Sociáveis... Ou nem tanto
As sombras das folhas formava manchas eu seu rosto, os olhos verdes fechados, deixando o calor do sol cair por cima do corpo. Peter descobriu o que era rotina novamente.
Acordar, limpar-se, aulas, um intervalo para almoço, mais aulas e então estavam livres para fazer o que bem entendessem, desde que não entrassem em locais proibidos. Naturalmente, depois de muitos anos sem se ver capturado por uma rotina, o rapaz havia esquecido como era especialmente chato.
Neste momento, ao fim das aulas do dia, ele se encontrava à beira do lago, deitado embaixo de uma macieira especialmente frondosa, aproveitando o vazio ao seu redor para reorganizar seus pensamentos sobre o Maleficarum.
Ele não está nos lugares mais óbvios e muito menos nos menos óbvios. Eu venho caçando esse livro faz dias, mas nenhuma pista nova aparece e todas as jogadas que eu faço dão em água.
Seus olhos abriram e perscrutaram o céu azul e sem nuvens, com a fragrância agradável de maçã que descia dos frutos maduros acima de sua cabeça.
Agradável, porém infrutífero. Ele sorriu, ante a própria piada sem graça. Ah, pelo Fogo do meu Pulmão, eu preciso de respostas!
Ele esfregou os olhos, como se para acreditar que fosse possível viver apenas baseado numa rotina tão monótona. Ele precisaria arranjar algum tipo de hobby, uma vez que todos os seus outros – massacrar, tortura, matar e destruir. – estavam impossíveis de se praticar sem ofender a sua querida irmãzinha.
O moreno virou o rosto, deixando seus olhos verdes delinearem o formato do castelo ali perto, derramando sombra sobre as áreas próximas.
Por um instante ele pensou que certa parte do castelo se movia de maneira não natural - se é que “natural” pode-se considerar uma palavra aplicável à Hogwarts – Mas depois ele percebeu que o movimento não vinha do castelo, mas sim de uma garota que movia-se em sua direção, a distância tornando a imagem meio difusa.
Adeus paz. Ele pensou, depois de olhar para o céu, o rosto se contorcendo numa pequena careta de irritação.
Monique aproximou-se mais alguns metros, encostando-se na mesma árvore que o rapaz, sentando-se ao lado dele, embora ainda com um pouco de espaço entre eles. Seus olhos admiravam o lago e suas narinas inflaram para absorver o perfume dos frutos maduros.
Houve um hiato de silêncio, um hiato que durou bastante, tornando a situação constrangedora e esquisita.
- Sua perseverança me espanta. – Peter falou por fim, exausto pela tensão mental que a situação lhe impunha.
- Você fala como se não sofresse do mesmo mal. – Ela disse, agora fitando-o com os olhos verde-azulados.
Ele deu de ombros.
- Eu não insisto em relações suicidas, na verdade, eu não insisto em relações.
Monique assentiu, resposta plausível e verdadeira, ela não esperava nada melhor.
- Não é como se eu tivesse medo de morrer, Peter. Eu sei que você poderia me matar em qualquer lugar e a qualquer momento, então não faz sentido eu ter medo. Além disso, digamos que sua companhia é um tanto interessante.
Peter olhou de rabo de olho para a garota, de certa forma espantado com a sinceridade das palavras proferidas e de certa forma lisonjeado, também.
- Não sinto por não compartilhar do mesmo pensamento, Mcfusty.- Ele disse após alguns instantes. – Você é como os outros, se não pior.
Os ombros da garota encolheram por um mísero segundo, embora soubesse que o rapaz pensava daquela maneira, ouvir era, digamos, um pouco pior.
Peter sentou-se, a posição começava a incomodá-lo, o sol descia lentamente por trás das árvores do outro lado do lago.
- Não me entenda mal, eu não quero particularmente ofendê-la, embora seja algo que me apeteça, estou apenas deixando claro que não preciso da sua amizade, você não precisa ficar insistindo em algo que provavelmente só vai lhe machucar.
Levantando-se, o rapaz limpou as vestes que haviam ficado sujas de terra.
- Mas fique feliz, poderia ter sido pior... Eu estou de bom humor.
E se foi, deixando a garota sozinha enquanto o sol se punha no horizonte.
- Sim, sem dúvida poderia ter sido pior, Peter. – A garota falou para si mesma, deitando-se na grama e fechando os olhos. – Poderia ser bem pior.
...
- Tééééééééédio. – Harry resmungou, o rosto afundado numa almofada do sofá do salão comunal. – Seria pedir demais por alguma coisa que mexesse com meu dia?
Hermione revirou os olhos, estava de saída com Rony, mas parou por um momento para responder ao rapaz.
