Capítulo 4



Ginevra parou diante das majestosas portas duplas do quarto do príncipe, o coração ba­tendo na garganta. O príncipe, o anel de noivado, o quarto. Oh, céus! O quarto. O quarto do príncipe. Ninguém acreditaria no que estava acontecendo. Talvez a família dela, absolutamente mais ninguém. Ginevra beliscou o braço para certificar-se de que não estava sonhando.


O príncipe Harry adiantou-se para a abrir uma das portas.


— Entre e espere-me aí dentro.


— Alteza... — ela começou, depois hesitou.


O olhar de superioridade dele deixou-a pouco à vontade.


— O que foi, srta. Weasley?


Ginevra não tinha sangue real, mas era uma Weasley. Endireitando o corpo, obrigou-se a fitá-lo nos olhos.


— Lamento ter estragado seu aniversário.


— Entre. — Com a mão nas costas de Ginevra, conduziu-a para dentro do quarto. Evidentemente, ele nem prestara atenção no pedido de desculpas dela.  — Não toque em nada e fique longe das janelas.


Ela se conteve para não perguntar se deveria entrar des­calça, para não macular o carpete. De nada adiantaria irritá-lo ainda mais.


— Sim, Alteza.


— Tenho que voltar à festa. Creio que meu tio está sofrendo um ataque cardíaco.


Ataque cardíaco? Ginevra abriu a boca, mas a voz morreu na garganta. O príncipe Harry saiu do quarto, fechando a porta. Ginevra tentou abri-la, mas estava trancada à chave.


Ela estava presa no quarto do príncipe. Sozinha.


Um ataque cardíaco? Certamente era brincadeira do príncipe. Ou seria verdade? Ginevra olhou para as mãos enluvadas.


O anel. Só podia ser por causa do anel.


Respirou fundo, soltando-a devagar e ruidosamente. O que ela provocara dessa vez? Ataques poderiam ser fatais. Apertou as mãos, desesperada. O marquês era um homem tão simpático, tão encantador. Bem diferente do sobrinho, príncipe Harry.


Ela se jogou na enorme cama de casal de mogno, ricamente entalhada. Pela janela aberta, entrava uma brisa suave, en­chendo o quarto com o cheiro de mar. Mas o ar fresco não amenizava seu sentimento de culpa.


A culpa era dela.


Deitada na cama do príncipe, ela ajustou as luvas para não caírem. Durante toda sua vida, ela quebrara muitas coisas, quase sempre coisas muito valiosas. Era capaz de começar uma guerra, ou uma pequena insurreição, como seu pai preferia considerar.


Depois de um tempo que pareceu uma eternidade silenciosa, ela ouviu o ruído da chave na fechadura. Pulou da cama um segundo antes de abrirem a porta. O príncipe Harry entrou seguido por Ronald e pelo marquês.


O marquês!


Graças a Deus! Ele não morrera. Ginevra correu e abraçou-o.


—  O senhor está vivo!
      O marquês sorriu.


—  Não mais do que antes.


Ela fitou os olhos azuis.


—  Pensei que o tivesse matado.


—  Minha cara Ginevra, posso chamá-la assim?


Ela concordou com um gesto de cabeça, sem afastar os olhos do rosto do marquês. Ele estava vivo. Vivo. Uma lágrima es­correu-lhe pela face.


—  Esta lágrima é por mim? — O marquês enxugou-lhe o rosto com um lenço de linho branco. — Você me faz desejar ser trinta anos mais jovem. Harry, meu felizardo rapaz, você encontrou uma maravilhosa...


—  Por que você mataria meu tio? — perguntou o príncipe Harry, abandonando também o tratamento formal.


—  Sua Alteza me disse que o marquês estava sofrendo um ataque cardíaco. Imaginei que fosse por causa do anel.


Seu coração bateu mais forte.


      O anel. Por um momento, ela o esquecera.


Olhou para o príncipe, esperando ver nele a mesma com­paixão, a mesma sinceridade, que vira no rosto do marquês. Mas o rosto do príncipe mostrava apenas impaciência. Como pudera confundi-lo com um Príncipe Encantado? Nunca ansiara tanto por ter alguém de sua família por perto.


— Onde está meu pai?


O marquês afagou-lhe o ombro, tranqüilizando-a.


— Logo ele estará aqui.


— Tire as luvas — ordenou o príncipe Harry.


— Por favor, meu querido sobrinho — o marquês advertiu-o gentilmente. — Ginevra não é nenhum objeto. Ela será sua...


