Primeiras aulas
3.Primeiras aulas
“Sabemos o que somos, mas não sabemos o que poderemos ser.”
William Shakespeare
- Sarah, o Albus disse-me que não ias descer. Porquê? – Perguntou o John vindo do retrato da Dama Gorda.
Ela estava deitada de barriga para cima no sofá da sala comunal. Ela observava atentamente o tecto como se ele fosse alguma coisa merecedora da sua total atenção.
- Porque é que ele te disse? – Perguntou, desviando pela primeira vez a atenção do tecto e olhando a pessoa que a tinha vindo importunar.
- Porque eu perguntei por ti, quando não te vi chegar com eles lá em baixo.
- Já pensaste que eu podia simplesmente não querer a companhia deles?
- Não. Eu conheço-te e sei que não foi esse o motivo.
- Então qual foi? – Perguntou sem se incomodar minimamente com a resposta dele.
- Não sei. Embora ache que é por medo de teres vindo parar aos Gryffindor. Afinal desde o momento que nasceste que pensavas que ias para os Slytherin.
- Quando nasci não pensava. – Foi a sua resposta óbvia.
Ele bufou impaciente pela não reacção dela às suas palavras.
- Sarah! Tu percebeste.
Ela riu, pela primeira vez demonstrando uma reacção.
- Perceber, percebi, simplesmente pensei que me conhecias melhor. – Disse espreguiçando-se e voltando a sua atenção outra vez ao tecto.
- O que é que queres dizer com isso?
- Simples. Conhecendo-me tão bem como dizes me conhecer devias de saber que não me fez a mínima impressão ter ido para o Gryffindor.
- Então vais-me dizer que isto tudo é por causa de não queres a companhia deles? – Perguntou descrente. – Eu conheço-te pelo menos o suficiente para poder dizer que se for necessário para manter as aparências andares com a companhia mais desprezível, tu andarias com ela sem o mínimo problema.
Ela riu outra vez e olhou para ele.
- Duas coisas John. Uma, eu não preciso para manter as aparências andar com eles e duas, sim tu tens razão. Não é esse o motivo. – Disse desviando outra vez a sua atenção para o tecto.
Ele bufou outra vez, desta vez mais ruidosamente.
- E então? Porquê? Vais dizer-me que encontras-te no tecto um bicho em extinção?
- Nãããão. – Disse bocejando.
- Sarah... – Disse usando todo o seu auto-controle que não era muito. – O que foi? Vais faltar ao primeiro dia de aulas é isso?
Ela olhou outra vez para ele e sentou se de forma a olhar melhor para ele.
- Achaste mesmo que eu, Sarah Franklin, tua irmã ia faltar ao primeiro dia quando nem tu faltaste?
- Isso é um elogio? – Perguntou, voltando o seu habitual sorriso à sua face.
Ela voltou-se a deitar e ajeitou-se melhor.
- Entende como quiseres. E John... – Disse impedindo-o de falar, uma vez que ele já tinha aberto a boca outra vez – está descansado. Eu não vou fugir. Estou bem alojada.
Ele observou-a bem e disse bem-humorado:
- Isso estou eu a ver. Já te percebi. Preferes ficar aí deitadinha sem fazer nada em vez de tomares o pequeno-almoço e preparaste para as aulas.
- Eu já vou descer não te preocupes. – Disse despreocupada. – Não vou faltar as aulas. Não me apetece dar esse gostinho à mãe.
- Mas... – Disse ele expondo toda a sua confusão – Se não é para faltar as aulas porque é que estás aqui?
- Está bem. – Disse ela revirando os olhos. – Estou à espera da correspondência. Já lá fui a baixo mais cedo e comi e depois vim para aqui à espera da correspondência.
- Mas a correspondência é... – Disse ainda mais confuso.
- Lá em baixo. – Cortou-o ela. – Sim... Eu sei. – Disse com um sorriso.
- Então porque é que...
- Não estou lá em baixo? - Cortou-o ela outra vez. – Pensa... – Disse ela com um grande sorriso brincalhão. – Está bem. Eu dou-te uma dica... Lembra-te do ano passado.
- Hã... – disse ele confuso, mas a sua face foi adquirindo gradativamente uma expressão compreensiva. – AH! – Disse fazendo uma careta ao lembrar-se. – Vais-te esconder aqui? – Disse lembrando-se do ano passado quando em pleno salão ele recebeu um berrador e devido a isso passou uma das maiores vergonhas da sua vida.
- Não... Simplesmente não quero que ninguém oiça a não ser eu. Dá menos nas vistas.
