Capitulo 3



Gina esforçou-se para recuperar seu equilíbrio e auto-controle, mas aqueles olhos frios e penetrantes deixa­ram-na paralisada. Ela parecia ainda não ter acreditado que ele estava ali.


 


O olhar dele deixou-a tonta, desorientada, tomada por sensações e emoções que a apavoravam. E, ao mes­mo tempo, meio a todas aquelas sensações, ela sabia que havia uma ainda mais intensa e assustadora: a cons­ciência da vulnerabilidade dela diante da imagem forte e máscula dele.


 


Na mesma hora, Gina sentiu a reação do próprio cor­po não apenas diante da imagem dele, mas do cheiro masculino, poderoso e perigoso dele que a provocava como nenhum outro. Gina de repente ficou tensa.


 


— Eu lhe disse, não disse, Harry? Minha prima não se preocupa muito em ter uma imagem muito profissional. — Gina ouviu Raoul dizer.


 


Harry? Harry Potter? O Destruidor Gre­go? Um brilho repleto de hostilidade e cautela tomou conta dos olhos de Gina.


 


— Senhorita Weasley — disse ele inclinando leve­mente a cabeça.


 


— Muito bem, Gina, agora que você chegou vamos falar de negócios. Harry não tem muito tempo — disse Raoul.


 


Então ele não tinha tempo, mas tinha muito dinheiro. Era realmente uma combinação perigosamente explosi­va, pensou ela. Ele nem chegou a tentar apertar a mão dela, o que a deixou satisfeita, pois a última coisa que ela queria agora era algum tipo de contato físico com ele.


 


Ele também parecia não a ter reconhecido da feira. Talvez ele, ao contrário dela, não tenha sido tomado por aquele choque ao vê-la. Será?


 


Enquanto Raoul discursava sobre os benefícios da venda da Francine, Gina teve que se esforçar para se concentrar no que ele dizia e para olhar apenas para ele como se assim fosse diminuir o impacto que a presença de Harry causava sobre ela. Um impacto enorme, teve que admitir contrariada.


 


De lado, ela percebeu que Harry estava vindo em sua direção. De repente os dedos dele envolveram o braço dela. Ela sentiu seu coração acelerar e achou que o cora­ção fosse parar na boca devido àquela sensação inexpli­cável de que algo a estava bombardeando. A pegada dele era firme e, ao pensar nisso, ela sentiu as pernas bambas.


 


Instintivamente, Gina virou o rosto. Seus olhos esta­vam na altura da garganta dele. Não conseguiria encara-lo agora. Ela sentiu uma corrente elétrica quente e femi­nina percorrer seu corpo inteiro. Ela não estava acostu­mada a se sentir daquele jeito. Nem a reagir daquele jeito.


 


Como ela podia desejá-lo daquela forma? Ele era um estranho. E além de um estranho, um inimigo. Ele re­presentava tudo o que ela mais abominava.


 


Ele começou a se inclinar na direção dela, seu olhar frio deixou o dela por um instante enquanto ele, desta vez, abaixou a cabeça mais ou menos na altura da gar­ganta dela.


 


Foi impossível para ela não tremer quando ele apro­ximou bem o rosto do pescoço dela.


 


— Bem, pelo menos o perfume que você está usando hoje é mil vezes melhor do que o que você estava usan­do na feira.


 


A mão dele que segurava o braço de Gina começou a se afrouxar e deslizou até o punho dela. Ele voltou a olhá-la e para a surpresa de Gina, a frieza havia desapa­recido dando lugar a um olhar quente e sensual que fez o coração dela disparar.


 


— Que perfume é este? — perguntou ele.


 


Que perfume é este? Ele não sabia? Como ele podia não saber?


 


— E obviamente uma essência bastante conhecida no mercado.


 


Essência; ele queria saber que perfume era aquele. O perfume dela, pensou Gina afastando-se dele.


 


— Que pena que você não estava usando esse perfu­me na feira.


 


— Aquele outro que eu estava usando na feira é uma criação do pai de Raoul, não tem nada a ver comigo — disse Gina defendendo seu status profissional. — Eu nem queria usá-lo para falar a verdade.


