Capitulo 09



Capitulo 09


 


- Tia Soraya. - Gina exclamou ao ver sua tia se aproximar. - Eu pensei que você fosse passar o dia com sua amiga.


A tia lhe contara, entusiasmada, que iria visitar uma velha amiga do colégio cuja filha ficara noiva de um riquíssimo príncipe.


Para a preocupação de Gina, contudo, a tia parecia muito angustiada, os olhos marejados de lágrimas.


- O que foi, tia? O que aconteceu? Por favor, me diga. Aconteceu alguma coisa com a sua amiga? - Gina pediu.


A tia balançou a cabeça emocionada.


- Por favor. - Gina indagou. - Me conte o que aconteceu.


Aproximou-se da figura desamparada da tia num gesto protetor.


- Gina, eu não queria falar isso. - a tia murmurou tristemente. - Mas a minha amiga me telefonou cancelando o encontro. Não é nada contra você, Gina. Não intencionalmente! Minha amiga compreende que você não quis... Bem, ela sabe que você teve uma criação européia. Ela disse que precisa proteger a sua filha porque a família de seu futuro genro é... muito conservadora...


Percebeu a hesitação na voz da tia e adivinhou o que viria em seguida.


Mesmo assim, foi um choque para Gina quando a tia confirmou seus receios.


- As pessoas estão falando de você, Gina! Eu sei que deve haver uma explicação aceitável para... para... tudo isso, mas minha amiga soube que você esteve sozinha com Potter, e que vocês dois...


Ela se calou, tentou refrear as lágrimas e colocou a mão sobre a boca como se não quisesse dizer mais nada.


- Eu não posso acreditar que Potter tenha agido assim. Expor você a... não ter agido como um homem honrado e...


- Me pedido em casamento? - Gina completou irônica. - Para falar a verdade, tia, foi isso mesmo que ele fez. Mas eu...


- Ele fez isso? - Soraya sorriu, aliviada, levantou-se e abraçou Gina calorosamente. - Oh Gina, estou tão feliz... tão orgulhosa de você... de vocês dois. Ele será um ótimo marido. Seu avô vai ficar muito contente.


- Não, minha tia, você não me entendeu. - Gina tentou protestar, aflita com a interpretação da tia. Uma coisa era contar-lhe sobre o pedido, por seu próprio orgulho e para o conforto dela. Outra era fazê-la pensar que estava satisfeita e disposta a aceitar a proposta.


Entretanto, ao tirar suas próprias conclusões diante das palavras de Gina, Soraya mostrou um entusiasmo imutável!


Potter a pedira em casamento! Claro que era impossível Gina ter recusado. Todas as suas tentativas de dizer que não aceitara o pedido foram encaradas pela tia como brincadeiras.


- Eu sabia que poderia confiar em Potter. Afinal, seria uma grande tolice por parte de vocês arriscar a perder suas reputações dessa forma, Gina. Sua mãe teria odiado saber que as pessoas estavam falando de você por aí. - disse com leve reprovação.


Sua mãe! Gina sentiu uma pontada no coração. Sua mãe certamente odiaria saber que a filha era alvo de boatos, mas nunca a condenaria pelo que aconteceu.


- Então você e Potter estão noivos. - declarou com alegria. - Nós temos muito a fazer agora, Gina. Oh, meu bem. - disse dando outro abraço em Gina. - Eu não ia lhe contar isso, mas agora que você tirou o peso da minha consciência, posso falar. Se Potter não a tivesse pedido em casamento, nossa família e nossa posição na comunidade ficariam muito prejudicadas. Os negócios de meu marido seriam afetados, e seu primo não conseguiria arrumar um bom casamento. E seu avô... Eu não estou exagerando, Gina, mas tamanha vergonha iria matá-lo.


Matá-lo!


Gina permaneceu imóvel quando a tia a abraçou com carinho. Ela caíra numa armadilha que se fechava com tanta rapidez em sua volta que talvez nunca conseguisse escapar. E, naquele momento, não fazia a menor diferença que fora ela própria que se metera nessa arapuca!


Agora não havia mais saída. Para o bem da família, não tinha outra escolha senão casar-se com Potter!


 


- Oh, Gina! Você está tão bonita. - a tia suspirou de emoção. - A noiva perfeita.


Elas estavam no quarto de Gina, na mansão da família, esperando o avô, que a acompanharia para a cerimônia civil de casamento.