- Cinco anos... Harry Potter! Cinco anos cheios de aventuras e perigos e calamidades! Você deveria estar grato por poder sorver um pouco do tédio entre nós. Vem Rony, vamos estudar e... você fica, Harry – Ela falou quando percebeu que o garoto se levantava para acompanhá-los. – Já basta cuidar de um garoto-problema, os dois juntos me levaria ao suicídio.
Harry sorriu, de qualquer maneira, ele não queria ouvir a briga que iria rolar entre os dois, como sempre.
- Tchau. - Ele disse aos amigos que saiam rapidamente, Rony puxado pela amiga.
De qualquer maneira, Hermione estava certa, já havia passado muito tempo sofrendo na mão do destino, seria interessante ter um tempo a sós consigo mesmo, como ela havia dito? Sorver um pouco do tédio entre seus amigos. Colocando as mãos atrás da cabeça ele começou a pensar em nada, deixando a mente fluir para a primeira boa coisa que viesse à cabeça, um sorriso se alargando em seu rosto.
- Pensando em mim, Potter? – Harry se assustou com a voz de Kate, que estava espantosamente próxima ao seu ouvido.
Kate riu, sentando-se na borda do sofá, próxima à barriga do garoto.
- Você poderia fazer barulho quando entra num cômodo, sabia? É educado.
Dando de ombro a garota falou:
- Qual seria a graça?
- Pra você? Nenhuma, mas para mim seria um susto a menos.
A garota estirou a língua para o rapaz, passando a mão na cabeça dele, desgrenhando o seu cabelo rebelde.
- Fazendo o quê? – Ela perguntou, displicente.
O rapaz suspirou.
- Nada, e esse é exatamente o problema. – Ele segurou a mão da garota entre as suas, contando os dedos dela. – Faz quatro anos que minha vida finge que me odeia, agora do nada ela parou, estagnou.
Kate deu de ombros.
- Talvez ela esteja esperando o momento certo. Quem sabe ela não quer pegar você desprevenido, e quando você mais precisar ela te põe naquelas situações em que são praticamente impossíveis de sair.
Harry deu de ombros. Os problemas, invariavelmente o perseguiam, entretidos numa brincadeira sórdida de esconde-esconde numa planície. Por alguma razão seus pensamentos fluíram para sua família, Lillian e James, nunca havia parado para pensar como exatamente era a vida de seus pais durante a escola.
- Eu imagino o que meu pai fazia quando estava numa situação como essa.
Katherine sorriu.
James riria. Como ele sempre fazia, um sorriso largo e divertido, muito contagiante e de vez em quando até irritante, diria Lillian.
- Vem. – Ela puxou o braço do garoto, dirigindo-se para fora do Salão Comunal. O rapaz deixou-se ser arrastado. – Vamos agitar sua vida.
- Ei, espera, para onde você está me seqüestrando?
- Aposto que sou mais rápida que você.
Harry riu.
- Nem sonhando, garota.
- Até o Salgueiro Lutador, então. Faço suas lições de História da Magia até o fim do ano. Coma minha poeira.
Deu três passos, começando a correr quando chegou ao fim do corredor, sumindo numa das infinitas esquinas do castelo.
- Ei... Espera!
O garoto então começou a correr.
...
Gina sentou-se de frente para o espelho que adornava o armarinho ao lado de sua cama.
O rosto refletido no espelho não parecia o seu, era doloroso ver que a imagem que lhe mostrava era de uma garota abatida, anêmica, destruída. A dor em seu pescoço crescia com proporções geométricas.
Quem é você? Ela perguntou-se, pondo a mão encima do cachecol que cobria as feridas. Lentamente o pedaço de pano foi retirado, causando pontadas de agonia a cada movimento.
Aquele monstro. A garota fugira todo o dia, distanciara-se de seus amigos, tentara não demonstrar a dor para ninguém. Não queria que Peter soubesse o quanto ardia e o quanto ela havia chorado.
A vermelhidão das feridas alastrara-se e agora mais de noventa por cento de seu pescoço estava consumido pelas manchas arroxeadas. A dor e as manchas aumentavam toda vez que ela as escondia, diminuíam bastante, é claro, quando não estavam sendo encobertas.
Havia sido uma magia bem calculada. Se não se enganava, seria uma maldição. Não como as que o professor Moody os havia ensinado, uma magia diferente, que seria como uma maldição mais clássica. O conjurador da magia imporia uma condição e a Maldição se amenizaria caso a condição fosse cumprida. Nesse caso a imposição era que a garota mostrasse suas chagas para todos.
Ele que esperasse sentado. Ela nunca deixaria o rapaz sair vencedor dessa. Ela agüentaria toda dor, jamais pediria ao garoto para perdoá-la pela sua... imprudência.
