Tempo e Espaço
Seus olhos abriram. As duas pequenas fendas miraram o teto do quarto.
Duas semanas.
Parecia um pesadelo,
Agora já não importava a presença dos bruxos ao seu redor, ele se acostumara ao fedor, – embora ainda não fosse feliz enquanto não torturasse cada um deles. – o que importava era que agora ele sentia a proximidade do irmão. Lá fora em algum lugar, ele estava esperando o momento certo.
Não tardaria até que os Três cansassem e viessem atrás dele.
Seria uma chacina.
Sentando-se na borda da cama, o rapaz esfregou o rosto, lavando de si todo o pouco de sono que ainda lhe restava. Em algum lugar no horizonte, os primeiros raios de sol fustigavam a janela do quarto, a luz, ao atravessar o vitral molhado pelas gotas de carvalho, desenhava uma pintura melancólica na parede.
Movimento na cama ao lado fez Peter recuperar a total consciência, levantando-se lentamente, os olhos se acostumando rapidamente ao quarto ainda escuro.
Seu peito nu mal sentia o frio que o início da manhã trazia para o quarto. Com um movimento rápido do braço, ele pegou a camisa que estava jogada de um lado, desamassando-a com uma magia rápida, para então sair do quarto com passos silenciosos.
O fogo crepitava, quase morto, na lareira da Sala Comunal da Sonserina.
Acenda.
O fogo cresceu ante a sugestão mental do rapaz, enchendo o hall com sombras bruxuleantes.
- Bem melhor. – ele sorriu, admirando o fogo crescer e lamber as laterais da armação de pedra que o abrigava.
O hall escuro se iluminava lentamente enquanto as chamas cresciam, parando a poucos centímetros do rapaz, que estendia a mão, para tocar as labaredas alaranjadas.
Hora de ir.
Ele disse a si mesmo, virando-se e indo em direção à porta do hall, ganhando as masmorras e os fantasmas que por ali perambulavam como companhia.
Lembranças.
Ele disse a si mesmo.
Fazia quantos anos? Vinte, trinta? Ele havia perdido a conta depois de tanta viagem para fugir dos Caçadores.
As paredes frias pareciam às mesmas, não tendo envelhecido nem um mísero ano. O castelo se mantinha tão imponente e poderoso quanto no dia que fora erguido.
Nem mesmo os fantasmas que caminhavam pelos corredores eram tão velhos a ponto de saber a fundo a história de Hogwarts, sua verdadeira razão de ter sido erguido.
O castelo era um espólio de guerra.
O terreno onde o castelo fora construído foi o último campo de batalha da guerra draco-bruxa. Fora ali que Peter tinha encontrado a derrota pela primeira vez. O castelo era um prêmio, uma prova magicamente viva que os bruxos haviam vencido a guerra.
Seria nele que seria ensinado o legado dos Quatro Generais.
Griffindor, o maior espadachim que o mundo bruxo já vira.
Slytherin, o senhor das poções e venenos.
Ravenclaw e suas flechas que nunca erravam o alvo.
Hufflepuff, a maior barreira que um dragão já foi forçado a enfrentar.
Quatro bruxos. Apenas quatro bruxos haviam penetrado a estratégia de Peter. Fora o bastante para derrotar todo um exército.
Malditos sejam.
Peter parou no meio do corredor da masmorra. Um fantasma solitário parecia vagar um pouco à frente.
- Você. – Peter fechou os olhos, a presença estava lhe seguindo desde o salão comunal. – Pare de me seguir.
Um movimento nas sombras bruxuleantes fez com que a luz das tochas fosse jogada sobre um corpo pálido e magro.
- Você precisa desfazer o que fez comigo. – Com o braço apoiado na parede, Draco Malfoy parecia fraco, quase morto. – Por favor, eu lhe peço.
Peter riu.
- Por favor? Você se rebaixa a tanto? Não tem orgulho de ser o inseto miserável que é? – Ele maneou a mão, como se espantasse uma mosca. – É claro que não.
Draco aproximou-se do rapaz, escorando-se na parede para poder chegar perto o bastante. Suas pernas fracas lhe sustentaram por apenas um passo, antes de deixá-lo na mão. O louro caiu de joelhos.
- Eu imploro.
Peter pôs a mão no bolso, retirando de lá a pequena bola de gude transparente.