Depois da cerimônia haveria um banquete em homenagem ao casal no salão de festas do hotel decorado especialmente para a ocasião.


A tia de Gina passara os três últimos dias organizando todos os detalhes, mas apesar de seus insistentes pedidos Gina recusou-se a ver o local da festa.


Sabia que seria impossível tentar contar à tia que não queria casar-se com Potter. Soraya sentia uma ridícula admiração por ele e, simplesmente, não iria aceitar o fato de que ela o desprezava.


Potter, no entanto, sabia, pois ela se certificara de contar-lhe quando ele fora à casa de sua família formalizar o pedido ao avô.


Incapaz de escapar à situação, Gina teve de se contentar em desferir-lhe um olhar frio e hostil quando o avô a chamou para ouvir o pedido.


- Eu estou satisfeito por você ter percebido que não havia outra saída para nenhum de nós. – Potter sussurrou para ela de maneira que ninguém mais ouvisse.


E como se não bastasse, ela teve de enfrentar a humilhação de fingir que queria aceitar seu pedido!


No entanto, quando ele se inclinou para beijá-la, conseguiu se esquivar de seu beijo.


Com o rosto colado ao dela, ele a provocou:


- Quanta timidez! Uma noiva pudica! Mas eu sei muito bem como você pode ser ardente!


Não havia escapatória.


Suas ajudantes, algumas garotas da família de sua tia e de Potter, já tinham ido para o hotel vestidas em seus estonteantes trajes e, dentro em breve, Gina iria partir com seu avô.


Quando a porta de seu quarto se abriu e o avô entrou, ela estremeceu.


Após dar os últimos retoques no véu, a tia saiu e deixou-os a sós.


- Você é igual a sua mãe. - ele suspirou, os olhos brilhando de emoção. - A cada dia que se passa, eu vejo mais dela em você. Eu gostaria que você usasse uma coisa hoje. - disse repentinamente tirando um maravilhoso colar de diamantes de um estojo. - Isso é para você. Vou ficar muito orgulhoso se você usá-lo hoje.


Gina sentiu as mãos do avô tremerem quando ele pôs o colar em seu pescoço. A jóia ficou tão bem que parecia ter sido feita para ela.


- Era de sua mãe. - ele contou. - O meu último presente para ela. Ela deixou-o aqui. Ela ficaria orgulhosa de você, Gina. Os dois, seu pai e sua mãe, e com razão.


Orgulhosos dela? Por ela aceitar um casamento sem amor?


Gina foi invadida por uma onda de pânico. Não podia se casar com Potter. Não o faria! Virou-se para o avô, mas antes que pudesse falar a tia entrou no quarto.


- Está na hora de vocês irem. - avisou.


O avô caminhou até a escada e quando Gina quis segui-lo sua tia a impediu.


- Você não está usando o presente de Potter. - ela a repreendeu.


Gina a encarou.


- O perfume que ele lhe mandou. Foi feito especialmente para você. - A tia caminhou depressa até a cômoda onde encontrou o frasco de cristal.


- Não... eu não quero usar isso... - protestou, mas a tia não a ouviu.


Gina ficou imóvel quando sentiu a tia colocar algumas gotas da fragrância em seu corpo.


- É perfeito para você. - a tia constatou. - É uma essência que combina a ingenuidade de uma adolescente com a maturidade de uma mulher. Potter escolheu bem. E o colar de sua mãe ficou perfeito em você, Gina. Seu avô nunca deixou de amá-la, você sabe.


- Se ele a amava tanto, por que não foi ao enterro? - Gina retrucou, antes que seus olhos se enchessem de lágrimas. - Mesmo que não pudesse ir ele poderia ter mandado um telegrama... uma mensagem... qualquer coisa...


Sua voz encerrava toda a dor que sentira naquele dia tão triste, quando ninguém da família de sua mãe estava lá.


A tia suspirou.


- Gina, ele quis ir, mas sofreu um ataque do coração quando soube da sua mãe. Além disso, quando seu padrinho escreveu dizendo que não achava uma boa idéia você se mudar para cá, que você tinha a sua vida e seus amigos na Inglaterra, seu orgulho o impediu de enfrentar uma segunda rejeição.


Gina a encarou. Ela sabia que o avô lhe oferecera um lar, de modo tardio e relutante, segundo ela, mas não sabia que não comparecera ao enterro por causa de um infarto.


