Procura-se... quem?



Capítulo IV – Procura-se... quem?




 


    – Marie Jan! Quem é... O que está acontecendo aqui?! – exaltou-se a professora Delacour, olhando de Rox para Jan. Seu belo rosto estava contorcido numa expressão que era um misto de exasperação e assombro. – Isso é algum tipo de brincadeira?


    – Mam... professora Delacour, a Rox é minha irmã gêmea.


    Todos os alunos na sala mantinham-se em silêncio observando a cena, confusos, no mínimo. Primeiro, pelo raro caso de dois alunos (no caso, alunas) da Grifinória e da Sonserina estarem andando juntas. Este fato seria esquecido com facilidade, já que as tais alunas são irmãs, porém, tinha ainda outro fato estranho: por que a profª Delacour estava gritando com uma aluna, em sua primeira aula, só pelo fato de ela ter uma irmã gêmea?


    – Sua... irmã... o que? – balbuciava a professora, aturdida. No segundo seguinte, ela pareceu tomar consciência do restante dos alunos. Passou os olhos pela sala, olhando incisivamente para Jan. – Sentem-se, vocês duas. Me desculpem a interrupção, turma. Continuemos. Deixe-me ver... Onde eu parei?


    Rox e Jan se sentaram lado a lado e se entreolharam. Jan sorriu para a irmã de um modo que ela interpretou como “está tudo bem”.


    – Eu estava prestes a lhes dizer o que fazer. Como vocês podem ver, as instruções para a sua primeira poção está no quadro negro. Vocês farão uma poção simples, para curar furúnculos. Agora podem começar e boa sorte! – disse a professora Delacour.


    Rox observou que os alunos corriam para os armários à procura de ingredientes e ela prontamente os imitou, seguida de perto por Jan.


    Ao fim da aula, quando Rox havia desligado o fogo que aquecia o caldeirão e Jan ia adicionando as cerdas de porco espinho, a professora, que ia passando pelos alunos, incentivando e ajudando os que tinham mais dificuldade, passou pela mesa das gêmeas e sussurrou para que apenas elas ouvissem:


    – Fiquem na sala depois que todos saírem.


    O sinal tocou e as gêmeas demoraram um bom tempo arrumando as suas coisas, suficiente para que a sala esvaziasse e elas ficassem sozinhas com a professora.


    – Por favor, me expliquem como isso pode ser possível – disse a professora, olhando de Jan para Rox com uma expressão cansada. As duas trocaram um olhar divertido e Rox falou:


    – Também não sabemos. Quero dizer, eu também sou adotada. A minha mãe me contou como foi no dia que eu cheguei. Numa manhã como todas as outras, o papai abriu a porta para pegar o jornal e se deparou com uma cesta onde dormia um bebê com um bizarro cabelo roxo – ela riu por um momento antes de continuar. – Tinha também um bilhete dentro da cesta dizia...


    – Cuide bem dela – completou Jan, sorrindo. Rox sorriu também. Então as duas haviam chegado da mesma maneira. A professora olhava as duas um tanto incrédula.


    – Tudo bem, maman. Nós vamos descobrir quem nos largou ao relento – brincou Jan. Rox notou que era a primeira que sua gêmea não chamava a mãe de “professora”.


    A profª Delacour jogou seus longos cabelos negros para trás, e eles balançaram em ondas perfeitas. Ela era clara como a neve, alta e esguia e seu rosto trazia um indiscutível traço da beleza francesa.


    – E como vocês pretendem fazer isso? – sua expressão trazia a sombra de um sorriso.


    – Bem, a gente vai começar pela biblioteca hoje – respondeu Jan e ela parecia meio insegura do que dizia.


    Rox também se sentiu insegura, agora que parava para pensar. Eles não sabiam nada sobre seus pais biológicos, portanto, teriam muito trabalho para encontrar quaisquer informações sobre eles. A garota não perderia a esperança, porém.


   – É, quanto mais cedo, melhor – disse Rox com convicção, trocando um olhar com sua gêmea e sorrindo, encorajando-a.


    Sorrindo de canto, a profª Delacour suspirou antes de falar:


   – Eu nunca tive muita curiosidade sobre quem havia deixado Marie Jan na minha porta, pois, se deixou, é porque pensava que ali ela estaria melhor, e eu não vou discordar, não é? – mãe e filha sorriram e a profª Delacour ficou séria logo depois. – Não vou iludir vocês e dizer que essa procura vai ser fácil, mas podem contar comigo para o que precisarem, ok? Prometo ajudar como puder.


