Gêmeas?



Capítulo II – Gêmeas?


 


    – Oh. My. God (N/A: desculpa, tive que colocar isso em inglês. *-*) – foi a única coisa que Rox conseguiu dizer, enquanto continuava pregada no mesmo lugar, sem mexer um músculo. A garota à sua frente murmurou algumas palavras ininteligíveis, que Rox supôs que fosse em francês.


    – Quem... que coisa é você? – perguntou a garota, num tom de assombro, com uma notável arrogância na voz. Só agora Rox notara que até as vozes das duas eram parecidas. Por ter murmurado palavras em francês e por, mesmo em inglês, ter um leve sotaque, Rox achou que ela era francesa.


    – Rox. Rox Granger – respondeu a garota com uma sobrancelha levantada. – E talvez você tenha notado que eu sou humana.


    – É claro que é, desculpa... eu só... como isso é possível? – frustrou-se a menina, passando a mão pelos cabelos e começando a caminhar de um lado para outro, lançando olhadelas furtivas à Rox de vez em quando, como se a outra fosse tirar uma máscara do rosto a qualquer momento e gritar “pegadinha!” – E a propósito, meu nome é Marie Jan... Delacour.


    – Ah, claro! Você é do primeiro ano, estava na cerimônia de Seleção. Mas por que eu não vi, naquela hora, o quanto você é... – era difícil pronunciar a palavra – idêntica a mim? – perguntava mais à si mesma do que à Marie Jan. – Lembrei! – exclamou a garota, dando um tapa na própria testa, fazendo a outra interromper sua caminhada nervosa. – Na hora em que você se sentou no banquinho, eu fui distraída por uma gata magricela e feia que passou entre as minhas canelas.


    – Deve ser a Madame Nor-r-ra, a minha mãe, quero dizer, a professora de poções me falou sobre ela, é a gata do zelador Filch – declarou Marie Jan, parecendo constrangida. Rox não deixou de notar o “minha mãe” que a garota havia deixado escapar. Entendeu imediatamente porque ela estava conversando tão intimamente com aquela professora, depois do jantar: as duas eram mãe e filha. Mas Rox tinha coisas mais importantes pra pensar no momento. Acabara de lhe ocorrer uma idéia, ao mesmo tempo absurda e muito óbvia.


    – Me desculpa perguntar, mas você é adotada?


    Marie Jan pareceu se ofender com a pergunta:


    – Sabe, eu acho que isso é uma coisa pessoal, não se deve sair por aí perguntando isso às pessoas! Só porque você é minha... minha sósia, não significa que pode...


    – Você não percebe?! – exaltou-se Rox, interrompendo-a, andando alguns passos em direção a ela. – Eu também sou adotada!


    Marie Jan arregalou os olhos, parecendo ter finalmente entendido, mas no momento mostrava-se incapaz de falar. Rox observava as feições assustadas da garota, refletindo. Seria mesmo possível?


    – Você também é metamorfomaga, suponho – sussurrou Marie Jan, que parecia estar recuperando a voz.


    Rox fez que sim com a cabeça e, para demonstrar, fechou os olhos e mudou a cor dos cabelos pela segunda vez em menos de uma hora, fazendo-os ficar vermelho-vivos dessa vez. Ao abrir os olhos, deparou-se com a cena mais estranha de sua vida: Marie Jan tinha mudado a cor dos cabelos também e, certamente para fazer uma demonstração, havia mudado para o tom de roxo que Rox normalmente usava.


    – Você me assusta, garota. – declarou Marie Jan, balançando debilmente a cabeça.


    Inesperadamente e ao mesmo tempo, as duas garotas começaram a rir, e suas gargalhadas ecoaram pelos corredores das masmorras.


    – Isso é loucura – sussurrou Rox, olhando para a outra garota; essa ainda era uma visão um tanto assustadora.


    De repente ouviram um miado estridente, de doer os ouvidos. Os olhos amarelos de Madame Nor-r-ra estudavam as duas garotas, e Rox poderia jurar que via na cara peluda da gata uma expressão de triunfo.


    – Vamos sair daqui, agora – murmurou Marie Jan, puxando Rox pela mão. As duas saíram correndo desabaladas pelo corredor. Logo chegaram às escadas e subiram, apressadas. Depois de subirem o que Rox pensou serem milhões de degraus, pararam em um corredor deserto. Rox se encostou na parede, segurando o peito ofegante, enquanto Marie Jan se apoiava nos joelhos.


    – Se Filch chegasse ali, estaríamos em uma grande enrascada – disse Marie Jan sabiamente, e as palavras saíram entrecortadas devido à sua visível dificuldade para respirar.


    Rox apenas balançou a cabeça, concordando. Alguns segundos se passaram até que se recuperasse o suficiente para falar.


    – Marie Jan, - começou Rox, cautelosa. – você tem idéia da dimensão do que acabamos de descobrir? Somos... irmãs... gêmeas. – Rox a observava, enquanto mudava novamente a cor dos cabelos para o roxo. Notou que a garota parecia um tanto triste. Rox sentiu um impulso repentino de expurgar qualquer que fosse a dor que estivesse sentindo, de animá-la de alguma forma. Assustou-se com esse sentimento.


    “Sabe, pode ser meio assustador à primeira vista ser irmã gêmea de uma garota estranha como eu, mas eu costumo ser legal de vez em quando”, brincou Rox.


