Capitulo 4



Gina abriu os olhos e olhou ansiosa ao redor do quarto estranho, decorado em tons de cinza e bran­co, com uma persiana branca na janela. A cama era grande, os lençóis brancos e novos, a colcha cinza com listras também brancas. Notou de imediato que não se tratava de um quarto de mulher, e o pânico a inva­diu; sentou-se com um ligeiro esforço e arfou assustada ao descobrir que tudo que vestia era sua calcinha.                                                  


 


Não tinha idéia de onde encontrava nem do motivo. A última coisa de que se lembrava era de estar na festa de aniversário do pai de Jonathan. Dançara com alguém... Alguém. Retesou o corpo, com terríveis fragmentos de memória aflorando da névoa que parecia encobrir os acon­tecimentos da noite anterior.


 


Lembrava-se de ter tomado os coquetéis de champanhe, de ver Jona-than com Susan... De vê-lo... Ela gemeu e estremeceu. O que fizera? O que ele, o estranho com quem deixara a festa, fizera?


 


Estremeceu outra vez. Não era tão ingênua. Só podia haver uma razão para estar na cama dele naquela manhã. Os fatos eram evidentes.


 


Experimentava uma terrível sensação de náusea, uma dor na cabeça que a fazia sentir-se como se alguém a tivesse chutado; porém, surpreen­dentemente, não sentia mais nada, nenhuma dor estranha, nenhuma cons­ciência real de que na noite anterior tivesse cruzado a fronteira final que separava a criança da mulher, nenhuma lembrança do homem que havia sido seu amante.


 


Ao sentar-se, tensa, no meio da cama enorme, tentando superar tanto a náusea quanto a perturbação que as lembranças lhe provocavam, a porta do quarto se abriu de repente.


 


À luz do dia o estranho parecia ainda maior do que Gina se recorda­va. Obviamente acabara de tomar banho, pois os cabelos, penteados pa­ra trás, ainda estavam molhados, sua pele ainda se encontrava úmida e tinha uma toalha amarrada à cintura. Seu corpo era viril e musculoso, com uma faixa de pêlos escuros que ia se afunilando abaixo da cintura. Trazia uma xícara de alguma bebida quente, mas, assim que ele se apro­ximou, Gina se encolheu num gesto instintivo, agarrando-se às roupas de cama e fitando-o com uma expressão aterrorizada.


 


—  Então acordou. Isso é ótimo, já que tenho de sair em meia hora. Deixo você no caminho para o aeroporto. Eu lhe trouxe chá. Se quiser um analgésico, encontrará alguns comprimidos no armário do banheiro.


 


Ele estava tão natural, tão casual... Gina sentiu suas faces corando quando o viu se sentar na beirada da cama.


 


Podia sentir o perfume de limão do sabonete, ver a lisura do rosto recém-barbeado. Sua pele era firme e bronzeada, e a visão de seu corpo a fez arrepiar-se e depois estremecer, quando tentou não pensar na noite anterior, em como ele devia ter...


 


—  Se você quiser vomitar...


 


Gina balançou a cabeça, mordendo o lábio inferior. Aquilo era hu­milhante. O estranho estava obviamente acostumado com aquele tipo de coisa, enquanto ela...


 


Havia um espelho na parede oposta à cama, e Gina viu seu reflexo ali. Não era de se estranhar que pensasse que ela fosse passar mal: seu rosto estava extremamente pálido. Franziu a testa de repente, tocando o próprio rosto limpo.


 


—  Eu removi a maquiagem — o estranho anunciou, como se lesse seus pensamentos.


 


Seu rosto passou de branco a vermelho, e Gina estremeceu, consciente de tudo que ele devia ter feito enquanto ela estivera bêbada demais para perceber. Sentiu repugnância, não apenas por si mesma, mas também por ele.


 


Como ele pudera... como qualquer homem podia fazer amor com uma mulher enquanto ela não tinha praticamente nenhuma consciência do que acontecia? Entretanto, os homens não eram como as mulheres; os homens eram diferentes, perigosos, e para ser honesta consigo mesma, ela o encorajara a pensar, a acreditar...


 


Gina começara a tremer. Pelo canto do olho o viu estender os braços em sua direção. Imediatamente arqueara as costas para evitá-lo, seus olhos traindo os sentimentos.