— Por favor, digo eu, tio Sirius. Se insistir em interferir, pedirei para retirar-se.


— Fingi esse ataque cardíaco para acabar com sua festa e é assim que você me agradece? — O marquês parecia ofendido.


— O senhor fingiu estar tendo um ataque cardíaco? — Ginevra perguntou.


— Sim, minha querida. —Sirius ergueu uma sobrancelha. — Uma performance impecável, diga-se de passagem. Digna de um Oscar.


— Por quê?


O príncipe Harry pigarreou e o marquês suspirou.


— Por que não pergunta à Sua Alteza Sereníssima?


O príncipe não disse nada. Continuou com aquela irritante expressão de superioridade. Ela se desesperara, chorara, acre­ditando que ser a causa da doença do marquês. Merecia uma explicação. Com as mãos na cintura, encarou o príncipe.


— E então? Sua Alteza Sereníssima vai me contar o que está acontecendo aqui?


Ronald e o marquês riram, e o príncipe fulminou-os com um olhar furioso. Depois, olhou para o teto e resmungou algo em francês.


Estúpido e arrogante, isso o que ele é.


Ela poderia ter-lhe respondido em francês também, mas pre­feriu respirar fundo para acalmar-se.


— Alteza, eu não colei o anel em meu dedo. Nem fiz de propósito. Se quiser me dizer alguma coisa, e pode ser em francês mesmo, mas fale olhando no meu rosto, por favor.


O príncipe Harry avaliou-a por um longo momento.


—Você fala francês?


—Fluentemente. — Ginevra adorou a expressão espantada dele. O homem era mesmo orgulhoso. — Quando eu estava na faculdade, estudei em Paris.


—Fala outros idiomas?


—Italiano. Estudei um ano em Florença. — Aproveitando o instante de surpresa do príncipe, Ginevra não se fez de rogada. Ainda que momentaneamente, assumiu o controle da situação. — E espanhol também. Passei oito meses na Espanha, entre Madri e Barcelona.


—Alteza — Ronald interrompeu-os. — Ginevra está esperando sua explicação sobre o ataque cardíaco do marquês.


—Parece que conseguiu dois protetores, srta. Weasley. — O príncipe reassumiu a pose real, mas a veia do pescoço ainda pulsava forte. Ele não era tão frio e controlado como queria que as pessoas acreditassem. — Já que insiste, vou contar. Uma vez que você, descui...


Ronald tossiu.


— Desculpe-me, Alteza.


Pelo olhar do príncipe, Ginevra não teve dúvidas que ele teria estrangulado seu conselheiro, se pudesse. Ronald, porém, não se intimidou, e o príncipe continuou:


—Uma vez que você teve a infelicidade de ter o anel colado em seu dedo, achei melhor que os convidados se fossem, antes que começassem os comentários. Eu precisava de um motivo para acabar com a festa. Então, recorri ao talento do meu versátil tio.


—Já representei Shakespeare — afirmou o marquês fazendo uma reverência.


Ginevra não conteve o riso. Não fora má ideia. E funcio­nara. Ela mesma era favorável a qualquer estratégia apenas para evitar comentários e manter a imprensa afastada. Sua Alteza podia não ser aquele cavaleiro de armadura reluzente, mas era rápido no raciocínio. Talvez ele até encontrasse um meio para saírem daquela confusão.


— Agora que respondi à sua pergunta, srta. Weasley, poderia fazer-me a gentileza de tirar as luvas?


Naquele instante, alguém bateu à porta. Silêncio total no aposento. Ninguém se moveu. Todos olharam para a porta. Nova batida.


Com um gesto quase imperceptível de cabeça, o príncipe autorizou Ronald a abrir a porta.


— É o sr. Weasley — informou ele.


Arthur Weasley entrou no quarto com um sorriso largo. Ginevra calculou alguns segundos para o sorriso desaparecer. Ela escondeu as mãos nas costas.


Querida. — O abraço do pai pegou-a de surpresa. Ele sempre preferira demonstrar seu afeto com presentes caros, nunca com gestos. E esperava vê-lo furioso e não feliz. — Desculpe a demora, Alteza. Mas eu estava telefonando para minha mulher.


Mamãe já sabe, pensou Ginevra desolada.


— Como ela está? — perguntou ela.


— Muito bem.


Bem? Sua mãe? Não, não era possível. Ela só não acompa­nhara o marido a San Montico porque descobrira uma nova ruga ao redor dos olhos. Ato contínuo, marcara uma consulta de emergência, incluindo passagem aérea, com seu cirurgião plástico, em Beverly Hills. Exagero era o nome do meio de Molly Weasley.