- Pois se eu soubesse a reacção deles tinha feito o mesmo.
- Uma vantagem de ser a irmã mais nova. – Disse se ajeitando melhor no sofá.
- Mas estás assim tão relaxada sabendo que vais receber um berrador?
- Eu já tenho a carta preparada para lhe responder. – Disse lhe mostrando uma carta já lacrada.
Ele piscou espantado e disse:
- Já pensaste em tudo. – Disse sentando-se na poltrona ao lado do sofá onde ela estava deitada.
- Não vais comer nada? – Perguntou ela olhando de esguelha para ele.
- Também já comi qualquer coisa. E eu quero ver... não, ouvir o berrador que vais receber. Se calhar até vai ser o pai.
- Não me admirava nada. – Disse ela olhando outra vez para o tecto pensativa.
Ficaram por uns segundos em silêncio, cada um imerso nos seus pensamentos, até que uma bonita coruja preta entrou pela janela aberta e deixou cair uma carta em cima da Sarah e voltou a sair. A Sarah olhou o envelope pensativa vendo-o lacrado com o símbolo dos Franklin, uma Fénix dourada que olhava para ela e abria e fechava as asas impaciente. Segundo o que os seus pais disseram, mostrava que por muitos problemas que houvessem, eles sempre renasceriam das cinzas. Até ai era uma história bonita, era a história que os seus pais sempre contavam às pessoas. Mas, secretamente, eles confidenciaram que o verdadeiro significado era que quando o inimigo pensasse que tinha vencido, um Franklin que se preze, ao vê-lo virar as costas devia-o de matar. Mesmo nas cinzas nunca se devia de perdoar ninguém, pois só assim se renasceria. Uma vez meu inimigo, para sempre inimigo e, como Fénix que eram, deviam de os marcar para sempre e alimentar esse ódio pelas gerações seguintes. Um bonito lema que demonstrava todo o seu bom carácter.
Ela abanou a cabeça para afastar esses pensamentos e murmurou só para si.
- Estranho.
Mas o John, que tinha ouvido indagou sarcástico:
- O quê? Não querer resposta ou de não haver berrador?
Ela não lhe respondeu e abriu a carta lendo-a rapidamente. No final da leitura ela ainda ficou uns segundos a olhar para lá espantada, mas foi desperta por um puxão do John que lhe tirou a carta.
- Hey! – Reclamou. – Eu podia não querer te mostrar.
- Nós somos irmãos. Não podemos esconder nada um do outro.
Ela sorriu.
- Não estás a confundir o termo irmão com casamento? Tu és meu irmão, não meu marido.
- Não sejas chat... – Mas calou-se espantado ao ler a carta e olhou para ela, como que a pedir uma justificação.
- Porque é que estás a olhar assim para mim? Também esperava que no mínimo eles me pusessem de castigo até ao próximo ano e além do mais eles não foram propriamente simpáticos.
Ele olhou outra vez para a carta e leu-a em voz, com a voz carregada de desprezo:
- Tu também foste para os Slytherin? Como isso é POSSÍVEL? Temos que conversar. Na próxima visita a Hogsmeade às 16 horas no apartamento. É! – disse amassando a carta e mandando-a para a lareira. - Realmente eles não foram propriamente simpáticos. Podiam pelo menos começar com “Oi”, ou, vá lá, “Ó SUA MALDITA”, mas práticos como sempre esquecem-se disso.
Ela suspirou.
- Se tivesse escrito “ Minha querida filha estamos muito orgulhosos de ti e do teu irmão” é que era de suspeitar. Hey, não fiques com essa cara John.
Ele olhava para ela, carrancudo, e ela não percebia o porquê.
- Eu vou contigo! – Sentenciou.
Ela olhou confusa para ele.
- Vais comigo para onde? Para as aulas do primeiro ano? Por mim, estás à vontade.
- Não te faças de desentendida Sarah! Eu vou contigo nesse dia e, afinal, como é que eles querem que tu vás se ainda és do primeiro ano?
- Da mesma maneira que tu foste o ano passado. – Disse dando de ombros.
- Como é que sabes?
- Vá lá, John! Vocês não foram propriamente discretos e até a directora descobriu só não conseguiu foi arranjar provas.
- E quem lhes garante que eu e o James os vamos levar lá, hein?
- Tu não ias deixar a tua irmã andar sozinha a descobrir os perigosos segredos do castelo – disse fazendo a sua maior cara de inocente - e eles sabem disso.
- Só por causa disso, não te levo.
- Então está bem. Eu descubro por mim a passagem.
- Isso é perigoso Sarah...
- Então...
