Capitulo 2



 


Gina sorriu satisfeita ao entrar no hotel. Ela havia feito as reservas lá por recomendação de um cliente que havia elogiado muito o hotel e agora ela via o porquê.


 


O hotel ficava em Mougins, o que significava que ficava a mesma distância de Grasse, onde era a sede dos negócios e onde Raoul estava.


 


Ela o adorou. Bem tranqüilo e charmoso, diferente dos hotéis em Cannes escolhidos por Raoul, que contara a Gina o quanto sentia o fato dos bens da família em Paris terem sido vendidos.


 


— Por que diabos nosso bisavô decidiu vender a loja de Paris e ficar com a de Grasse? Quando penso o quan­to valeria uma loja nossa em Paris...


 


Gina preferiu não falar nada. Sua avó havia lhe con­tado que os bens da família na capital haviam sido ven­didos para pagar as dívidas que o irmão dela tinha devi­do ao seu vício por jogos. E Gina não tinha a intenção de remoer feridas de família.


 


Ela havia feito reserva no hotel para toda a semana para poder ir às reuniões com Raoul e também para vi­sitar as floriculturas da área, onde ela encontrava ingre­dientes naturais para fazer seus perfumes.


 


Gina sorriu ao perceber que a recepcionista atrás do balcão tentava sentir o perfume dela. Aquele era absolu­tamente exclusivo, Gina recusava-se a vender a quem quer que fosse. Era um perfume que só ela tinha.


 


Foi feito a partir da fórmula secreta que sua avó havia deixado para ela. Era, sem dúvida, o preferido de Gina entre todos que ela já havia criado.


 


Ela ouviu as instruções da recepcionista e foi guiada até seu quarto que era tudo o que ela esperava que fosse: confortável, elegante, silencioso e reservado.


 


Ela tinha o tempo exato para desfazer a mala e trocar de roupa para ir até Grasse encontrar Raoul e conversa­rem sobre as objeções dela aos planos de vender os ne­gócios para Harry James Potter, ou melhor, o Destruidor Grego! Ela deixou de sorrir na mesma hora pensando sobre os motivos pelos quais o bilionário que­ria comprar a Francine.


 


Ele, sem dúvida, deve ter percebido que muitos dos seus concorrentes já haviam todos reconhecido as van­tagens financeiras que se podia obter fazendo o marke­ting de um perfume. Especialmente nos dias de hoje, em que tantas mulheres só pensam em imitar as atrizes e modelos famosas que admitem preferir um perfume não apenas por sua modernidade, mas principalmente pelo fato do perfume ter uma assinatura rara e exclusiva de uma das lojas de perfumes mais famosas e tradicionais.


 


Gina vestiu uma calça jeans confortável. Ela não gostava de roupas formais de trabalho e, afinal de con­tas, isto não era uma reunião de negócios e sim uma conversa com seu primo e parceiro comercial.


 


A Francine criou alguns dos mais famosos perfumes de seu tempo, mas Gina sabia que o irmão de sua avó havia vendido os direitos sobre a maior parte deles. Tudo isso para pagar pelos erros que cometia nos negó­cios e para financiar seu vício, que era o jogo.


 


Hoje em dia o único perfume de maior sucesso ven­dido pela Francine era uma água de colônia antiga que nem era muito boa, na opinião de Gina. Para ela, o fascínio e a inspiração de se trabalhar com essências antigas era a procura por ingredientes puros, alguns dos quais não estavam mais disponíveis para os fabricantes de perfume, por motivos de economia e também de eco­logia. Praticamente todo mundo do ramo começou a tra­balhar com ingredientes sintéticos, seguindo as tendên­cias do mercado.


 


Gina deu muita sorte de ter encontrado uma família perto de Grasse que não apenas cultivava rosas e jasmins para a indústria dos perfumes de forma tradicio­nal, como também possuía sua própria destilaria. A fa­mília Lafount cultivava rosas e jasmins da mais alta qualidade e Gina sabia que era uma privilegiada por poder comprar esse tipo de material deles.


 


Ambos na faixa dos setenta anos, Pierre Lafount e seu irmão Henri lembravam-se da avó dela e contavam histórias de quando ela visitava a plantação e a destilaria com seu pai. As rosas e os jasmins dos Lafount eram muito requisitados e Gina sabia que eles aceitavam vender para ela em pequenas quantidades em nome do carinho que tinham pela avó dela.


 


— Praticamente tudo o que nós produzimos é vendi­do com antecedência por meio de um contrato. É assim que acontece com a maioria dos nossos clientes — dis­seram eles a Gina.


 


— Mas é claro que para você nós abrimos uma exce­ção — comentaram eles e deixaram Gina muito feliz com aquilo.


 


Raoul achava tudo isso uma loucura.


 


— Você é louca de pagar os olhos da cara pelos pro­dutos deles podendo Comprar os mesmos produtos fa­bricados em laboratório pela metade do preço.