A porta abriu tão lentamente que a garota apenas percebeu que havia alguém ao seu lado quando a imagem no espelho já apresentava uma mão no ombro.
- Gina. – Monique sentou-se ao lado da garota. – O que houve?
Gina tentou conter, sem sucesso, as lágrimas que teimavam em escorrer por seu rosto.
- Ele... Ele... – As lágrimas e soluços mal deixavam que ela terminasse. – Eu não... pude impedir.
Monique abraçou a amiga, o que mais ela poderia fazer? Seria insanidade dizer que ela poderia...
- Dói, dói muito. – A ruiva apoiou sua cabeça no ombro da menina. – Eu tive de agüentar, só doía quando eu as escondo. É isso que ele quer, ele quer que eu... as deixe à mostra.
Monique afagou a cabeça em seu ombro, deixando a menina mais confortável. O que ela poderia dizer? Provavelmente palavras de consolo seriam difíceis de achar nesse momento.
- Gina...
A garota pareceu não lhe ouvir, continuou a murmurar palavras sem sentido.
- Uma maldição.
- Gina, precisamos pensar numa forma de te ajudar, mas você precisa se acalmar, me ajude, vamos.
Por trás da nuvem de lágrimas, a ruiva tentou um sorriso, sorriso esse que mal saiu.
- Acho que não, não tem como me ajudar, Nique... acho que só aquele... acho que só ele pode. Eu pesquisei durante o intervalo, maldições são bastante especificas, alguém tem de se ferrar no final, ou então o conjurador a retira.
Monique pensou... mas sempre tem de haver uma forma.
...alguém tem de se ferrar no final.
Uma ideia apareceu no canto de sua cabeça, um pensamente quase suicida.
Não precisa ser ela.
- É como você disse Ginny, alguém tem de se ferrar no final.
Sem mais explicações, deixando a garota com uma incógnita muito grande em sua cabeça, a morena levantou-se, dirigindo-se para fora do dormitório. Era hora de se encontrar com Peter, novamente.
...
Peter caminhava lentamente pelas masmorras do castelo, seus dedos roçando as paredes, sentindo a magia que fluía, ali mais que em qualquer lugar. O castelo todo se movia e, conectado como estava, o rapaz conseguia definir cada movimento, as escadas, as armaduras, tudo.
Estava tudo conectado, como uma corrente mágica inquebrável.
Com mais um pouco de treino e concentração, ele seria capaz de entender, depois de entender, controlar. Sim, era assim que ele se acostumara.
Seria assim que ele encontraria o Maleficarum.
O frio da noite gelou por um instante ao seu redor, fazendo com que olhasse para a frente, a tempo de ver um rapaz louro despontar no corredor, parando ao ver o moreno.
Fique parado. A magia retumbou por um instante, mantendo um louro fugido em seu lugar.
Peter andou lentamente agora, aproximando-se como um cão aproximasse de uma presa amarrada. Draco suava, seus músculos tensos foram congelados enquanto fazia o movimento de fuga.
Ele não queria encontrar-se com o moreno. Mesmo quando o via no corredor no dia a dia, era ruim, era péssimo. O moreno sempre dava um jeito de roubar seus pensamentos e ficava irritado quando não tinha nenhuma informação nova sobre Voldemort.
Como agora.
Droga, ele não conseguia ver que era difícil encontrar informações sobre o maior bruxo das trevas? Seu pai se tornara esquivo, aparentemente ele tinha informações sobre Peter, ele havia sido alertado sobre o rapaz e suas capacidades, ele não se encontrava com Draco e já não respondia suas cartas, suplicando por ajuda.
Lucius havia deixado sua família. A própria Narcisa agora estava jogada em casa, deixada, enquanto seu marido fugia, com medo das informações que poderia soltar.
Ele havia ido para a Alemanha.
Alemanha, ah? Peter sussurrou em sua mente. Ao menos temos alguma informação. Talvez você não seja tão imprestável, afinal.
Ah, com havia sido idiota! É claro. Deveria ter percebido, Voldemort não seria estúpido, ele precisaria de um draconiano se quisesse chegar ao Maleficarum e ele havia feito aliança com não menos que o Rei dos Dragões do Norte.
Seu pai estava no jogo, como logo mais estaria.
Mas não imaginava que ele seria aliado do bruxo.
Isso explicaria a presença do Caçador.
Explicava muita coisa.
Tudo bem, você me serviu, percebo que as informações param por aí. Ah! Continue procurando, seria interessante você continuar juntando informação. Quero mais.
O garoto sentiu-se tonto quando foi liberto, apoiou-se à parede, e as pernas padeceram, por um instante, antes que recuperasse as energias.
Vá
O louro, sem mais escolhas, pôs-se a mover, atravessando o corredor a passos largos.