- Está bem! Eu levo-te, mas eu vou contigo falar com os pais! – Exigiu.
- Para quê, John! Já sabes o que vai acontecer.
- Eles estão revoltados... Eles podem... podem... – Ele não conseguiu acabar a frase, fechando os olhos dolorosamente.
- Eles não vão fazer nada disso! Eles até podem estar chateados, mas quando eu falar com eles, eu explico-lhes que nada mudou.
Ele abriu os olhos tão rápido que por um segundo, a Sarah se assustou.
- O que queres dizer com isso?
- O que tu pensas que eu quero dizer.
- Sarah! Quantas vezes é que eu tenho que te dizer que tu tens escolha? Já deste o primeiro passo, agora é só...
Mas ele não pode acabar a frase, porque a Sarah interrompeu-o. Se havia coisa que a irritava era quando o John fazia de bonzinho e a queria fazer mudar de lado. Das primeiras vezes até se suportava, mas agora já estava farta.
- Nada mudou, John! Eu ainda continuo a ser a mesma pessoa que vai fazer ressurgir as trevas. É o meu destino e eu não vou lutar contra ele.
- SARAH! Tu não podes...
- Bom dia. – Interrompeu uma inocente Rose entrando bem-disposta. – Nós trouxemos o teu horário Sarah.
O John ainda abriu a boca outra vez para dizer alguma coisa, mas depois fechou bruscamente a boca e saiu pelo retrato mal-humorado. O Albus e o Scorpius olharam para ele espantados, enquanto a Rose e a Susan ficaram ligeiramente constrangidas.
-Ah, desculpa lá, se interrompemos alguma coisa.
- Não é nada Rose. Ele só está mal-humorado porque eu lhe lembrei que ele o ano passado recebeu um berrador. Obrigado por trazeres o horário. – Agradeceu olhando para o horário e franzindo o lábio desgostosa ao ver qual ia ser a próxima aula. Mas a sua atenção foi desviada ao ouvir o Scorpius dizer:
- Bem, pelo menos não fui o único a receber o berrador.
-Claro que não, Malfoy júnior – Disse o James entrando e puxando um zangado John - O Jonhy também recebeu e também foi divertido.
Ele como resposta só teve dois resmungos.
- Ah, vá lá. Vocês não vão ficar assim, pois não. Hogwarts só está a começar. Vai ser divertido.
- Quando fores tu a receber um berrador, diz-me depois se é divertido. – Resmungou o John para o divertimento do James.
*****
O Albus estava a caminhar calmamente em direcção à torre, onde ia ter Adivinhação. Ao seu lado, estava a Rose que tentava animar o Scorpius que estava ainda mais branco que o normal. Do seu outro lado, estava a Susan que tinha puxado uma conversa com a Sarah. Tinha sido estranho, mas desde o pequeno-almoço que se tinha formado uma certa afinidade entre eles os 5. Só a Sarah é que parecia ligeiramente desconfortável com eles.
Ele entrou na sala distraído, mas sobressaltou-se quando no seu campo de visão entrou um rugoso dedo que apontava directamente para o pequeno espaço entre os dois olhos. Ele olhou assustado para a dona do dedo. Era uma mulher idosa, com os cabelos brancos e uns óculos demasiado grandes para a sua face.
- TU... Tu vais morrer!
Ele engoliu em seco ao olhar a mulher e tinha se formado um estranho silêncio na sala. Ele só viu movimentação ao seu lado, quando alguém parou bruscamente ao ouvir aquilo.
- Que novidade... – Desdenhou a Sarah.
As atenções desviaram-se bruscamente daquela professora com uma aparência estranha, devido aos estranhos xailes que vestia, para aquela pequena aluna que olhava a professora como uma máscara de gelo. Sem demonstrar qualquer reacção.
- Sa- Sarah! – Balbucio o Albus assustado, pensando seriamente em rever a opinião que tinha por aquela menina. Pensava que ela simpática, honesta e que era devido à sua timidez que ela agia estranhamente. Mas agora tinha a certeza de dois factos: tímida não era, para dizer aquilo ali, e, esperava do fundo do seu coração que ela não fosse honesta...
- Sim. – Festejou a professora tirando, para o alívio do Albus, o dedo da frente dele. – Finalmente em tantos anos vejo uma pessoa com o dom.
- O dom para dizer que o Albus vai morrer? – Perguntou descrente. – Hum, sem dúvida que tenho esse dom. – Murmurou ligeiramente divertida.
- Finalmente uma igual.
- Hey! – Indignou-se a Sarah – Acalme ai os dragões. Eu não sou igual à senhora coisa nenhuma!