- É isso que você está procurando, Malfoy. Veja bem, olhe bem para está pequena esfera. Você só será capaz de vê-la a essa distância. Posso te dar uma ajuda ao menos. Você morrerá em menos de um mês, irá definhar, sentir dores em partes do corpo que você jurou nunca existir, emagrecerá mesmo que se alimente bem e, cada vez que eu tocar nessa pequena bola, você vai saber que eu estou olhando para você e rindo, pois você não pode fazer nada e não há ninguém que possa fazer nada por você. Nem seu pai ou aquele outro verme para o qual ele trabalha.
Draco arregalou os olhos, o ar fugindo de seus pulmões sem deixar nenhum vestígio.
- Ah! Eu me esqueci de dizer. Com isso em mãos, eu posso ver cada fato que já foi presenciado por você, cada pensamento, posso, inclusive, fazer mal a alguém que você já tenha pensado sobre. Eu controlo você, Malfoy.
Abrindo a boca lentamente, o rapaz soluçou uma resposta incoerente, levando a mão ao peito, uma dor lacerante cortando-lhe o coração.
- Mas não se preocupe. Nós podemos fazer um acordo.
Aproximando-se do rapaz, ajoelhando-se ao lado dele, deixando o calor de seu corpo invadir e reconfortar o louro, como uma falsa prova da capacidade de misericórdia que o moreno não possuía.
- Eu deixarei você bem o bastante para trabalhar para mim, em troca da sua vida, que tal? – A mão de Peter pousou no ombro do rapaz, fazendo ar invadir seu peito e a pouca cor voltar ao seu rosto. – Tudo que você tem de fazer, é me mostrar esse tal de Voldemort, esse homem que dizem ser o bruxo negro mais poderoso que existe.
Peter levantou-se, deixando o rapaz respirar livremente no chão, feliz por poder inalar ar novamente, uma lágrima descendo por seu nariz.
- Bom, então estamos de acordo. – Voltando a andar, o moreno afastou-se do louro. - Seria interessante que você começasse sua investigação logo, eu não tolero atrasos e o preço que você vai pagar é um tanto alto.
Enquanto o arfar de Draco se distanciava, Peter tinha um novo pensamento. Ele já havia encontrado uma maneira de pesquisar o homem que vinha aparecendo em seus sonhos, imagens que sua ligação com Demétrius trazia incoerentemente durante a noite.
Agora ele precisava de ajuda, fazia duas semanas que sua pesquisa pelo Maleficarum estava parada, sem nenhuma nova pista. Era hora de cobrar um pouco de Katherine. Afinal, era a cabeça dele que estava no páreo. E, se ela não quisesse que os Três invadissem o castelo atrás dele, ela precisaria trabalhar, também.
Balançando a cabeça, ele dirigiu-se para o Salão Comunal da Grifinória, onde sua irmã estaria lhe esperando.
Ou não.
...
Hermione levantou-se da cama, mal conseguira dormir, seus pensamentos estavam longe demais para acompanhar o bom sono.
Se eu ao menos tivesse tentado dormir. Ela falou para si mesma.
Seus pés tocaram o chão frio, fazendo seus pêlos eriçarem. Num instinto ela abraçou-se, tentando esquentar o corpo por baixo da camisola fina.
Têm algo errado aqui. Ela disse para si mesma, num tom tão baixo que nem mesmo ela podia se ouvir.
Fazia duas semanas que ela vinha observando Katherine e aquele irmão maluco dela – o cara era um animal, na humilde opinião da Gina – Eles simplesmente não se encaixavam. Parecia uma pintura surrealista imaginar aqueles dois vivendo a vida que a garota dizia viverem. Havia algo a mais, desde o dia no trem, quando o rapaz despedaçou o Malfoy por dentro, ela sabia que havia algo de muito fora do comum.
E parecia que Peter não tinha a menor intenção de desmentir a garota, ele estava sempre onde a confusão estava. Quer dizer, a confusão estava sempre onde o rapaz estava.
Ele fora chamado umas duzentas vezes na sala de Dumbledore, que estava cuidando do garoto-problema pessoalmente. Mas não parecia estar tendo muito sucesso.
Falando a verdade ela não havia visto o rapaz fazia alguns dias, ele parecia escondido ou algo do tipo, enfurnado na biblioteca ou nas masmorras.
O que ele esta escondendo? Ela balançou a cabeça enquanto se dirigia para o armário retirar uma blusa e uma calça. O que há de errado com os dois?
Seria muito egoísmo querer saber disso acima de qualquer coisa? No momento, ela mal parecia satisfeita em apenas estudar que sua mente voava para o assunto.