    – Obrigada, professora! – exclamou Rox, com um sorriso.


    – Obrigada, maman. Je t’aime.


    – Disponham. Je t’aime aussi, mon ange – disse a professora, em francês, como Jan. Pelo pouco daquela língua que Rox tinha aprendido na escola de trouxas, as duas estavam dizendo que se amavam. A garota sorriu, e a sua gêmea tinha um sorriso idêntico no rosto.


 


 


    – Quanto tempo falta para terminar a hora do almoço? – perguntou Rox pela segunda vez, entre garfadas apressadas de pudim de carne e rins.


    – Ainda temos uma hora – repetiu Jan, esvaziando seu prato rapidamente.


    Logo as duas entravam um tanto ofegantes na biblioteca, depois de praticamente correrem pelos corredores para chegar até ali. A biblioteca era imensa e as estantes com livros se estendiam até o teto. Rox suspirou.


    – Por onde começar?


    – Que tal do começo? – questionou uma voz masculina.


    As gêmeas se viraram para ver quem falara, mas Rox já sabia: Drooft.


    – Não me olhem com essas caras, meninas, até parece que não estão felizes em me ver – continuou ele, já indo até uma mesa próxima e largando sua mochila em uma cadeira. As garotas o imitaram, e quando estavam todos sentados, Drooft aproximou-se delas sobre a mesa e elas fizeram o mesmo para que conversassem aos sussurros.


    "Eu falei sério quando disse que começássemos do começo. Estive pensando sobre isso ontem à noite, e conclui que devemos começar olhando registros antigos de jornal. Sabem, deve haver algum registro sobre o nascimento de gêmeas metamorfomagas. Isso é realmente raro", declarou, olhando de uma gêmea para a outra, e como nenhuma das duas disse uma palavra sequer, a empolgação dele pareceu murchar como uma bolha que alguém estourara. "Bem, eu só achei que seria a forma mais provável de acharmos algo quando temos tão poucas informações."


    Rox se recuperou rapidamente:


    – Hey! É uma ótima idéia! – trocou um olhar com a sua irmã antes de continuar. – Nós só estávamos impressionadas com você. Quero dizer, você já pensou nisso tudo e... bem...


    – Obrigada – completou Jan.


    O garoto sorriu e corou um pouco fazendo um gesto displicente com a mão.


    – Ah, parem de me agradecer. Vamos ao trabalho – respondeu, se levantando e caminhando até uma parte mais ao fundo da biblioca. Quando voltou, tinha os braços carregados de jornais velhos e amarelados.


    Quando faltavam dez minutos para as aulas recomeçarem, eles encerraram a pesquisa, saindo da biblioteca com Rox espirrando – era alérgica a poeira. Antes de irem paras suas próximas aulas, prometeram continuar no dia seguinte.


 


 


    Sonolenta, Rox ia saindo de duas aulas incrivelmente longas de História da Magia, junto com os outros primeiroanistas da Grifinória e da Lufa-Lufa. Ela obviamente não havia se permitido dormir no meio da aula, como outros alunos fizeram, mas havia sido difícil. O professor Binns ministrava a aula de um jeito tão monótono que era como se uma nuvem invisível de torpor invadisse a sala e ninguém, com exceção de um ou outro (Rox era uma dessas exceções) conseguia prestas atenção no que ele dizia por mais de cinco minutos.


    Jan e Rox assistiram a próxima aula juntas novamente. Ambas estavam saindo da sala de Defesa Contras as Artes das Trevas e comentando sobre a aula que tiveram. Todos os alunos haviam ficado muito animados. A aula da professora Juliet Smith era tão boa que a maioria lamentou quando o sino tocou, avisando-os que era hora de ir.


    – Você notou como ela nos olhava? – perguntou Jan.


    Rox franziu a testa olhando para a garota, não entendendo a pergunta. Um segundo depois ela percebeu do que a irmã estava falando. Realmente, além do excelente carisma, a professora Smith apresentara um comportamento estranho em relação às gêmeas.