— Posso ver o anel, Alteza? — pediu Arthur.


— Se a srta. Weasley tirar as luvas...


— Faça o que o príncipe disse — murmurou o pai dela. — O que quer que ele diga.


— Sim, senhor. — Ela tirou as duas luvas e estendeu a mão esquerda para o pai.


— Interessante. — Arthur tentou girar a jóia. Ginevra esperava pela reprimenda do pai. Esperava que, mais uma vez, ele expressasse seu desapontamento. Em vez disso, o sorriso alargou-se ainda mais. — O anel não está saindo, não é?


— Não, não está saindo, sr. Weasley — disse Ronald.


— Não está saindo — repetiu o marquês.


— Mas vai sair! — O príncipe Harry forçou um sorriso. — O anel não serve para ela.


Os outros três homens trocaram olhares cúmplices, e Ginevra teve a sensação de que era a única a não partilhar de um terrível segredo.


— Gostaria que Ginevra permanecesse no palácio — disse o príncipe.


Diga que não, papai. Diga não.


— É compreensível, considerando as circunstâncias — Arthur assentiu. — Providenciarei para que a bagagem dela seja tra­zida para cá. Discretamente, claro.


O príncipe Harry sorriu satisfeito.


— Sua presença também será bem-vinda, sr. Weasley.
      Fique, papai. Por favor, fique.


— Obrigado, Alteza, mas não será necessário. — Arthur olhou para o anel no dedo da filha e riu. — Tenho que pensar em tantas coisas, que duvido que consiga dormir esta noite.


Finalmente, ele faria alguma coisa. Ginevra suspirou aliviada.


— Não se preocupe. — O pai acariciou-lhe o braço. — Cui­darei de tudo.


Menos mal. Ela não estaria sozinha. Porém, seu pai estava reagindo com muita calma, diferentemente de outras ocasiões em que ela se envolvera em apuros.


— Você não está bravo?


— Um pouco surpreso — admitiu ele. — Mas bravo, não.
      Decididamente, ela era a única excluída do complô. Defini­tivamente, alguma coisa estava acontecendo.


— Meu tio o acompanhará, sr. Weasley — informou o príncipe.


Ginevra queria que o pai ficasse. Queria dizer-lhe o quanto apreciava a ajuda dele. Queria dizer-lhe o quanto o amava. Mas Arthur Weasley não lhe deu chance de dizer nada.


— Durma bem, minha filha. — Arthur beijou-lhe a testa. — Estou muito orgulhoso de você, querida.


Ginevra olhou-o boquiaberta. Durante anos, ansiara ouvir o pai proferindo essas palavras. Tudo o que ela queria, era ser uma boa menina e deixar os pais orgulhosos. Mas as coisas não deram muito certo. Ela acabava sempre envolvida em pro­blemas, mesmo sem querer. O anel colado em seu dedo era o exemplo perfeito. Com exceção de manter o caso longe da im­prensa, qual a diferença entre essa e as confusões anteriores?


Harry não desistia. Ele tentou de tudo, mas nada funcio­nara. Sabonete, loção cremosa, vaselina. O anel continuava firme. Suas ideias sè esgotavam.


E o tempo também.


Já passava das duas da madrugada. Ele não contara nada à mãe, nem ao resto do palácio, sobre Ginevra e o anel. Mas não poderia guardar segredo para sempre. Logo amanheceria, e com a luz do dia, a verdade viria à tona, assim como a notícia sobre o anel e sobre quem o estava usando se espalharia rapidamente.


Se o povo acreditassem que a "magia" do anel escolhera Ginevra para ser a noiva do príncipe, e se ele a desposasse, os costumes e as tradições supersticiosas da ilha se fortaleceriam ainda mais.


A lenda selaria não só o destino dele, mas o de San Montico também. Com ideias arcaicas, como lendas e contos de fadas, San Montico nunca chegaria à modernização e os desejos de seu pai nunca se realizariam. Harry não permitiria que seu país parasse no tempo.


Vasculhando o armário do banheiro, ele encontrou um vidro de óleo.


— Vamos tentar com isto, srta. Weasley.


Retirando a mão de uma vasilha cheia de gelo, Ginevra encostou-se no gabinete da pia.


— Vá em frente, Alteza. E como parece que este anel não vai sair do meu dedo num futuro próximo, pode chamar-me de Ginevra. Você também, Ronald.


Parado ao lado de Harry, Ronald sorriu.