- Ma-mas...
- Eu simplesmente disse que ele ia morrer. Como eu também vou morrer, a senhora, todos os presentes aqui. Não é novidade nenhuma e acho que todos os presentes sabem disso.
Houve um silêncio constrangedor na sala. Ninguém falava nada e parecia que todos tinham paralisado ao olhar para a Sarah de boca aberta. Foi a professora que quebrou esse encanto, ao mexer-se desconfortável e murmurar:
- Mas a menina disse...
- Vamos ser francas. – Disse a Sarah começando a indignar-se. - Se o seu tão estimado dom diz-lhe que o Albus vai morrer não é dom nenhum! É só a ordem natural das coisas.
- Eu sou uma professora!
- E o que é que tem? Não é por isso que vai deixar de morrer. Por isso, faça-me um favor, não assuste um aluno ao dizer tão bruscamente que ele vai morrer. Porque se ele tem alguma certeza na vida, é que como nasceu vai morrer!
Ela ainda olhou mais uma vez a professora à espera de reacção, mas como ela ficou como todos os outros alunos, paralisada no local, ela virou-lhe as costas e foi sentar-se numa mesa que estava encostada à janela observando a professora. Os alunos aos poucos começaram a movimentar-se e a comentar baixinho o que viram, fazendo com que houvesse um incomodo barulho na sala.
- Sarah, estás doida? – Sussurrou o Albus que tinha se sentado ao seu lado.
-Eu detesto quando as pessoas se fazem passar por coisas que não são! – Sussurrou também irritada. – Quanto é que queres apostar que ela ia adivinhar uma morte horrenda?
- Mas ela pode mesmo ter o dom. E se...
- Ela estivesse a prever alguma coisa? – cortou-o a Sarah. – Poupa-me Potter! -
Disse definitivamente irritada.
- Ele pode ter razão. – Impôs-se a Rose, sentando-se ao lado do Albus. – Ela é uma professora e tu faltaste-lhe ao respeito.
- Eu só disse a verdade. Ou vais-me dizer que não?
- E-eu...
- Tu também não, Rose! – Disse começando a elevar o tom da voz. – Tu sabes como eu que todos havemos de morrer. Eu só constatei o facto.
- Pois, mas disseste de uma forma.
O burburinho na sala aumentou fazendo despertar a professora que se virou ameaçadoramente para a Sarah que nem pestanejou ao ver isso.
- A tua aura. A tua aura é uma aura negra!
- Está a dizer a verdade professora? – Disse pela primeira vez demonstrando receio.
A professora sorriu ao ver o efeito que as suas palavras tiveram.
- Sim. Eu consigo ver.
- Ah! – Murmurou desgostosa. – E isso apega-se?
A professora piscou surpreendida e perguntou incrédula:
- Co-como?
- Imagine que... hum... Por exemplo, ele tem uma aura cor-de-rosa – disse apontando para o Albus o que fez a turma rir e ele lançar-lhe um olhar ameaçador. – Isto é... Ela – Disse apontando para a Rose – tem uma aura cor-de-rosa e eu negra, não é por isso que ela ia ter uma aura mais negra, pois não?
A professora arregalou tanto os olhos que parecia que se ela abrisse mais um pouco os olhos, eles saltariam.
- O QUÊ? Que disparate, menina! É a coisa mais absurda que eu ouvi. É...
- Ah, professora. – Chamou cautelosa. – Então qual é o problema? Não afecta as outras pessoas, logo não há problema!
- Uma aura negra é muito perigosa. Quer dizer que tens um longo caminho pela frente e... – Mas não pode acabar outra vez, porque foi interrompida outra vez pela Sarah que murmurou cínica.
- Que bom, não? – Ela viu o olhar da professora espantado e teve que se conter para não rir. – Quer dizer que vou viver muito, afinal tenho um caminho llllllloooonnnggo. – E não se conteve e sorriu para a professora que só faltava deitar fumo pelas orelhas, tal era a sua irritação.
- A menina não percebe. Uma aura negra é...
- Ó professora não se preocupe. Eu até gosto da cor negra, imagine que era cor-de-laranja florescente? Era muito pior!
A turma riu com aquele comentário e a professora bufou, definitivamente irritada.
- A menina está a desrespeitar-me! São menos 10...
- Professora! – Interrompeu-a a Sarah, fazendo a sua maior cara de inocente. – A professora é uma professora justa e calma, logo deverá ter consciência que esta é a minha primeira aula e eu não a desrespeitei.
- Aí não?
