Capítulo 5





O príncipe Harry não disse uma palavra, mas Ginevra podia notar, sentir a diferença. Du­rante o banho, ele se transformara no príncipe encantado que ela conhecera no imenso hall, o príncipe sensual que balançara seu coração.


Ele saiu do banheiro e parou no meio do quarto. O sorriso irresistível, o olhar cheio de ansiedade e desejo. O olhar pe­netrava, acariciava, fazendo-a sentir-se uma mulher desejável.


E Ginevra ressentiu-se por isso. Ressentiu-se pela fraque­za, pela própria vulnerabilidade.


Mas não podia evitar essa sensação.


O homem poderia conquistar o coração de qualquer mulher, se ele se dispusesse a isso.


Não o coração dela.


Com toda sinceridade, ela preferia a cara feia de Sua Alteza, em vez da linha sensual que curvava os lábios dele.


Lábios feitos para mordiscar, para saborear, para beijar.


Calma!, pediu a si mesma. Eram apenas lábios. Lábios reais com os quais ela não queria absolutamente nada. E daí que sua odiosa personalidade não diminuía seu sex appeal?


Não estava interessada. E ponto final.


Se ela afirmava não estar interessada, devia acreditar nisso. Não que isso tivesse importância. Claro que não. Ela estava apenas exagerando, permitindo que a imaginação e os hormônios corressem à solta.


O príncipe não lhe propusera nada. Na verdade, não dissera nenhuma palavra. Ele estava brincando. Sim, era isso. Ele brincava, para provocar-lhe uma reação. Aquele olhar convi­dativo não significava nada. Absolutamente nada.


Além do mais, o príncipe Harry não gostava dela. Estava muito bravo, isso sim. Afinal, aquela moça estava usando o anel dele. Talvez, não usando exatamente, mas o anel estava no dedo dela.


O sorriso dele se alargou, realçando as linhas ao redor dos olhos. Aparentemente, esquecera-se do anel. Insanidade tem­porária. Ou...


Não, não podia ser.


Mas ele estava olhando para ela, sorrindo. Um sorriso se­dutor capaz de fazer qualquer mulher desmaiar. Talvez ele quisesse tocá-la, beijá-la, fazer amor com ela.


Talvez estivesse mesmo exagerando nas fantasias. Ou, quem sabe, tivesse alguma coisa no rosto. Ginevra tocou a própria face.


—  Alguma coisa errada, Alteza?


—  Não. — Harry deu um passo à frente.


 Ginevra engoliu em seco, sentindo-se completamente des­locada. Principalmente com o príncipe vestindo apenas a calça do pijama! A calça de seda verde aguçava-lhe a imaginação, e a curiosidade também. E o que estava à mostra, era sim­plesmente estonteante. Os ombros largos, o peito musculoso, os braços rijos.


O típico homem vaidoso. Saltitando pelo quarto como um bailarino. Certo, parado, não saltitando.


—  Não vai vestir a blusa do pijama?


—  Você a está vestindo — disse ele.


A intimidade de partilharem um pijama, algo que ela ima­ginava que aconteceria apenas quando se casasse, provocou-lhe um estremecimento.


Ela não devia pensar assim. Não ali, fechada num quarto com um príncipe atraente e seminu. Ginevra cruzou os braços e afastou-se da cama.


Da cama dele.


Mostre-lhe o anel. O sorriso dele desaparecerá. O desejo es­tampado nos olhos dele também.


Mas ela não conseguiu mover-se. Parecia enfeitiçada, hip­notizada pelo olhar penetrante do príncipe, por seu incrível físico. Queria tocá-lo, ver se era de verdade.


Harry deu mais um passo na direção dela.


— Seda fica-lhe muito bem, Ginevra.


Um cumprimento? O pulso bateu mais forte. Ela recuou e bateu as costas na parede. Estava acuada. Não tinha como escapar. Deveria estar preocupada, muito mais do que estava.


— Obrigada, Alteza.


As palavras saíram enrouquecidas. Nada do tom de voz nor­mal. O que havia de errado com ela? Nervosismo? Ela umedeceu os lábios secos.


— Quando estivermos a sós, pode chamar-me de Harry.
     Harry? Ela não devia. Não podia.


Ele venceu a distância entre ambos. As pulsações de Ginevra bateram o recorde de velocidade. Ela olhou para a cama, depois novamente para o príncipe.


— Onde... hum... onde devo...


Faltavam-lhe palavras. A proximidade a deixava muda.


— Onde você deve dormir? — Harry completou a pergunta.
       Ela confirmou com um gesto de cabeça, não confiando na própria voz. Não confiando nela mesma.


Os olhos dele cintilavam de prazer antecipado.


— Onde você gostaria de dormir?


A pergunta era delicada. A resposta poderia envolvê-la em outros, e maiores, problemas. Ginevra encolheu os ombros, contendo-se para não estremecer ao vê-lo chegar mais perto.


— A cama é bastante grande para dois.


Não, não era. Só o que lhe faltava para transformar sua viagem a San Montico num desastre completo, era acordar envolta nos lençóis, pernas entrelaçadas nas dele, cabeça re­costada no peito nu.


O pai dela recomendara obediência ao príncipe Harry, mas Ginevra duvidava que era isso o que ele tinha em mente. Pressionou as mãos suadas contra a parede.


Com o canto dos olhos, ela procurou um caminho para es­capar. Não viu nada, além de duas poltronas de couro diante da lareira. Tinham que servir.


— Quanto à questão da cama, Alteza, posso dormir numa daquelas poltronas ou no chão.


— No chão? — Príncipe Harry riu. — Seria desconfortável demais. Certamente, há soluções melhores.


Ginevra passou por ele e caminhou até as poltronas.


— Ficarei muito bem, Alteza. Você... oh, desculpe-me. Sua Alteza não acredita nos lugares que em já me deitei... isto é, em que dormi. — Precisava manter a boca fechada antes de falar alguma bobagem. Fingiu um bocejo. — Estou muito cansada.


—  Se está tão cansada, que diferença fará se dividirmos a cama?


—  Muita diferença — ela afirmou rápido demais. — Não, eu quero dizer...


—  O que você quer dizer, Ginevra?


O nome fluía dos lábios dele com um leve sotaque francês. A maneira como Harry pronunciava o seu nome era adorável. Não. Detestável, na verdade.


—  Eu me reviro muito na cama. E ronco.


—  Foi Francis quem lhe contou?


Ginevra comprimiu os lábios. Sentia o rosto ardendo. O príncipe Harry sorriu do embaraço dela. Uma leve batida na porta salvou-a de um constrangimento maior.


—  Quem é? — Harry perguntou com impaciência.


—  Sua mãe.


 

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