— Ginevra é um nome bonito. Combina com uma princesa.

        Princesa Ginevra? Harry comprimiu os lábios. Ronald e suas piadas! As artimanhas dele não dariam certo. Ginevra não se tornaria sua esposa. Não se tornaria Sua Alteza Sereníssima, princesa de San Montico. Contrariando a lenda, o anel no dedo dela não significava nada. Só ele decidiria quem seria a próxima princesa. E, certamente, não seria Ginevra Weasley.


E com Ronald por perto, demonstrando abertamente sua aprovação, só complicaria ainda mais a situação.


— Deixe-nos, Ronald.


— E o anel, Alteza?


— Eu resolvo isso. — Harry abriu o vidro de óleo. — Você precisa dormir, Ronald. Amanhã, teremos um dia cheio.     


Ronald concordou com um gesto de cabeça.


— Vou preparar um quarto para Ginevra, Alteza.


— Ela fica aqui.


— Aqui?! — Ginevra quase gritou. — Eu não posso dormir aqui.


— Eu não posso dormir aqui, Alteza — ele a corrigiu. — Posso perguntar por quê?


Ela estreitou os olhos.


— Porque este é o seu quarto de Sua Altezal — Ela olhou ao redor. — Onde Sua Alteza vai dormir?


— Aqui, claro! — Harry riu da expressão indignada, do tom surpreso da voz dela.


Ginevra tinha um charme inocente todo especial. Pura en­cenação, ele tinha certeza. As americanas fariam qualquer coisa por um título de nobreza. A ex-noiva o ensinara uma lição valiosa, ainda que dolorosa.


— Ginevra, o anel pertence à minha família há muitas gerações. Há muitos séculos. Prefiro ficar perto dele.


— Sua Alteza pode trancar-me num quarto, numa torre, se quiser, com um batalhão de guardas fortemente armados. Não vou fugir, Alteza. Prometo.


As promessas dela não significavam nada. Além do mais, Harry não poderia correr o risco de manter um guarda na porta do quarto de hóspedes. Sua mãe poderia ver, ou saber pelos empregados, e saberia que alguma coisa estava errada. E se a princesa Lilian descobrisse sobre o anel... No dia seguinte, antes mesmo do anoitecer, os convites de casamentos já teriam sido distribuídos pelos quatro cantos do mundo!


—Você vai ficar aqui. Comigo.


Ela abriu a boca para falar, mas calou-se. Ronald franziu o cenho.


— Alteza...


— Boa noite, Ron.


— Ronald — Ginevra chamou-o. — Obrigada pela ajuda.


— Foi um prazer, Ginevra. Feliz aniversário, Alteza. — Com uma reverência, Ronald saiu do banheiro.


Que aniversário!, Harry pensou contrariado. Uma viagem aos desertos gelados da Sibéria seria bem melhor do que aquilo. Qualquer coisa seria.


Mas ele estava ali, no banheiro, com Ginevra, que usava o anel real de noivado. Se a notícia vazasse, ele estaria casado com a americana em uma semana, no máximo. Casado com uma estranha. Harry segurou com força a mão de Ginevra.


—Ai!


Ele soltou rapidamente a mão. Não deveria ter sido tão rude.


— Eu... eu só queria passar o óleo.


Ginevra encarou-o com as sobrancelhas franzidas. Duas pequenas linhas apareceram na testa, acima do nariz.


— Olhe aqui, eu quero livrar-me deste anel tanto quanto você. — Depois de breve hesitação, ela estendeu a mão. — Besunte-me, Alteza.


Irreverente, mas interessante. Talvez em outra ocasião, em outro lugar. Absurdo. Sabendo ou não, ela envolvera-se com a lenda. Depois que removesse o anel, nunca mais ele queria ver Ginevra Weasley em sua vida!


Inclinando o vidro, ele derramou óleo no dedo delicado. De­pois de colocar o vidro sobre o mármore da pia, começou a espalhar o líquido em volta do anel. As mãos dele engoliram a dela, pequena e delicada. Ginevra estremeceu.


Ela enrubesceu.


— Eu posso fazer isso, Alteza.


— Não. Eu faço.


Harry percebeu um brilho de desafio nos olhos dela. Mesmo assim, ela estendeu a mão. Tanto melhor. Pelo menos, ela sabia obedecer. Devagar, espalhou o óleo pelo dedo todo, prin­cipalmente sobre o anel. Não notara antes as unhas esmaltadas de rosa-pálido. Como sua mãe costumava usar, antes da morte do pai dele.