- Aí! – Gritou quando deu de cara com um obstáculo que não estava ali anteriormente. – Olha por onde anda.
Monique olhou lentamente de cima abaixo do garoto, abatido, doente. Abriu seu sorriso mais simpático.
- Desculpe-me, Malfoy. – Ela afastou-se um pouco para olhar melhor o rapaz. – Precisa de alguma coisa, parece meio adoentado?
Malfoy balançou a cabeça.
- Nada que você possa me dar.
E passou pela garota rapidamente, dando mais uma olhada para Peter, que estava parado à parede. Um sorriso aparecia no rosto do moreno à medida que ia sumindo quando o louro dobrava o corredor.
Peter aproximou-se da garota, que o observava enquanto Malfoy ia embora.
- Á que devo a honra de sua presença em minha tão humilde residência? – É claro que o rapaz sabia sobre o que ela vinha falar, e ia fazer de tudo para atormentar a vida da garota com o assunto. – Imagino que a ruivinha tenha se contentado com as novas tatuagens.
Monique suspirou.
- Olá, Peter. – Ela disse, seu rosto impassível, sem sorrisos. – Boa tarde. Você tem razão, Gina jamais se queixaria ou mesmo mostraria as seqüelas da maldição que você pôs nela, o que faz com que tenha que sofrer calada...
Peter sorriu. A garota estava com raiva.
- Hmmmm... deixe-me ver. Você veio me pedir para tirar a maldição dela, certo?
- Não, eu sei que você não faria isso apenas por um simples pedido. – Ela olhou a parede enquanto Peter contornava-a, como um lobo que cerca sua presa. – Eu quero propor uma troca.
Peter gargalhou, alto.
- Você não tem nada que eu queira, menina. Você não tem nada pelo que eu queira trocar.
Monique suspirou.
- Também sei disso, Peter.
O garoto pareceu confuso.
- Eu quero que você ponha a maldição em mim. Deixe-a em paz.
Peter parou de andar, estava olhando a nuca dela, uma expressão de confusão estampada em seu rosto.
- Você quer... substituí-la?
Monique assentiu.
- Mas... é idiotice. Você não pode ser tão idiota, pode?
A menina continuou impassível, mostrando ao rapaz que ela estava pronta.
- Aparentemente eu posso.
- Sua menina burra! Onde está seu cérebro? Ou melhor, você tem um? Pois bem, você terá o que deseja, mas primeiro, uma lição para que você aprenda o que significa ser amaldiçoado!
Peter falou em palavras draconianas, fazendo a magia içar a garota e jogá-la contra a parede.
Agulhas, muitas agulhas invadiram o corpo da garota, fazendo-a segurar o grito em sua garganta. Cada pequeno ponto representava pequenas queimaduras, que injetavam fogo negro em suas veias. Ela conseguia sentir o líquido pulsar em seu corpo, correr por ele.
- Isso, minha cara, é ser infectado por uma maldição, foi assim que sua amiguinha se sentiu, mas, por você ter sido tão boazinha, vou tornar seu sofrimento ainda pior.
O líquido negro espalhava-se numa velocidade monstruosa, ela sentia sua visão embaçar por causa da dor, seu coração batia numa velocidade insuportável. Ela pediria que ele parasse, se fosse capaz de falar, mas o rapaz prevenira que qualquer tipo de som saísse de seu corpo, fazendo com que cada grito de dor ecoasse em seu próprio cérebro. Ela podia ouvir suas suplicas e gritos, mas apenas ela e ninguém mais.
Ar não mais havia em seus pulmões e ela lutava para conseguir respirar. A dor agora se concentrava em suas costas, e ela já estava no ponto de partir no meio, quando tudo parou. Repentino, dá forma como veio, se foi.
A garota caiu no chão das masmorras, quase desacordada. Peter aproximou e ergueu seu rosto pelos cabelos.
- Entenda. – Ele falou, seu rosto bem próximo ao ouvido da menina. – Eu odeio você. Você é nojenta e degradante. Me enoja. Sinta-se feliz com sua mais nova maldição.
Ele levantou-se, deixando a garota caída, sem forças.
Já ia embora quando um outro rapaz, primeiranista da Sonserina, trombou com ele.
- Desculp....
Peter pôs a mão na boca do pequeno menino.
- Chame alguém, ela precisa de cuidados.
O garoto olhou a menina caída. Seus olhos esbugalharam e começou a correr o mais rápido que pôde quando Peter soltou sua camisa.
Em minutos um grupo de enfermeiras estava rodeando a garota, levando-a para a Ala Médica.
Por alguma razão, quando tudo terminou, o moreno, deitado em sua cama, sentia-se mal por algum motivo.
Então rolou para o lado e voltou a dormir.
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