- Não consegue dormir? – Mione deu um pequeno pulo de susto antes de se virar e ver a irmã de Rony já pronta para descer bem às suas costas. – Opa.
Recompondo-se, a garota falou.
- Nunca mais faça isso. – Suspirou e pôs a camisa que segurava avidamente em sua mão direita. - Mas não... não consigo dormir faz algum tempo.
Seus olhos reviraram, cansados, antes de pousar novamente no rosto da ruiva, o quarto ainda escuro pelo horário.
A ruiva acompanhou a garota no suspiro, voltando para a cama dela, jogando-se de maneira desajeita na cama.
- Você deveria ficar se preocupando menos com coisas que não são da sua conta, Mione.
A outra fez uma cara de ofendida ao ser chamada de intrometida de maneira tão sutil.
- Você... Está apenas parcialmente certa. De fato eu deveria estar cuidando mais da minha vida, mas... Não sei. Você se lembra como a gente se sentiu no trem, não é? Como se fôssemos tomados pelo desespero, e penetrássemos no âmago das nossas próprias escuridões?
A ruiva fez careta ante a dramaticidade, mas ainda assim, não pôde deixar de concordar. A amiga estava certa, seja lá o que aquele casca-grossa tivesse feito naquele momento, havia entrado diretamente em sua alma e possivelmente retirado uma parte dela.
- Mas isso ainda não é motivo para você ficar bisbilhotando os outros. Seja lá o que for, a Kate vai dizer, quando estiver pronta.
Kate. Hermione havia esquecido que a garota fizera uma amizade muito estreita com a morena desde aquele pequeno incidente envolvendo uma perna em frangalhos.
- Eu entendo o que você quer dizer, mas eu nem tenho muitos problemas com a Katherine é o outro Draconiam que está consumindo meus pensamentos recentemente. Ele tem umas atitudes tão...
- Grosseiras, idiotas, babacas, completamente desnecessárias? Escolha qualquer uma, todas completam a sua frase.
Não, definitivamente não era isso que Hermione queria dizer, ela pensava em uma palavra muito diferente que talvez nem se encaixasse de fato no contexto, mas era algo que vinha consumindo-a desde que ela se deixou pensar no assunto.
Não-humano.
O rapaz parecia vir de outro planeta, ou ser de outra espécie, sei lá, tipo um ogro mais bem desenvolvido. A maneira que ele agia, o jeito como ele falava dos que deveriam ser da mesma espécie.
Não batia, simplesmente não batia. Nem mesmo Aquele-que-não-deve-ser-nomeado parecia odiar tanto os mestiços.
- Gina, se eu te pedir para me ajudar, pode ser?
A ruiva olhou com um jeito desconfiado.
- Acho que sim...
Hermione amarrou os cabelos atrás do pescoço, prendendo-os com um lápis.
- Na verdade, eu só queria que você me apoiasse um pouco, não é necessariamente uma ajuda, eu meio que queria alguém para ouvir minhas teorias sem dizer que eu estou pirando.
A ruiva sorriu. É claro que ajudaria a garota dessa forma, afinal, como poderia se considerar uma amiga sem isso?
- Topei. Mas assim, não é meio estranho a gente falar sobre isso aqui, sabendo que a cama da Kate é ali do lado?
Hermione virou-se para cama da morena, dando graças a Merlim por haver aquela cortina à prova de som entre elas.
- Você não acha a magia magnífica? – Falou, rindo para a ruiva.
As duas riram em conjunto, Hermione se jogando na cama de Gina, puxando a garota para um abraço confidente.
- Vem, vamos descer antes que a gente acorde alguém. – As duas disseram em meio uníssono, rindo um pouco depois, descendo de braços dados a escada do dormitório feminino.
Katherine, naturalmente, abriu os olhos instantes depois de as garotas fecharem a porta, havia um único pensamento em sua mente.
Isso vai gerar alguns problemas.
Logo, esse foi substituído por este:
Eu vou quebrar a cara do Peter.
...
Peter parou à frente do quadro onde uma mulher gorda e feia estava deitada sobre um leito curto e muito mal construído.
Absurdo chamar aquilo de arte, mas, quem se importa.
- Eu quero passar. – Foi à frase que saiu de seus lábios, parecendo não fazer qualquer efeito no sono da bruxa. – EU DISSE QUE EU QUERO PASSAR!
A mulher agitou-se ainda muito entretida no sonho que estava tendo.
Passando uma mão no rosto, Peter decidiu que estava começando a se irritar.
Seria hora de uma medida um pouco mais desnecessária.