- Um ataque do coração? - ela vacilou. - Eu...


- Foi o seu segundo. - a tia contou, constrangida, como se tivesse dito algo indevido.


- O segundo? - Gina desconhecia esses fatos. - Então... quando... quando ele teve o primeiro? - indagou intrigada.


Soraya ficava cada vez mais agitada.


- Gina, eu não deveria ter lhe contado. Seu avô nunca quis... Ele pediu que nós guardássemos segredo porque não queria que sua mãe se sentisse...


- Minha mãe?


Olhou a tia com determinação.


- Eu não vou sair deste quarto até você me contar tudo. - disse com firmeza.


- Gina, você vai se atrasar. O carro está esperando e seu avô...


- Eu não vou dar nem um passo. - avisou.


- Oh, meu bem, eu não deveria... Muito bem, então. Eu acho que não tem mal nenhum você saber... Armal, foi a sua mãe quem seu avô quis proteger. Ele a amava muito, Gina... Ele ama seus filhos, é claro, mas nutria um amor especial por sua filha. De acordo com meu marido ele a mimou muito. Quando ela partiu daquela maneira, seu avô sentiu muita... raiva... e desespero. Ele tinha planejado tanta coisa para ela... Seu tio, meu marido, o encontrou caído sobre a mesa, segurando uma fotografia de sua mãe. O médico pensou que ele não fosse sobreviver. Ele ficou doente por muito, muito tempo. Oh... Eu não deveria ter lhe contado, não hoje. - Soraya censurou-se, ao perceber que Gina empalidecera.


- Todos esses anos perdidos. - Gina murmurou. - Eles poderiam ter ficado juntos, todos nós poderíamos ter ficado juntos como uma família!


- Ele sofreu muito com isso.


- Mas meu pai lhe escreveu cartas, enviou fotografias...


A tia suspirou.


- Você precisa entender, Gina. Seu avô é um homem muito orgulhoso. Ele não suportava receber nada de seu pai. Mas ele queria... precisava saber que sua mãe ainda o amava.


- Ela sempre pensou que ele nunca a perdoaria. - Gina sacudiu a cabeça soluçando.


- Quando seu avô soube do acidente... - A tia fez uma  pausa. - Foi muito difícil para ele, Gina. Ele não conseguia acreditar. Não conseguia aceitar que a tinha perdido. Quando teve o segundo infarto, achamos que não queria mais viver. Mas, graças a Deus, ele se recuperou. Ele queria muito que você viesse para cá, mas seu padrinho, quem sabe até com razão, decidiu que seria melhor você ficar com ele. Mas seu avô nunca perdeu as esperanças. Quando seu tio foi visitar seu padrinho, seu avô implorou para que ele a convencesse a vir até aqui. Você tem dado muitas alegrias a ele, Gina. Eu lhe desejo muita felicidade, minha querida, porque você, com certeza, merece.


A tia a abraçou e seus olhos se encheram de lágrimas.


Como um relâmpago Gina correu até o carro que a esperava.


A partir daquele instante ela passou a ver o avô com outros olhos. Com olhos apaixonados. Tomou-lhe a mão ao sentar ao seu lado e ele respondeu ao afeto de imediato.


 


- Você pode beijar a noiva!


O corpo de Gina enrijeceu-se. Incapaz de mover-se, sentiu a sombra fria do rosto de Potter quando ele se inclinou em sua direção.


Esperou até o último segundo possível para virar a cabeça para que os lábios respeitosos de Potter não pudessem tocar sua boca. Para sua surpresa, porém, como se ele já previsse sua intenção, ele ergueu a mão e segurou o rosto de Gina.


Dessa forma, os convidados ficariam encantados com o belo gesto de um homem que não contém suas emoções e beija a noiva com ardor.


Somente ela sabia que ele apenas a impedira de virar o rosto, que ele só queria reafirmar seus direitos de marido.


Os lábios de ambos se tocaram e ela estremeceu de raiva.


Tinha acreditado e confiado nele, sentido amor por ele, mas durante todo esse tempo ele a enganara. Como poderia confiar nele novamente?


Harry se moveu, o pequeno gesto de roçar seu nariz no dela como que querendo oferecer conforto e segurança. Outra mentira... Outra dissimulação... Apesar disso, tomada pela emoção do momento, desejou que tudo fosse verdade!


