry. E acabou. Preciso ir para casa.
Harry baixou as mãos.
- Levarei você.
Ela assentiu e desceu as escadas. Sua bolsa estava no hall, e as sandálias artesanais estavam ainda no tapete, onde as deixara. Calçou-as, mas, quando percebeu que estavam molhadas, trocou pelos sapatos de salto alto. Guardou o colar dentro da bolsa. Ele parecia menos brilhante. Olhou ao redor da sala, certificando-se de que apanhara todos os seus pertences.
Tomaria a pílula do dia seguinte, pensou, e imediatamente soube que não poderia.
Havia perdido um bebê. Não poderia livrar-se de um, mesmo se ele não fora planejado outra vez. Mesmo que resultasse de um engano.
Havia parado de chover e o sol brilhava. O Jaguar de Harry estava parado na frente da casa.
- Vejo por que Danny ficou tão impressionado com seu carro. - comentou ela.
Ele abriu a porta para Hermione, então deu a volta para se acomodar atrás do volante.
Num forte contraste com o fim de semana, que passou rapidamente, o trajeto até o apartamento dela levou tempo demais. Hermione olhou para Londres passando, através da janela do carro, dando-lhe instruções para chegar ao apartamento.
Finalmente, Harry parou diante de um grande edifício estilo vitoriano. Desligou o motor e o silêncio entre ambos ficou maior ainda.
- Não vai me convidar para entrar?
- Não acho que me ver corrigindo provas será muito divertido para você. Além disso, sei que você postergou diversos compromissos para estar comigo neste fim de semana. Deve ter trabalho a fazer.
- Sim. Mas preferiria estar com você.
Ela não disse nada. Apenas deu-lhe um leve beijo no rosto.
- Obrigada pelo maravilhoso fim de semana. - murmurou e desceu do carro.
- Hermione...
Ela fingiu não ouvir. Enquanto caminhava pela calçada até a porta do edifício, ciente de que Harry a observava, vasculhou a bolsa à procura das chaves e não olhou para trás. O sonho estava acabado.
Agradecimento especial:
Nanny Black: Bem, a casa não caiu, mas o relacionamento sim, pelo menos Hermione pensa que sim... Eu não quero adiantar as coisas, mas vou concordar com você no ponto de que as crianças vão aparecer na mídia e que alguém vai entregar o furo a imprensa, mas defendendo a “loira” posso dizer que ela não terá culpa alguma. Beijos.
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