 


Harry franziu a testa. Com certeza a pequena idiota não achava real­mente que ele havia... Não sabia ao certo se devia lhe passar uma descompostura ou explodir em gargalhadas. Ela achava honestamente... Lembrou-se de como a achara pequena quando a carregara do carro nos braços, de como se aninhara contra seu peito. Como parecera vulnerável quando a despira daquele vestido horrível e depois tirara suas meias, an­tes de remover a maquiagem de seu rosto e levá-la para o quarto de hós­pedes. Ele a tratara, aliás, com tanta naturalidade como faria com uma de suas irmãs, e agora ela o encarava como se fosse um estuprador em potencial.


 


Seria bem feito se tivesse se aproveitado dela, pensou com severidade, fitando-a e, se ela continuasse se comportando como fizera na noite an­terior, aquilo era exatamente o que lhe aconteceria.


 


Não precisava ser um gênio para calcular o que acontecera. Aquela pequena tola obviamente estava apaixonada por Jonathan Hendry.


 


Muita idiotice da parte dela. Hendry era um homem capaz de se apro­veitar da situação sem pensar nas consequências, ponderou. Podia ver como estava assustada, e o que pensava. Abriu a boca para tranqüilizá-la, mas não disse nada. Talvez devesse deixá-la continuar pensando o pior. Parecia tão apavorada e chocada que, se ele deixasse, talvez fosse o bastante para fazê-la voltar àquela que julgava ser sua verdadeira personalidade, e nunca agiria de maneira tão tola outra vez. De certa forma seria uma crueldade, mas, se a impedisse de se comportar com outro homem como fizera com ele na noite anterior, no fim das contas lhe estaria fa­zendo um favor.


 


E assim, em vez de lhe contar a verdade, Harry deixou a xícara no criado-mudo e estendeu os braços, apoiando as mãos em seus ombros e segurando-a com firmeza.


 


—  O que há? Você não foi assim ontem à noite.


 


Ele percebeu o tremor que a sacudiu, e viu o espanto em seu olhar, mas endureceu o coração contra a compaixão e se forçou a lembrar de que fazia aquilo pelo bem da garota.


 


—  Não decepcionei você, decepcionei? — continuou, acrescentando: — Sei que foi sua primeira vez, mas você estava tão entusiasmada, e ain­da mais depois...


 


Gina não conseguiu conter o gemido angustiado que lhe escapou dos lábios. Aquilo era horrível, insuportável... muito pior que qualquer coi­sa que tivesse imaginado. Não tinha a menor idéia de que ele iria real­mente falar a respeito do que acontecera, ainda mais de maneira tão na­tural, como se não tivesse significado nada. Para ele...


 


Podia sentir a respiração contra seus cabelos, e sabia que se virasse o rosto, se se movesse... Ficou estática, retesando cada músculo do cor­po, desejando que ele a soltasse, porém com medo de fechar os olhos para o caso de ele se mover e...


 


— O que foi?


 


Ele lhe acariciava a pele nua com os polegares, o suave atrito provo­cando reações conflitantes: uma de choque e medo, a outra... Gina es­tremeceu, estranhando a sensação que o contato lhe causava, arregalan­do os olhos ao sentir, sob a colcha, os bicos de seus seios se enrijecerem.


 


Harry viu a angústia em seu olhar e franziu a testa. Talvez estivesse levando as coisas longe demais. Talvez ela já tivesse aprendido a lição; e então, sob as pontas de seus dedos, sentiu a pele da jovem se arrepiar. Seu corpo respondeu à reação antes da mente, de modo que quando ela retesou o corpo e se debateu freneticamente, ele "impediu a tentativa de fuga segurando-lhe o queixo enquanto fitava-lhe a boca.


 


Depois disse a si mesmo que não pretendera beijá-la, que não o teria feito isso se ela não tivesse entrado em pânico de repente, soltado a col­cha, e enterrado as unhas em seu braço numa tentativa de se libertar.


 


Nem,sentiu a pressão das unhas; mas notou os seios firmes e macios, os bicos intumescidos, e tanto que, antes mesmo de perceber o que fazia, espalmava a mão livre sobre um deles e cobria-lhe os lábios com os seus.


 


Se ainda não tivesse calculado sua inocência, a reação dela a provava. Ficou rígida em suas mãos, a boca trêmula sob a sua, e pela primeira vez na vida Harry tomou consciência do quanto tal inocência podia ser tentadora.


 


Por um segundo um perigoso impulso, quase incontrolável, de conti­nuar aquilo que começara o dominou: queria beijá-la até que não fosse apenas sua boca a tremer, mas todo seu corpo; acariciá-la até que os bi­cos rígidos dos seios se apertassem contra suas mãos, convidando a carí­cia úmida de sua boca. Ele sentiu seu corpo enrijecer de excitação e de­sejo, retesando os músculos num esforço para controlar sua reação se­xual, sua mente o torturando com imagens de como ela se moveria e ge­meria se fizessem amor agora... se lhe mostrasse que não havia nada a temer... se lhe ensinasse que...