- Não! Eu simplesmente expus a minha opinião e pelo que eu me lembro, não a desrespeitei. – Disse inocente. – Mas se foi isso que eu dei a entender, sinceramente, não era a minha intenção.
- Mas...
- Professora, eu sou uma aluna do primeiro ano, na sua primeira aula. É normal eu dar erros. É por isso que eu estou aqui, para aprender.
A professora ainda olhou mais uma vez para ela, antes de lhe dar as costas e dar a aula fingindo que a Sarah não existia.
Finalmente, a aula acabou e mal saíram da torre e se dirigiam para a sala de Defesa, o Albus inquiriu curioso:
- Como é que te conseguiste safar?
- Fácil. Dizes à pessoa o que ela espera ouvir e manipulas de forma a que a pessoa tenha que concordar o que tu dizes. – Ela calou-se de repente, notando que tinha dito mais do que queria ao ver os olhares espantados deles. Para desviar o assunto perguntou. – Como é que se chama mesmo a professora de Defesa?
- Stella Walles. – Respondeu a Rose. – Porquê?
- Por nada. – Falou distraída. – È só que esse nome não me é estranho.
- Se calhar ouviste do teu irmão. – Falou o Albus.
- Claro! Achas mesmo que o John ia falar de uma professora? Só se fosse para dizer que partida tinha feito nessa aula.
- É. O meu irmão só me falou de Hogwarts porque neste verão eu fiz um interrogatório completo. Ele disse-me que esta professora era esquisita e tinha o dom de por em castigos os alunos pela mínima coisa.
- Se calhar a mínima coisa para ele, era uma grande coisa para os restantes alunos. – Disse a Rose que conhecia bem o seu primo.
Ele deu de ombros e disse indiferente:
- Existe uma grande probabilidade de ser isso.
Eles chegaram à sala de aula e a porta estava entreaberta. A Sarah que era a que estava à frente parou de repente, fazendo com que o Scorpius e o Albus que vinham atrás batessem bruscamente contra ela.
- Porque é que paraste? – Perguntou o Albus ligeiramente irritado.
- Sinistro. – Limitou-se a dizer a Sarah entrando de seguida.
Quando ele levantou os olhos reparou no que ela quis dizer. A sala estava completamente escura, tendo só uma pequena claridade de algumas velas que estavam acesas para mostrar as mesas. A pouca claridade também dava para ver uns quadros que estavam pendurados nas paredes, onde as pessoas eram atingidas por feitiços e sofriam as suas consequências. Em cima da secretária da professora só dava para ver o contorno dos estranhos objectos que estavam em cima dela, dando mais um ar sinistro à sala. Quando observou outra vez a sala sentiu um arrepio, mas decidiu entrar ao ouvir a Rose resmungar atrás dele.
Ele sentou-se ao lado da Sarah que para não variar estava sentada na mesa junto à janela. Ao seu lado sentaram-se o Scorpius, a Rose e a Susan. Tiveram uns instantes em silêncio ainda a observar aquele estranho ambiente, até que ouviram um “TOC-TOC” próprio, que demonstrava que vinha alguém que usava saltos altos. Entrou com passos rápidos uma mulher na idade dos 30, alta, com cabelos castanhos e olhos negros que com um gesto rápido da varinha fez as cortinas grossas que tapavam as janelas abrirem-se permitindo a entrada de luz natural. A luz ofuscou os alunos que tiveram que piscar até se habituarem à claridade. Ao observarem outra vez a sala, não parecia a mesma, tendo agora um aspecto mais simpático. As velas apagaram-se, os objectos que estavam em cima da mesa desapareceram e podia-se ver a cor das paredes, que eram brancas. A sala agora mostrava-se completamente igual às outras.
- Vou vos dar um aviso – disse aparentemente mal-humorada – não entrem na minha sala quando eu não estiver presente. Imaginem que eu tinha aqui um bicho que os alunos do sétimo ano têm que se defender, vocês iriam se magoar. – Ela suspirou e quando voltou a olhar os alunos todo o mal humor pareceu desaparecer ao sorrir. – Bem, como devem de saber eu sou a professora Stella Walles e vou ser a vossa professora de Defesa Contra a Magia Negra. Nas minhas aulas vocês podem e DEVEM de dar a vossa opinião sobre a matéria, mas estão desde já avisados que qualquer falta de respeito vai ter consequências. – Disse ríspida. – Depois não digam que eu não avisei. – Ela olhou para os alunos atentamente e parou por segundos ao observar aquele estranho grupo constituído por um Malfoy, uma Weasley, um Potter, uma Franklin e ainda uma aluna de descendência Muggle. – Vocês este ano vão dar...