- Mova-se. – Ele disse baixinho, para que o vento se movesse pelas frestas do quadro. Não durou muito tempo até que o quadro estivesse rolando para o lado, abrindo passagem para que ele entrasse. – Uso desnecessário de magia.
Com passos decididos ele entrou no Salão Comunal lentamente jogando a camisa que ainda estava em seus ombros sobre um sofá próximo, e deitando-se no outro, que fica em frente à lareira.
Agora seria só esperar, Katherine ainda estava no dormitório, ele podia sentir, mas não estava apto a entrar num quarto cheio de meninas sonolentas e de camisola. Apenas a idéia fazia-lhe envergonhar-se. Seria mais fácil esperar.
- Você não deveria estar usando aquela camisa, Peter?
Os olhos do moreno reviraram. Ele teria um maldito dia de paz naquele hospício, ou isso era pedir demais?
- Não era você que eu estava esperando, se não se importa em sumir da minha frente. – Ele suspirou, aceitando que havia perdido aquela boa calmaria que esperava ter. – Me lembre de novo, quando nós começamos a nos falar?
Gina, que descia junto com a amiga, decidiu se fazer presente.
- Bem, deixe-me ver... Ah! Sim, claro! Desde que ficamos amigas da sua irmã.
Peter revirou os olhos. Belo argumento.
- Espero que você entenda que isso não me impede de acabar com a raça de vocês, certo?
Gina sentou-se no sofá, aos pés do rapaz, displicente ante à ameaça, segundo ela infundada, que o rapaz parecia tão feliz em fazer.
- Ah, você adoraria, não é? – A ruiva debochou, alongando-se, dando uma tapinha na perna do rapaz.
Hermione, em pé, num canto, sentiu um vento frio varrer a sala e, por mais casacos que ela estivesse usando, saberia que o vento teria o mesmo efeito, pois ela podia sentir a magia que praticamente açoitava sua pele e que vinha direto da brisa.
Num movimento muito rápido para um humano, Peter jogou-se contra a garota, seus dedos puxando o rosto dela contra o seu, unindo testa com testa com uma força inigualável, fazendo a pele da garota arder.
- Você não sabe o quanto eu adoraria. Seria um prazer fazer você e todos os seus amiguinhos virarem cadáveres putrefatos.
Gina tentava empurrar o corpo do rapaz, mas parecia lutar contra pedra, seu peito bem definido era muito rígido, embora quente e reconfortante, o que era definitivamente estranho para a situação que exalava perigo.
- Me... Largue.
Deixando a força da garota trabalhar a seu favor, Peter soltou o pescoço da ruiva sem usar a força, fazendo com que ela batesse com força contra o sofá fofo.
Mione estava paralisada á alguns metros de distância, sentindo-se estúpida por ter ficado apenas olhando aquele animal machucar sua amiga. Ela sabia que não podia fazer muita coisa contra aquilo, talvez gritar, mas isso só atrairia mais problemas para quem estivesse vindo acudi-la.
Mas, embora ela estivesse sentindo-se péssima por não fazer nada, um interesse ainda maior crescia em seu peito, uma informação sobre o rapaz que só pôde ser percebida depois que ele levanto-se para atacar sua amiga, deixando as costas à mostra.
Havia uma marca ali, uma informação, algo em que ela pudesse trabalhar encima para desvendar alguns dos mistérios que corriam à volta daquele rapaz.
Peter levantou-se, deixando uma atordoada Gina para trás, deitada no sofá de maneira abobalhada. Seu pescoço ardia e ela podia sentir as pequenas marcas onde o dedo dele pressionara pulsarem um pouco antes de anestesiar.
- Bom, - Peter falou para as garotas chocadas, enquanto pegava sua camisa e ia em direção à porta do salão comunal, afinal já gastara tempo demais da paz que ele pretendia ter pelo dia inteiro... Como se isso fosse possível. – Avisem à minha irmã que eu preciso falar com ela urgentemente, e você, ruivinha, seria interessante parar de andar fora da linha se quiser preservar a sua pele nesse corpo. Acredite, eu encontraria boas utilidades para ela.
Ele deu mais um passo, enquanto punha a camisa, voltando para os corredores de Hogwarts que começavam a ficar mais movimentados com o início do dia.
Gina, ainda em estado de choque, engoliu em seco enquanto pensava que sua primeira tentativa de confrontar o Draconiam havia sido uma droga.
...
Katherine lia lentamente um livro sobre o castelo de Hogwarts enquanto esperava o início da aula.
