Capitulo 2 - 30%



Pouco depois alcançaram a cidade, atravessando-a em direção ao castelo que Gina notara antes que, para sua surpresa, era a hostelaría que o conde havia mencionado.


 


— Um cenário que combina com você, Gina – ele comentou com indolência, detendo o carro. – Vamos perguntar se eles podem lhe dar um quarto na torre. Você tem toda a inocência inviolável de uma princesa de conto de fadas.


 


Eles não deram um quarto na torres, mas o que recebeu era de um luxo a que não estava acostumada, Gina admitiu, alisando a colcha de cetim sobre a cama de quatro colunas, que dominava o ambiente. Ao lado havia um banheiro.


 


A noite havia caído O conde sugeria que jantasse no quarto, e ela não havia discutido. Não estava com fome, só queria dormir. No dia seguinte, veria o pai. Por que não se sentia mais animada com essa perspectiva? Talvez seus sentidos estivessem amortecidos por toda a agitação que tivera durante o dia, depois da vida tão calma do convento.


 


Saindo da banheira, Gina começou a se enxugar, estudando seu reflexo no espelho de corpo inteiro, o olhar atraído para os seios rijos e firmes, a pele sedosa e macia. Uma estranha sensação nasceu em seu ventre, quando se lembrou como o conde a beijara. Não devia pensar naquilo! Tremendo, procurou o roupão, só então se lembrando de que o deixara no quarto.


 


Percebeu que alguém estivera em seu quarto assim que abriu a porta do banheiro. As luzes estavam acesas, a camisola sobre a cama, e um carrinho térmico fora colocado junto a uma pequena mesa. Seu jantar, sem dúvida.  Caminhou para a cama, estacando, paralisada com o choque de ver algo se mover nas sombras, além da claridade proporcionada pelos abajures.


 


A figura do conde destacou-se na escuridão.


 


Todos os seus instintos gritavam-lhe que escondesse sua nudez, mas, estranhamente, não conseguiu se mover, fitando-o com terror imobilizador. Ele estudava seu corpo com um interesse clinico que acabou por deixá-la vencer seu medo, liberando-a para pegar o roupão com mãos tremulas. Gina desejou que ali estivesse o roupão velho, em vez daquele pedaço de seda transparente que mal conseguia cobri-la.


 


- Desculpe, Gina. Não percebi que você não tinha me ouvido. – Era a primeira vez que ele lhe pedia desculpas, e Gina sentiu que eram sinceras. – Eu bati, mas obviamente você não me escutou. Nosso jantar já veio. Venha se sentar.


 


Gina notou que ele também havia trocado de roupa. O terno formal cedera lugar a calças escuras, que lhe modelavam as coxas, e a uma camisa de seda, que a fez ainda mais consciente do corpo masculino que se encontrava por baixo. Quando ambos estavam sentados, o conde indicou o carrinho e sorriu, perguntando a ela se queria, servi-lo ou preferia que ele fizesse.


 


Essa, pelo menos, era uma área na qual ela se dava bem, Gina pensou, aproximando-se do carrinho. No convento, todas as garotas eram ensinadas a serem anfitriãs perfeitas, e mesmo com os olhos do conde fixos nela, conseguiu servir a sopa de forma elegante e correta.


 


— Parece que o seu convento prima por ensinar as virtudes mais antiquadas; de preferência a arte feminina, em detrimento das habilidades para o comercio – o conde comentou, quando Gina tirou os pratos de sopa serviu o prato principal.


 


-Muitas alunas provêm de países da América Latina. Seus pais arranjam os casamento para elas e, como pertencem sempre a famílias ricas e proeminentes, é importante que sejam capazes de se portar de maneira correta.


 


— E você é uma exceção a regra? Não lhe arranjaram nenhum casamento?


 


A expressão revoltada de Gina foi a resposta suficiente.


 


— Então, quais são seus planos para o futuro: — o conde continuou – Espera agir como anfitriã para o seu pai?


 


Gina tinha a impressão de que era aquilo mesmo o que ia acontecer. Em sua opinião, depois de colocá-la no convento, seu pai se voltara para outros assuntos. Como inglesa, ela abominava a idéia de um casamento arranjado, e muitas vezes desejara, cheia de rebeldia, que o pai tivesse lhe proporcionado uma educação mais usual. Talvez agora conseguisse persuadi-lo a deixá-la ir para uma universidade, adquirir alguns conhecimentos comerciais.


  


-O que o senhor faz, conde? – perguntou com delicadeza lembrando-se das aulas das freiras sobre conversação.


 


Um sorriso surgiu no canto da boca masculina, e o detestou por rir-se dela.


 


— Foi uma boa tentativa, ma petite – ele caçoou, observando-a apertar os talheres com mais força – Mas é de costume mostrar um pouco mais de entusiasmo. Sua pergunta hesitante me faz lembrar uma criança recitando a lição. Mesmo assim vou lhe responder Afinal,como qualquer outro talento, a arte da conversação só se adquire com a pratica.


 


Sem nenhum motivo aparente, as palavras do conde fizeram-na se lembrar do modo como ele a beijara. Será que ele também a achava lamentavelmente deficiente naquele campo? Mas, afinal, o que lhe importava a opinião dele?


 


— Como eu já lhe disse, minha mãe era russa. A família de meu pai é dona de vários vinhedos, perto de Beaune. Alguns dos vinhos que produzimos estão dentro da categoria a que se chama de premier cru. – Vendo a expressão de Gina, ele sorriu. – Ah, então as freiras lhe ensinaram algumas coisas do mundo, não é, chérie?


 


— Eu conheço as grandes safras e a classificação dos vinhos.


 


— Ah, então entenderá quando eu lhe disser que os vinhos Potter são vinhos premier cru. Foi assim no tempo de meu avô, e continua sendo durante o meu. Tenho outras propriedades, perto de Nice, que visito no verão. No inverno fico em Paris, onde tenho um apartamento. Sou considerado um homem modernamente rico, talvez não o suficiente para receber uma das pombinhas do seu convento como noiva, ma petite, mas também não sou um pobretão.


 


-Não é casado, então? – Gina perguntou. E quando ele meneou a cabeça, continuou, hesitante: — Não tem família?


 


Seria sua imaginação ou ele teria mesmo feito uma pausa mínima, antes de responder? De qualquer modo, não havia traço de hesitação na sua voz, quando respondeu com firmeza:


 


— Não tenho ninguém. Um dia, vou me casar. Devo ao meu nome assegurar que haja alguém depois de mim, mas este dia ainda não chegou. É tradição em minha família que os homens não se casem cedo. Meu pai tinha quarenta anos quando se casou com minha mãe.


 


Por um momento, com a luz dos abajures lançando-lhe sombras sobre o rosto, o conde lhe pareceu sinistro e distante, mais russo do que francês. E Gina reconheceu, com o coração batendo forte, que por mais sofisticado que ele pudesse ser, em algum lugar, por baixo daquela delicadeza e elegância, estava escondida toda a paixão implacável da raça russa.


 


— O que foi, ma jolie?


 


Não percebera que ele também a observava, estudando a expressão pensativa de seus olhos e a vulnerabilidade de sua boca.


 


— Nada. Eu só estava pensando em meu pai. Faz tanto tempo que não o vejo.


 

N/A: Meus amoores :D me desculpem por ter demorado p/ atualizar é que ando sem tempo... Não abandonei nenhuma fic! Espero que tenham curtido esse cap.. é pequeno  (eu sei) mas prometo recompensa-los  xD

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