    – Sim, eu percebi! Ela não tirava os olhos de nós duas – Rox hesitou por um segundo, antes de continuar, num sussurro. – E, por mais estranho que isso possa parecer, eu senti que ela nos olhava como se nos conhecesse.


    – Vai ver é a tal ligação das gêmeas, mas eu também senti isso – sussurrou Jan em resposta, com a testa franzida. As garotas continuaram caminhando até o Salão Principal em silêncio, cada uma imersa nos próprios pensamentos.


    Assim que chegaram, Rox puxou a sua gêmea para que elas sentassem na mesa da Corvinal, com Drooft.


    – Hey, Super Gêmeas! – cumprimentou o garoto, virando para cada uma delas e se curvando respeitosamente, depois que as garotas haviam sentado, uma de cada lado dele. Rox pôde ver a expressão de deboche em seu rosto. Ambas riram, até Jan responder.


    – Hey, Super Palhaço.


    Antes que o garoto pudesse retrucar, Rox interrompeu os dois:


    – Shiu! Drow, eu preciso te contar... – começou a garota, que contou em voz baixa como a professora Smith havia agido estranho, com ela e a sua irmã, durante a aula.


    – Drow? Gostei desse apelido – dizia Drooft, sorrindo.


    As duas garotas o fuzilaram com os olhos, obviamente esperando que ele esquecesse a história do apelido e voltasse ao assunto da Professora Smith, embora Drooft pudesse notar um leve rubor no rosto de Rox.


    “Tudo bem, tudo bem, foco... Olha, isso é bem estranho”, murmurou o garoto, mordendo o lábio, pensativo. “Espera aí! Vocês já pensaram que ela pode mesmo conhecer vocês?”


    – Como? – Jan perguntou, olhando para Drooft como se duvidasse de sua sanidade, e Rox tinha a mesma expressão no rosto.


    – Conhece vocês de quando eram bebês! Antes de se separarem uma da outra!


    As garotas abriram a boca, surpresas. Rox bateu na própria testa. Como não tinha pensado nisso antes?


    – Claro! Merlim...


    – Isso é... – continuou Jan.


    – Incrível – completou Rox.


    Drooft, que olhava de uma para a outra com uma expressão divertida, continuou:


    – E se ela conhecer os pais de vocês? Melhor, e se ela for parenta de vocês?


    – Mas, se esse for o caso, por que ela não falou nada para a gente? – perguntou Jan, sabiamente, estourando a bolhinha de esperança que flutuava no peito de Rox.


    O trio ficou em silêncio por um tempo, enquanto comiam, até que Rox sentiu que a esperança ainda não havia morrido.


    – E se ela não tiver certeza? – os outros dois a encararam, mas ela insistiu. – Bem, eu sei que é raro um caso de gêmeas metamorfomagas, mas a nossa história não está escrita na nossa testa, não é? Além do mais, não é porque eu tenho cabelos roxos que eu sou, necessariamente, uma metamorfomaga. Eu podia ser uma punk.


    – Uma punk? – repetiu Drooft, se dobrando na cadeira de tanto rir.


    – Eu suponho que a gente vá falar com ela – disse Jan, depois que os três pararam de rir. Ela já ia se levantando da cadeira, quando Rox a segurou pelo pulso e a puxou para sentar novamente.


    – Não, calma. Ainda não. Vamos esperar mais alguns dias para ver se ela continua estranha. A gente pode ter se enganado, não é mesmo?


    – Você tem razão, tudo bem – concordou Jan, balançando a cabeça afirmativamente, mas Rox podia ver na expressão de seu rosto que ela estava se segurando para não ir fazer o que tinha vontade.


    – Se vocês quiserem, eu posso investigar sem dar muito na vista. Posso perguntar algumas coisas para ela de um modo que não pareça grosseiro, nem intrometido. Sabem como é, só curiosidade de bom aluno – sugeriu Drooft, sorrindo de um jeito confiante.


    – Sim! Que ótima idéia! – exclamou Jan, sorrindo.


    Rox também sorria, mas o seu sorriso era diferente. Era um sorriso de admiração, ou até algo mais, mesmo que ela não soubesse disso. Drooft olhou para ela e devolveu o sorriso.


    – Quando vou parar de te agradecer?


    – No dia que eu morrer, quem sabe – respondeu o garoto, e lá estava o seu sorriso sarcástico mais uma vez.


 

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