Capítulo 6





A mãe dele? Mais problemas
! Ginevra e o príncipe trocaram olhares assustados.


—  Só um minuto — ele disse à mãe. Depois, virando-se para Ginevra: — Esconda-se.


—  Onde?


Ele olhou para o banheiro e para outra porta.


— Se minha mãe a encontrar aqui...

      Provavelmente, a bela princesa Lilian não entenderia o motivo de Ginevra estar no quarto do príncipe, altas horas da noite, e ainda, vestindo a blusa do pijama dele.


Desistindo do banheiro e do closet, ele abriu a porta do armário.


— Entre — ordenou ele.

Ginevra hesitou.


— Aí?


— Harry? — a princesa Lilian chamou-o. — Preciso falar-lhe imediatamente.


Ele ficou tenso. Sem pensar mais, Ginevra entrou no ar­mário e ajeitou-se entre as camisas penduradas nos cabides. O príncipe Harry pegou o vestido dela e entregou-lhe. Depois, fechou a porta do armário, deixando-a na escuridão.


— Não esqueça meus sapatos, Alteza — avisou-o.


— Harry? Abra a porta — ordenou a mãe dele.


Harry despenteou os cabelos, desarrumou os lençóis e em­purrou os sapatos de Ginevra para debaixo da cama antes de abrir a porta.


—  Boa noite, mãe.

     Lilian entrou no quarto.


— Espero não ter interrompido nada.


— Não. Eu estava na cama.


— Sozinho? — Ela se voltou para olhar a cama dele.


A pergunta não merecia resposta. Ela sempre se mostrava decepcionada quando descobria que não havia mulher nenhuma no quarto do filho.


— Pensei que já estivesse dormindo, mãe.


— Como poderia dormir? Quero saber o que está acontecendo, Harry. — Atravessando o quarto, ela abriu a porta do banheiro. — E não me diga que dispensou os convidados por causa do ataque cardíaco de seu tio. Sei que ele fingiu.


— Ele não fingiu. — De repente, Harry notou a ponta de um dos sapatos de Ginevra visível sob a cama. — Tio Sirius teve uma pequena indigestão.


— Ele estragou sua festa.


Enquanto a princesa relanceava os olhos pelo closet, Harry aproveitou para chutar o sapato mais para debaixo da cama.


— Ele pensou que estava sofrendo um ataque do coração, mamãe. Certamente a saúde dele é muito mais importante do que uma festa.


— Mas o anel... — Ela fechou a porta do closet. — Havia tantas moças adoráveis. Eu tinha esperanças de que você a encontrasse esta noite.


— Sinto muito tê-la desapontado.


— Você não tem culpa se o anel não serviu em nenhuma mulher, ou se a festa foi interrompida.


— Parece que o destino está tramando contra mim.


Definitivamente, estava. Um pedaço de tecido verde, o ves­tido de Ginevra?, aparecia por baixo da porta do armário. A mãe dele não notara. Ainda.


— Eu só queria que você conhecesse o mesmo amor e a mesma felicidade que a Lenda do Anel proporcionou à mim e ao seu pai.


— Felicidade, mamãe? — Harry não acreditava no que ouvia. Ele se aproximou do armário. Num gesto bem natural, encostou-se nele e, com o tornozelo, escondeu o pedaço de tecido. — Nestes últimos dez anos, você não faz outra coisa se não usar roupas pretas e guardar luto por ele.


— Eu sinto muito a falta dele, meu filho. Não esqueça que foram vinte e um anos de alegria e felicidade, até ele morrer. As lembranças ficarão comigo para sempre, e eu só tenho que agradecer ao anel por tanta ventura.


Harry não acreditava que o anel trazia felicidade e amor verdadeiro, por mais que a mãe afirmasse o contrário. Bastava olhar para ela, ouvi-la... Ela falava como se tivesse morrido também. Era como a princesa vivia, desde a morte do marido. Harry atribuía tanta tristeza à Lenda do Anel.


— Por que não viver essa alegria novamente, mamãe? Você pode se apaixonar e tornar a casar-se.


A princesa se aproximou do filho, e do armário, e o sorriso dela desapareceu.


— Depois do amor que seu pai e eu vivemos... Jamais poderia compartilhar meus sentimentos com outra pessoa. Nem quero tentar. Tudo o que eu quero, Harry, é que se case e que tenha muitos filhos.


Ele sabia o quanto sua mãe desejava que ele se casasse para dar-lhe os tão sonhados netos, e principalmente, o herdeiro do trono de San Montico. Só de falar sobre a lenda e o baile de aniversário, o brilho voltara para os olhos da princesa. Ago­ra, já se apagara.


Completamente.


Que espécie de filho era ele, colocando suas vontades acima dos desejos e anseios da mãe? Harry não queria saber a resposta.


— Onde está o anel?


Entre a própria felicidade e a dela, Harry hesitou. Bastava mostrar o anel no dedo de Ginevra. Sua mãe exultaria, e ele...


Não, ele não podia. Se ele cedesse e casasse por conta da lenda, iria se arrepender pelo resto da vida. Tinha que romper os laços da família Potter com a Lenda do Anel. Não só por ele, mas também pelas gerações futuras.


A procura por uma esposa ensinara-o que "amor verdadeiro" e "felizes para sempre" só existiam em contos de fadas e fantasias. Nem mesmo um anel encantado poderia mudar a realidade.


—O anel está com você, meu filho?


—Não. Está com Ron. — A mentira saíra com facilidade.


—Bem, pelo menos, poderei usá-lo de novo.


—Não.


Os olhos verdes da princesa estreitaram-se.


—Você não quer que eu o use?


Harry fora muito rude. Odiava desapontar a mãe. A última coisa que desejava, era magoá-la. Ela era a única mulher que o amava pelo que ele era, simplesmente seu filho. O título não importava, nem os defeitos dele.


— Muitas mulheres o experimentaram, mamãe. Gostaria de mandar limpá-lo, antes.


A ternura nos olhos dela fez com que Harry engolisse o terrível sentimento de culpa. Ela acariciou o rosto dele.                                                            


— Você sempre pensa em tudo, meu filho. Como seu pai.        


 

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