Capitulo 2 - 70%
Gina acordou várias horas depois, com o corpo dolorido, apesar do conde ter reclinado o banco em que estava. Ele percebeu que ela estava acordada, pois diminuiu a velocidade do carro, enquanto se virava para fitá-la.
- Sente-se melhor, agora que dormiu um pouco?
Gina forçou um sorriso. Na verdade, estava pior do que nunca, com a cabeça doendo, uma leve sensação de náusea, e o corpo rígido de tanto ficar na mesma posição.
- Não está bem? – O conde franziu a testa, examinando seu rosto pálido – O que há?
-Uma dor de cabeça, mas não é nada. Logo vai passar.
- Na certa em conseqüência de tanta excitação. Eu me esqueci que sua vida no convento não a preparou para a agitação da vida real. – Lançou um olhar ao relógio – Acho melhor arranjarmos um lugar para passar a noite e continuarmos a viagem amanhã. Quando eu disse que iríamos diretamente para Serivace, não me lembrei de que você não está acostumada a viajar quanto eu.
Gina sentiu vontade de protestar. Não queria ficar com o conde mais tempo do que o absolutamente necessário.
- Não vou atacá-la, ma petite – ele continuou, num tom zombeteiro. – As freiras deviam ter lhe ensinado que nem sempre é bom olhar para um homem do jeito que você está olhando para mim. Seus olhos refletem todo o medo da caça diante do caçador e, quando os fito, sinto-me tentando a transformar esse medo em realidade – Vendo-a estremecer, ele sorriu. – Você se assusta até com as sombras, Gina. Tem mesmo tanto medo de mim?
Tanto gracejo fez uma chama rebelde brilhar nos olhos de Gina. Não era tão tola a ponto de ignorar que estava sendo deliberadamente provocada, e foi com o corpo tenso e um ar tempestuoso que replicou, cheia de desafio:
- Não tenho medo do senhor, conde.
- Cautelosa como uma gazela acuada por um leopardo! Diga-me quanto tempo faz que você não vê seu pai?
Grata pela mudança de assunto, Gina contou-lhe.
- Dois anos? – ele repetiu, erguendo as sobrancelhas escuras.
- Meu pai tem muitos negócios, é difícil que possa me visitar e... e não é sempre que alguém pode me acompanhar durante as férias.
- Mas você já é uma moça. Fez alguns planos para o futuro?
Ele agora falava de maneira exata que Gina esperava de um homem tão mais velho e sofisticado, e ela fez o possível para responder delicadamente, explicando que os estudos no convento não preparavam as alunas para abraçar uma carreira.
- Além do casamento, não é? – o conde comentou, com amabilidade – É isso que quer, ma petite? Passar da sala de aulas para o quarto? – Vendo o sangue subir-lhe ao rosto, ele percebeu que chocara. Mas continuou cheio de ironia: - Ora, vamos! Não vá me dizer que as Freiras a conservam completamente ignorante dos “fatos da vida”. Durante as férias deve ter se encontrado com rapazinhos atraente, mais que desejosos de acrescentar algum conhecimento prático à sua teoria.
-Não!
O protesto horrorizado silencio-o por uns momentos, e Gina endireitou-se no banco, o corpo trêmulo, a mente incapaz de analisar o porquê daquela reação tão forte. Afinal, muitas de suas colegas tinham passado pela experiências que o conde descrevera com tanto escárnio. E ela não era tão ingênua a ponto de não saber que as relações humanas incluíam mais que os fatos frios e secos ensinados pelas freiras durante as aulas de biologia.
- Não?
O conde saiu da estrada, estacionando o carro ao lado de um campo.
Distraidamente, Gina notou que a plantação estendia-se por uma longa distância e que um velho castelo de pedras, erguendo-se precariamente entre duas ou três colinas, marcava o inicio de serras. Tinha o rosto voltado para o lado, e sentiu um arrepio de medo quando o conde segurou o seu queixo, forçando-a a virar-se e fitá-lo nos olhos verde e enigmáticos.
- Não? – ele repetiu, com ar inquisitivo. – Nem mesmo um beijo roubado, ma jolie?
Percebendo a ironia atrás da pergunta, Gina corou, odiando o modo como ele expunha sua vida, suas inadequações, principalmente porque passara muitas horas acordada na cama, imaginando como seria viver as mesmas experiências de que suas colegas tanto falavam.
-Não havia ninguém para roubar beijos por trás das paredes do convento – retrucou afinal, com coragem – Meu pai também não me deixava passar as férias com as minhas amigas e... – Interrompeu-se, detestando ter se aberto tanto com ele. Agora, o conde sem duvida contaria a seu pai o que dissera. E seu pai teria toda razão em julgá-la tola e desleal.
- Então!
Gina teve a impressão de que o olhar masculino queimava a carne macia de sues lábios. Gostaria que ele olhasse para outro lado, mas o conde ainda segurava-lhe o queixo, e um tremor percorreu-a da cabeça aos pés quando o sentiu deslizar o polegar pela curva de seu rosto. Entreabriu os lábio para deixar escapar um pequeno som de protesto. No entanto, o som se transformou muna exclamação chocada quando o conde esfregou o dedo em seu lábio inferior, ao mesmo tempo em que lhe agarrava os pulsos, como se soubesse que ela tinha a intenção de empurrá-lo para longe.
A cabeça morena aproximou-se, e o roçar dos lábios masculinos fez Gina gelar ainda mais, confusa pelas emoções conflitantes que a assolavam. De um lado, havia choque e indignação por ele desrespeitar de tal modo a amizade que tinha com seu pai; do outro, havia aquela sensação estranha, langorosa, que a fazia ter vontade de passar os braços pelos ombros dele, de sentir a forma do corpo forte e másculo, enquanto a boca sobre a sua continuava a...
Com um grito horrorizado, Gina afastou-se bruscamente, os olhos enormes em seu rosto pequeno, os dedos incertos procurando os lábios trêmulos e macios. Seria compaixão que via nos olhos dele. Ou era apenas desprezo por sua falta de experiência?
- Então, ma petite? Sua curiosidade está satisfeita? Não inveja mais as experiências de suas amigas?
Gina fitou-o, o coração cheio de ódio e desprezo. Nem seus pensamentos mais secretos estavam a salvo daquele homem. Seria possível que o conde também soubesse que havia olhado para os lábios dele, imaginando como seria tê-los sobre o seus? Chocada e perturbada, tinha abafado esse pensamento antes mesmo que tomasse forma, mas de algum modo ele descobrira.
- O que foi? Por acaso as freiras lhe dissera que tais intimidades só devem ser partilhadas com seu marido? Que ninguém deve tocá-la a não ser ele?
- Não sou tão boba, monsieur – Gina conseguiu murmurar – Sei muito bem que se diverte em... em me atormentar.
Ouviu rir baixo, enquanto dava a partida no carro e voltava para a estrada. Seria casado? Teria família?
-Há uma cidadezinha alguns quilômetro à frente, onde poderemos passar a noite – o conde anunciou, enquanto o Ferrari cobria quilômetros após quilômetro – O hotel foi a residência de uma família, mas o governo adquiriu-a e abriu uma hotelaría exclusiva.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!