    Marie Jan riu por um momento, antes de negar com a cabeça – não, não me entenda mal. Não tem nada a ver com você, é só que... eu sei que sou adotada, mas sempre evitei pensar muito no assunto. E agora, bem, isso torna tudo mais real, não é? – disse, suspirando. – E pode me chamar de Marie... ou Jan, você escolhe.


    – Olha, hum... Jan... – hesitou por um segundo antes de continuar – eu nunca me importei muito com o fato de ser adotada. O que é mais importante para mim é o amor que sempre recebi dos meus pais. Eles são maravilhosos.


    – A minha mãe é maravilhosa também – murmurou Jan, com um sorriso no canto dos lábios. – Gêmeas... – começou ela, levantando os olhos para Rox, aumentando o sorriso. – Legal!


    Rox sorriu também, e Jan continuou:


    “Eu sempre me achei louca por isso, e nunca contei a ninguém, mas eu sempre me senti solitária. Mesmo tendo outros irmãos, eu sempre senti que faltava alguma coisa. Vai ver isso é coisa de gêmea mesmo”, riu, balançando a cabeça de um lado para o outro.


    – Ah, eu também senti isso! A minha vida toda, sempre me senti como se tivesse perdido alguma coisa, entende? Faltava um pedaço. – Rox, contava, abismada e tinha a sensação de que enquanto um quebra-cabeça se encaixava, outro surgia, maior, e mais bagunçado. – Por que você acha que os nossos pais não ficaram com a gente? Nos separaram tão longe uma da outra? – perguntou, com a testa franzida. – Porque você foi criada na França, suponho.


    – Sim, França. E você, Reino Unido?


    – Exato. Londres para ser mais específica.


    – Bom, vai ver os nossos pais biológicos nos acharam bizarras demais e chutaram nossos bumbuns fofinhos para longe.


    Rox riu, sendo acompanhada pela recém-descoberta irmã. Uma curiosidade quase incontrolável tomou conta da garota, devido à grande quantidade de perguntas que surgira com essa nova descoberta.


    – Eu não sei você, mas agora eu quero descobrir quem são eles. – declarou Rox, decidida.


    – Eu também quero, é claro! – disse Jan sorrindo. Rox sorriu também sob a expectativa do que poderia descobrir, fosse bom ou ruim.


    – Então faremos isso. Juntas.


    – Com certeza.


    Jan olhou no relógio e Rox lembrou-se de que todos já estariam dormindo há muito tempo, e ela nem ao menos sabia onde ficava o seu dormitório. Ao contar esta preocupação para Jan, a garota prontamente se ofereceu para procurar o dormitório junto com ela. Rox achou que provavelmente passariam a noite toda procurando, naquele castelo imenso, mas aceitou de bom grado a ajuda.


 


    Enquanto caminhavam por um corredor escuro, um tanto cansadas, Jan lembrou-se de uma coisa que Rox já tinha esquecido:


    – Por que você se perdeu da sua turma, afinal?


    – Eu vim te agradecer... – Rox contou sobre como a garota a ajudara a chegar na Plataforma nove e meia. As duas estavam no começo de um corredor, quando viram, no fim dele, uma menina e um menino mais velhos, passando apressados.


    – Vamos segui-los, eles podem ser da Grifinória! – sussurrou Jan, e Rox prontamente apressou o passo para seguir os dois. Tinha que se agarrar a qualquer oportunidade, pois já estava ficando meio desesperada.


    O menino e a menina viraram outro corredor, subiram escadas, entraram em outro corredor até finalmente pararem. Rox notou que eles estavam de mãos dadas: era um casal. Deveriam estar namorando escondido, na calada da noite.


    Jan e Rox pararam também, um pouco mais atrás e a escuridão do corredor impedia que o casal as visse. À frente deles, estava uma pintura antiga de uma mulher obesa de vestido rosa, que dormia profundamente.


    – Eu não sei se você viu, mas tem o emblema da Grifinória nos uniformes deles. – começou Jan, sensatamente. – Deve haver uma porta escondida ali, como no Salão Comunal da Sonserina. Assim que eles disserem a senha, você corre e passa pela porta antes que ela se feche – recomendou, num sussurro.


    – Obrigada – agradeceu Rox, sinceramente. – Você sabe o caminho para o seu dormitório, não sabe?


    – Sei sim, relaxa. A gente se vê?


    – Claro, gêmea.


    A garota vislumbrou o sorriso de Jan, antes de disparar pelo corredor, quando viu o quadro da mulher gorda girar.


    – Mais um! – esbravejou a mulher do retrato. Ela estava furiosa. – Vai, passa logo que eu quero dormir!


    Quando Rox passou pelo buraco, deparou-se com o casal em uma entusiasmada despedida. Os dois se separam, assustados.


    – Eu nem estou aqui, não se preocupem. Qual das duas escadas eu subo para chegar ao dormitório feminino?


    A garota tinha o rosto afogueado quando apontou para a escada da esquerda e Rox apressou-se para subir. Mal podia esperar para se jogar na cama e adormecer profundamente. Aquele havia sido um dia definitivamente longo. Mas Rox estava animada, apesar de tudo. Era difícil acreditar que tinha mesmo uma irmã gêmea. Lembrou-se de sua infância solitária e de poucos amigos, e percebeu que talvez o futuro não fosse tão solitário assim.


    Foi com um pequeno sorriso nos lábios que Rox adormeceu quase instantaneamente, depois de se deitar ainda vestida, na cama quente e macia.

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