Capitulo 5



Gina então começou a rir, um riso estridente, quase histérico, que fez o motorista franzir a testa e depois dar de ombros. Aqueles adoles­centes, todos drogados ou bêbados... Quem podia entender o que faziam?


 


Gina levou três dias para concluir que estava farta. Aguentou o quanto pôde a zombaria e provocações de Jonathan sobre o que acontecera de­pois de sua partida com "H.P.", que era como se referia ao homem que ela conhecia apenas como Harry e de quem não queria saber mais nada, e então, quando ele a encurralou mais uma vez no corredor, exigindo sa­ber o que acontecera, e lhe indagou com escárnio se achava que seria capaz de manter um homem como H.P. interessado, Gin ex­plodiu.


 


O mais estranho no caso todo era que, a partir do momento em que vira Jonathan na manhã seguinte à festa, experimentara uma repugnân­cia e revolta tão intensas por ele que não conseguia entender como pudera achá-lo atraente, muito menos desejá-lo a ponto de ter se comportado de uma forma tão estúpida e estarrecedora.


 


Não suportava sequer pensar sobre isso. Toda vez que se lembrava que acordara na cama dele, de como ele a tocara, beijara... de como a fizera tocá-lo... como insinuara que durante a noite haviam sido amantes não apenas uma vez, mas várias, Gina se sentia mal... ou pelo menos pas­sara mal no primeiro dia.


 


Aquele fora outro motivo de culpa e ansiedade. Os ritmos de seu cor­po, normalmente tão regulares, obviamente abalados pela tensão sob a qual se encontrava, até mesmo lhe deram razões para pensar por alguns dias terríveis e torturantes que podia estar grávida.


 


Quando descobriu que não estava, Gina jurou que nunca, jamais se comportaria daquela maneira... que nunca mais tentaria fingir ser algo que não era. E então, dolorosamente, percebeu que aquilo era exatamen-te o que teria de fazer, pois agora não podia mais voltar a ser a garota que fora uma vez. Agora não podia ter o mesmo respeito próprio, a mes­ma fé em si mesma. Perdera a inocência, concluiu com tristeza, portan­to, merecia o desprezo e desdém de qualquer homem decente. Depois do que fizera não era de se estranhar que Jonathan e os homens de sua es­pécie presumissem que ela estava pronta e disposta a apreciar o sexo ca­sual e sem maiores laços.


 


Se os homens a tratassem com desrespeito e a julgassem sexualmente disponível, não devia culpar ninguém senão a si mesma. Agora via cla­ramente onde seu comportamento impulsivo a levara. Quanto tempo Jo­nathan levaria para ouvir dos lábios do próprio Harry a confirmação de tudo que lhe dissera? Ela estremeceu. Sentia-se tão... tão desgostosa e envergonhada de si mesma.


 


A vida na cidade grande não era para ela, ponderou com tristeza. Tu­do que queria agora era ir para casa, onde poderia se sentir segura e não haveria nenhum Jonathan ou Harry... onde poderia deixar para trás tudo que acontecera e começar a reconstruir sua vida de uma forma que lhe garantisse que nunca mais outro homem fosse capaz de alegar, como Harry, que ela fizera sexo casual; onde nenhum homem pudesse insultá-la com as insinuações que Jonathan vinha fazendo nos últimos dias.


 


No fim da semana ela se demitiu e, muito antes que Harry voltasse de Nova York, deixou Londres e voltou para sua cidade natal.


 


Ele a procurou, é claro. Apesar da complexidade de seus negócios em Nova York, ainda encontrara tempo para se preocupar e desejar que ela não tivesse fugido do apartamento sem lhe dar uma chance de explicar o que realmente acontecera.


 


Imaginava-a morta de preocupação pelo episódio, tentando desespe­rada se lembrar do que realmente acontecera. Lembrava-se da expressão em seu rosto quando lhe tomara a mão e a colocara sobre seu membro, e se amaldiçoava por ter feito isso.


 


Quando voltou, uma de suas primeiras atitudes foi entrar em contato com o escritório Mathieson & Hendry.


 


A resposta para suas indagações cuidadosamente casuais foi que a ga­rota em questão não trabalhava mais na firma e voltara para a casa dos pais no interior, sem deixar nenhum endereço para correspondência.


 


Harry disse a si mesmo que não havia mais razão para continuar com as perguntas; obviamente ela aprendera a lição. Ficara fora por mais de um mês, tempo suficiente para que ela percebesse que a suposta noite juntos não acarretaria nenhuma consequência permanente.


 


Quanto à reação dela quando enfim descobrisse que não tivera, como supunha, um amante, que na verdade permanecia virgem, Harry preferia nem pensar; procurá-la no interior para esclarecer aquele ponto era algo que não achava sábio fazer, mais para seu próprio bem que para o dela.


 


Harry franziu a testa, lembrando-se de como seu corpo reagira a ela. Já havia se passado muito tempo desde seu último relacionamento sé­rio... talvez demais. E quanto à garota, Gina, bem, com um pouco de sorte ela já teria percebido agora os perigos que correria se não se com­portasse direito.


 


Sorriu com um canto de boca, refletindo com pesar que, embora ela própria talvez não acreditasse, ele havia agido pensando apenas em seu bem.


 


Lembrou-se de sua expressão quando a beijara, do contato com seus lábios... e se conteve. Havia, afinal, alguns caminhos na vida os quais era mais sábio não seguir, pois não levavam a lugar nenhum... ou porque levavam a lugares muitíssimo perigosos?


 


Aquela era uma pergunta a qual ele preferia não responder.










(...)


















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