Ela falou até ao fim da aula sobre o que iriam dar, a importância da disciplina e o seu método de dar aulas.
- Vou gostar desta aula! – Disse o Albus bem-disposto ao sair da sala. – Ao contrário de Adivinhação. – E fez uma careta ao lembrar-se da aula.
- Não sei não. – Disse a Rose cautelosa. – Não ouviste a professora? Ela vai seguir o seu próprio programa. Ela devia de dar o do Ministério!
- Porque discorda! Ela só quer que nós aprendamos o básico para nos sabermos defender. – Defendeu-a o Scorpius.
- E se esses feitiços forem demasiado difíceis?
- Então é bom. – Pronunciou-se pela primeira vez a Susan. – Ficamos bem preparados e sabemos mais.
A Rose suspirou e olhou esperançosa para a Sarah que tinha sido a única que ainda não tinha dito nada. Mas ela continuou o seu caminho silenciosa, aparentemente alheia aquela discussão.
- Hey Sarah! – Uma voz masculina chamou atrás deles.
Todos olharam para trás curiosos e ao verem quem era o Albus bufou maldisposto.
- Olá Mike.
Ele olhou para as pessoas que a acompanhavam e perguntou:
- Podemos ir falar para outro lugar?
- Claro. – Disse dando de ombros e preparando-se para ir com ele, mas viu que os outros continuavam a olhar para ela à procura de uma explicação. – Eu vou ter com vocês depois no salão.
O Mike conduziu-a em silêncio pelos corredores até parar num do segundo andar.
- O que é que querias dizer?
- E-eu – começou aparentemente receoso – e a Angelina achamos que não devias de seguir o exemplo do John. Tens que agir de forma diferente.
Ela ergueu as sobrancelhas curiosa.
- Agir diferente? Como assim?
- Tu sabes... O teu irmão está a ser parvo ao fazer amizade com o Potter.
- Tu não sabes o que eu sei ou deixo de saber. – Observou calmamente observando a reacção dele.
Ele suspirou e continuou.
- O que eu quero dizer é que tu não deves de fazer amizade com o Potter ou com a Weasley!
- Mas com o Malfoy posso? – Perguntou curiosa.
- Sim... – Disse receoso.
Ela olhou em volta e depois virou-se outra vez para ele.
- Porque é que a Angelina também não veio dizer o que eu devo de fazer?
- Ela foi com umas amigas para o salão. Não quis esperar.
- Imagino o porquê. E tu não foste com os teus amigos?
- Eles podem andar sem mim.
- Está bem. É tudo?
Ele olhou para ela chocado.
- Vais fazer o que te disse?
Ela sorriu e respondeu antes de voltar as costas e ir-se embora:
- Logo vês.
*****
- Hogwarts está a ser espectacular. – Disse o Albus sentando-se e servindo-se.
- Hogwarts é espectacular. – Disse uma voz atrás dele.
- Concordo perfeitamente. – Disse outra voz.
- Ah, olá James e John.
- Aprende uma coisa Albus, Hogwarts é especial.
- Isso eu sei. – Concordou indiferente.
O James olhou para ele desiludido e disse convictamente:
- Hogwarts é um paraíso. Nós podemos fazer tudo o que quisermos porque não temos os nossos pais.
- Aí sim? E quando somos apanhados?
- Usas essa coisa que se chama de cérebro… embora eu duvide que tenhas um, mas de qualquer maneira, arranjas uma desculpa.
- Isso não é assim tão simples.
- Aí não? – Ele já mostrava sinais de irritação. – Pensa! Podemos divertir-nos, fazer partidas, beber, podemos fazer tudo porque não temos os nosso pais.
- Não lhe ponhas ideias! – Cortou-o a Rose.
- ARRE, vocês são uns chatos.
- A Sarah? – Perguntou o John olhando em volta à procura dela.
- Não sabia que eras um irmão tão ciumento. Assim até me dás pena da tua futura namorada.
- Não é isso... Mas pensando nisso... – Disse com um sorriso brincalhão. – Quando a minha irmã tiver um namorado, bem que ele pode sofrer um bocado. Aquele feitiço que aprendemos... Hum, é uma boa ideia.
- Tenho pena do pobre coitado.
- Não tenhas. Mas posso estar descansado, ela não quer relacionamentos. – O seu olhar mudou virando-se para os alunos do primeiro ano. – Ela não foi ter com a Angelina, pois não?
- Não. – Disse o Albus chateado. – O Risson chamou-a para falar com ela.