De repente, Gina foi invadida por um medo intenso. Em sua ingenuidade acreditara que seria fácil deixar de amá-lo, mas, para seu espanto, naquele momento não tinha certeza de seus sentimentos!


Ela o odiava pelo que fizera, tinha certeza disso! Então por que ele ainda tinha o poder de mexer com as emoções dela? De fazer com que o desejasse?


O que se passava por sua cabeça? Estava louca? Ela não o desejava. Nem um pouco! Com força tentou se afastar e, para seu alívio, ele a soltou imediatamente.


A cerimônia estava acabada. Eles eram marido e mulher!


 


- Eu nunca soube que Harry era o primeiro nome de Potter. - Saud comentou, evidentemente orgulhoso com a nova relação com seu herói.


- Gina, minha querida, seu pai teria ficado tão feliz se estivesse hoje aqui.


Surpreendida, Ginga sorriu automaticamente para o embaixador americano.


- Gina, você está muito bonita. - sua esposa elogiou com um sorriso simpático. - Não é mesmo, Potter? - Um arrepio subiu pela espinha de Gina quando ele a encarou.


- Ela é tudo o que eu desejo. - Harry confessou em voz baixa sem desviar o olhar.


- Gina, tire-o daqui antes que eu desmaie! Que garota de sorte. - ela brincou.


- Fui eu quem teve sorte. - Harry corrigiu a mulher.


- Com certeza. - Gina reafirmou com sotaque inglês. - Hoje ele está ganhando bem mais do que apenas uma esposa, não é mesmo, Potter? Ele está ganhando a oportunidade de projetar um novo hotel multimilionário e...


- Eu certamente vou precisar de algum dinheiro se quiser tratar você do mesmo jeito que seu avô faz. - Contornando a situação, Harry interrompeu a fala irada de Gina com um olhar de advertência que somente ela notou. - Só esse colar que você está usando, meu bem, é um exemplo.


- Sim, é maravilhoso. - um dos convidados se aproximou.


A mão de Potter em seu cotovelo a incomodava.


- Eu não sei por que você está tão determinado em representar o papel de marido apaixonado.


- Sim, acho mesmo que você não sabe. - ele concordou.


- Por que você não me contou que seu primeiro nome era Harry?


Ele deu de ombros.


- Isso importa? Harry ou Potter, eu ainda sou o mesmo homem, Gina. O homem que...


- O homem que se deitou comigo e depois me apunhalou pelas costas. - Gina alfinetou.


Pelo canto dos olhos Gina viu a boca dele se comprimir.


- Nós estamos casados agora, Gina, e...


- Na alegria e na tristeza... Não precisa me lembrar... Nós dois sabemos bem como vai ser, não é mesmo?


- Olhe Gina, não precisa ser assim. Afinal, nós dois temos algo em comum...


- Do que você está falando? Do seu novo hotel? De dinheiro? É só nisso que você pensa?


Gina enrijeceu quando ele a tomou pelo braço e disse com uma suavidade ameaçadora:


- Eu achei que já tinha mostrado que não é nisso que eu penso. Mas se você quiser que eu lhe mostre de novo...


Gina se desvencilhou daquela mão como se ela a queimasse.


- Se você alguma vez tentar me forçar a... aceitá-lo fisicamente como esposa eu...


- Forçar você?


Por um instante ele pareceu chocado, mas então sua expressão endureceu.


- Agora você está sendo ridícula. - ele replicou ríspido. - Não há a mínima possibilidade de eu fazer isso. Mesmo porque...


- Mesmo porque... - Gina o desafiou com raiva. - Mesmo porque pela lei você tem o direito?


Sentia uma profunda angústia por não conseguir manter-se indiferente a ele.


Com o final da cerimônia, Gina se via obrigada a enfrentar a sua primeira noite de casada. Potter era um homem muito sensual, ela já sabia disso! Se ele quisesse consumar o casamento, teria forças para rejeitá-lo?


- Potter, seu tio está procurando por você...


Gina respirou aliviada quando ele se afastou.


 


Muitas horas depois, exausta e infeliz, o olhar de Gina fixava o vazio, enquanto ela desejava ser outra pessoa e estar bem longe dali.


Seu padrinho não pudera comparecer.


Seu casamento com Potter fora anunciado no jornal como o romance do ano, mas não deixou se influenciar. Odiava Potter como ninguém mais poderia fazer, decidiu com tristeza, e nunca, nunca iria perdoá-lo pelo que tinha feito.


