Forma-se um trio
Capítulo III – Forma-se um trio
TUM, TUM, TUM, TUM... Rox batia nervosamente o pé no chão enquanto esperava do lado de fora da sala de Feitiços, juntamente com os outros alunos de sua turma. Esta seria a primeira aula que assistiria, e estariam juntos alunos da Grifinória e da Corvinal.
Finalmente a porta se abriu e eles puderam ver um homenzinho minúsculo que se encontrava em cima de uma pilha e livros, sobre a mesa.
– Vamos, entrem, crianças. Vamos logo! – ouviu-se a vozinha estridente do Prof. Flitwick.
Rox entrou na sala e escolheu uma das cadeiras da frente. Estava ansiosa, faminta de saber, e não queria perder um segundo que fosse daquela aula. Na pressa de arrumar sua mochila apinhada de livros no braço da cadeira, atrapalhou-se, deixando-a cair no chão. Na queda, o zíper se abriu, espalhando livros, pergaminhos, penas e tinteiros. Corando violentamente, Rox se abaixou para juntar tudo, quando notou que um garoto que estava sentado ao seu lado se abaixara juntamente com ela, para ajudar. Os dois pares de mãos colocaram tudo rapidamente dentro da mochila e quando Rox levantou os olhos para agradecer, deparou-se com um par de olhos verdes muito perto, a observando. A garota levantou-se num pulo e o garoto logo levantou também. Rox o reconheceu imediatamente como o menino de cabelos louro-escuros da Cerimônia de Seleção, da Corvinal. A garota sussurrou “obrigada” antes de se sentar, apressada, em sua cadeira, encarando o tampo da mesa.
– Silêncio, por favor. Certo. Antes de qualquer coisa, é importante que vocês saibam que Feitiços é uma matéria muito importante da magia, portanto, é essencial que prestem muita atenção nas minhas aulas, porque se cometerem um erro grave, poderão causar sérios danos à vocês mesmos ou às pessoas ao seu redor – alguns estudantes se entreolharam à vista dessa nota agourenta, e o professor continuou. – Agora, o primeiro feitiço que irão aprender é o da Levitação. Alguém aqui sabe me dizer o que esse feitiço faz?
A mão de Rox imediatamente se ergueu. Ela já havia lido o seu livro Padrão de Feitiços, 1ª série, e sabia exatamente o que um feitiço da Levitação fazia.
– Sim, senhor...? – apontou o professor Flitwick, e Rox arregalou os olhos ao ver que não era com ela que ele falava. O garoto ao lado também tinha a mão erguida.
– Dawson, senhor. O feitiço de levitação, Wingardium Leviosa, é executado em um movimento de girar e sacudir, e quem o executa pode fazer levitar qualquer objeto.
– Muito bem, senhor Dawson! 10 pontos para a Corvinal.
Rox tinha os olhos semicerrados, enquanto observava o garoto que a tinha ajudado a catar as coisas do chão. Ele olhou para ela também e apenas sorriu.
- Vamos agora treinar o movimento que o colega de você sabiamente nos descreveu. Estão todos com as varinhas em mãos? Ótimo. Agora prestem atenção e imitem o movimento que eu fizer. Gira e sacode – disse o professor pausadamente, enquanto fazia um círculo no ar com a varinha e finalizava com uma sacudidela. Todos os alunos o imitaram, repetindo “gira e sacode”.
“Agora todos peguem também as suas penas. Eu juntarei vocês em duplas, para que possam praticar”, continuou o professor, apontando em silêncio quais seriam as duplas, que se formaram, basicamente, pelos alunos que estavam sentados perto um do outro. Para desespero de Rox, ela faria dupla com aquele mesmo garoto da Corvinal, o Dawson. “Apontem as varinhas para suas penas e digam com bastante clareza o feitiço Wingardium Leviosa.”
– Bom dia. – murmurou o garoto, sorrindo tranquilamente, enquanto colocava sua pena em cima da mesa.
Rox ergueu uma sobrancelha, enquanto já apontava a varinha para a sua pena:
– Wingardium Leviosa – pronunciou a garota claramente, fazendo o movimento de girar e sacudir. Imediatamente a sua pena começou a levitar. – Bom dia, Dawson – murmurou, olhando para o garoto pelo canto dos olhos. Era ela quem sorria agora.
– OHO! Muito bem, senhorita! Como se chama? – perguntou o professor Flitwick, entusiasmado.
– Granger, senhor. Rox Granger.
– Bom trabalho, senhorita Granger! 10 pontos para a Grifinória! – exclamou o professor, e o sorriso de Rox apenas aumentou. – Vocês viram? A colega de vocês já conseguiu executar o feitiço, e com perfeição. Sigam... – ele parou de falar ao ver outra pena levitar. – Ora, o senhor Dawson também conseguiu! Muito bem, muito bem, sigam o exemplo deles.
– Vejo que não é só a teoria que você sabe – murmurou Rox para o garoto, enquanto mantinha os olhos em sua pena que levitava, quase batendo no teto.
– Eu não te contaria tudo que sei, Granger, ou pareceria pouco modesto da minha parte – sussurrou ele em resposta. Rox o encarou durante um tempo suficiente apenas para lhe lançar um olhar indiferente, e ele continuou. – Mas infelizmente eu não sei tudo. Por exemplo, eu não sei nada sobre você, exceto que tem cabelos roxos, olhos azuis, e me pareceu um tanto desastrada – ele riu baixinho e Rox o fuzilou com os olhos novamente.
– Eu não sou desastrada. – disse, entredentes. – Foi um acidente, está bem?