Mas uma manicure francesa não fazia uma princesa.


— O que é isto? — Ginevra perguntou.


De novo, ela esquecera de dirigir-se a ele como "Alteza".


— Óleo.


Com a mão direita, ela pegou o vidro e leu o rótulo.


— Óleo de massagem?


Ela precisava de uma aula sobre protocolo real.


— Sim.


— Interessante. — Ginevra recolocou o vidro sobre o mármore. — Sua Alteza sempre tem um estoque de óleo para massagem? Ou tivemos sorte esta noite?


Aquela era a mulher mais irritante que ele já conhecera. Impassível, ele continuou friccionando o dedo.


— Foi um presente.


— Eu tinha certeza.


Ignorando o tom irreverente, Harry procurou lembrar-se de que ela era americana, que não estava habituada às for­malidades da aristocracia real. Ele tentou tirar o anel, mas este continuava tão firme quanto uma rocha. Recusando-se a desistir, ele derramou mais óleo. Seus dedos deslizaram sobre os dela, o atrito das peles aquecia o óleo espalhado entre as mãos de ambos.


Macia. Sob os dedos, ele sentia a maciez da pele dela. A fragrância do perfume francês invadia-lhe as narinas. Não era à toa que Ronald insistira em ficar para ajudá-los. Era muito agradável. Harry observou a imagem refletida no espelho, até Ginevra perceber. Piscando, ela desviou o olhar. Ele também.


Ele não deveria estar apreciando aquilo. Não era um jogo, nem uma peça de teatro. A pele de Ginevra não era macia. A mão de qualquer mulher pareceria macia sob uma camada de óleo para massagem.


De novo, ele puxou o anel.


Nada.


Precisava pensar em algo. Uma nova técnica. Talvez devesse tentar as juntas inchadas. Sim, era isso.


Deixando o óleo agir como lubrificante, Harry massageou o nó do dedo. Certamente, funcionaria. Os dedos de Ginevra eram longos, elegantes. Conteve-se para não perguntar se ela nunca pintava as unhas com esmalte vermelho.


Seus olhares se encontraram.


— Oh, Alteza — ela disse, corando. — Este é o dedo errado!

        Harry soltou a mão dela abruptamente. Não tinha como explicar o lapso, nem por que sentia-se como uma criança pi­lhada em alguma traquinagem.


— Deixe que eu tento. — Ginevra puxou o anel. — Ainda está colado, Alteza.


Ele também.


Enquanto o anel estivesse no dedo de Ginevra, ele também estaria colado a ela.


Indo até a pia, a moça lavou as mãos.


— O dedo está muito inchado. Não acredito que consegui­ remos tirar o anel do meu dedo esta noite, Alteza.


Eles estavam tentando por muito tempo. Tempo demais. Harry notou as olheiras de Ginevra.


— Amanhã cedo, tentaremos de novo. Você deve estar cansada.

       Os lábios dela se curvaram num sorriso encantador.


— Estou sim, Alteza, mas se quiser continuar, entenderei perfeitamente. Sei que deseja o anel de volta.


A sinceridade na voz dela, surpreendeu-o, assim como a disposição de continuar, apesar do cansaço. Ele estava acos­tumado com as pessoas sempre exigindo alguma coisa dele. Poucas ofereciam algo em troca.


— Não, vamos esperar até amanhã. — Harry percebeu que o vestido dela já estava amassado, demonstrando sinais da longa noite. Ela não podia dormir com o vestido de baile. — Vou arrumar algo para você dormir.


Ginevra enxugou as mãos na toalha.


— Estou bem assim, Alteza.


O corpete justo levantava os seios e o decote "V" realçava as linhas arredondadas.


Realmente, seu vestido é lindo, mas acredito que o costureiro não tinha a intenção de transformá-lo em camisola. Venha comigo. — Harry abriu o armário de mogno em seu quarto. Procurou entre as roupas e tirou a blusa de um pijama verde da gaveta. — Pode vestir.


Ginevra correu os dedos pelo tecido.


— É de seda, Alteza.


— Qual o problema?


— Nenhum. É muito bonita. Não quero estragá-la. Pode emprestar-me uma camiseta?


— Você não vai estragá-la.

Ela deu de ombros.


— É o que sempre dizem — resmungou Ginevra antes de entrar no banheiro e fechar a porta.













N/A: Outro capitulo recém saído do forno.


 


Lulu Braga seja bem vinda! Espero que continue gostando da fic. Obrigada pelo seu comentário.


 


Beijos e até!

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