 


Ela ainda lutava para se libertar, e Harry automaticamente usou seu peso para prendê-la à cama, se esforçando para controlar a ela e a seu próprio desejo, para que pudesse lhe explicar que nada tinha a temer, que quise­ra apenas ensinar-lhe uma lição... Uma lição que correra muito mal, reconheceu com desânimo quando ela cerrou um punho e o atingiu no peito.


 


Fisicamente o soco não causou nenhum dano, mas, ao se encolher pa­ra evitá-lo, a toalha se soltou e caiu.


 


Harry notou o choque dela, e praguejou num sussurro ao ver a expres­são de seus olhos. Ela era ainda mais inocente do que imaginara, e ob­viamente não tivera o benefício da experiência de crescer em meio a ir­mãos ou primos, refletiu com pesar. A qualquer minuto ela começaria a gritar "estuprador", e tudo porque ele quisera lhe mostrar como seu comportamento na noite anterior fora perigoso e irrefletido.


 


Não contara com sua própria reação a ela. Era ridículo que uma me­nina inocente, de rosto lavado, que não fazia absolutamente seu tipo, ti­vesse um efeito tão intenso e imediato sobre ele, que se orgulhava de seu autocontrole. Mas se a soltasse agora...


 


Suspirando, Harry aproveitou o choque dela para segurar-lhe uma das mãos, deliberadamente abrindo-lhe os dedos antes de erguê-la e a colo­car sobre seu sexo.


 


Os dedos da garota estavam gelados, e seu toque foi um choque tão grande fisicamente quando sua atitude fora mentalmente. Ela tentou afas­tar a mão, o rosto intensamente vermelho.


 


—  Veja o que você fez comigo — ele murmurou com suavidade. — Devo cancelar meu vôo para Nova York, para que possamos...


 


Quando ele lhe soltou a mão, a garota a afastou com um tranco, olhan­do para toda parte menos para ele, sua voz embarcada e chocada ao ne­gar a sugestão.


 


Harry não tinha realmente a menor intenção de cancelar seu vôo, e es­perava que a sugestão de fazerem sexo fosse suficiente para levá-la a pen­sar quando chegasse em casa que escapara sem maiores estragos.


 


E então, quando viu seu rosto, percebeu que tinha de se abrandar e contar a verdade. Ela parecia tão abalada sentada ali, apertando as rou­pas de cama contra o corpo, os olhos arregalados e brilhantes, o corpo tremendo.


 


—  Olhe — ele começou, parando ao ouvir o telefone tocar. — Fique aqui — instruiu ao apanhar a toalha, prendendo-a com firmeza ao redor da cintura.


 


O telefone ficava em seu quarto e, quando ele saiu para atender, Gina mal pôde acreditar em sua sorte. Alguns segundos e...


 


Tremia da cabeça aos pés, revivendo o momento chocante quando a toalha caíra e vira... Ela engoliu em seco, enjoada. E, se aquilo não tivesse sido o bastante, quando ele tomara sua mão e realmente a colocara no corpo... naquela parte de seu corpo...


 


Podia ouvir o som baixo da voz dele em outro cômodo. Suas roupas estavam empilhadas numa poltrona perto da janela, e percebeu de re­pente que ali estava sua chance de fugir.


 


Pulou da cama, vestindo-se com movimentos frenéticos, retesando o corpo cada vez que ele parava de falar. Mas então ele recomeçava, e afi­nal ela conseguiu se vestir e correr para a porta.


 


Levou vários segundos para achar a porta principal do apartamento, mas enfim estava em segurança num corredor longo e cheio de portas. À sua frente havia um elevador e uma escada. Optou pela escada, des­cendo em disparada, aliviada ao descobrir que se encontrava apenas no primeiro andar.


 


O porteiro no saguão lançou-lhe um olhar espantado quando ela pas­sou quase correndo por sua mesa e pela porta de vidro. Estava, reconhe­ceu, num subúrbio da cidade no qual se lembrava ter passado em várias ocasiões com seu pai.


 


Felizmente trazia dinheiro na bolsa, e viu um ponto de ônibus não muito longe. Também viu um ônibus se aproximando e, ignorando o protesto zangado do motorista do carro diante do qual correra, atravessou a rua, pulando para dentro do coletivo no momento em que começava a andar.


 


— Foi muito perigoso o que fez, mocinha — o motorista comentou num tom de reprovação quando ela pagou a passagem.


 


 


 


(...)


 


 


 


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