 


— Mas aí é que está, Raoul. As essências das fragrâncias que quero criar não podem ser fabricadas as­sim. Há uma diferença muito grande!


 


— Mas quem vai notar essa diferença?


 


— Eu vou! — respondeu Gina calmamente.


 


E agora Raoul queria vender a Francine a um sujeito tão ignorante e displicente com relação à qualidade dos perfumes quanto ele. Mas não venderia, se ela pudesse impedir, pensou Gina decidida.


 


Ao se dirigir para o estacionamento, onde estava o carro que havia alugado, Gina notou uma limusine Mercedes enorme estacionada, com as janelas de vidro fumê fechadas. Mas ela tinha muita coisa na cabeça e só deu uma olhadela para a limusine e seguiu reto em dire­ção a seu carro.


 


A primavera estava chegando, pensou Gina apre­ciando o cheiro do ar. O perfume de mimosa era mara­vilhoso, pensou ela.


 


Ela conhecia o caminho para Grasse quase tão bem quanto sabia a história da Francine. Ela ouvia tanto sua avó falar sobre aquele lugar que era capaz de chegar lá até mesmo com os olhos vendados.


 


A infância de sua avó havia sido idílica e bem provi­da financeiramente. Seu pai adorava-a e mimava-a. Mas quando a guerra começou, tudo ficou diferente. O bisavô de Gina e sua avó foram para a Inglaterra com o jovem major inglês pelo qual ela havia se apaixonado.


 


A discussão entre sua avó e o irmão dela levou a uma rixa familiar nunca resolvida e por teimosia sua avó re­cusou-se a voltar para Grasse. Talvez ela nunca tenha voltado fisicamente, mas em suas memórias e em seu coração ela voltou muitas e muitas vezes, pensou Gina enquanto estacionava o carro na rua estreita abarrotada de prédios históricos. Ela observou algumas chaminés agora em desuso de casas que antigamente abrigavam grandes destilarias de perfume da cidade.


 


Algumas lojas de perfume transformaram-se a ponto de virarem atrações turísticas, praticamente, mas a Francine continuou como sempre foi. A casa estreita e alta, com um quintal que ficava atrás da sua fachada, agora já com aspecto surrado e com a tinta descascando.


 


Gina estacionou o carro alugado, ignorando os ges­tos enfurecidos e a buzina alucinada do motorista do Citroen que teve que parar para que ela entrasse na úni­ca vaga disponível perto da casa.


 


Se Raoul conseguisse o que queria e vendesse a Francine para o Destruidor Grego, então a fabricação de seus perfumes seria modernizada e eles passariam a utilizar materiais sintéticos. Gina ficava horrorizada só de pensar!


 


Hélène, a empregada idosa e antipática de Raoul abriu a porta para Gina com a mesma expressão de sempre no rosto.


Os únicos raios de sol que conseguiam penetrar atra­vés da janela estreita iluminavam quadrados dourados de poeira na mobília antiga do hall de entrada, o que deixou a alma artística de Gina lamentando a displicên­cia com o lugar que era uma linda casa antiga, mas esta­va muito mal tratada.


 


A porta que dava para o quintal estava entreaberta e pela fresta Gina pôde ver uma parte de um chafariz e pôde escutar o som da água que jorrava dele. Ela tam­bém admirou o muro nos fundos do quintal todo coberto por flores, bem como reparou no gatinho que lavava suas patas com a água do chafariz ao sol.


 


Como que instintivamente, Gina parou por um ins­tante. Ficou admirando aquilo tudo por um momento. Quantas histórias dos seus antepassados estariam im­pressas ali naquela casa. Quantas memórias ela trazia à tona. Gina também percebeu que o cheiro que pairava no quintal, ao contrário do cheiro de mofo e poeira do lado de dentro da casa, era bastante agradável. Cheiro de flores, o seu preferido.


 


Hélène já estava impaciente atrás de Gina quando ela finalmente resolveu dirigir-se até a escadaria que levava à sala de estar e ao escritório de Raoul.


 


Hélène, que protegia seu chefe como um cão de guar­da acompanhou Gina e lançou-lhe um olhar desconfia­do antes de abrir a porta do escritório para ela.


 


Pronta para a batalha que estava prestes a começar, Gina respirou fundo, entrou com firmeza e começou a falar calmamente.


 


— Raoul, eu não...


 


De repente ela se calou, deixando a frase pela meta­de. Seus olhos pareciam a estar traindo. Não podia ser...


 


Ele estava ali, bem na frente dela, em pé, emoldurado pela janela do escritório de Raoul...


 


 


(...)


 


 


Não me matem :D


 


 


tukinha weasley: Que bom que você está gostando. Espero que tenha gostado desse tbm (:


 


 


Comenteem ;**


 


 


 

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