Não parecia uma das aulas mais populares, afinal, mesmo faltando cinco minutos para a chegada do professor, nenhum aluno que não ela havia se mostrado presente. Era ainda mais estranho, tendo noção que seria a primeira aula daquela matéria naquele ano.
Defesa Contra as Artes das Trevas.
Pelo que fora dito sobre o cargo de professor dessa matéria, tudo levava a crer que estivesse amaldiçoado. Fazia cinco anos que os professores vinham sendo trocados por diversos motivos. Fraude, transformações em lobisomem e tentativas de assassinato eram as acusações recorrentes. Alguns conspiradores mais polêmicos pareciam determinados a dizer que uma morte fora consumada no último ano, embora nenhum jornal ou revista bruxa estivesse falando nada sobre isso.
Ok, agora faltavam três minutos. Ela estava começando a ficar definitivamente meio preocupada com a possibilidade de estar na sala errada.
Digamos que o que aconteceu a seguir foi tão lindamente inesperado que nem com todo o senso de perigo do mundo ela pôde prever o que estava por acontecer. Basta dizer que tudo começou com um grande POF!
- Ei, que idéia é essa de se jogar encima de mim! – Ela disse, rindo, com uma falsa raiva estampada na cara. – Você pensou que eu poderia ter MORRIDO do coração?
- Nah, não tão fácil assim, Kate. – Monique riu junto com a mais nova grande amiga.
Haviam sido duas semanas muito engraçadas, depois do dia do alçapão ela havia se aproximado muito de Katherine, de uma maneira inimaginavelmente rápida e sincera.
Amizade turbo.
- Não, provavelmente não mesmo. – Kate disse, abraçando a amiga. – Mas, me responde uma coisa, as pessoas não vêm para a aula não? É tão ruim assim? Se for pior que a aula do professor de História da Magia eu juro que me mato.
Monique deu de ombros. Na verdade nem mesmo ela havia tido sequer uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, afinal, nunca estivera em uma escola bruxa antes, havia sido ensinada numa escola trouxa desde criança, aprendendo magia com seu pai, em casa.
- Bom, seria interessante as pessoas começarem a aparecer, falta menos de um minuto para o começo da aula. – Katherine comentou, olhando um relógio mágico que ela havia desenhado em seu caderno, que remanescia aberto à sua frente.
- Katherine. – Uma voz atrás dela fez seus olhos revirarem.
- Oi, Peter. Bom dia. – ela disse displicente, quando o rapaz sentou ao lado dela. – Quantas almas você já arrecadou até o momento?
- Bom dia, Peter. – Monique sorriu para o rapaz, simpática.
Peter olhou para a garota com um olhar desencorajador. Morra, ela conseguiu ler nas entrelinhas, mas nada disso abalou o seu sorriso que, diferente de em qualquer outra pessoa, era sincero.
- Quanto às almas... Acho que isso você deveria perguntar à sua amiga ruivinha, que tal?
Katherine fechou o livro com uma força desnecessária, olhando o rapaz com ódio no rosto.
- O que diabos você fez, seu bastardo?
Peter deu de ombros.
- A coloquei em seu devido lugar.
- Olhe aqui seu animal, se você tiver machuca...
Mas ela não teve tempo de continuar, um rompante de falatório invadiu a sala, tornando qualquer tipo de comunicação sutil impossível.
Não se preocupe, você vai vê-la assim que terminar as aulas. Peter assegurou através da mente da irmã.
Se ela não estiver inteira, eu juro, juro que cumpro todas as promessas que eu te fiz, uma por vez, começando com a pior.
Katherine expôs uma imagem não muito agradável de uma parte do corpo de Peter à qual ele prezava muito sendo espatifada por um martelo gigante.
Bons sonhos.
Sua atenção voltou-se para Harry que agora chegava junto a Rony e Hermione.
- Bom dia! – Os três disseram, depois foram completamente ofuscados pela visão do terror sentado ao lado de Katherine.
Monique estava sentada à esquerda de Katherine e Peter à sua direita, ocupando toda uma fileira, de modo que se os outros três quisessem sentar ao lado das amigas seria necessário sentar obrigatoriamente perto do cão dos Infernos.
- E agora?- Rony perguntou baixinho, perto do ouvido de Harry e Mione. – Aquilo está sentado perto dela e não tem espaço pra gente correr para longe.
Hermione tremeu um pouco ao olhar para Peter e perceber que ele retribuíra o olhar com o canto do olho. A imagem da cena que ocorrera pela manhã ainda estava muito fresca e pulsante em sua cabeça.