 


— Aposto que não — concordou Harry. — Não com sua reputação.


 


Ele lhe lançou um olhar intimidador.


 


— Uma das razões pelas quais estamos concordando em pagar um preço alto pela Francine é, como vocês já sabem, o fato de ficarmos também com as fórmulas dos perfumes, bem como com seu know-how no assunto. Queremos lançar um novo perfume no mercado com o nome da Francine que...


 


A vivacidade dele ao pronunciar tais palavras trouxe­ram Gina de volta à realidade. Este homem era seu ini­migo e queria acabar com tudo o que ela havia construí­do profissionalmente. E era bom que ela tivesse aquilo sempre em mente, pensou ela olhando acusadoramente para Raoul.


 


— Raoul, eu acho... — começou ela.


 


Raoul interrompeu-a, sorrindo com adulação para Harry.


 


— Harry, Gina está tão entusiasmada com relação aos seus planos para a Francine quanto eu estou.


 


— Não, eu não estou nem um pouco entusiasmada! — interrompeu Gina. — Você sabe o que penso sobre este assunto, Raoul. E você me garantiu que teríamos tempo para conversar a sós sobre isso antes de nos reu­nirmos com... com quem quer que fosse!


 


O que havia de errado com ela? Gina não conseguia nem pronunciar o nome dele...


 


— O Raoul deve saber sua opinião — interrompeu Harry. — Mas como eu não sei, você poderia começar a me explicar. Que tal?


 


— Gina...


 


Raoul começou a dizer com bastante apreensão, mas Gina não tinha a menor intenção de ouvir o que ele tinha para falar e ela se recusou a se intimidar pelo olhar perigoso e desafiante de Harry. Afinal, quem ele achava que era?


 


Harry, de uma hora para outra, deixou de ser aquele homem capaz de acabar com suas defesas femininas. O homem que mexia com seus sentidos como nenhum ou­tro havia feito em toda sua vida. E Gina nunca quebra­ria a promessa que havia feito a sua avó, de que ela valorizaria e protegeria aquela herança de todas as for­mas possíveis.


 


Gina virou-se para Harry e começou a falar o mais calmamente possível.


 


— Posso ser uma acionista minoritária, mas ainda assim, possuo um terço das ações.


 


— E eu tenho dois terços — lembrou-a Raoul com raiva. — Se eu quiser vender os negócios para Harry, eu, como acionista majoritário...


 


— Os negócios talvez, Raoul — interrompeu Gina, suas faces ficando rubras. — Mas...


 


— Eu não estou interessado em qual de vocês possui a maior parte nos negócios — afirmou Harry. — O que me interessa, assim como a meus acionistas, é a reintrodução da essência mais famosa da Francine no mercado, bem como a criação de um novo perfume usando méto­dos modernos de fabricação e...


 


— Nunca vou criar um perfume dessa forma! — avi­sou Gina. — Eu odeio perfumes sintéticos! Uma boa fragrância só pode ser criada com ingredientes naturais.Não só porque o cheiro fica mais puro, mas também porque acentua determinadas qualidades de quem os usa. Será que vocês não entendem?


 


— Determinadas qualidades? — As sobrancelhas ne­gras ergueram-se em gozação. — Você quer dizer que um perfume feito a partir de ingredientes naturais pode acentuar a sensualidade de uma mulher?


 


Para seu horror, Gina percebeu que seu rosto havia ficado vermelho.


 


— Gina, você está totalmente por fora do que está acontecendo na indústria de perfumes! — afirmou Raoul irritado.


 


— Não, Raoul — discordou Gina aliviada por ter uma desculpa para desviar os olhos de Harry e voltá-los para seu primo. — Você é quem está por fora do que se passa. A maior parte do mercado de perfumes pode até girar em torno dos produtos fabricados quimicamente. Mas também há uma demanda crescente por perfumes fabricados tradicionalmente. Vocês dois deveriam sa­ber disso. E o fato de vocês não saberem nada disso me preocupa com relação à criação de um novo perfume.


 


Enquanto Raoul começava a ensaiar uma resposta raivosa, Gina percebeu que estava mais interessada na reação de Harry. Ele estava bastante sério e olhava fixa­mente para ela agora.