Finalmente a festa terminara e suas ajudantes vieram buscá-la e acompanhá-la até a suíte reservada para que se trocasse.


- Para onde Potter vai levar você na lua-de-mel? Você sabe? - quis saber uma das garotas, uma sobrinha casada de sua tia, arrancando risadinhas das outras meninas mais jovens. .


Gina sentiu vontade de dizer que não sabia e não se importava, mas suas boas maneiras não permitiram.


- Eu não sei. - respondeu.


- É um segredo. Oh, que romântico! - uma das moças exclamou com uma ponta de inveja.


Uma outra foi mais prática:


- Mas como você vai fazer a sua mala se não sabe para onde vai?


- Ela está em lua-de-mel, sua boba. - uma terceira interveio. - Roupas não...


- Parem vocês todas. - a mais velha interrompeu. - Vocês têm que ajudar Gina, e não ficar fazendo piadinhas. Você não precisa se preocupar. Um homem experiente como Potter vai saber o que fazer! - disse, tentando acalmar Gina. - Eu me lembro de como fiquei nervosa na noite de meu casamento. Eu não tinha idéia do que iria acontecer, e fiquei muito agitada. Eu deveria ter confiado mais nele... ou na minha mãe. - Ela sorriu. - Ela me garantiu que eu estava com as roupas certas, e disso Sayeed não entendia muito.


Roupas! Elas falavam em roupas! Gina não sabia se ria ou se chorava!


Enfim ficou pronta, vestindo o simples terninho creme que comprara em Zuran. Tirou os brincos de pérolas que haviam pertencido à mãe, e substituiu-os por outros maiores, um dos muitos presentes de Potter. Sentia vontade de destruí-los, mas, evidentemente, não seria possível, pois suas criadas de quarto não se cansavam de comentar o brilho e perfeição das pedras, obviamente escolhidas para combinar com os brilhantes das alianças de noivado e de casamento.


Elas passaram novamente em Gina o perfume que Potter lhe dera e lhe entregaram as minúsculas peças de seda e renda que a tia teve a bondade de chamar de roupa íntima. Seus pés e mãos foram checados minuciosamente pela ajudante mais velha, que garantiu a ela que as unhas eram um detalhe imprescindível. Agora ela estava pronta para ser entregue ao seu marido como se fosse um pedaço de carne fresca a ser degustado, ou descartado, se ele assim quisesse!


- Venha, está na hora. Potter está esperando. - a moça mais velha anunciou em tom pomposo.


Quando Gina olhou para a porta de sua suíte as risadinhas ao seu lado cessaram.


- Seja feliz. - a mais velha desejou, beijando-lhe a face.


- Que sua vida seja cercada com o riso de seus filhos e com o amor de seu marido. - outra garota sussurrou, e assim, uma por uma, todas lhe desejaram felicidade e a abraçaram com timidez.


Do lado de fora, o barulho estava se tornando ensurdecedor.


- Se não abrirmos a porta agora Potter vai arrombá-la. - uma delas riu e houve um instantâneo furor por parte das meninas quando elas abriram a porta e Gina foi conduzida para fora.


Os convidados do casamento reunidos em frente à suíte vibraram quando ela apareceu, mas Gina mal notou-lhes o entusiasmo. No exíguo espaço reservado a sua passagem seu olhar amargo encontrou-se com o de Potter.


Assim como ela, ele vestia roupas ocidentais. Estilistas do mundo inteiro pagariam uma fortuna para Potter usar sua marca, Gina concluiu com desgosto, tentando evitar admirá-lo.


Em qualquer lugar do mundo ele seria considerado um homem de bom gosto e estilo. Homens ricos e finos como Potter têm algo em comum, não importa a nacionalidade, Silenciosamente ele estendeu-lhe a mão.


As pessoas começaram a dar vivas. Por um instante, Gina hesitou, e seu olhar procurou desesperadamente as janelas como que em busca de liberdade. Mas alguém lhe deu um pequeno empurrão e Potter pôde segurar sua mão.


Como numa cena bíblica, o grupo se afastou liberando a passagem. A enorme porta que dava para o jardim se abriu e quando eles saíram lindos fogos de artifício espocaram no céu. Ao mesmo tempo que eram cobertos por uma chuva de pétalas de rosa, o ar era perfumado por uma fumaça com essência de morango. Havia música e festa. Sem se deter, Potter a conduziu até a saída.