- Você está com medo de que, Ron? Que ele sugue sua alma com canudinho? – Harry perguntou, com um meio sorriso.
- Eu pensava em algo um pouco mais drástico, talvez com um serrote ou um pé-de-cabra.
Peter virou a cabeça para o ruivo, que por um instante andou para o lado, de forma que dois terços de seu corpo estivessem atrás do amigo.
- Eu posso ouvir. – ele disse, simplesmente, os braços cruzados e a cabeça voltando-se para a aula.
- Que maldito ouvido é esse? Ele precisa de um médico!
- Ele ainda pode te ouvir, Rony. – Harry falou com um tom de voz cantante. – Bom dia, Nique.
O rapaz deu um pequeno beijo no topo da cabeça da garota, enquanto sentava-se em frente à Kate, Hermione em frente à Monique e Rony parado em pé, no único lugar que restava.
- Bom dia, Harry, Mione, Ron. – Ela falou, pouco depois chamou a atenção de Harry ao cutucar seu ombro. – Algum de vocês sabe da Gina?
Harry deu de ombros.
- Quando eu e o Rony acordamos, ela já tinha saído.
Hermione estava parada, estática ao ouvir a pergunta da garota, sua mente repetia e repetia a cena, ela conseguia lembrar o som da carne da garota ao queimar, das marcas que haviam ficado em seu pescoço, nas lágrimas enquanto ela colocava o cachecol para esconder as queimaduras.
- Mione? Você a viu hoje?
Hermione saiu de seu transe por um instante.
- Sim, vi sim, ela está... Legal, tá tudo bem.
Seria muito errado dizer que foi no mínimo convincente, a mentira havia ficado mais que óbvia.
- Harry, que tal a gente trocar de lugar? – Rony falou, fazendo o assunto sumir por um instante.
- Ron, dá pra você sentar? A aula vai começar! – Harry falou, abrindo o livro da matéria.
- Mas...!
- Eu troco! – Monique falou, já se levantando ao perceber que a porta da sala do professor estava se abrindo.
Num movimento rápido os dois trocaram de lugar, Rony muito aliviado e Monique não mais incomodada que antes. O que significa nem um pouco incomodada, mas isso não seria novidade.
De qualquer maneira, o novo professor agora os olhava do alto de uma pequena escada que levava direto ao quarto onde dormiam os professores daquela matéria.
Não era possível ver seu rosto, estava encoberto por um capuz que fazia parte do sobretudo que impossibilitava de ver o resto de seu corpo. A única parte que parecia parcialmente à mostra era sua mão esquerda, mas ainda assim, mal se via a pele, pois sobre ela havia uma luva de placas de metal, como uma armadura e cada ponta dos dedos formavam uma pequena garra.
- Bom dia. – Ele disse, ao que ninguém respondeu. – Desculpem-me a demora, eu tentei explicar a Dumbledore que seria interessante mandar um estagiário ocupar meu lugar o tempo que eu não pudesse dar aula, mas parece que algumas pessoas acham que ser professor de Defesa Contra as Artes das Trevas nesse colégio não dá muito, como eu poderia dizer... futuro.
Sua voz era esganiçada, rouca, como um corvo ao falar e seu tom de voz era de deboche e displicência, como se não acreditasse nem um pouco no que estava falando ou ao menos não desse a menor importância.
- Eu, entretanto, penso que futuro não é uma coisa que existe a não ser que se tente viver, ao menos, não foi à toa que me senti verdadeiramente tentado a aceitar o cargo, afinal, não havia mais nada que eu já não houvesse feito e, sem dúvida, nada é mais perigoso e emocionante do que dar aulas para mentes jovens e influenciáveis.
A maior parte da sala parecia entretida em qualquer outra coisa que estivesse ao alcance de seus olhos. Não, sinto muito, havia duas pessoas que estavam prestando muita atenção ao homem, em si, não dando importância as baboseiras que saiam de sua boca.
- Você pode ao menos dizer seu nome? – Peter falou, seus braços indo em direção à nuca.
O vulto que o professor era se virou rapidamente para o rapaz, fazendo o sobretudo esvoaçar e deixar transparecer as botas de caça que o homem usava.
- Sim, por que não, meu caro? – Ele falou e não era preciso ver seu rosto para saber que sorria. Peter, incrivelmente, já havia aberto seu riso de deboche, revendo o que viria a seguir – Meu nome é Draconis, professor Draconis Delarious, da Ordem dos Caçadores.
