Palavra Definitiva
(Antes de começarem a ler, é bom que saibam... essa fic contem spoiler, e não é pouco.)
Chovia muito, e fazia também muito frio.
Chegara o primeiro natal de Lílian Evans depois dela ter concluído os estudos em Hogwarts. Como excelente preparadora de poções conseguiu estagiar no Hospital bruxo de St Mungus, de onde chegava. Chegou tarde e molhada pois a força da chuva complicava até mesmo uma viagem pela rede de flu, afinal, o que não faltava eram grossos respingos d’água que teimavam em ultrapassar as bordas das chaminés.
Antes de qualquer outra coisa foi até todas as janelas para conferir se estavam bem fechadas, afinal não queria ser acordada no meio da noite por rajadas de ar gelado por causa de uma janela mal fechada que se abrisse pelo vento. O Sr. E a Sra. Evans já deviam ter se recolhido porque não havia nem sinal deles na cozinha, nem no escritório ou na sala de estar. Mas quando chegou à última janela, que ficava perto da porta de entrada da casa, chegou até a tomar um susto. Isso porque o que os olhos registraram inicialmente foi apenas um vulto negro, um rosto muito pálido e olhos erregelados e meio fechados pela água que escorria pela testa. Passado o susto Lilian começou a reconhecer aquele vulto.
Era Snape, totalmente ensopado. O que ele fazia ali?
Inicialmente a reação da moça ruiva foi de raiva e despeito. Como ele ousa vir incomodá-la a essa hora da noite no meio dessa chuva e desse frio, depois de ter tido o desplante de chamá-la de ‘sangue-ruim’? Logo ela, que sempre fora sua amiga, que o defendia das brincadeiras de mal gosto de Tiago e Sírius, que se preocupava com ele, que tentou alertá-lo sobre a índole daqueles novos ‘amigos' que ele arrumou?
Mas logo o coração de manteiga que pulsava em seu peito falou mais alto e ela, sem pensar para não se arrepender nem desistir, puxou sua varinha, conjurou uma toalha e abriu a porta. Com esforço manteve o semblante duro e frio, porque no fundo já estava morrendo de pena do homem ali, parado, todo molhado. Ela já suspeitava o motivo que o levou até lá naquelas condições mas se negou a aceitar, preferiu perguntar na voz mais seca e rude que conseguiu produzir:
_Severo, o que você pensa que está fazendo?
_Lilian, só queria que me escutasse.
_Estou aqui. Estou ouvindo.
_ Não posso... entrar... só um pouco?
_ Nem meus pais nem minha irmã iriam gostar...
_ Já cuidei disso. Enfeiticei-os para que sentissem muito sono e resolvessem ir se deitar.
_ Como você se atreve...
_Por favor Lily, é importante.
_Não me chame de Lily!
_Está bem, mas me ouça. Eu vim pedir pela centésima vez perdão por eu te-la chamado de...
_Claro, veio me lembrar daquele infeliz episódio pela centésima vez e me lembrar de todos os seus desprezíveis preconceitos...
_Não é isso, eu realmente não penso dessa forma, não há diferença entre ser filho de pais bruxos ou trouxas, mas não é sobre isso exatamente que eu quero falar. E sobre... outra...coisa...
_ Pois então seja breve, está me fazendo perder tempo. Ah! Claro. Entra então.
E antes mesmo de Snape cruzar a soleira, com um outro movimento de varinha, ela lançou um jato de ar quente no homem e o secou inteiro, da cabeça aos pés.
_Então vamos lá, desembuxa que eu quero dormir.
_Lily...desculpe... Lílian... você não... p-pode...
_ Não posso o que?
_se casar com o Potter. Pronto. Falei.
_Ora – disse Lílian visivelmente zangada – porque não posso? A cerimônia está marcada para esse sábado e eu o...
Mas Severo a interrompeu antes que ela concluísse a frase. Não iria suportar ouvi-la dizendo isso mais uma vez. Então se emendou, puxou uma forte baforada de ar frio para dentro de seus pulmões, como se tivesse tentando extrair coragem do ar, e disse rápido, baixo e desviando os olhos para os próprios pés:
_ Não pode se casar por que sou eu quem amo você.
_ O quê? – respondeu Lílian com o resto de ar que lhe restou nos pulmões antes que sentisse as pernas bambearem. Ela ia-se sentando no ar quando Snape agilmente tirou a varinha e conjurou uma cadeira bem atrás da moça.
_ Isso mesmo Lílian, e não se faça de desentendida. Eu sei que você sempre soube, esqueceu que sou bom em legilimancia? Pois essa é a verdade. Amo você desde a primeira vez que a vi, lembra-se? Tínhamos nove, não oito anos quando comecei a me esconder naquele parquinho para ficar vendo você brincar com sua irmã trouxa até que você começou a transparecer seus dons e eu vi na mesma hora que você simplesmente não era trouxa apesar de seus pais e sua irmã o serem. Foi então que comecei a reunir coragem e por fim me aproximei de você naquela tarte, tínhamos então nove anos. Lílian, não case com Potter, case-se comigo, sei que posso fazer você muito feliz, e eu até pararia de andar com meus amigos, se você me aceitasse.
Agora confusa, Lílian sabia que precisava recuperar o fôlego e falar a Snape que nada iria mudar e que ela amava Tiago, mas ainda não sabia como sua voz ia soar. Não dava tempo de planejar nada, nem de ensaiar, tinha que ser agora - e do jeito que sair saiu - pensou ela.
_Sev, como pode me pedir isso? Nós fomos amigos e como amigo você foi muito querido ate que... ela notou que o tom de sua voz continha misericórdia e mágoa misturados... até que você me magoou e decepcionou daquele jeito. Mas amor, desse tipo que você está dizendo, como pode alimentar esperanças? Sev, não posso deixar de ser sincera com você e nem comigo mesma agora. Amo Tiago, e vou me casar com ele depois de amanhã, e ficaremos juntos até a morte, e quero ter filhos com ele. Queria muito que nossa amizade não se tivesse dissolvido mas, pelo menos por enquanto não consigo olhar pro seu rosto e não ouvir retumbando na minha cabeça a sua voz me chamando de... você sabe... então...quem sabe, se você parar de andar com essa gente que você está andando, e largar de mão esse gosto que você tem por objetos e coisas das... sei lá... trevas... eu... ah! Você sabe que não quero que você sofra Sev, sabe que torço pra você ser feliz, mas não sou eu, Sev, que você deve amar dessa forma, você irá encontrar...
Mas Snape, considerando que já ouvira mais do que sua habitual paciência permitiria, com um pequeno franzir em sua testa a interrompeu, com aquele olhar vazio e gélido que só ele sabia ter, e se limitou a dizer:
_Então, esta é a sua última palavra não é?
_Severus, é.
_ Então adeus.
E saiu pela porta em direção a chuva e ao vento...
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