- Já sabes quem é o futuro azarado. – Festejou o James.
- O Mike? – Perguntou não ligando ao James.
- O próprio. – Disse azedo.
O John ergueu uma sobrancelha divertido.
- Tu não gostas muito dele, pois não?
- E tu gostas? – Respondeu ainda chateado.
O John gargalhou divertido e virou-se para o James.
- Parece que se tiver que amaldiçoar o Mike vou ter ajuda.
- Não é preciso ajuda. – Disse o James animado. – O tio George deu-me um produto simplesmente genial.
- Tens que me mostrar! – Um sorriso maroto formou-se na sua cara e completou. – O Mike que se prepare.
- Não é preciso ninguém se preparar. – Disse a Sarah se sentando. – Se eu descubro que fizeste alguma coisa....
- Está bem. – Disse levantando as mãos rendendo-se. – Eu porto-me bem maninha.
- Ih. O John com medo da irmã. – Riu-se o John. – Este ano vais portar-te bem Johny.
- Cala-te James! – Murmurou entre dentes para divertimento do James.
- É tão bom ver-te com uma coleira. – Continuou a gozar o James, mas para sua surpresa a Sarah que até então estava a almoçar descansada começou a rir descontroladamente e o John ficou vermelho de vergonha mandando-lhe um pontapé por debaixo da mesa.
- Desculpem. – Disse a Sarah corada tentando conter-se. – Lembrei-me de uma piada.
- Pois Sarah! – Rosnou o John. – Tu és a última pessoa que pode falar das minhas partidas, pois nem eu comecei o ano tão bem.
Ela olhou confusa para ele.
- Eu até te perguntava o que queres dizer com isso, mas pela tua cara vai sair porcaria, por isso é melhor não.
- Pois é! – Comentou o James ainda alegre. – Ó Albus tens que aprender algumas coisas com ela.
Ele juntou as sobrancelhas confuso e olhou para o irmão.
- O que queres dizer com isso?
- Que ela deu uma lição à professora Trelawney.
- Pois foi! Estou muito orgulhoso de ti maninha. – Disse o John piscando-lhe um olho.
Ela olhou furiosa para os alunos do primeiro ano que se encontravam sentados na mesa.
- Quem foi o... o parvo que lhe disse?
- Eu não! – Disseram rapidamente eles.
Ela desviou a sua atenção para o James e o John que sorriram amarelo.
- Sabes Sarah, - começou cauteloso o John conhecendo o génio da sua irmã – não é muito normal uma aluna do primeiro ano dar uma lição a uma professora e safar-se. Ainda mais quando essa professora é a nossa adorada Trelawney. Não sei porque mudaram as aulas, antigamente só se tinha Adivinhação no terceiro ano. – Desabafou ele.
- Muito obrigado pela informação John, mas não era isso que eu queria saber! – Resmungou ela.
- Bem, como eu ia dizer não é muito normal e tu sabes como os alunos do primeiro ano são. No intervalo não se falava de mais nada.
Ela olhou em volta e para seu transtorno viu que quase todos os alunos olhavam de esguelha para ela.
- Malditos fofoqueiros. – Murmurou entre dentes servindo-se de um bocado de comida só para ter algo com que se distrair.
- Mas sinceramente, - sussurrou o John – O que te deu?
- Tu conheces-me, – murmurou irritada consigo mesmo pela sua actuação – eu odeio quando as pessoas se fazem passar por algo que não são, e, quando ao fazerem isso inventam um destino a alguém, eu não me consigo controlar.
Ele sorriu compreensivo, mas a sua atenção foi desviada para a conversa, ou melhor, discussão entre o Albus e o James.
- NÃO! – Gritava o Albus descendo depois o tom ao ver olhares curiosos para ele. – Existem regulamentos James e eu vou cumpri-los!
- Vá lá. – Incentivava o James. – Pergunta à Rose, eu tenho razão, não tenho?
- Claro que não! E se formos expulsos?
- Eu nunca fui expulso, nem apanhado.
- Tiveste sorte, grande coisa...
- Rose não sejas assim. Al, se te juntares a mim, eu dou-te uma das coisas que eu roubei ao pai.
- Como assim ROUBAS-TE?
- Não sejas escandaloso. Assim, pareces uma galinha esganiçada.
O Albus corou violentamente, mas mesmo assim murmurou entre os dentes:
- Eu não vou fazer nada. Vou ser um aluno exemplar!
O James revirou os seus olhos castanhos chateado.
- Eu dou-te a capa de invisibilidade. Já não preciso dela e assim já não és apanhado.
- TU ROUBASTE A CAPA DE INVISIBILIDADE?