Uma grande interrogação pairou na cabeça de mais da metade dos alunos, fazendo uma onda de cochichos varrer a sala.
Peter, não comece, PELO AMOR DO FOGO SAGRADO Katherine apelou, pedindo um pouco de compreensão ao irmão.
Começar? Eu já estava no meio quando você entrou no jogo!
- Mione? – Harry perguntou, a menina se virando para ele. – Você tem algum tipo de informação sobre o cara?
Hermione pensou um pouco.
- Eu acho que li uma coisa ou duas sobre essa Ordem. Eles são o que há de mais baixo no mundo bruxo. Eles trabalhavam como mercenários do governo, matando tudo e qualquer coisa que fosse pedido, eles tinham direito à imunidade diplomática, mas depois eles se dividiram e viraram um grupo completamente não regulamentado. Hoje em dia eles fazem o que for pedido pelo melhor preço, independente da missão. Draconis ficou famoso, mas foi por outro motivo que não a Ordem. Ele era comensal e se voltou contra Você-Sabe-Quem pouco depois do seu declínio.
- Eu acho que Dumbledore tem um péssimo gosto para professores de Defesa Contra as Artes das Trevas. – Rony falou, limpando a orelha.
- Não esqueça Lupin, ainda queria ele como professor. – Harry falou, seus olhos tentando ver por trás do capuz que escondia o rosto do professor.
- Só você? – Hermione comentou, nostálgica.
- Seria desleixo meu, eu creio, deixar de responder às perguntas que vocês estão humildemente fazendo entre vocês. – Draconis falou, sibilante. – Algo a dizer?
A sala ficou quieta novamente, até que uma mão se ergueu no meio do silêncio.
- Diga.
Monique falou, então, deixando de lado o sorriso que ela sabia que Peter mantinha às suas costas.
- O tema da aula, qual seria?
Draconis ergueu suas mãos, ambas com as luvas de guerra, para poder abaixar o capuz, revelando um rosto marcado por queimaduras e cortes que escondiam qualquer humanidade que houvesse por trás daqueles olhos azuis-gelo.
O cabelo longo e louro lhe dava um ar jovial, embora ele tivesse cerca de cinqüenta anos.
- Eu decidi começar o assunto com um tema mais moderno e jovem, para ver se consigo a atenção de vocês – aqui ele olhou diretamente para Peter. – E ainda assim, um tema atual e polêmico, tendo em vista que vocês o presenciaram no ano passado. Falaremos de... Dragões!
Monique abriu um sorriso irônico, que conseguia dizer ao mesmo tempo Jura? e Ninguém merece, revirando os olhos.
Bem, Peter riu... MUITO.
- Cala a boca ou você vai engolir meu caderno e eu nem vou me dar ao trabalho de tirar a espiral, seu babaca.
Peter controlou-se, depois do que pareceram vinte minutos de riso estrondoso, ao qual Draconis apenas sorriu, imparcial.
- Seria interessante que começássemos a aula, então, não acha. Eu gostaria que o Sr. Potter e a Srta. McFusty ajudassem, afinal, são conhecedores de dragões, certo? O Sr. Potter por ter conhecido de perto um dragão ano passado e a Srta. McFusty por ser parte de um dos maiores clãs de criadores de dragões, por falar nisso, como vai seu tio Albert, lá nas ilhas Hébridas, soube que ele assumiu o lugar enquanto seu pai está por aqui, certo?
- Sim, o tio Albert assumiu o lugar da Administração enquanto meu pai estiver lecionando aqui e ele está muito bem, até onde sei, obrigada.
O professor assentiu, usando a varinha para escrever no quadro algo em que ninguém estava prestando realmente atenção. A figura em si era bem mais curiosa que a aula.
- Dragões, como bem se sabe, são criaturas indomáveis, por isso são consideradas de nível cinco na escala de perigo e, bem, digamos que o maior nível seja quatro.
Alguns alunos deram pequenos risos contidos, para a alegria de Delarious. Peter pretendia debochar algo, mas a garota ao seu lado parecia muito feliz em expor imagens, em sua mente, de sua genitália estragada.
Depois de cerca de dez minutos a aula começou a ficar de fato interessante, quando o professor começou a definhar os usos dôo sangue e dragão ou curiosidades como a maneira de acasalamento – ao qual Katherine parecia seriamente envergonhada e Peter tinha uma pose, como posso dizer, de machão? – e que a grossura da casca de um ovo de dragão é tanta que sobrevive a uma queda de cerca de duzentos metros.