 


— Esses perfumes fabricados quimicamente geram muitos lucros — disse ele curto e grosso. — A produção de um perfume ao qual só a elite terá acesso não me interessa — disse ele.


 


— Pois deveria interessar — contestou Gina na mesma hora. — Porque é a essência comprada pela elite que todo mundo quer comprar. E por que vocês acham que isso acontece? Porque não se pode comparar um perfu­ma fabricado por estes métodos modernos com um fa­bricado tradicionalmente, com ingredientes naturais. É óbvio que não.


 


— Mas um perfume fabricado com ingredientes naturais fica caro demais, Gina. Pouquíssimas pessoas poderão comprá-lo.


 


— Mas é totalmente viável a fabricação de perfumes com ingredientes naturais e a sua venda por um preço acessível. O que acontece é que os lucros não são tão grandes e por isso homens de negócios como você, preferem não fabricá-los. Porque o lucro é tudo o que im­porta para vocês. Você e esses homens como você pare­cem não ter alma, assim como os perfumes sintéticos que vocês produzem — disse Gina. — O Raoul já sabe o que eu penso sobre tudo isto. Sou contra a venda da Francine para você. E vim até aqui com o intuito de convencer o Raoul a não fazer isso, mas pelo visto não vou conseguir. Não posso impedi-lo já que ele é o acio­nista majoritário, mas se dependesse de mim eu nunca faria isso! Vocês só pensam em dinheiro...


 


— Isso é um fato?


 


O tom macio da voz de Harry fez Gina tremer, mas ela se recusou a demonstrar qualquer tipo de fraqueza e continuou olhando-o nos olhos.


 


— E até parece que você pode afirmar qualquer coisa a meu respeito. Quantas vezes você já me viu na vida? Duas?


 


— Três — corrigiu ela, sentindo seu corpo em cha­mas devido ao olhar altivo que ele lhe lançava.


 


— Três vezes, então.


 


— Mas isso é totalmente irrelevante. — Gina inter­rompeu-o. — A opinião mundial sobre o status da em­presa que você administra, bem como seus objetivos e crenças estão estampados em qualquer jornal, para quem quiser ler, e...


 


Ela hesitou por um instante.


 


— Mas isso tudo não interessa. O que interessa é que, como disse antes, Raoul já sabe qual é a minha opinião com relação aos planos dele de vender a Francine a você. Ele quer vendê-la mesmo contra a minha vontade. Eu nunca faria isso! Nunca!


 


De repente, Gina percebeu que ambos os homens estavam em total silêncio. Raoul parecia irritado e en­vergonhado, enquanto Harry...


 


Os olhos dele brilhavam de um jeito que faziam com que ela se sentisse vulnerável diante dele.


 


— Suas palavras são fortes. É uma pena que elas não reflitam suas ações, não é, Gina?


 


As palavras de Harry eram tão cortantes e impactantes quanto o olhar que ele lançava a ela. Gina olhou para Raoul procurando apoio, mas seu primo estava do outro lado do escritório, ocupado mexendo em uns pa­péis sobre a mesa.


 


Aproximando-se dela, Harry continuou a espalhar seu veneno.


 


— Quando a vi na feira de negócios, ficou bastante óbvio que você...


 


— Foi idéia de Raoul — protestou Gina.


 


— Idéia do Raoul, perfume da Francine e o seu cor­po. E será que valeu a pena? Estou falando sobre as vendas que isso gerou, claro e não sobre as cantadas que você recebeu.


 


Gina olhou furiosa para ele.


 


— Como você ousa dizer uma coisa dessas? Eu não imaginava que os homens fossem achar que eu também estava me oferecendo. Não imaginava que vocês fos­sem...


 


— Não imaginava? Você não quer que eu acredite nisso, não é? Você ficou desfilando, vestindo apenas...


 


Era demais para Gina.


 


— Eu estava muito bem vestida. E se eu soubesse que vocês, homens, se comportariam como animais da­quela forma, eu nunca teria concordado em ajudar Raoul.


 


Como seu primo podia estar pensando em vender a Francine para aquele homem? Para aquele... aquele monstro! Ele era ridículo, pensou Gina.