- Sua tia queria que partíssemos montados em um cavalo árabe, exatamente nos moldes da cultura local, mas eu consegui dissuadi-Ia. – Potter lhe sussurrou ao ouvido quando segurou seu braço para que pudessem acenar para os convidados.


- Como num conto de fadas árabe? Com todos os apetrechos medievais, incluindo seu falcão? - Gina replicou, virando-se automaticamente para fitá-lo, surpresa como o tom de humor em sua voz.


- Eu acredito que ela não pensou nos falcões. Ainda bem, porque eu não iria expor meus bichos a essa multidão.


Ao olhar para ele, Gina sentiu um sobressalto em seu coração.


Como se uma janela se abrisse repentinamente a sua frente, e trouxesse à luz algo que não podia enxergar direito, ela reconheceu dentro de si uma intolerável e dolorosa verdade!


Ao acreditar que a lógica, a realidade, a raiva eram suficientes para destruir seu amor por Potter, ela se enganava de uma maneira mais cruel do que ele havia feito com ela.


Teria se casado com Potter porque secretamente ainda o queria? Ainda o amava? Gina encheu-se de raiva. Seu orgulho não aceitava essa idéia!


Acreditara que seu maior inimigo se encontrava fora de seu coração, mas se enganara. Seu maior inimigo estava dentro dela, dentro de seu próprio coração, e se manifestava em forma de amor.


Mas Potter nunca saberia disso. Ela precisava estar sempre em guarda para proteger seus sentimentos. Eles deveriam se transformar numa fortaleza em que Harry nunca teria a permissão de entrar!


 


- Bem-vinda a sua nova casa!


Pela primeira vez desde que deixaram o hotel, Potter quebrou o silêncio entre eles. Poucos segundos antes haviam cruzado o portão de entrada da residência de Potter. A discreta iluminação do jardim realçava o tom creme das paredes. Gina tinha o corpo rígido pelo esforço em não deixar baixar a guarda e, de tanta tensão, sua garganta ficara seca e ela não conseguia falar!


Dentro da casa ela não conseguiu relaxar, pelo contrário.


- Já é tarde e nós tivemos um dia muito longo. - Potter disse calmamente. - Eu sugiro que nós dois tenhamos uma boa noite de sono antes que você comece mais uma rodada de agressões. Providenciei uma suíte só para você. Não é a maneira mais comum de se terminar uma noite de casamento, mas... - ele deu de ombros enquanto Gina lutava para assimilar um sentimento que não era propriamente de alívio! - Tudo isso tem sido muito estressante, e talvez você precise pensar um pouco e se preparar para essa nova realidade. Apesar de seus comentários de hoje, posso garantir que de maneira alguma pretendo... forçar nada entre nós, Gina!


Gina o encarou. Ele parecia tão controlado, tão calmo e seguro de si. E seu comentário sobre arrumar um quarto separado para ela, não era bem isso que esperava!


Desde o momento em que ele a pedira formalmente em casamento, aquela noite invadia sua imaginação. O momento em que estariam a sós como marido e mulher. Com determinação, dizia a si mesma que, não importava o tipo de pressão que ele fizesse, ela não permitiria que ele a tocasse!


E ainda por cima era ele quem falava que não a queria!


Um misto de sensações invadiu seu corpo. Choque, desânimo, humilhação... E...


Desapontamento? Com certeza, não! Alívio, era isso que sentia. Quem sabe um pouco de desânimo por ele ter lhe roubado a oportunidade de dizer que era ela quem não o queria. Mas no final das contas o que realmente importava era o fato de que eles iriam dormir separados. Dormir em sua própria cama e não na dele... como se eles não fossem casados. Era isso que ela queria.


Exatamente isso!


O que a machucava, Gina confessou para si mesma enquanto rolava na enorme cama, era a impossibilidade de confiar no homem que amava. Porque sem essa confiança, sem a possibilidade de ser francos um com o outro, como poderiam compartilhar algo chamado amor?


 


 


Agradecimentos especiais:


 


nath krein: Finalmente a Gina descobriu a verdade, acho mesmo que a Gina deveria ter deixado o Harry se explicar, mas fazer o que não é mesmo? Beijos e até o próximo.


 


Ana Eulina: Oi pra você de novo. Bem, as autualizações dessa fic acontecem toda segunda feira sem falta, apenas semana passada que meu HD queimou e não pude att. Beijos.


 


 

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