- Dragões são, também, imunes a magia, de modo que feitiços de nada servem contra eles, o máximo que algum de nós conseguiria com uma varinha seria fazê-los sentir cócegas.
Peter coçou a barriga, entediado.
- De modo que só existem algumas poucas maneiras de matar um dragão.
Katherine ajeitou-se. Digamos que não seria muito interessante se ele resolvesse demonstrar.
- As duas maneiras mais fáceis, e mesmo assim muito difíceis, são: a) Corta-se a cabeça com uma lâmina especialmente afiada e feita de escamas de Dragão e b) Ergue-se uma escama próxima ao peito e acerta em cheio o coração.
Está indo longe demais. Kate falou para Peter.
Deixe-o brincar, ele está tentando nos pregar uma peça. Peter retribuiu o olhar de Draconis com um polegar erguido. Eu juro que ele vai se ver comigo.
O que você quer dizer? Você sabe que não pode fazer nada aqui dentro.
Nem pretendo, existem maneiras mais divertidas e menos difíceis de se arranjar confusão lá fora, na Floresta.
Peter, seria traumatizante para os alunos dessa escola perder MAIS UM professor de Defesa, não acha?
Errrrr... Não.
Draconis continuou falando e falando sobre coisas que Peter, Katherine e Monique já sabiam. Os dois primeiros por que era inerente à espécie e a outra por que passara a maior parte da sua vida estudando o assunto.
Não demorou muito mais tempo para que a sala fosse liberada, e fosse esvaziando aos poucos, o professor, agora novamente com seu capuz, lançou um novo olhar para Peter que ainda estava sentado, seus olhos verdes perfurando o mais velho.
- Até mais. – ele disse a todos, subindo a escada e trancando-se em seu quarto.
- Que cara... Estranho. – Rony comentou, quando foi possível. – Ele me deu arrepios, especialmente depois daquela conversa de comensal e sei lá mais o quê.
- É, eu sei, foi meio estranho mesmo, mas parece que o cara se esforçou para dar uma boa aula. – Hermione falou, dando de ombros. – Acho que ele merece um pouco de crédito.
- Sim, provavelmente. – Harry comentou, olhando a porta do quarto fechada, com a testa franzida. – Mas, tem algo...
- Ei vocês, vamos ou não? – Katherine perguntou à porta, seu irmão e Monique ladeando-a. – A próxima aula é de História da Magia, vai dar pra tirar o atraso da noite mal dormida.
A turma riu, divertida com o comentário saindo da sala com a garota no centro e seu irmão alguns passos atrás. De qualquer maneira, o dia estava apenas começando, seria melhor não se estressar com um professor maluco.
Ao menos, não ainda.
...
Draconis trancou a porta do quarto com certa grosseria, retirando o sobretudo e jogando-o de qualquer maneira sobre uma cadeira mal colocada à escrivaninha, onde estava aberto um livro de folhas escuras.
- Seria pedir demais para que essa vida deixasse de ser um inferno? – Ele se perguntou, ateando fogo à pequena lareira que havia na parede. – Crianças, crianças. Suas conversinhas e cochichos me irritam. E não deveria me sujeitar a tanto por tão pouco.
Ele sentou-se à escrivaninha, tomando mão de uma pena e um tinteiro, rabiscando palavras rapidamente no livro aberto.
- Aquele nojentinho estava brincando comigo, rindo de mim. Ah, como eu queria... Eu queria, queria sim...
Passando uma mão sobre o rosto, ele suspirou. Não adiantava ter pressa, ele sabia que se quisesse terminar o que começou há muito tempo, teria de ter calma, ou então conseguiria apenas mais cicatrizes.
- Mas ele não perde por esperar, não, não perde não. Eu vou conseguir... O mestre disse que me daria poder o bastante... Eu vou, vou sim... Vou matá-lo.
Seus olhos pesaram. Não havia dormido fazia cerca de três dias, ocupado com os preparativos para a chegada a Hogwarts.
O mestre precisaria esperar, teria de termina seu relatório depois, quando estivesse descansado, graças a Merlim, sua próxima aula seria apenas à tarde.
Lentamente ele observou enquanto a tinta fresca secava nas páginas sensíveis e sumia em seguida, como se as folhas houvessem consumido a tinta.
Mais uma vez seus olhos pesaram.
- Sim, o Mestre vai fica bem satisfeito quando eu levar a cabeça do garoto...
Um riso debilitado escapou de seus lábios.
Sua cabeça pendeu para o lado, deixando com que seus sonhos mórbidos tomassem conta de sua mente.
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