– Ótimo, agora também sei que é teimosa – ele ria abertamente.
A garota trincou os dentes, respirou fundo e decidiu que ignoraria o outro. Com a varinha, trouxe sua pena de volta à mesa e fez com que levitasse novamente.
– E o meu nome é Drooft, sabe? Chamar apenas pelo sobrenome parece tão rude, não acha? – tagarelava o garoto, e como Rox não respondeu, ele continuou. – Vou te contar outra coisa que eu sei, Rox. Sei que deixar uma pessoa falando sozinha é uma tremenda falta de educação. Será que isso revela mais uma característica sua?
– Cala. Essa. Boca. Dawson – sussurrou furiosamente Rox, o encarando. Drooft tinha um sorriso cínico nos lábios enquanto a encarava de volta.
– Pelo visto não, já que me respondeu agora.
Ambos continuaram se encarando, até que Rox desviou o olhar, voltando sua atenção para a sua pena. O garoto fez o mesmo, e passou o restante da aula calado, movendo a varinha aleatoriamente, fazendo com que sua pena desse piruetas no ar.
O sinal tocou, encerrando a aula. Rox levantou, apressando-se para guardar tudo na mochila. Drooft já tinha a mochila pendurada nos ombros, mas a garota notou que ele não parecia com pressa, pois não havia saído do lugar.
Quando Rox havia finalmente arrumado tudo e ia saindo, bateu, sem querer o pé na perna de uma das cadeiras, provocando uma dor tremenda. Parou, segurando o pé machucado.
– Ai! Mas que droga!
– Não é desastrada, hein? – murmurou Drooft, que vinha logo atrás dela.
– Srta. Granger? Algum problema? – quis saber o professor Flitwick, que observava os dois de longe.
– Não professor, eu só sou... desastrada – respondeu a garota, olhando para Drooft que ria baixinho. Rox dividia-se entre o riso e a contrariedade.
– Ah com certeza, Transfigurações deve ser realmente interessante – disse Rox, que conversava com Drooft sobre as matérias que ambos ansiavam aprender, enquanto seguiam para suas próximas aulas. Os dois já pareciam velhos amigos.
– Eu acho que Defesa...
– Hey, Rox! – girtou uma voz já conhecida, interrompendo o que Drooft ia falando. Os dois se viraram e viram uma garota ruiva idêntica a Rox, correndo um pouco para alcançá-los.
– Oi, Jan! – cumprimentou a garota animadamente, quando Jan havia chegado até eles.
– Minha nossa! – exclamou Drooft, com os olhos arregalados. – Vocês são... gêmeas?
– Somos – responderam as duas, sorridentes, ao mesmo tempo.
– Olha só, Rox, agora sei mais uma coisa sobre você – brincou Drooft, que ainda olhava um tanto assustado para as garotas.
Rox revirou os olhos e sorriu.
– Jan, esse é o Drooft, que também está no primeiro ano, mas ele é da Corvinal e fez o favor de me roubar 10 pontos – apresentou, com uma notável ironia na voz, trocando um olhar com Drooft. Os dois sorriam até Rox continuar. – Drooft, essa é a Marie Jan, minha recém-descoberta irmã gêmea. – concluiu, sorrindo para Jan. A garota notou que a irmã olhava dela para Drooft com uma expressão estranha.
– Recém-descoberta? – questionou Drooft, surpreso.
– É, a gente descobriu ontem... – contou Jan, rindo. Relatou para Drooft tudo sobre a noite anterior.
- Caramba! Mas e agora? E os seus pais biológicos?
- Bom, é isso que a gente planeja descobrir – disse Jan. – Na hora do almoço a gente podia começar, Rox. O que acha?
- Podemos sim! Na biblioteca... Acho que é o primeiro lugar onde a gente deve ir.
- Hey, não se esqueçam de mim – disse Drooft. As duas o olharam sem entender. – Não sejam tolas de dispensar a minha valiosa ajuda – sorrindo presunçosamente, continuou. – Encontro vocês na biblioteca, na hora do almoço. Agora precisamos correr, ainda temos aula.
As gêmeas se entreolharam antes de Rox se virar para Drooft.
- Obrigada – sua voz transparecia sinceridade e gratidão. – É a segunda vez que te agradeço hoje.
- Não se preocupe, um dia eu cobro – prometeu ele, abrindo um sorriso enigmático.
- Quais são as próximas aulas de vocês? – perguntou Jan.
- Defesa Contra as Artes das Trevas – Drooft respondeu.
- Poções, aula dupla – respondeu Rox.
- Ah, então assistiremos aula juntas! Esta também é a minha próxima aula. – exclamou Jan.
- Então eu vejo vocês na hora do almoço – disse Drooft. Eles haviam chegado às escadas, e ele acenou antes de subir apressado. Rox e Jan desceram, porque a aula de Poções era nas masmorras.
Ao chegarem, ofegantes por terem andado rápido, perceberam que todos os alunos já haviam entrado. Jan abriu a porta: a sala era escura e um tanto sombria. As duas garotas entraram tentando não chamar muita atenção, mas foi inútil.
- Suponho que olhem no relógio da próxima vez – disse a professora numa voz severa. Ela estava virada de frente para o quadro, onde apareciam palavras sem que ninguém as escrevesse. Antes que as garotas se sentassem, a professora se virou para a turma.
“Como eu ia dizendo... MON DIEU!” exclamou ela em francês, olhando espantada para as gêmeas. A mulher se apoiava na mesa e segurava o peito, como se o coração fosse sair do lugar. Rox a reconheceu como a mulher que, no dia anterior, estava conversando com Jan no Salão Principal. A mãe dela.
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