Um só



“A penumbra deitara-se sobre o castelo fazendo com que as luzes douradas que reluziam nas janelas ganhassem um aspecto de cascatas de ouro descendo sobre as paredes envelhecidas.
Havia algum tempo, devido a afinidade inexplicável, que encontravam-se entre as rondas para trocarem palavras ou, simplesmente, afagarem-se nos braços um do outro. Aprenderam a ser discretos e deslizarem pelos corredores silenciosos, mantinham seus encontros e sentimentos ilícitos. Parecia-lhes cada dia mais difícil ficarem sem seus rápidos momentos juntos.
Draco conseguira reprimir  ao Maximo suas emoções na presença de seus comparsas, porém quando dava-se ao deleite de pousar a cabeça sobre seus colo e sentir suas mãos em brasa tocando-lhe levemente a face, era tomado pela certeza de que  amava e queria-lhe para a vida toda. Seria, porém, a decisão mais infundada que poderia tomar, afinal, ele, Draco Lucius Malfoy, era um comensal da morte e tinha uma missão a cumprir e Hermione não estava em seus planos.
Naquela noite ela encontrava-se admirando seu reflexo que logo tornou-se borrado devido as gotas densas que batiam sobre a janela. Sua ronda acabara à 10 minutos, bem sabia Draco, que estava mergulhado na penumbra da parede e só fazia admira-la.
Finalmente, tomado de toda a coragem que conseguira reunir e suspirando dirigiu-se a menina com seus dedos compridos estendidos para tocá-la. Ela virou-se.
-  Vai me dizer alguma coisa ruim, não vai? – Apressou-se Hermione, voltando novamente seus olhar para a vidraça.
- Na verdade... – Ele enlaçou sua cintura com delicadeza e quando terminou o fez em tom cortês. - ... estou zelando pelo seu bem. Não podemos mais nos ver.
Quando pronunciou era como se laminas houvessem rasgado sua garganta, em seus braços o corpo de Hermione tornara-se rijo. Seu real desejo era tomá-la para si e fugir para um lugar bem quente como ela sempre dizia que haveria de fazer. Somente voltou a realidade quando notou que ela havia sentado-se sobre o parapeito e tinha os olhos banhados de lágrimas, lágrimas estas que ele havia causado.
- Porque? – Indagou a menina. – Acha mesmo que pode começar e terminar assim? A seu bel prazer?
- Porque Hermione? Porque eu amo você, qualquer coisa faz-me lembrar de ti. Porque cada dia que passo com você me faz crer mais fortemente na idéia de casarmos e termos filhos louros e muito inteligentes como você sempre diz que faremos. Só que, nós não podemos, você ficará melhor sem mim.
- Nós podemos sim. – E puxou sua mão gélida para deixar entre as suas muito quentes. – Eu cuido de você e você cuida de mim, eu amo você. Isto basta. Draco, não faça isso comigo.
Desta vez ela não chorou e ele não falou. Afastou a sua mão da castanha e lentamente levantou a manga de seu braço esquerdo. Estava lá, vivida e gravada a ferro em sua pele muito clara, a marca negra. Ele levantou o olhar e encontrou uma Hermione perplexa que jogou-se sobre ele, deitando  em seu peito e o umedecendo com suas lágrimas.
- Eu quero você! – Disse ela apertando seu corpo contra o dele.
- Não podemos, somos de mundos diferentes com princípios diferentes. Você mudou meu jeito de olhar a vida, mas meu amor, ele pegou os meus pais. Eu a amo amarei sempre.
Então levantou o rosto de Hermione, deslizou os lábios por ele, fazendo com que as maças da face dela corassem como sempre coravam e a beijou. Não como fizera tantas outras vezes, desta vez com mais intensidade, com mais súplica do q                ue desejo, com mais amor do que paixão.
Eles não sabiam quanto tempo levou e não lhes era conveniente parar, e mesmo quando a vidraça abriu-se e a chuva atingiu-lhes continuaram enlaçados, como um só, explorando os lábios um do outro. A brisa levantava seus cabelos e a chuva os esfriava, os dois não sentiam, mantinham-se aquecidos pela aura que seu amor fundido parecia emitir. Quando pararam não havia mais palavras à serem ditas, assim sendo, Draco soltou-lhe com relutância e partiu, a capa esvoaçando as costas e exibindo o homem que havia tornado-se. Desta vez, ele que não olhara para traz. “

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