 


Harry resolveu mudar de assunto de repente.


 


— Este perfume que você está usando hoje. Que per­fume é este?


 


Harry encarou-o confiante.


 


— Um perfume que eu criei.


 


— Gostei. Seria um sucesso aliado ao nome da Fran­cine. Aliás, estou surpreso que você ainda não tenha feito esse marketing em cima dele.


 


Os olhos de Gina brilharam com irritação.


 


— Este perfume foi criado por mim para meu uso exclusivo.


 


— É uma fórmula original criada por você?


 


Gina fez uma cara emburrada. Por que ele estava fazendo tantas perguntas a ela? Ele estava começando a incomodá-la profundamente.


 


— Não exatamente — admitiu ela. — Na verdade ele se baseia em um perfume antigo da Francine chamado Myrrh.


 


Gina calou-se reparando que as sobrancelhas dele haviam se erguido.


 


— Myrrh... sei!


 


Durante o silêncio que se seguiu, Gina pôde dar-se conta de sua tensão.


 


— Você não acha que estou certo em achar que este é o melhor e mais bem sucedido perfume da Francine? — perguntou Harry.


 


— Ele é mesmo. Você fez sua pesquisa direitinho. — admitiu ela que não resistiu fazer uma pequena provo­cação. — Ou alguém fez para você.


 


Sem dúvida, um homem como ele pagava pessoas para conseguir as informações de que precisava. Ele ob­viamente podia pagar por serviços como esse.


 


— Então este perfume que você está usando baseia-se no perfume Myrrh da Francine... Estou surpreso por você permitir que Gina brinque com algo tão valioso e único, como a fórmula do Myrrh, Raoul.


 


Furiosa tanto pelos modos de Raoul quanto pelas pa­lavras de Harry, Gina virou-se para ele.


 


 


 


—Na verdade, Raoul não tem o poder de "permitir" ou não que eu use a fórmula do Myrrh já que minha avó deixou-a para mim.


 


Gina percebeu na hora que Harry não havia sido in­formado de que a fórmula do Myrrh pertencia a ela. Harry voltou-se para ela.


 


— Então você possui um terço das ações e a fórmula do Myrrh?


 


— Isso mesmo — confirmou Gina.


 


— Preciso discutir isto com os meus advogados. O nome Myrrh, a meu ver, pertence a Francine e...


 


— E a fórmula dele pertence a mim — informou Gina irritada. — E se você está pensando que vai me enrolar com este papo de advogados, pode esquecer! Estou indo embora, Raoul. Estou perdendo tempo aqui. Chega!


 


— Gina! — Raoul protestou, mas Gina ignorou-o, dirigindo-se para o outro lado do escritório e abrindo a porta da sala.


 


Aquela ida à casa de Raoul havia sido não só uma perda de tempo, como também havia posto um fim às esperanças de Gina que queria tentar convencer Raoul a não vender a Francine para aquele grego abusado.


 


Na tentativa de se acalmar, Gina resolveu dar uma volta por aquela parte antiga da cidade e foi o que ela fez. Caminhou pelas ruas estreitas todas repletas de construções antigas, olhou um pouco as vitrines das lo­jas. Caminhou até chegar ao Place aux Aires, onde ha­via uma feira de flores frescas e de comidas regionais.


 


Mas já era tão tarde que todas as flores e toda a comida já haviam sido vendidas. Ela resolveu, então, sentar-se em uma das lanchonetes que havia ali por perto e tomou um café observando a linda fonte que enfeitava a praça.


 


Perto de onde ela havia estacionado o carro, ela pôde ver uma antiga destilaria que agora estava desativada, graças aos métodos modernos e graças a homens como Harry, pensou ela indignada!


 


Ao entrar no carro, Gina olhou para cima, para a janela do escritório de Raoul.


 


Ela sentiu uma grande tensão tomar conta de todo o seu corpo ao perceber que Harry estava na janela olhan­do para ela.


 


Com muita raiva ela decidiu não ser a primeira a des­viar o olhar. Sua concentração só foi interrompida quan­do um motorista de táxi começou a buzinar atrás dela.




(...)




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