- Eu não roubei. – O irmão mandou-lhe um olhar tão mal-humorado que ele viu-se na obrigação de continuar. - Eu só pedi emprestado, sem a parte do pedir. – E sorriu amarelo para ele.
- Eu... tu...
- Não te preocupes. Eu acho que o pai sabe. Ou achas que ele não deu por ela? Não lhe faz falta.
- E o que é que pediste mais emprestado, sem a parte do pedir? – Perguntou ainda irritado.
- Só mais de umas coisinhas. Mas dessas eu ainda preciso. Então aceitas?
- NÃO!
O James resmungou qualquer coisa e depois virou-se para o John com um sorriso esperançoso.
- Queres trocar de irmãos?
- Não! Eu gosto muito da Sarah. – E abraçou-a.
A Sarah só fez uma careta ao ver aquilo e continuou a almoçar descansada. Ela observou quando o Mike entrou no salão altivo e se dirigiu para a mesa dos Slytherin, sentando-se ao lado da Angelina que estava ao lado do Richard.
- O que é que vamos ter? – Perguntou distraída.
- Herbologia. – Respondeu a Rose.
- Porreiro! Com o Neville.
- Professor Neville, Albus! – Cortou-o o James revirando os olhos.
****
Ele deitou-se no sofá cansado. Tinha tido uma semana cansativa. Tudo de novo, amigos, professores, a escola. Suspirou e lembrou-se da aula de voo. Tinha havido confusão devido ao professor, Wood, conhecido por ter sido um importante jogador de Quiddich. Os alunos começaram a atropelar-se uns aos outros para o ver, o que causou a confusão, mas no geral até tinha sido divertida. Nesse mesmo dia, eles tinham ido ver o Hagrid e levou os seus novos amigos. Tinha sido divertido ver o meio gigante arregalar os olhos espantado ao ver o Scorpius e foi confortante ter algo relacionado a casa no Universo novo que era Hogwarts.
- Albus! – Chamou-o uma voz.
- Hã? – Perguntou abrindo vagarosamente os olhos que se queriam fechar e abrindo a boca num bocejo. – Que foi James? – Perguntou cansado.
- Toma! – Disse lhe entregando um embrulho.
- Que é isto? – Perguntou só querendo ir para a cama dormir.
- O manto de invisibilidade. – Disse simplesmente.
- Eu já te disse...
- Eu sei! Mas olha, eu estive a pesquisar e...
- Tu! – Riu-se o Albus. – Pesquisar? Deixa-me rir.
- Eu ESTIVE A PESQUISAR e nosso pai, o nosso avô, o nosso bisavô,...
- Sim, o que é que eles têm?
- Aprontaram.
- Aprontaram o quê? – Perguntou, agora definitivamente, aborrecido e cansado.
- Simplesmente aprontaram. Não se importaram com as tuas tão sagradas regras. Queres ser o diferente?
Ele sabia o ponto fraco do Albus, o medo de ser excluído e viu isso como o que lhe ia dar o que queria. Só precisava o explorar.
- Não acredito... O pai...
- O pai como um bom Potter que se preze também não se importou com as regras. Queres ser o renegado da família?
O Albus bufou chateado:
- O que é queres que eu faça? Comece ai a enfeitiçar todas as pessoas que me aparecerem à frente?
- Não! Percebeste tudo errado! É só preciso que tu não te importes com as regras e se precisares por alguém no seu lugar, pões. E claro, às vezes fazeres propaganda aos produtos do tio George.
O Albus observou a capa e perguntou:
- Isto não faz falta ao pai? Pode precisar no trabalho.
- Ah, não. Ele com um simples feitiço fica invisível. Ele não precisa disso para nada. Então aceitas?
Ele observou o irmão. Porque não? Qual era o problema de se divertir quando ainda estivesse inserido dar uma lição aquele menino dos pais?
- Pode ser. Desde que uma das vitimas seja o Risson.
O James riu e preparou-se para ir para os dormitórios.
- Claro. Mas o John tem razão, tu realmente não gostas dele. – O seu semblante tornou-se mais sério. - Olha eu vou mandar uma carta ao tio George, por isso não te admires se ele te mandar algumas coisinhas. É para serem experimentadas e tu não pagas nada. Não é o melhor tio do mundo?
O Albus observou o James ir embora e observou a capa nas suas mãos. Ela até lhe ia dar jeito. Ficar invisível! Sorriu ao pensar no que podia fazer agora, mas o seu cansaço foi maior e dirigiu-se para o dormitório onde já alguns alunos dormiam.
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